O presidente Jair Bolsonaro ouviu nesta quarta-feira, 6, de auxiliares pr�ximos a avalia��o de que a postagem em sua conta no Twitter de um v�deo no qual dois homens aparecem em atos obscenos no carnaval foi considerada "inapropriada" e "chocante". A repercuss�o causou desconforto no n�cleo central do governo. A pol�mica publica��o do presidente gerou cr�ticas entre seus opositores e mesmo entre os apoiadores nas redes sociais. O Pal�cio do Planalto precisou divulgar uma nota no in�cio da noite para explicar a atitude de Bolsonaro.
Uma pesquisa de monitoramento di�rio das m�dias sociais encomendada pela Secretaria de Comunica��o (Secom) e apresentada a Bolsonaro indicou que, no in�cio da tarde, 69% das mensagens sobre o epis�dio eram negativas. Na avalia��o de ministros e auxiliares ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, as imagens provocaram uma rea��o "virulenta" especialmente do "p�blico interno", como s�o classificados os seguidores do presidente nas redes sociais. Diversas publica��es estrangeiras repercutiram o tu�te do presidente.
A maior parcela de coment�rios s�o textos com teor ideol�gico em que o presidente critica o globalismo, a suposta partidariza��o da educa��o e a��es dos governos petistas e da esquerda. O pacote anticrime foi tratado em duas mensagens, e a reforma tribut�ria, em apenas uma.
Durante o carnaval, Bolsonaro fez 29 postagens no Twitter. No fim da tarde de ter�a-feira, dia 5, ele publicou o v�deo pol�mico - dois foli�es de um bloco em S�o Paulo praticam o fetiche chamado "golden shower" ("chuva dourada", que envolve o ato de urinar no parceiro ou na parceira). "Temos que expor a verdade para a popula��o ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades", escreveu. "� isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro."
Nesta quarta, Bolsonaro voltou ao tema, ao perguntar qual era o significado de "golden shower". Na nota divulgada na quarta, o Planalto afirma que as cenas do v�deo escandalizaram n�o s� o presidente, mas grande parte da sociedade. "� um crime, tipificado na legisla��o brasileira, que violenta os valores familiares e as tradi��es culturais do carnaval", destacou. "N�o houve inten��o de criticar o carnaval de forma gen�rica, mas, sim, caracterizar uma distor��o clara do esp�rito momesco."
No Pal�cio, no entanto, o epis�dio foi considerado um "constrangimento imensur�vel", conforme um dos militares do governo. O pr�prio presidente se impressionou com a rea��o negativa. O clima de desconforto s� foi atenuado no fim do dia, quando nova parcial de an�lise mostrou que o porcentual cr�tico ao tu�te caiu para menos da metade.
Entre assessores, contudo, a expectativa � de que a insatisfa��o e cr�tica dos pr�prios apoiadores de Bolsonaro levem o presidente e seus filhos a "ca�rem na real" sobre os perigos de postagens "inconsequentes".
Analistas de diferentes �reas ouvidos pelo Estado afirmaram que a conduta constitui "quebra de decoro social" porque "n�o corresponde � liturgia do cargo" e pode ter reflexos na imagem do Pa�s no exterior e na aprova��o das reformas para que a economia volte a crescer.
O professor de Rela��es Internacionais da FGV Oliver Stuenkel relatou que a divulga��o do v�deo causou "perplexidade" em diplomatas e investidores internacionais e que a mensagem foi interpretada como "sinal de que o governo est� com problemas". "A percep��o foi de que isso faz parte da estrat�gia do governo em fun��o da dificuldade que ele est� tendo em rela��o aos projetos relevantes, como a reforma da Previd�ncia e o projeto anticrime."
Para o chefe do Centro de Crescimento Econ�mico do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), Samuel Pess�a, a postagem � "mais um epis�dio na s�rie de trapalhadas do governo" que podem "dificultar" a aprova��o de reformas necess�rias para a retomada da economia brasileira.
O professor de comunica��o digital da Escola de Comunica��o e Artes da USP Luli Radfahrer apontou uma "desmontagem do ritual do cargo". "Ele n�o fala ali no Twitter da Previd�ncia, que � a bandeira maior que ele tem, o seu grande trunfo. Tem tamb�m o exemplo da reuni�o dos ministros em que ele estava com chinelo e camiseta pirata de time de futebol."
Temas
O Estado contabilizou 515 mensagens publicadas pelo presidente desde 1.º de janeiro. O principal conte�do � o de agradecimento e sauda��o a aliados (95 tu�tes). Depois, v�m textos com teor ideol�gico em que o presidente critica o globalismo, a suposta partidariza��o da educa��o e a��es dos governos petistas e da esquerda. S�o 51 mensagens com esse tom.
Textos sobre rela��es internacionais, com cr�ticas a Cuba e Venezuela, e sua passagem pelo F�rum Econ�mico de Davos s�o o terceiro tipo de publica��o mais comum: somam 43. A��es e projetos para melhorar a infraestrutura do Pa�s foram tema de 41 mensagens. Pelo menos 31 tu�tes foram cr�ticas � imprensa.
A modifica��o no sistema de aposentadorias, no entanto, ficou de fora do canal durante todo o m�s de janeiro. Em 20 de fevereiro, dia do an�ncio da nova Previd�ncia, surgiu a primeira mensagem sobre o tema, com uma entrevista do ministro da Economia, Paulo Guedes. No mesmo dia, o presidente republicou texto dizendo que a reforma acaba com a "aposentadoria especial" de pol�ticos.
Comunica��o dividida
A divis�o do setor de comunica��o preocupa a equipe de governo. A �rea � dividida em tr�s grupos: o do porta-voz, general Ot�vio do R�go Barros; o de amigos de Carlos Bolsonaro (de onde partiria a maioria dos ataques na internet); e o da Secretaria de Comunica��o, vinculada ao ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz.
Na avalia��o de interlocutores de Jair Bolsonaro, o momento n�o � de abrir flancos com pol�micas "sem sentido", quando o governo enfrenta um tema "muito s�rio", que � a reforma da Previd�ncia. O Planalto estuda, agora, se renova os contratos das ag�ncias Isobar e TV1, que cuidam das m�dias digitais do governo. Esta quarta-feira foi o �ltimo dia de contrato das duas, que, juntas, recebem R$ 45 milh�es por ano.