
Em 5 de abril de 2018, uma decis�o do juiz S�rgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, hoje ministro da Justi�a, causou forte impacto pol�tico. Ele determinou a pris�o do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, que, mesmo fora de qualquer cargo p�blico, ainda se mantinha como uma das maiores lideran�as do Brasil. Mesmo com mandado emitido, a deten��o s� ocorreria dois dias depois, quando o petista se entregaria �s autoridades na sede do Sindicato dos Metal�rgicos, em S�o Paulo. Neste domingo, completando um ano na pris�o, as a��es do petista se arrastam na Justi�a. Prestes a ter um recurso julgado no Superior Tribunal de Justi�a (STJ), ele mant�m a expectativa de ir para a pris�o domiciliar, mas sofre com as finan�as deterioradas. Sua defesa reclama da falta de recursos. Lula j� gastou entre R$ 4 milh�es e R$ 5 milh�es na tentativa de sair da cadeia.Seus bens est�o bloqueados pela Justi�a.
Um ano depois, Lula viu sua influ�ncia pol�tica minguar. Mas ainda mant�m uma legi�o de apoiadores no mundo pol�tico e na sociedade de norte a sul do pa�s. Condenado em duas a��es penais, ambas resultados das investiga��es da Lava-Jato, ele tem futuro incerto. A pena � de 12 anos e um m�s de pris�o. No entanto, o julgamento de um recurso no Superior Tribunal de Justi�a (STJ) pode lev�-lo para casa mais cedo. Hoje, em decorr�ncia dos 12 meses de pris�o, ocorrem protestos de apoio em diversas cidades.
Mesmo preso, Lula teve forte influ�ncia nas elei��es do ano passado. Ele conseguiu lan�ar a candidatura do ex-prefeito de S�o Paulo Fernando Haddad � Presid�ncia. O candidato do Partido dos Trabalhadores cresceu rapidamente e conseguiu chegar ao segundo turno, alcan�ando 47 milh�es de votos, o que n�o foi suficiente para garantir a vit�ria.
Pelo menos 21 estados e o Distrito Federal devem registrar atos em apoio ao ex-presidente ao longo do dia. As principais manifesta��es ocorrem em S�o Paulo e Curitiba, onde ele permanece preso. Em 2 de mar�o, Lula saiu da cadeia pela primeira vez para se encontrar com familiares e amigos. Ele foi ao vel�rio do neto, Arthur Lula da Silva, que morreu aos 7 anos em decorr�ncia de uma infec��o. O ex-presidente j� havia deixado o c�rcere nos meses anteriores para prestar depoimentos � Justi�a sobre oito a��es penais a que responde.
Progress�o de regime
Em um recurso especial, que tramita no STJ, os advogados de Lula pedem que a pena seja anulada, alegando que atos ilegais ocorreram durante o processo. Entre as queixas, est� a de que Moro agiu parcialmente ao julgar o caso. Recentemente, os advogados solicitaram ao ministro Felix Fischer, relator do caso na Corte, que avaliasse se os autos devem ser enviados para a Justi�a Eleitoral, por conta das acusa��es terem liga��o com a campanha. O ministro solicitou manifesta��o do Minist�rio P�blico. No entanto, de acordo com informa��es levantadas pela reportagem, o �rg�o respondeu sobre as indaga��es dos advogados, mas n�o se manifestou sobre o envio para a Justi�a Eleitoral.
Por conta disso, o ministro Fischer devolveu o processo e pediu que o MP aponte sua vis�o tamb�m sobre esse pedido. Falta apenas essa etapa para que o processo seja pautado para julgamento na 5ª Turma do Tribunal. Existem tr�s possibilidades neste caso. A pena de 12 anos e um m�s definida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Regi�o (TRF-4) pode ser mantida. � poss�vel ocorrer ainda anula��o da pena (algo improv�vel) ou a redu��o do tempo de pris�o, o que poderia resultar em progress�o para a pris�o domiciliar, j� que r�us com bom comportamento podem obter este benef�cio ao cumprir um sexto da condena��o.
O deputado Carlos Zaratinni, que conversou com Lula no dia do enterro do neto, acredita que ele ser� liberado para ir para casa nas pr�ximas semanas. “Naquele dia, n�s tivemos contatos r�pidos. Ele estava mais preocupado em acalentar a fam�lia. Lula n�o chegou a comentar sobre isso. Mas se fosse para a pris�o domiciliar, seria um avan�o. � melhor ele preso em casa do que onde est�, na Superintend�ncia da PF, ainda que isso n�o represente o reconhecimento da inoc�ncia dele”, disse.
Rotina
H� exatamente um ano, a rotina do ex-presidente se limitou a uma sala de Estado-maior no quarto andar da Superintend�ncia da Pol�cia Federal, em Curitiba. De l�, ele escuta os gritos di�rios de bom dia e boa noite entoados por manifestantes que acampam a poucos metros do local. S�o integrantes do Partido dos Trabalhadores, militantes do MST e populares que se juntaram ao grupo. Eles se revezam no local e, devido ao tempo em que est�o na regi�o, j� mant�m acordos com moradores para evitar perturbar o sossego nas ruas pr�ximas ao pr�dio da corpora��o.
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Ao longo do dia, al�m do tradicional banho de sol, Lula assiste a diversos programas de TV na rede aberta, com aten��o especial para os jogos de futebol do Corinthians e telejornais, em que acompanha os acontecimentos do governo atual. Em cartas, geralmente lidas por seus advogados ou pela presidente do PT, Gleisi Hoffman, ele opina sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro. Geralmente o texto vem carregado de cr�ticas e lembran�as de quando ele ocupava o cargo mais alto da Rep�blica.
Pela manh�, costuma conversar com os defensores e fazer exerc�cios. A sala, sem grades, tem banheiro, cadeiras e arm�rio para guardar objetos pessoais. A diferen�a em rela��o aos demais presos da Lava-Jato ocorre em raz�o do cargo que ocupou. Espa�o parecido foi disponibilizado ao ex-presidente Michel Temer, quando foi preso em 21 de mar�o — ele ficou quatro dias atr�s das grades.
O local do cumprimento de pena do petista � visitado diariamente pelo agente Jorge Chastalo Filho, que ganhou o apelido de Rodrigo Hilbert da PF. Ele � quem mant�m conversas rotineiras com o ex-presidente. Al�m de ver se est� tudo em ordem, Chastalo � quem mede o �ndice glic�mico de Lula, que, apesar de registrar altos �ndices de glicose no sangue, n�o tem diabetes. O banho de sol ocorre apenas tr�s vezes por semana e a maior parte do tempo do ex-presidente � dedicada � leitura.