Entrevista com Onyx Lorenzoni: 'A nova Previd�ncia � o portal da prosperidade'
Chefe da Casa Civil diz que � necess�rio manter a mod�stia nas negocia��es, mostra-se otimista na aprova��o da reforma da Previd�ncia ainda no primeiro semestre e critica a��o da OAB contra a recomenda��o de Bolsonaro de comemorar o dia 31 de mar�o
Prestes a completar 100 dias, em 11 de abril, o governo Jair Bolsonaro conseguiu fechar a semana com um respiro em rela��o a controv�rsias e troca de chumbo entre aliados e parlamentares. A d�vida � quanto tempo a tr�gua vai durar, at� a pr�xima troca de tu�te ou declara��o agressiva. Mas n�o para o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, 64 anos. Para ele, os atritos eram esperados, mas a tend�ncia � que as pol�micas decantem e a reforma da Previd�ncia — o principal projeto do Planalto — avance no Congresso e seja aprovada antes do recesso de julho.
“� preciso tempo, paci�ncia, resili�ncia e humildade”, disse Onyx em entrevista ao Correio, ao final da tarde da �ltima sexta-feira, em seu gabinete, no quarto andar do Pal�cio do Planalto. Pouco antes de receber a reportagem, o ministro trabalhava com a organiza��o do an�ncio dos 100 primeiros dias do governo Bolsonaro. “Vem a� o revoga�o”, diz ele, referindo-se � revoga��o de mais de 200 decretos do Poder Executivo, de forma a simplificar a vida do cidad�o.
Quanto aos sobressaltos que o governo passou em t�o pouco tempo e �s resist�ncias a pontos da reforma, ele � direto: “Nenhum projeto de nenhum governo passa inc�lume pelo Parlamento. Vamos discutir na comiss�o de m�rito”, diz ele, citando o texto do governo n�o como uma reforma, nos moldes das gest�es passadas, mas uma mudan�a total no sistema previdenci�rio do pa�s. E, num caso desses, os sobressaltos ocorreriam. “Isso era perfeitamente previs�vel. A gente sabia que ia ser complexo. A alta burocracia se defende, porque burocracia significa prote��o e poder”, comenta, ao ressaltar que a “nova Previd�ncia” exige um pacto pelo Brasil. “Ou vamos ser a Gr�cia e mergulhar no abismo ou vamos ser o Portugal, que em um belo dia cortou 30% de pens�es de aposentadorias. Os portugueses gritaram, choraram, mas o que aconteceu? Tiveram que aguentar. Imagina cortar 30% de pens�o hoje!”
Questionado se faria comemora��es hoje, 31 de mar�o, Onyx disse que a “sociedade brasileira, majoritariamente, escolheu o caminho da democracia e para evitar o processo que vinha da Guerra Fria”. Segundo ele, “todo mundo sabe da hist�ria”. “As pessoas sabem que nunca lutaram contra a democracia, lutaram contra a ditadura comunista. “A democracia n�o tava no horizonte. Foi necess�rio aquele movimento”, diz ele, que atacou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que na sexta-feira denunciou Bolsonaro por recomendar que se promova uma “comemora��o adequada” do golpe. “Um absurdo, eu fico triste de ver que a entidade como a OAB se presta a isso. As pessoas do mundo todo v�o rir do Brasil, n�o tem nenhum sentido. A OAB deveria cuidar das coisas do Brasil, deixa a ONU para l�.”
A seguir, confira a entrevista:
O que d� pra ressaltar nos primeiros 100 dias de governo?
