Faltou um rosto. Essa � a avalia��o dos movimentos de renova��o pol�tica �s v�speras do fim do primeiro turno e do resultado das elei��es legislativas. E, embora evitem nome�-lo, sugerem que o rosto que n�o vai aparecer na urna eletr�nica nesse domingo poderia ter sido o do apresentador Luciano Huck ou o do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro aposentado Joaquim Barbosa.
"Faltou uma candidatura majorit�ria que levasse a ideia de renova��o durante o hor�rio eleitoral, durante a campanha inteira", disse o coordenador do RenovaBr Eduardo Mufarej. Para ele, sem uma figura para incorporar o conceito, como fez o hoje presidente franc�s Emmanuel Macron por meio do movimento En Marche! (Em Marcha!), tornou-se mais dif�cil produzir uma onda que transformasse, por exemplo, o perfil dos futuros eleitos para o Congresso Nacional.
At� fevereiro, Huck era o nome cortejado por grupos de renova��o, partidos de centro e at� pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O pr�prio apresentador j� tinha vestido o terno de candidato e mostrava-se disposto a enfrentar o desafio. Press�es da TV Globo e da fam�lia fizeram ele reconsiderar. A desist�ncia foi um banho de �gua fria, nunca admitido, nos grupos que j� vislumbravam as dificuldades de um candidato com o perfil de Geraldo Alckmin (PSDB).
Sem Huck, a terceira via ganhou outras formas. O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa chegou a se filiar ao PSB - sendo recebido com tapete vermelho pelo partido. Barbosa era a figura que, segundo entusiastas da sua campanha, conseguiria unir o discurso anticorrup��o e a trajet�ria do brasileiro que "veio de baixo e subiu na vida". Em abril, o nome dele apareceu em pesquisas de inten��o de votos com 10% do eleitorado.
Mas Barbosa sempre foi conhecido por ter uma personalidade "dif�cil". Conversas mais diretas sobre alian�as e o jogo pol�tico causaram ojeriza ao ex-ministro. Ele queria, sim, ser presidente, mas n�o estava disposto a "p�r os p�s na lama". Sua quase candidatura acabou com um an�ncio feito via Twitter. Sem Huck e Barbosa, os grupos de renova��o e "ca�adores de terceira via" tentaram se aproximar de Marina Silva (Rede), mas as conversas n�o avan�aram.
Para o cientista pol�tico Kleber Carrilho, da Universidade Metodista de S�o Paulo, a presen�a dos "outsiders" poderia ter mudado os rumos da corrida presidencial. "Uma vez que o sentimento antipetismo � o grande motor desta elei��o, os dois poderiam servir como escape para esse eleitorado. Sem eles, o escape acabou sendo o candidato do PSL, Jair Bolsonaro".
Sem um outsider, o establishment pol�tico reagiu. Com restri��o de recursos, regras para o fundo eleitoral, per�odo menor de propaganda gratuita e impossibilidade de candidaturas independentes, os partidos concentraram suas estrat�gias nos candidatos j� estabelecidos.
Em setembro de 2017, o movimento RenovaBr, que funciona como uma esp�cie de incubadora de candidatos oriundos dos movimentos c�vicos, imaginava eleger de 70 a 100 nomes. Com o decorrer dos meses, as estimativas deixaram de ser p�blicas - e hoje giram em torno de 24 candidatos.
A Raps sequer tem divulgado proje��es que possam, eventualmente, criar falsas expectativas. Movimentos como o Agora!, Acredito, Brasil 21, Bancada Ativista, Frente Favela Brasil, Frente Pela Renova��o, Livres tamb�m evitam fazer proje��es. "O sistema se protegeu e criou dificuldades. Mas a renova��o � um caminho longo, algo para dois ou tr�s ciclos eleitorais", diz Jos� Frederico, coordenador nacional do Acredito.
No cen�rio de um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, os grupos de renova��o ir�o se posicionar mais pela nega��o do que pela cren�a pol�tica. De um lado, casos como o do Acredito, que mesmo sem apoiar Haddad j� se manifestou contra "aquilo que Bolsonaro representa"; de outro, o Vem Pra Rua, que sem se comprometer com Bolsonaro j� se colocou como antipetista. O Agora!, grupo de Luciano Huck, deve se reunir em breve para decidir que posi��o ir� tomar.
Para o coordenador do Agora!, Leandro Machado, a polariza��o entre candidatos extremos e as dificuldades do PSDB devem abrir um espa�o para um di�logo mais ao centro. "Nosso papel n�o vai se resumir ao resultado dessas elei��es. Existe um espa�o para a nossa participa��o pol�tica", afirma.
Apesar de uma clara tend�ncia "centrista", o arco ideol�gico de candidatos lan�ados pela chamada "renova��o" foi el�stico e contemplou pelo menos 27 legendas, entre siglas tradicionais, como PSDB e PSB, ou totalmente d�spares como PCdoB e PSL. O RenovaBR, que aglutinou outros movimentos, teve 120 candidatos, a maioria filiados a Rede (20), Novo (15), PPS (14) e PSB (13).
Os grupos c�vicos s�o formados por ativistas, empreendedores, acad�micos e representantes da sociedade civil em geral. Como a possibilidade de candidaturas avulsas foi barrada pelo STF, membros desses grupos come�aram a se acomodar em legendas conhecidas. Algumas delas, como a Rede e o PPS, abriram espa�o para oferecer uma certa independ�ncia dentro de suas estruturas. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
POL�TICA