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Estado de Minas

Os bastidores do lobby da bala na busca ao mercado de R$ 12 bilh�es

Apesar das cr�ticas em rela��o aos 'discretos' avan�os do decreto de Bolsonaro para a compra de rev�lveres e pistolas pelo cidad�o brasileiro, empresas nacionais e estrangeiras refazem as contas de lucros a partir das mudan�as no mercado de armamentos


postado em 20/01/2019 11:19 / atualizado em 20/01/2019 11:45


Como no jogo de guerra de tabuleiro, o lobby da ind�stria das armas venceu uma das mais importantes batalhas. Depois de longos 15 anos, os “mercadores da morte”, como s�o conhecidos na Esplanada os representantes das empresas de rev�lveres e pistolas, recuperaram um territ�rio perdido: o com�rcio de produtos de calibres leves para o cidad�o. O decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro na ter�a-feira, por�m, favorece apenas poucos jogadores nacionais. O maior lance de um mercado avaliado em cifras iniciais em R$ 12 bilh�es est� por vir: a autoriza��o para que companhias estrangeiras vendam os armamentos em terras brasileiras.

119.484 armas

foram apreendidas em 2017, segundo o Anu�rio Brasileiro de Seguran�a P�blica



A partir de entrevistas com representantes da ind�stria de armas nacionais e estrangeiras e cruzamentos de dados de pesquisas acad�micas, o Correio revela o jogo dos bastidores de pol�ticos e de lobistas que voltaram ao centro do tabuleiro depois da implanta��o do Estatuto do Desarmamento de 2003. A lei proibiu o porte de armas por civis, deixando apenas algumas brechas para necessidade comprovada. H� poucos dados confi�veis sobre o mercado de armas no Brasil, mas, com o estatuto, o pa�s definitivamente deixou de ser atrativo, pois, al�m das regras mais r�gidas, havia a proibi��o de importa��o, um monop�lio que favorecia apenas duas empresas nacionais: a Taurus e a Imbel, uma estatal brasileira de baixo alcance em rela��o aos jogadores estrangeiros.

13.782 armas legais

foram perdidas, extraviadas ou roubadas em 2017, segundo o Anu�rio Brasileiro de Seguran�a P�blica



N�meros levantados pelo Correio na Pesquisa Industrial Anual (PIA), do IBGE, mostram que entre 2010 e 2014 os lucros das empresas de armas e muni��es brasileiras mantiveram um patamar de R$ 350 milh�es em vendas, incluindo na conta a Taurus, a Imbel e a CBC, uma empresa de cartuchos. O �ltimo levantamento da PIA, de 2015, n�o apresenta n�meros, por causa do risco de exposi��o estrat�gica da ind�stria nacional. A CBC comprou a Taurus em 2014 — em um neg�cio avaliado na �poca em R$ 121 milh�es — formando uma �nica empresa e deixando o pa�s com apenas duas ind�strias, incluindo a Imbel. Se a Taurus chegou a ter desempenhos positivos at� o in�cio dos anos 2000, inclusive com exporta��es para outros pa�ses, hoje passa por uma crise de imagem entre consumidores civis e agentes de seguran�a por causa de defeitos detectados em determinados tipo de pistola.

Temer
Engana-se quem pensa que as mudan�as e a anima��o do mercado iniciaram no momento que Bolsonaro e os aliados simularam arminhas com as m�os durante a campanha presidencial do ano passado. Uma movimenta��o silenciosa ante o forte monop�lio da Taurus/CBC come�ou ainda em 2017, no governo Michel Temer. Primeiro pelas licita��es abertas pelas for�as de seguran�a no Brasil, que abriram o mercado a empresas estrangeiras. Depois, pela autoriza��o para que uma f�brica de muni��es, a su��a Ruag Ind�stria e Com�rcio Ltda. se instalasse no Brasil, quebrando um monop�lio de quase 90 anos da ind�stria brasileira — voltamos a essa hist�ria em instantes. No primeiro caso, a austr�aca Glock conseguiu as principais vendas naquele per�odo com a Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF) que comprou 10 mil pistolas para serem usadas pelos agentes da corpora��o ao custo de R$ 18 milh�es.

O edital da PRF, que chegou a ser questionado, revelou os bastidores da disputa bilion�ria pelo mercado de armas no Brasil. A audi�ncia realizada pela corpora��o no dia 18 de outubro de 2017, em Bras�lia, que contou com a participa��o de oito empresas, duas nacionais e seis estrangeiras, em busca de um nicho comercial com n�meros iniciais na casa dos R$ 2,5 bilh�es, referentes ao universo de integrantes das for�as de seguran�a no Brasil. Durante uma das reuni�es, em que o Correio teve acesso  � ata, compareceram representantes da Taurus, Imbel, Glock, Israel Weapon Industries (Israel), Beretta (It�lia), Smith & Wesson (EUA), Sig Sauer (Alemanha) e CZ (Checa) — leia quadro na p�gina 3. Os prepostos das companhias multinacionais eram, na maioria, militares da reserva das For�as Armadas ou policiais brasileiros, que, habitu�s do universo do lobby de armas, se movimentam com facilidade entre os chefes da Diretoria de Fiscaliza��o de Produtos Controlados (DFPC), ligada ao Ex�rcito, e que funciona como uma ag�ncia reguladora de armamentos leves e pesados.