Faremos o balan�o no dia 11 de abril. N�o vamos antecipar, j� que � l� que vamos comemorar. N�s t�nhamos 35 metas, e estamos a� com mais de 90% do cumprimento. A gente acha que vai chegar, mas, se n�o alcan�ar os 100%, deve ser 98% para cima. Estamos coletando outras a��es que desenvolvemos e tem um balan�o muito positivo para o governo. O que s�o os primeiros 100 dias? Isso � governan�a p�blica, padr�o OCDE, que � o projeto criado pelo TCU, j� aplicado na transi��o, quando lan�amos aquela cartilha de governan�a p�blica. Todos os ministros e secret�rios executivos passaram por treinamento na Escola Nacional de Administra��o P�blica. Estamos praticando o procedimento tanto com metas final�sticas, quanto metas transversais. Trabalhamos com a digitaliza��o do governo at� os primeiros quatro anos. Reduzimos minist�rios e n�veis hier�rquicos. Cortamos as primeiras 21 mil fun��es de cargos e comiss�es. Vamos implantar, antes dos 100 dias, as primeiras unidades de integridade e combate � corrup��o, uma no Minist�rio da Sa�de e outra, no Minist�rio de Agricultura, justamente por terem grande capilaridade. No combate � corrup��o, n�o adianta somente ter Pol�cia Federal forte, o Judici�rio... A gente precisa mudar a cultura na �rea p�blica, trabalhando por dentro. Vamos fazer teste da forma de funcionamento em aproximadamente 90 dias e, provavelmente, em agosto, implantamos em toda a Esplanada. Cada pasta ter� uma unidade integradora e controle.
Onyx mant�m h�bitos dos Pampas, como tomar chimarr�o (foto: Ed Alves/CB/D.A Press
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� a volta do controle interno?
N�o, � um modelo semelhantes �s unidades de compliance aplicado �s empresas privadas.
Mas o governo tem apresentado muitas dificuldades.
Vamos l�, primeiro deixa eu falar da reforma, que � um nome ruim para uma coisa boa e diferente. Quem fez reforma foi FHC. Lula, Dilma e Temer, uma maquiagem, um conserto pontual. N�s apresentamos um novo sistema previdenci�rio. Antes de mandar a reforma, mandamos a MP de fraudes do INSS e entregamos o projeto que melhora a cobran�a a devedores. Depois, pela primeira vez na hist�ria republicana, desde o s�culo XIX, separamos Previd�ncia de assist�ncia, para a sociedade ter clareza. Quando lembramos de Jo�o 8:32, � a verdade. A verdade � que Previd�ncia � sistema de seguridade. O Brasil tem sistema de reparti��o, e a assist�ncia social � de outra natureza, tem que ser coberta com taxas, imposto e contribui��es. A sociedade tem que ter clareza do custo e de como se faz essa rede de solidariedade, que tem que existir. Outra coisa, estamos consertando o barco, que est� furado, para permitir que ele continue flutuando, tenha capacidade de receber milh�es de pessoas que v�o se aposentar na pr�xima d�cada, e ele possa pagar pens�es e aposentadorias rigorosamente em dia. Eu considero o sistema de pens�o uma falha geracional. Ele podia funcionar em um mundo do trabalho, que, a partir de meados dos anos 1980, come�ou a se transformar, a forma como o trabalho se organizou na �poca. Hoje � diferente. Outra coisa importante, gra�as a Deus, as pessoas vivem mais por causa dos avan�os da medicina, melhoria do padr�o de vida brasileiro, alimenta��o, saneamento. Outro problema �: meu av� vem de uma fam�lia de 11 filhos, n�o sendo o padr�o atual. Ent�o, a conjuga��o desses aspectos, a mistura de Previd�ncia e assist�ncia, e a irresponsabilidade da gest�o fizeram um buraco no navio. E o que estamos fazendo? Estamos consertando com equidade. � para todos, para todo mundo, a partir da cota de sacrif�cio no aumento das al�quotas e na incid�ncia de al�quotas para todos — mas, diferentemente das outras, n�o h� retirada de direitos para ningu�m, nem no regime pr�prio, nem na Previd�ncia Geral.
Mas h� uma dificuldade para que a sociedade apoie, principalmente em rela��o � capitaliza��o.
