Estreante em Bras�lia no ano que vem, o petista prev� um duro embate no Congresso Nacional nos pr�ximos quatro anos, com um Parlamento dividido e pautas controversas no caminho da pr�xima legislatura.
O senhor � deputado h� 12 anos em Minas Gerais, mas chega a Bras�lia pela primeira vez. O que espera do trabalho na C�mara dos Deputados?
Vou manter uma rela��o de proximidade com minhas bases e continuar acompanhando as cobran�as que partem delas. S�o muitas demandas abertas e nem tudo a gente conseguir� resolver, mas posso dizer que nesses tr�s mandatos de deputado na Assembleia Legislativa consegui tornar realidade muitas demandas. Agora na C�mara, em Bras�lia, quero ter uma aten��o especial aos problemas das cidades mais pobres de Minas Gerais. Nasci em S�o Jo�o das Miss�es, cidade mais pobre do estado. Convivi de perto com as dificuldades e a falta d’�gua no Norte e nos vales do Jequitinhonha, regi�es sempre muito sofridas. Temos o Rio S�o Francisco com muita �gua, mas a apenas dois quil�metros do rio j� t�m gente passando sede. Tivemos avan�os nos governos Lula e Dilma com as cisternas e po�os artesianos, mas ainda h� muito a se fazer. A revitaliza��o do S�o Francisco, principalmente a recupera��o das nascentes do entorno do rio, ser� uma das principais bandeiras do nosso mandato.
Mas diante da falta de recursos da Uni�o, do estado e das prefeituras, como transformar essas promessas de campanha em realidade?
A falta de recurso � um problema que resulta de um modelo econ�mico adotado ap�s o golpe contra a presidente Dilma. H� dois anos o governo federal corta de quem tem menos. E esse modelo n�o tem funcionado. Ao contr�rio do que fala o meu hom�nimo, o Paulo Guedes do Bolsonaro, n�s precisamos de pol�ticas para que as pessoas voltem a consumir, para ter distribui��o de renda, para gerar oportunidades para a popula��o, dar cr�dito para as pessoas, financiar suas lavouras, financiar seu po�o artesiano, reformar suas casas. Pessoas que andavam de jegue conseguiram comprar motos ou carros. As pessoas melhoraram de vida e ganharam dignidade. � preciso voltar a criar oportunidades para as pessoas no Brasil. O modelo do meu hom�nimo, caso Bolsonaro ganhe a elei��o, de vender tudo e cortar programas sociais, vai aumentar a recess�o do Brasil, aumentar a pobreza e o desemprego. Estamos em momento decisivo. Mais do que nunca, o pa�s precisa ter aten��o nesta elei��o. A vit�ria de Haddad � o fio de esperan�a que vejo para n�o cairmos em uma situa��o ainda pior do que a que foi criada pelo governo Temer. O Bolsonaro est� falando coisas assustadoras. Parte da nossa classe m�dia � muito ego�sta e o Bolsonaro est� falando para esse p�blico. Pessoas que n�o querem ver os pobres melhorando de vida, empregadas ganharem mais, filhos de pobres nas universidades. At� mesmo pessoas que vieram das classes mais baixas e se sentem classe m�dia e n�o olham para os irm�os e vizinhos que continuam em dificuldade.
Nesta elei��o tivemos muitos pol�ticos tradicionais derrotados e muitos dos que foram eleitos defendem bandeiras conservadoras, s�o os outsiders da pol�tica. Como ser� a rela��o nesse Congresso a partir de 2019?
Teremos um Congresso ainda pior no ano que vem. S� espero que os que chegam nessa onda conservadora e os novatos n�o usem os mesmos mecanismos para fazer pol�tica como fizeram os parlamentares do Centr�o, que s�o as chantagens aos governos. Tinha uma turma que estava em todos os governos, inclusive nos governos do PT. Porque ningu�m governa sem o Congresso. Se o Haddad for presidente, acredito que teremos uma rela��o mais democr�tica. J� com o fascismo do Bolsonaro � uma grande d�vida sobre como vai ser a rela��o com o Congresso na pr�tica. Estamos um pouco assustados e no momento � dif�cil fazer um progn�stico sobre como ser� a partir de 2019. N�o se imaginava ter 52 deputados do PSL. O PT ainda sobreviveu ao terremoto e conseguiu fazer a maior bancada. Em Minas, n�s fizemos a maior bancada, com 12 deputados, eram nove. Mesmo com um bombardeio enorme contra os parlamentares petistas.
Nesta elei��o, O PT teve duras derrotas em Minas, sem a reelei��o do governador Fernando Pimentel e da ex-presidente Dilma. O que o partido poderia ter feito diferente?
No caso de Minas, governar um estado falido � complicado. Pimentel foi v�tima de um sistema. Pegou um caixa com d�ficit de R$ 7 bilh�es, muitas d�vidas e despesas crescentes e receitas decadentes. Nenhum governo sobreviveria a uma situa��o dessa. Ele perdeu a elei��o, mas no Norte de Minas, por exemplo, ganhou. A dificuldade maior foi nos grandes centros. Nesses lugares n�s sofremos, todos os representantes do PT tiveram essa dificuldade. Mas tamb�m reelegemos governadores em primeiro turno com ampla vota��o, no Piau�, na Bahia, no Cear�. O PT fez mudan�as importantes. Talvez o erro foi de aceitar algumas regras de ter que dividir governo com o Centr�o. Os esc�ndalos de corrup��o por exemplo, os diretores da Petrobras presos n�o eram filiados ao PT e todos eles vieram de outros governos e outros partidos. Quem pagou essa conta fomos n�s. O tesoureiro do PT est� preso por caixa dois, mas todos os tesoureiros dos outros partidos fizeram a mesma coisa e nenhum deles est� preso.
A libera��o da posse de armas de fogo, a redu��o da maioridade penal e o fim das cotas em universidades s�o algumas das bandeiras defendidas pela bancada do PSL. Como o senhor v� a possibilidade de o Congresso votar esses temas pol�micos?
Vejo com muita preocupa��o. N�o temos a no��o do que significar� a libera��o do uso de armas no Brasil. A pr�pria classe m�dia que apoia Bolsonaro vai ser v�tima de uma mudan�a como essa. Vamos ver uma escalada da viol�ncia e um risco cada vez maior para as pessoas. A viol�ncia j� come�ou, vemos todos os dias gente espancando homossexuais e mulheres. Um absurdo. Sobre as cotas, por exemplo, vemos uma parte da sociedade completamente ego�sta. Bolsonaro falou que n�o aceitaria entrar em um avi�o pilotado por algum cotista, algo de um preconceito fora do comum. Venho de uma fam�lia pobre, e se n�o tivesse oportunidades na vida, de me expressar, de agir e de crescer, estaria hoje cortando cana. Ningu�m nas regi�es pobres teria qualquer express�o nunca. Nosso advers�rio defende posi��es contr�rias aos direitos sociais e at� contr�rias � democracia. Conviver com essas tend�ncias ser� muito dif�cil a partir do ano que vem. Vamos ter que lutar pela defesa das conquistas sociais. Defender a Constitui��o, n�o aceitar mudan�as que venham prejudicar os trabalhadores, as garantias sociais e dos programas que mudaram a vida dos trabalhadores. Vamos brigar para n�o ter retrocessos.