
O presidente Jair Bolsonaro inseriu o governo no centro de uma crise que pode at� atrapalhar a articula��o pol�tica pela aprova��o da reforma da Previd�ncia. A publica��o do chefe do Pal�cio do Planalto de um v�deo obsceno em uma rede social gerou mal-estar entre l�deres dispostos a compor a base aliada. O sentimento de alguns � de que o capital pol�tico do pesselista, que vem se reduzindo. Na pr�tica, a Proposta de Emenda � Constitui��o (PEC) encaminhada pelo governo pode ser aprovada no Congresso. O risco de Bolsonaro se enfraquecer, entretanto, dificulta a possibilidade de passar uma reforma nos moldes pretendidos pelo Planalto.
A insatisfa��o de congressistas em rela��o a Bolsonaro n�o � recente. Na reuni�o de l�deres com o presidente, na �ltima ter�a-feira, deputados alertaram para o risco de o presidente tratar a imprensa como inimiga e criar um clima de “Fla-Flu” com parlamentares da oposi��o, o “n�s contra eles”. A manifesta��o do pesselista nas redes sociais s� refor�a a ideia de que o aviso entrou por um ouvido e saiu pelo outro. “O chefe de Estado tem que ser o equil�brio da na��o, e n�o algu�m que vai provocar e dividi-la”, criticou o deputado Jos� Nelto (Podemos-GO), l�der da legenda na C�mara.
O controverso v�deo publicado por Bolsonaro repercutiu mal. Os l�deres, term�metros do clima em suas respectivas bancadas, expressam a preocupa��o. “Como dar cr�dito a um presidente que divide a na��o? A cada dia que passa, o governo fica mais ref�m do Congresso. O governo est� sem articuladores e o (presidente da C�mara) Rodrigo (Maia) se cacifa para ser o fiador da reforma. Se continuar falando bobagem, o presidente vai perder lideran�a e n�o ter� aliado que vai elevar o capital pol�tico”, analisou Nelto.
A avalia��o central dos l�deres � de que Bolsonaro precisa construir uma comunica��o de Estado, e n�o dividir o pa�s. “O presidente parece que ainda est� em campanha, o que n�o � adequado. � preciso colocar a Previd�ncia como prioridade, e n�o desviar o foco entre conservadores e progressistas”, analisou o deputado Daniel Coelho (PPS-PE), l�der do partido na C�mara. O deputado Pedro Lucas Fernandes (PTB-MA), l�der da legenda, endossa o coro. “� preciso se engajar no debate da Previd�ncia e trat�-la como prioridade, e n�o arranhar um produto nosso, que � o carnaval”, criticou.
A pol�mica n�o contamina a equipe econ�mica de Bolsonaro, mas redobrar� o trabalho do ministro da Economia, Paulo Guedes. Na �ltima semana, os l�deres pediram que o presidente seja o “garoto propaganda” da reforma da Previd�ncia. Depois da controv�rsia, a avalia��o da base aliada � de que caber� ao n�cleo econ�mico convencer a sociedade. “Bolsonaro est� em desprest�gio n�o apenas com os parlamentares, mas tamb�m com os governadores”, afirmou um l�der.
Defesa
Entre aliados, a avalia��o � de que o Planalto ser� “governado” pelo ministro-chefe do Gabinete de Seguran�a Institucional (GSI), Augusto Heleno. O ministro, respons�vel pela gest�o de crise do governo, se reuniu ontem com Bolsonaro. Para congressistas, ser� ele o respons�vel por aconselhar o presidente e resgatar o prest�gio com o Parlamento. O Planalto saiu em defesa do presidente. Em nota, a Secretaria Especial de Comunica��o Social da Presid�ncia acusa o v�deo publicado por Bolsonaro de crime contra os “valores familiares e as tradi��es culturais do carnaval”. Comunica ainda que o presidente n�o quis criticar o carnaval de forma gen�rica e que, al�m dele, as imagens “escandalizam grande parte da sociedade”.
A ideia de Bolsonaro em publicar o v�deo foi se passar por um “homem do povo” com a mesma opini�o do “grande eleitorado”, aponta um interlocutor. Algo pr�ximo ao que os ex-presidentes J�nio Quadros e Fernando Collor faziam. Marqueteiros e consultores pol�ticos ouvidos pelo Correio alertam, contudo, para uma estrat�gia arriscada do capit�o reformado. “� como se ele n�o tivesse tirado a camisa de candidato”, considera Carlos Andr� Machado, diretor do Instituto Opini�o Pol�tica, que faz pesquisas eleitorais e de avalia��o de governos.
Por mais cedo que possa ser para avaliar ou mesmo identificar a estrat�gia de Bolsonaro, as a��es s�o feitas a partir de monitoramento de redes sociais, que tem limites para an�lise de impacto e plano mais efetivo dos movimentos do presidente. Para Machado, por mais que Bolsonaro esteja incomodado com as cr�ticas de foli�es, o foco agora � a reforma da Previd�ncia. “Assim, o tempo � que vai dizer como o governo vai se movimentar para mostrar estrat�gia”, ponderou.
Como no per�odo eleitoral, Bolsonaro fala para o pr�prio grupo de apoiadores, que o defende no mundo digital, mas n�o amplia tal rede de prote��o. Isso complica quando a rea��o parece vir de rea��es emocionais por causa de cr�ticas. Especialista em campanha digital e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), Marcelo Vitorino diz que ainda � cedo para maiores julgamentos e at� mesmo para prever como o governo sobreviver� a crises, mas n�o h� d�vidas de que o que est� em jogo � a credibilidade. “N�o creio que tudo seja uma estrat�gia para algo. H� nas mensagens componentes de livre manifesta��o. O tempo � quem vai dizer se isso � uma estrat�gia que possa ser prejudicial.”