Isso � importante, a gente corrige e d� condi��o de flutua��o para o barco novinho para os nossos filhos e netos, que � o regime de capitaliza��o. � diferente do chileno, que foi em fundo. O nosso ser� em poupan�a individual para aposentadoria. Escolhemos a poupan�a porque a poupan�a � conhecida dos extratos menos “aquinhoados” da popula��o, e a popula��o confia. Na medida em que seja assim, essa poupan�a individual vai ter caracter�stica importante: uma portabilidade de 3 a 4 anos. Ent�o imagina a disputa dos bancos para receber poupan�a sobre remunera��o. Usando mecanismo de mercado, o Brasil tem do PIB 15,5% de poupan�a interna, mas ter� condi��es de bater 20%, com a capacidade de alcan�ar 3% do crescimento ao ano. Al�m de que vai melhorar c�mbio, reduzir depend�ncia do recurso externo, financiar o pr�prio crescimento e atualiza��o tecnol�gica, na medida em que seja assim, uma transforma��o profunda.
Mas o presidente parece n�o ter convic��o da reforma, e a troca de declara��es com o Maia atrapalhou tudo. Como resolver?
Primeiro, com muita humildade. Somos um governo novo, que tem uma heran�a terr�vel deixada pelo PT, para n�o falar maldita. S�o 13 milh�es de desempregados, R$ 139 bilh�es de deficit prim�rio, 9% de analfabetos, enquanto que os funcionais s�o 30%. Parte dos alunos que entra nas escolas p�blicas e privadas n�o faz interpreta��o de texto nem equa��o matem�tica. Isso � a heran�a petista, sem falar na roubalheira. Estamos falando daquilo que mexe com a vida da cidadania, 60 mil homic�dios por ano. Evidente que, em um per�odo curto, essa trag�dia se abateu sobre o Brasil, misturando incompet�ncia com projeto de poder continental, e � a dificuldade que n�s temos. Por 30 anos o Brasil criou presidencialismo de coaliz�o, em que o resultado, todo n�s conhecemos.
Essa dificuldade � a dificuldade com o Maia?
N�o, isso � outra quest�o. Vou tentar equacionar para n�o cair no reducionismo de o problema ser o “Maia e o presidente”, que � �timo para a manchete do jornal, mas � uma trag�dia para o Brasil. N�s temos 30 anos de presidencialismo de coaliz�o que est� sendo modificado. Como est� sendo modificado? Montamos o primeiro escal�o independente, enquanto que, no segundo escal�o, o presidente da Rep�blica nomeou uma pessoa, que � o secret�rio nacional da pesca. Mais ningu�m. Voc�s j� viram isso? Ningu�m nunca viu isso no Brasil.
E quem est� nomeando?
Os ministros, com total independ�ncia. O que acontece: � claro que tem um processo de adapta��o. O Congresso � o mesmo? N�o. S�o 249 deputados novos e 46 senadores novos. Ent�o, � evidente que tudo isso precisa de tempo, paci�ncia, resili�ncia e humildade para poder persistir no di�logo. Ent�o o que aconteceu: quando come�amos a ajustar, houve uma situa��o de desentendimento de parte a parte, e a gente encontra raz�o de todos os lados.
N�o importa quem errou?
N�o, at� pelo fato da humildade, como o presidente teve e o Rodrigo (Maia) tamb�m. A gente dizia: erramos? Erramos. Vamos arrumar? Vamos. Essa semana foi a semana do apaziguamento. Na ter�a-feira, passei duas horas e cinquenta minutos reunido com 14 l�deres partid�rios dentro de uma sala, onde conversamos sobre tudo que tinha que ser conversado.
Qual foi a principal reclama��o deles?
D� pra escrever um livro. Na quarta-feira, fui ao Senado e passei mais de 3 horas l�. Falei com oito l�deres de partidos. N�s conversamos aqui tamb�m na quinta, quando o cen�rio passou a mudar. Comecei com o Davi (Alcolumbre), (Rodrigo) Maia. Gra�as a Deus, passamos a desanuviar as tens�es.
