
Bras�lia – O presidente eleito, Jair Bolsonaro, que tomar� posse amanh�, ter� cinco nomes principais em seu governo. Dois comandar�o superminist�rios: Paulo Guedes, na Economia, e o ex-juiz S�rgio Moro, na Justi�a e Seguran�a P�blica. J� o vice-presidente eleito, general Hamilton Mour�o, tem trabalhado nos bastidores e mostra que n�o deve ser um “vice decorativo”. Na Casa Civil, Onyx Lorenzoni partir� para a articula��o do governo, mesmo sob cr�ticas. J� o general Augusto Heleno mostra-se discreto, mas ter� livre acesso ao presidente.
Na Economia, Paulo Guedes, de linha liberal, ser� ‘dono’ da pasta e vai administrar uma m�quina com, aproximadamente, 65 mil funcion�rios. Entre eles, os de alto escal�o. Para o BNDES, por exemplo, contar� com o ro Joaquim Levy. Ele retorna � administra��o p�blica ap�s ter sido ministro da Fazenda no come�o do segundo governo de Dilma Rousseff.
Convidado para permanecer no cargo, Ilan Goldfajn decidiu, no entanto, sair do comando do Banco Central. O indicado por Guedes � o economista Roberto Campos Neto, executivo do banco Santander. O av� dele, Roberto Campos, chegou a ser ministro do Planejamento no come�o da Ditadura Militar, de 1964 a 1967.
Um dos economistas respons�veis pela idealiza��o do teto de gastos, Mansueto de Almeida, ser� mantido no Tesouro Nacional. Nos bancos p�blicos, Rubem Novaes assumir� a gest�o do Banco do Brasil (BB), e Pedro Guimar�es presidir� a Caixa Econ�mica Federal. Carlos Hamilton integrar� o alto escal�o do BB, como divulgou, em primeira m�o, o Blog do Vicente, do Correio.
O que poderia vir a ser um problema, com rela��o � quantidade expressiva de pessoal, tamb�m pode resultar em fatos positivos. Assim, a tend�ncia � de que as decis�es tomadas pelo governo sejam mais “coordenadas” e que isso influencie na confian�a do mercado. � o que explica o economista. “O que vai haver � uma valoriza��o maior das secretarias. As poucas que existirem ter�o um poder maior do que tinham. Ent�o, muito do que for cobrado ser� cobrado tamb�m dos secret�rios”, esclarece.
Uma consequ�ncia imediata da fus�o das pastas, por�m, ter� de ser resolvida j� no in�cio do mandato. Com a jun��o dos minist�rios da Fazenda e do Planejamento, o Conselho Monet�rio Nacional, que hoje conta com tr�s membros (com o representante do Banco Central), ficar� sem o “voto de minerva”.
Lava-Jato no poder
No superminist�rio da Justi�a e Seguran�a P�blica, S�rgio Moro convidou para os principais cargos da pasta pessoas que o auxiliaram na Opera��o Lava-Jato. Os principais contemplados foram os servidores ligados � Pol�cia Federal. O problema, no entanto, � que o ex-juiz concedeu pouco espa�o no alto-comando a especialistas em seguran�a p�blica. O tema tamb�m ser� de responsabilidade de Moro. A maioria dos integrantes da c�pula est� orientada a se preocupar com as quest�es ligadas � corrup��o e ao crime organizado.
O respons�vel pela seguran�a p�blica, no geral, ser� o general da reserva Guilherme Theophilo, candidato derrotado ao governo do Cear� pelo PSDB — obteve 11,3% dos votos. Ele foi anunciado por Moro como um especialista na �rea e que pretende seguir a linha de seguran�a p�blica adotada pelo general Braga Netto, respons�vel pela interven��o federal no Rio de Janeiro.
Para comandar a Pol�cia Federal, foi anunciado o atual superintendente da PF no Paran�, delegado Maur�cio Valeixo, representante mais pr�ximo a Moro. O delegado Rosalvo Ferreira, ex-superintendente da PF no Paran�, ter� a miss�o de “unir as pol�cias”. Ele vai comandar a Secretaria de Opera��es Policiais Integradas. Os pres�dios ficar�o sob a responsabilidade do delegado Fabiano Bordignon, que compor� o Departamento Penitenci�rio Nacional. Tamb�m deve auxiliar, segundo Moro, no combate �s fac��es criminosas, em especial ao Comando Vermelho e o PCC.
O secret�rio-executivo do minist�rio ser� o delegado Luiz Pontel. Ele teve destaque na Opera��o Banestado, que investigou esquema de remessas ilegais ao exterior. Pontel foi respons�vel pela primeira pris�o do doleiro Alberto Youssef, que veio a ser novamente preso no in�cio da Lava-Jato.
A escolha mais pol�mica foi a da delegada �rika Marena, que batizou a Lava-Jato, opera��o em que tamb�m atuou. Mais recentemente, ela integrou a Opera��o Ouvidos Moucos, que prendeu e levou ao suic�dio o ent�o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier. At� o momento, nada de irregular foi comprovado contra Cancellier. Marena vai para o Departamento de Recupera��o de Ativos e Coopera��o Jur�dica Internacional.
