
Segundo deputado federal mais votado de Minas Gerais, com 194 mil votos, Reginaldo Lopes (PT) espera duros embates no Congresso Nacional na pr�xima legislatura. Mesmo com a maior bancada eleita na C�mara, com 56 parlamentares, o PT ter� advers�rios com propostas conservadoras.
Al�m do PSL, que fez a segunda maior bancada, com 52 deputados, partidos do Centr�o mantiveram o espa�o na Casa e devem se unir na defesa de pautas controversas, como fim das cotas, libera��o da posse de arma de fogo e redu��o da maioridade penal.
Mesmo com grandes diferen�as ideol�gicas entre os eleitos da nova bancada mineira, Reginaldo come�ar� em 2019 o quinto mandato como deputado federal e avalia que ser� necess�ria a uni�o dos parlamentares para garantir que o estado n�o continue “deixado de lado como no governo de Michel Temer”.
“Temos pulveriza��o de partidos dentro da bancada mineira e, em v�rios temas, n�o teremos unidade ideol�gica, mas temos temas que s�o objetivos do estado e todos os deputados, como representantes de Minas, devem atuar conjuntamente”, diz o petista
Ele cita a necessidade de deixar as diverg�ncias partid�rias de lado para garantir a cobran�a de pautas para o estado: “N�o � poss�vel que vamos terminar mais quatro anos sem resolver o problema da BR-381”.
Nas �ltimas legislaturas, a bancada mineira enfrentou dificuldade para ter suas demandas atendidas pelo governo federal. Como voc� v� a forma��o da nova bancada mineira na C�mara? Ter� for�a para cobrar recursos para o estado?
Do ponto de vista do programa para o pa�s, essa situa��o depender� muito do pr�ximo presidente da Rep�blica. Espero que a bancada tenha unidade suprapartid�ria a favor dos interesses e objetivos de Minas. Nos �ltimos anos, Minas sofreu com a dificuldade de interlocu��o do governo Temer. Os interesses do estado foram completamente deixados de lado nesses �ltimos anos. E Minas n�o vai superar a crise fiscal se n�o tiver parceria e acordos republicanos com o governo federal. N�o vamos superar a crise se o pr�ximo presidente n�o for parceiro na busca por solu��es do d�ficit fiscal atual. O caminho mais curto seria a revoga��o da Lei Kandir pela Uni�o. Mas para revogar emenda constitucional seria preciso de 308 votos e a bancada mineira s� tem 53. Ser� necess�rio sensibilizar o presidente da Rep�blica sobre essa lei criminosa que desindustrializa a economia brasileira e cria dificuldades em v�rios setores.
Nos �ltimos anos os interesses partid�rios atrapalharam. O senhor acha vi�vel essa uni�o da bancada mineira? O que acha do perfil dos novos deputados mineiros eleitos?
Tivemos nessa elei��o pulveriza��o de partidos dentro da bancada e v�rios temas, realmente, n�o teremos como ter qualquer unidade ideol�gica entre os 53 deputados. Mas temos outros temas que s�o objetivos do estado e que afetam a popula��o. Todos os deputados, como representantes dessas demandas, devem atuar conjuntamente, buscando unidade. O eleitor mineiro espera bancada mais atuante para resolver os problemas de Minas.
Qual � o caminho para conseguir tirar do papel as demandas do estado?
O maior problema de Minas hoje � resolver o d�ficit fiscal. O segundo desafio � que temos que voltar a fazer as obras de grande impacto. Pretendo defender mudan�a no modelo econ�mico, com ousado programa de obras p�blicas. Seria a forma de melhorar a empregabilidade no pa�s e melhorar a arrecada��o nos estados. Defendo que esse programa invista, em todo o pa�s, cerca de R$ 2 trilh�es nos pr�ximos quatro anos. Essa � minha vis�o como economista, n�o s� como deputado. A retomada de grandes investimentos pode gerar dois milh�es de empregos por ano. Al�m de movimentar a economia, resolveria os gargalos do Brasil. N�o � poss�vel que vamos terminar mais quatro anos sem resolver o problema da BR-381. Um completo absurdo. Do jeito que a Uni�o tem aportado recursos nesta obra a duplica��o at� Governador Valadares vai levar mais 20 anos para ser conclu�da. Temos ainda outras demandas important�ssimas, como a BR-040, o Anel Rodovi�rio, o metr� da capital. � fundamental discutir novo modelo econ�mico que valorize o papel estrat�gico do estado para estimular os investimentos.