O que � velha pol�tica e o que � nova pol�tica?
Isso foi uma disputa feita na elei��o, e que permitiu que houvesse essa renova��o e vit�ria dele (Bolsonaro). Depois de formatados a C�mara e o Senado e tendo um presidente, acabou. Daqui para frente � a pol�tica, numa nova forma de constru��o de relacionamento entre poderes Executivo e Legislativo, o qual ainda est� em uma fase de aprendizagem. Vamos l�, n�s temos um campeonato a ser jogado, que � o campeonato de desenvolvimento. N�s temos quatro anos para jogar esse campeonato. Vamos l�: qual era a previs�o em junho do ano passado? “Quando come�ar a campanha do Bolsonaro, ele perde espa�o.” Depois: “Mas quando entrar a televis�o, acaba”. A�, por pouquinho, n�o liquidamos no primeiro turno. “No segundo, ele perde”. N�o perdeu. Quando teve a disputa l� no Senado... S� uma parcela apostava no Davi. E ele ganhou.
Orgulhoso ao exibir a camisa do Inter, o time do cora��o (foto: Ed Alves/CB/D.A Press)
O Davi foi considerado uma boa articula��o da sua parte. Como o senhor vai operacionalizar isso no Senado?
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A nova pol�tica foi uma resposta da sociedade eleitoral que, na minha opini�o, e eu tenho conversado internamente, acabou. Agora o estado � de fazer pol�tica. Para que foi inventado o Estado? Para garantir a nossa integridade f�sica. Depois, melhorar a condi��o de vida da sociedade. A�, quando a gente evoluiu para a democracia, se escolheu, desde o iluminismo franc�s, a triparti��o dos poderes. E quando os americanos inventaram o presidencialismo republicano, ent�o diminui o poder para o rei, afinal pode ser qualquer um de n�s. E n�s no Brasil precisamos reinventar a nossa forma de nos relacionar. De forma que tenha mais transpar�ncia, de forma que seja mais facilmente identific�vel pela sociedade. E eu n�o tenho nenhuma d�vida de que a Nova Previd�ncia � o portal da prosperidade para o Brasil, devido aos seus reflexos econ�micos importantes, que v�o trazer para o nosso pa�s, o volume de investimentos. E, por outro lado, a Nova Previd�ncia � a chance de o Congresso se reencontrar com a sociedade, que, nos �ltimos anos, teve quase que um div�rcio.
O senhor fala em paci�ncia, tempo e humildade para que se entenda esses 100 dias. Mas s�o muitos sobressaltos...
Est� dentro do normal. At� porque a gente tem uma circunst�ncia em que todos est�o se ajustando. Isso era perfeitamente previs�vel. A gente sabia que ia ser complexo. A gente sabia que ia ser dif�cil porque estamos mudando uma cultura. Por exemplo, quando a gente fala em avan�ar para a digitaliza��o aqui, n�s temos for�as da alta burocracia que impedem. A gente come�ou a fazer os decretos de desburocratiza��o para fazer o revogado. N�s j� temos mais de 100 decretos para serem renovados. A alta burocracia se defende porque burocracia significa prote��o e poder.
Essa lua de mel tem um prazo de validade devido � opini�o p�blica. Vai ter uma hora em que as coisas come�am a embara�ar. Isso afeta a reforma da Previd�ncia?