Decorativo, n�o
J� o vice-presidente eleito, Hamilton Mour�o (PRTB), procura se movimentar nos corredores do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), local de trabalho da equipe de transi��o, com a inten��o de ocupar espa�os vagos. O militar, com forte presen�a nas For�as Armadas, em especial, no Ex�rcito, tem criado constantes atritos com Bolsonaro por n�o se portar como “vice decorativo”, termo utilizado por Michel Temer para se definir antes do processo que levou ao impeachment da ent�o presidente Dilma Rousseff.
Ao tomar posse, Mour�o ter� direito a 140 funcion�rios no Planalto, mas, segundo membros da equipe que atua com ele na transi��o, deve reduzir o n�mero de nomea��es pela metade (entre 60 e 70).
O ex-candidato a presidente em 2014 Levy Fidelix, que protagonizou pol�micas na campanha � �poca, vem se tornando uma voz de confian�a do vice. Ele � presidente do partido de Mour�o e foi um dos que o convenceram a aceitar o pedido de Bolsonaro para compor a chapa.
Grande parte da equipe que cerca Mour�o, por�m, tem passagem por uma das For�as Armadas. Um exemplo � o brigadeiro (mais alto-comando da For�a A�rea Brasileira) �tila Maia, de atua��o discreta na equipe. Neste ano, o militar da reserva tentou, sem sucesso, uma das vagas do Distrito Federal para o Senado. Recebeu 5,15% dos votos v�lidos. Ele tamb�m � filiado ao PRTB.
Sob “fogo amigo”
A articula��o do governo ficar� sob o comando do futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), que vive um momento de crise interna na transi��o. Como apurou a reportagem, militares ligados � futura gest�o t�m intensificado o “fogo amigo”, por estarem descrentes da forma de articula��o de Lorenzoni.
Os contatos com as casas legislativas ficar�o a cargo de dois secret�rios especiais. Carlos Manato (PSL-ES), que perdeu a campanha para o governo do estado, vai ser respons�vel pelas vota��es na C�mara. J� o deputado federal Leonardo Quint�o (MDB-MG), que n�o se reelegeu, far� a articula��o com o Senado e deve convidar para a equipe senadores que n�o se reelegeram.
Um dos homens mais pr�ximos a Lorenzoni deve assumir como secret�rio-executivo da Casa Civil. O cotado � Abraham Weintraub, economista e eventual respons�vel pela articula��o da reforma da Previd�ncia.
Apoio irrestrito
Um dos militares mais importantes e pe�a central do governo � o general Augusto Heleno. Ele vai assumir o Gabinete de Seguran�a Institucional e conta com a simpatia dos futuros comandantes das For�as Armadas: general Edson Leal Pujol (Ex�rcito), almirante Ilques Barbosa J�nior (Marinha) e brigadeiro Ant�nio Carlos Moretti Bermudez. Todos ser�o indicados respeitando a tradi��o informal de antiguidade.
Esses comandantes estar�o subordinados ao futuro ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva – pela primeira vez, a pasta ser� dirigida por um militar. Ela foi criada no governo de Fernando Henrique Cardoso ap�s a extin��o dos minist�rios individuais das For�as. O militar tamb�m � ligado a Augusto Heleno.
Ontem, Augusto Heleno, comparou a proibi��o de acesso a armas de fogo ao veto a que motoristas possam conduzir autom�veis por causa de acidentes de tr�nsito. Heleno afirmou que “n�o tem conhecimento jur�dico” para comentar a inten��o de Bolsonaro de mudar a norma em vigor por meio de decreto presidencial, facilitando a posse de armas a cidad�os sem antecedentes criminais.
“Isso j� foi diversas vezes anunciado pelo presidente. J� houve inclusive manifesta��o do juiz Sergio Moro dizendo que ele acha vi�vel que isso seja tratado em n�vel legal”, afirmou Heleno, durante entrevista no Pal�cio do Planalto. “A posse da arma, desde que seja concedida a quem est� habilitado legalmente, e essa habilita��o legal vir� por meio de algum instrumento, decreto, alguma lei, alguma coisa que regule quem ter� direito � posse da arma, ela se assemelha � posse de um autom�vel. Est� em torno de 50 mil (o n�mero) de v�timas de acidente de autom�vel. Se formos considerar isso, vamos proibir o pessoal de dirigir. Ningu�m pode dirigir, ningu�m pode sair de casa com o carro, porque algu�m est� correndo o risco de morrer porque o motorista � irrespons�vel.”
Sem citar estat�sticas precisas, o general refutou o argumento de que a facilita��o do acesso a armas de fogo poder� aumentar a criminalidade: “Os dados s�o muito pol�micos, em rela��o a outros pa�ses”.
Elogio ao trabalho da Intelig�ncia
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, usou o Twitter ontem para destacar a import�ncia da �rea de Intelig�ncia no governo. “O trabalho de intelig�ncia � dos mais importantes e sens�veis para a seguran�a da na��o. No entanto, por sua natureza discreta, raramente � reconhecido. No que depender deste governo, n�o faltar� apoio e valoriza��o para os profissionais da �rea!”, escreveu. Na semana passada, em entrevista ao jornal O Estado de S�o Paulo, o general Augusto Heleno, futuro chefe do Gabinete de Seguran�a Institucional (GSI), afirmou que deve manter a dire��o da Ag�ncia Brasileira de Intelig�ncia (Abin), comandada por Janer Tesch Alvarenga, oficial de Intelig�ncia h� 34 anos e � frente do �rg�o desde setembro de 2016.