Mas, neste cen�rio de crise, Uni�o e estado sem dinheiro, de onde sair�o recursos para retomar as obras p�blicas?
Isso depender� de qual presidente ser� eleito e qual modelo econ�mico ser� implantado a partir do ano que vem. Infelizmente, n�o tenho esperan�a de retomar os gastos p�blicos caso o deputado Jair Bolsonaro seja eleito. Porque ele e sua equipe defendem o modelo errado da pol�tica do Estado m�nimo. Ele defende a ideia de que o Estado n�o deve ser indutor do crescimento econ�mico e deixa tudo para o setor privado. Essa � uma farsa, uma mentira que nunca deu certo em lugar nenhum do mundo e em nenhuma �poca da hist�ria. Quando a economia est� estagnada, � fundamental que o Estado a fa�a voltar a girar. A partir da�, o setor privado acompanha esse aumento dos investimentos. Quando se investe R$ 1, automaticamente se arrecada R$ 0,50 de impostos e a outra parte do recurso circula entre os sal�rios dos trabalhadores e aumenta o consumo, ou seja, gera benef�cio com o fim dos gargalos, movimenta a economia e ao mesmo tempo melhora a qualidade de vida das pessoas. Esse conceito pode ser defendido pelo parlamento no ano que vem.
Nesta elei��o houve crescimento de bancada de outsiders da pol�tica. Muitos deles defendem pautas pol�micas, como libera��o do porte de armas, fim das contas em universidades, entre outras. Como ser� a rela��o entre os partidos da esquerda com a nova bancada conservadora?
Essas s�o propostas que nunca deram certo em lugar nenhum do mundo. O deputado Bolsonaro foi meu colega na comiss�o parlamentar de viol�ncia contra os jovens e negros, n�o apresentou proposta nenhuma. O campo da seguran�a p�blica se tornou espa�o da demagogia e do populismo, o que n�o resolve os problemas da viol�ncia. A turma do PSL e a bancada da seguran�a p�blica n�o ter�o condi��es de fazer esse debate. A maioria deles pensa apenas em quest�es corporativas. � um delegado que protege um investigador, � um coronel que protege um pracinha. S�o quest�es corporativas que n�o melhoram em nada a seguran�a das pessoas. Eles olham para o pr�prio umbigo e as solu��es n�o avan�am. Por exemplo, a bancada da bala defendeu muito a interven��o militar no Rio de Janeiro. N�o adiantou nada. O que precismos � de novo arranjo para tratar esse tema. Precisamos de fortes investimentos sociais. J� se sabe onde, quem faz e como ocorrem a maioria dos homic�dios e crimes. Ent�o, � preciso investir em ilumina��o p�blica nas �reas de risco, em cria��o de escolas em tempo integral, em mais faculdades, em melhorias no saneamento b�sico da popula��o. Todas essas melhorias afetam a quest�o da viol�ncia no pa�s.
Como o PT avaliou a derrota do governador Pimentel e da ex-presidente Dilma nesta elei��o? Onde o partido errou para n�o conseguir eleger duas lideran�as?
Quando me candidatei a prefeito de Belo Horizonte, falei dos erros do partido. O PT participou de um modelo eleitoral que n�o foi criado pelo partido, mas sim pelas elites brasileiras h� d�cadas e d�cadas. Todos os partidos cometeram o mesmo erro neste sistema, mas o problema � que houve um processo de criminaliza��o seletiva. O PT foi o partido que mais combateu a corrup��o, criando mecanismos para apurar den�ncias e incentivando a transpar�ncia. Ainda assim houve a l�gica de criminalizar o PT. At� a criminaliza��o da pol�tica de forma geral teve sua conta entregue de forma mais pesada no PT. Isso � p�ssimo para a democracia. Al�m disso, neste ano fomos surpreendidos com a organiza��o de uma rede via WhatsApp de dissemina��o de fake news. Os nossos advers�rios se organizaram nessas redes de mentiras desde 2013 e fizeram um trabalho de desconstruir a imagem das pessoas. Vamos ter que nos organizar melhor daqui para frente e, evidentemente, o partido faz constantemente uma autocr�tica e uma revis�o program�tica.