A nova Previd�ncia n�o � apenas um projeto do governo Bolsonaro. Ela exige um pacto pelo Brasil. Ou vamos ser a Gr�cia e mergulhar no abismo, ou vamos ser Portugal, que, em um belo dia, cortou 30% de pens�es de aposentadorias. Os portugueses gritaram, choraram, mas o que aconteceu? Tiveram que aguentar. Imagina cortar 30% de pens�es hoje? Mas, em compensa��o, Portugal, hoje, se equilibrou, � um dos pa�ses europeus que mais crescem, com qualidade de vida. Ent�o, n�s podemos fazer tudo isso sem passar por esse sofrimento. Voc�s publicaram aquelas fotos das pessoas em filas intermin�veis em S�o Paulo, pessoas procurando trabalho. Aquilo � desumano. O pa�s que tem as riquezas que o nosso pa�s tem, a biodiversidade que tem, o capital humano que o nosso tem, um governo que � constitucional, que defende liberdade, respeita contratos, propriedade... Est� tudo pronto. O que falta para o Brasil? Por que o Brasil n�o bomba? O grande lugar do planeta para fazer investimento que retorna em curto prazo n�o � o M�xico, porque, com a guinada deles, eles saem do radar. N�o � a Argentina, porque Macri n�o teve um norte como este governo tem. A� tem o Chile, mas que tem o mercado que j� est� resolvido, pequeno, est� com US$ 24 mil de renda per capita. Ent�o, no momento em que reequilibrarmos fiscalmente o Brasil, cabe estudar a palavrinha m�gica entre o investidor externo e o interno, que � previsibilidade. Ou seja, n�o h� risco de quebrar o governo. N�o vai ter corte de pens�es e aposentadorias ou, o que � pior para o investidor, um tarifa�o para recuperar equil�brio fiscal, porque a� voc� vai cobrir o lucro do cara e n�o permite que ele retome o investimento. O Brasil tem um referencial de confian�a que foi gerado pela elei��o do presidente Bolsonaro. Fizemos uma concess�o de aeroportos, arrecadamos R$ 2,37 bilh�es. Ent�o, o que � isso? Isso � confian�a. Isso � esperan�a.
O senhor disse que o governo n�o precisaria da Previd�ncia. Ele vai sobreviver a esse mandato com ou sem a Previd�ncia.
O Brasil tem US$ 380 bilh�es de reserva externa, um deficit prim�rio que conseguimos administrar. O nosso problema � que o buraco vai aumentar. O Brasil tem um cen�rio que nos permite, com muita dificuldade, conduzir o pa�s nestes quatro anos se eventualmente a reforma n�o passar. Agora, � um cen�rio muito ruim para os brasileiros. A Nova Previd�ncia � um portal das prosperidades. A pot�ncia fiscal preparada pelo ministro Paulo Guedes � de R$ 1,1 trilh�o em 10 anos. Isso nos d� condi��o para mostrar ao mundo que o Brasil � solvente. S� tem not�cia boa para governador, prefeito, para o cidad�o, que � o mais importante. Estamos fazendo isso para as nossas fam�lias, para os nossos netos. Todo brasileiro tem chance de ir a pa�ses como Austr�lia, Nova Zel�ndia, e se questiona: “Por que n�s n�o somos assim?”. N�s podemos ser melhores do que eles. Depende s� da gente. Eu acredito muito que o Congresso brasileiro tenha a alma verde e amarela. Principalmente, esse Congresso que emergiu das urnas.
Mas 13 partidos fizeram manifesto pedindo mudan�as no projeto da Previd�ncia...
Nenhum projeto passa inc�lume pelo Parlamento, com rar�ssimas exce��es. Isso vale para a Alemanha, Espanha, Brasil.
Mesmo que a economia seja menor?
Sabemos que ocorrer�o modifica��es. Esse di�logo com os partidos � a favor do Brasil. � o trabalho que n�s vamos ter no momento que, mais ou menos, no dia 17 de abril, vai sair da CCJ. Vamos para a comiss�o especial em pouco mais de 40 dias. N�s vamos fazer um debate profundo tecnicamente consistente, de parte a parte, e eu tenho certeza de que n�s vamos encontrar o caminho.
O governo parece n�o precisar de oposi��o, por causa dos filhos do presidente ou dos olavistas...