O pr�prio Ex�rcito passa a ser agora o centro das aten��es por causa da press�o das empresas estrangeiras para que o mercado brasileiro se abra �s importa��es, pois um ponto no regulamento em vigor as pro�bem, caso existam produtos similares fabricados em territ�rio nacional. Em postagem no Twitter na �ltima quinta-feira, Bolsonaro escreveu: “Ap�s voltarmos de Davos, continuaremos conversando com os ministros, para que juntos, evoluamos nos anseios dos CACs (colecionadores, atiradores e ca�adores), porte, monop�lio e varia��es sobre o assunto, al�m de modifica��es pertinentes ao Congresso, como redu��o da idade m�nima! O trabalho n�o pode parar!” Ao se referir ao monop�lio, as empresas estrangeiras entenderam como abertura para importa��o. O presidente volta de Davos na pr�xima sexta-feira.

Espera
“As empresas est�o em compasso de espera, pois o decreto n�o fala de importa��o ou mesmo instala��o de f�bricas no Brasil”, afirma Maria Vasconcelos, CEO da Ruag do Brasil e protagonista da novela que, no final, autoriza a quebra do monop�lio das muni��es do pa�s. A chancela para que a empresa instalasse uma f�brica no pa�s em Pernambuco veio depois de nove anos. O processo est� interrompido desde da autoriza��o, mas a Ruag chegou a anunciar investimentos R$ 75 milh�es. A depender da sofistica��o, modelos e calibres, a instala��o de uma f�brica de armamentos pode quadruplicar esse valor. A quest�o � avaliar se vale a pena o investimento caso a pol�tica para a abertura da importa��o seja atraente para as estrangeiras, que por ora, como se viu, brigam pelas licita��es nas for�as p�blicas de seguran�a.

A pr�pria Glock, por exemplo, atua no mercado brasileiro por meio de licita��o desde 2005, quando vendeu um lote de cinco mil armas para a Pol�cia Federal por R$ 5,1 milh�es na �poca. Desde ent�o, passou a angariar contratos e quebrar o monop�lio da Taurus em neg�cios com �rg�os do setor p�blico. Al�m da PF e da PRF, vendeu para as PMs do Paran� (R$ 1.3 milh�o), do Distrito Federal (R$ 410 mil) e do Rio (R$ 715 mil). A transa��o mais recente da Glock com o poder p�blico ocorreu em maio do ano passado. Na ocasi�o, o Senado dispensou licita��o para a compra de 100 pistolas calibre .40, modelos G-23 e G-4, para uso pelos policiais legislativos da Secretaria de Pol�cia do �rg�o. Apesar do avan�o da Glock, ela n�o tem exclusividade entre as corpora��es brasileiras. No fim do ano passado, a PM de Goi�s fez a aquisi��o de 2,1 mil pistolas da empresa norte-americana Sig Sauer no valor de R$ 3,4 milh�es.

Com Bolsonaro no poder, a expectativa dos “mercadores da morte” � de ganhos com a venda de armas depois de um longo per�odo de seca, quando a Taurus e empresas estrangeiras usaram todos os tipos de estrat�gias de rela��es governamentais para conseguir a derrubada do Estatuto do Desarmamento, como financiamento de campanhas at� patroc�nios de viagens para pa�ses estrangeiros. O acesso a partir de agora, esperam, ser� mais f�cil e corrente.

Entenda os valores
Para chegar ao potencial do mercado brasileiro, o Correio fez uma an�lise de dados dispon�veis sobre a produ��o de armas (nacionais e importadas) e clientes em potencial identificados no cadastro de motoristas habilitados — que passam por teste psicot�cnico — e est�o livres de condena��es ou processos criminais, verificados em levantamento do Conselho Nacional de Justi�a (CNJ). Al�m disso, foram consideradas pesquisas de opini�o feitas nos �ltimos cinco anos. A reportagem chegou, assim, a uma conta conservadora de 6 milh�es de pessoas (algo em torno de 5% da popula��o com mais de 25 anos) dispostas a ter uma arma em casa. A conta seguinte foi multiplicar eventuais consumidores com o pre�o m�dio de um rev�lver calibre .38, cerca de R$ 2 mil. Os valores podem ser maiores, considerando o fato de que cada cidad�o poder� adquirir at� quatro armas, e uma pistola calibre .380 custa no m�nimo R$ 4 mil. Os n�meros s�o uma expectativa a partir das regras definidas pelo decreto que flexibiliza a posse de armas, e foram confrontados junto a representantes de empresas nacionais e estrangeiras de armas. Nos Estados Unidos, para efeito de compara��o, 30% da popula��o adulta possuem armas, segundo pesquisa do Pew Research Center, de 2017.


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