
Em uma semana de funcionamento do Congresso, o PT percebeu que enfrentar� uma situa��o ainda mais dif�cil que a esperada depois da vit�ria eleitoral de Jair Bolsonaro no ano passado. Para analistas e parlamentares experientes de outros partidos, a legenda ter� de refazer sua estrat�gia se n�o quiser virar p� nas pr�ximas elei��es municipais, em 2020, e nacionais, em 2022. “O PT ter� de se reinventar e repensar as lideran�as e os discursos”, avisa Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ci�ncia Pol�tica da Universidade de Bras�lia (Ipol/UnB). “O partido ainda tem uma milit�ncia fiel, mas isso tende a minguar.”
O PT saiu das urnas com um resultado que, se ficou bem aqu�m de seu auge, ainda fazia inveja aos partidos tradicionais. Chegou ao segundo turno da elei��o presidencial e conquistou a maior bancada na C�mara, com 56 eleitos. Em segundo lugar, veio o PSL, legenda do presidente Jair Bolsonaro, com 52 cadeiras. No Senado, o resultado foi pior, passando � quarta bancada, empatado com o PSD, com seis parlamentares.
56 � o n�mero de parlamentares do PT na C�mara, a maior bancada da Casa. A sigla, por�m, ficou sem assento na Mesa Diretora
Na elei��o da mesa da C�mara, por�m, o partido ficou sem qualquer assento. No Senado, teve de se contentar com a terceira supl�ncia — na qual foi colocado de �ltima hora, ap�s discuss�o da bancada no plen�rio —, que ficou com o ex-governador da Bahia Jaques Wagner. “Pela regra da proporcionalidade, o partido teria um cargo titular na mesa, a quarta secretaria”, afirma o diretor de documenta��o do Departamento Intersindical de An�lise Parlamentar (Diap), Ant�nio Augusto de Queiroz.
Segundo essa tradi��o, os partidos devem ter cargos na Mesa Diretora e nas comiss�es de acordo com o tamanho de suas bancadas. � um acordo de cavalheiros que n�o tem prevalecido, por�m, no novo Congresso.
O l�der do PT no Senado, Humberto Costa (PE), se queixou no plen�rio, ontem, em tom ameno, que a proporcionalidade n�o estava sendo mantida. Depois, em entrevista, disse reconhecer que houve uma derrota, j� que o partido havia apoiado para presidente da Casa o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que perdeu para Davi Alcolumbre (DEM-AP) em uma derrota acachapante. Al�m de sair derrotada na disputa, a legenda foi contr�ria, por raz�es estrat�gicas, ao voto aberto, o que contraria a hist�ria da sigla, destaca Queiroz. “Em outro momento, o partido n�o votaria assim.”
A prova do poder dos partidos vir� agora na distribui��o das comiss�es nas duas casas do Congresso. Pelo crit�rio da proporcionalidade, Costa disse que o PT ficaria com a de Rela��es Exteriores. Ele sabe que isso n�o vai ocorrer e espera ter, ao menos, a dos Direitos Humanos. Nem isso, por�m, est� garantido. Na C�mara, � ainda pior. O bloco que o PT integra dever� come�ar a fazer escolhas ap�s o preenchimento da 10ª comiss�o entre as 25 existentes.
Para Queiroz, o PT n�o entendeu ainda o tamanho do problema. “O DEM vir� com tudo, n�o ter� pena”, alerta. O partido � tamb�m o do presidente da C�mara, Rodrigo Maia (RJ). Em 2010, o ent�o presidente Luiz In�cio Lula da Silva, hoje preso em Curitiba por corrup��o, disse que era preciso “extirpar o DEM da pol�tica brasileira”. Muitos no DEM retribuem o desejo em rela��o ao PT, ainda que n�o abertamente.
Mesmo entre os partidos de esquerda, por�m, o PT enfrenta dificuldades. Um parlamentar de uma legenda que tradicionalmente se aliou aos petistas afirma que a sigla de Lula n�o pode mais esperar que tome as decis�es e os outros se enquadrem. “Os brasileiros querem uma oposi��o de outro tipo, que n�o parta para o quanto pior melhor”, diz.