O que significou a vit�ria do Bolsonaro � que ela foi constru�da nem s� pelo Bolsonaro, nem s� pelos filhos dele, nem s� pelas ideias liberais do Olavo de Carvalho, nem s� pelas ideias liberais do Paulo Guedes, nem s� pelas ideias liberais que eu defendo. Eu fui um dos primeiros deputados a se eleger defendendo ideias liberais h� vinte e tantos anos. L� no Rio Grande do Sul, eu lembro que as pessoas diziam que, com aquelas ideias, eu teria apenas um mandato. Eu t� fechando o meu s�timo mandato. Fui o segundo mais votado no estado. Tinha sido o quinto. Agora, fiz 184 mil. Hoje, a m�dia organizada brasileira fala para 7% da popula��o. Nessa �ltima elei��o, se gerou uma bolha fora dessa bolha. A gente sabe que tem quase 60% da popula��o brasileira que s�o os eleitores do Bolsonaro. Ent�o, o Bolsonaro construiu um canal de comunica��o a�. Eu voltei l� em 2013, quando surgiram as movimenta��es dos 10 centavos. Ningu�m entendia direito o que estava rolando. O que foi aquilo? De onde saiu? De l� para c�, veio 2014, 2015, veio o impeachment da Dilma, que foi fundamentalmente nas redes sociais. Depois come�a a se notar o fen�meno Bolsonaro em 2017/2018. Ele se consolida. Vira um candidato para valer. Pouqu�ssimas pessoas conseguiram fazer essa leitura em 2017. No mundo pol�tico, praticamente ningu�m. Por eu ter tido a honra de ser l�der dele no per�odo pequeno (PFL/democrata), ele pegou bem o momento da transi��o, e depois a amizade se consolidou no referendo do Estatuto do Desarmamento. Hoje, eu ando nas ruas sozinho. Eu vou ao mercado na feira do Guar�, eu falo com as pessoas e as pessoas falam comigo, as pessoas est�o muito felizes com o governo.
Mas n�o � isso o que dizem as pesquisas...
O dia em que o Ibope acertar uma pesquisa no Brasil, eu te pago um jantar. Esse Ibope � um salafr�rio. N�o deveria existir esse neg�cio, esse tro�o. � um absurdo. Se fosse um pa�s s�rio, j� estava na cadeia o dono do Ibope, e eu provo isso porque eles me roubaram uma elei��o no Rio Grande do Sul, em 2004.
O senhor vai comemorar o 31 de mar�o?
Olha aqui, isso � uma coisa hist�rica. Ali, em 1964, a sociedade brasileira, majoritariamente, escolheu o caminho da democracia para evitar o processo que vinha da Guerra Fria. Todo mundo sabe da hist�ria. As pessoas sabem que eles nunca lutaram pela democracia, lutaram pela ditadura comunista. A democracia n�o estava no horizonte. Foi necess�rio aquele movimento.
As torturas foram necess�rias?
N�o. � claro que n�o, mas vamos l�. Pega todas as ditaduras do mundo. Todas de direita, e as de esquerda ganham de mil por um. S�o cem milh�es de mortos no mundo todo. Muitos, de fome. Ningu�m quer ditadura. O Brasil amadureceu democraticamente. Nenhum partido de esquerda tem autoridade moral para falar contra o que aconteceu aqui, no Brasil, porque tem a Venezuela.
A Ordem dos Advogados do Brasil tamb�m recorreu hoje � Organiza��o das Na��es Unidas.
� uma tristeza ver a OAB recorrer � ONU. A OAB, que j� prestou tantos servi�os relevantes ao Brasil. Foi importante na reconquista democr�tica. Sou de uma fam�lia de advogados. Conhe�o in�meros advogados. Tenho uma admira��o. O meu filho do meio tem dois anos de formado, j� tem mestrado, especialista em uma universidade fora do Brasil. Est� fazendo doutorado em direito. Tenho um respeito imenso pela profiss�o. � um absurdo, e eu fico triste de ver ao que a OAB se presta. As pessoas do mundo todo v�o rir do Brasil, n�o tem nenhum sentido. A OAB deve cuidar das coisas do Brasil, deixa a ONU para l�.
O senhor falou da burocracia que atrapalha o cidad�o...
Estamos acabando com essa coisa de reconhecer firma e isso e aquilo e papel para isso e para aquilo, ou seja, estamos construindo uma rela��o completamente diferente do que foi historicamente. O cidad�o votou na elei��o, depois chegava a vez do governo, e o governo desrespeitava. O cidad�o tem raz�o at� que se prove o contr�rio. N�s vamos estruturar o arcabou�o legal nessa linha. Agora, � dif�cil porque essa burocracia que se instalou no Brasil nos �ltimos anos � a alta burocracia mais resistente. Eu vou te dar um exemplo: a presidente da Embratur resolveu fazer um jantar de R$ 299 mil. O presidente descobriu e ela foi demitida na hora. A gente n�o brinca com essas coisas, estamos trabalhando. Eu sou ministro desde 3 de novembro do ano passado, fui um ministro de transi��o. Quantos avi�es da For�a A�rea Brasileira eu requisitei? Nenhum. Sabe quantos centavos eu gastei do cart�o corporativo? Nenhum. Olha o que est� acontecendo no MEC, talvez o �rg�o p�blico mais aparelhado do Brasil. Sab�amos que seria um dos focos da resist�ncia, at� porque, do ponto de vista ideol�gico, � o lugar onde se expressam as influ�ncias desses quase 30 anos de esquerdismo que o Brasil empilhou e que deu no que deu. N�s temos problemas grav�ssimos dentro das escolas brasileiras. Ent�o, isso vai levar muito tempo para recuperar.
Mas a impress�o � que o ministro Vel�z est� perdido, n�o sabe nem os nomes dos programas...
(Com ironia) 80 dias � um tempo longu�ssimo para uma constru��o que levou tr�s d�cadas. Eu tomei uma decis�o que foi a da exonera��o e da reconstru��o. A maior parte dos ministros n�o topou a despetiza��o, est� fazendo lentamente. A gente tem profundo respeito pela a��o de cada ministro, estamos em um time que est� se afinando. A equipe tem alma verde e amarela, s�o reuni�es espetaculares de serem assistidas. O presidente, reiteradamente, mobiliza a equipe no sentido pra servir o Brasil, ou seja, tem um tempo e tem que ter paci�ncia.
Quando a Previd�ncia ser� aprovada?
A nossa expectativa e a proje��o s�o de que, at� julho, a gente tenha a Nova Previd�ncia votada na C�mara e no Senado. At� o recesso. A gente acha que pode ser antes. Mas, se a gente tiver ela aprovada at� antes do recesso, est� perfeito. A�, no segundo semestre, entra a descentraliza��o dos recursos. E o que ocorre: o projeto do Moro vai tramitando. Os projetos do pacote anticrime, na verdade, t�m um rito todo pr�prio. Tem uma s�rie de comiss�es para passar, e a gente sabe o tr�mite m�dio de projeto de lei que n�o seja PEC. Mesmo com urg�ncia constitucional, tem uma tramita��o de mais ou menos um ano. �s vezes, at� um pouquinho mais. � natural isso. O tempo do Parlamento n�o � o mesmo do Executivo. Algumas vezes, a gente consegue sincronizar, mas a maior parte do tempo � a dessincronia. N�o estamos parados. J� desmontamos o comando da maior organiza��o criminosa do Brasil. Eu acho que isso � um m�rito. Falo das transfer�ncias que fizemos do l�der do PCC.
Mas o DF est� reclamando muito disso. A bancada do DF encontrou o ministro Moro para debater o assunto.
Esses pres�dios de alta seguran�a est�o pelo Brasil todo. Qual � o registro de incidente em 10 anos? Sabe quantos? Se n�o foi nenhum, � um ou dois. Eu nunca vi. Nunca soube de uma not�cia. Porque, nessas �reas de alta seguran�a ningu�m vai bulir, n�o �? N�s n�o tivemos problema nenhum.
O governador do DF reclamou...
O problema � que, �s vezes, existem incompreens�es. Quando a gente vai tentar construir pres�dio, a maior parte das cidades n�o quer receber. E poucas sabem que as cidades que t�m pres�dios t�m os menores �ndices de criminalidade, justamente porque os cuidados de seguran�a s�o muito grandes, e essas incompreens�es s�o naturais. Aqui tamb�m est� come�ando o governo, tem que aprender um pouquinho, tem que ser humilde.
Quem tem que ser humilde?
Todo mundo. Eu desconhe�o algu�m mais humilde que o presidente da Rep�blica no universo pol�tico. Ele � humilde mesmo, ele n�o tem frescura, ele � um cara tranquilo, humano, direto. �s vezes, a gente tem conceitos de que a gente se apropriou, mas, se n�o contribuirmos uns com os outros, como a gente faz? E isso porque a gente tem uma das melhores pol�cias do Brasil, que s�o a Civil e a Militar. Eu acho que o grau de seguran�a que tem o DF, comparado com o Brasil, � exemplar. Tenho muito respeito pelo trabalho que a seguran�a p�blica vem fazendo no DF.
O que o servidor p�blico pode esperar?
O que essa nova Previd�ncia traz para os que est�o atuando � apenas uma contribui��o maior e tempo de servi�o, claro. N�o podemos mais ter aquela circunst�ncia de pessoas se aposentarem aos 50 anos de idade.
Mas tem aqueles que dizem: “Ah, mas quando eu fiz meu concurso, n�o era assim?”
Ah, mas as regras de transi��o s�o muito tranquilas.
O senhor tem algum plano para se tornar governador do seu estado?
Sempre sonhei em governar o Rio Grande do Sul. Nessa �ltima elei��o, isso esteve muito pr�ximo, com boas chances, mas a� teve o convite e compromisso com ele (Bolsonaro). N�s �ramos poucos. Contando ele com os filhos, �ramos 15. Mas t�nhamos muita f� em Deus. Eu digo sempre que Ele � quem decide. Ele � que me tirou da elei��o de Porto Alegre em 2016, onde eu era favorito. Um dia conto a hist�ria. Eu n�o estou de gra�a aqui, n�o. Ele me botou aqui. Fez muitas coisas na minha vida nos �ltimos 13 anos.
Brasiliense adotado
“Eu estou h� 17 anos em Bras�lia. Minha esposa (Denise) � brasiliense, nativa da Vila Planalto. Agora, hoje, eu estou quase brasiliense adotivo, mas, na verdade, mantenho todos os h�bitos ga�chos. Ela me torna um brasiliense adotivo, e eu a torno uma ga�cha nativa. Ela toma mate, come churrasco. E ouve m�sica ga�cha e dan�a. Eu gosto de dan�ar. Aqui, corro todos os dias na rua.
Eu sou luterano. Minha mulher � da Sara Nossa Terra h� 18 anos. Sou muito amigo do pastor Rodovalho, nossos mandatos coincidiram. Desde l�, fizemos uma rela��o de amizade. E a� ele faz um trabalho muito bonito. Eu gosto muito. Me sinto feliz e vamos ver o que Ele (Deus) vai decidir sobre o futuro, mas agora � servir ao Brasil. Eu tive uma conversa com Ele quando fiz o caminho de Santiago de Compostela, em 2016. Foi espetacular. Voc� faz um mergulho. Eu fiz perguntas para ele que s� tive respostas na revis�o de vida que fiz h� sete meses na Sara Nossa Terra. Muita coisa que perguntei para ele l�, as respostas vieram.”