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Estado de Minas

Fernando Haddad: 'O governo ocupa o espa�o da oposi��o'

Ex-prefeito de S�o Paulo e candidato derrotado � Presid�ncia da Rep�blica afirma que Bolsonaro constr�i uma pauta irrelevante para o pa�s e critica reforma da Previd�ncia


postado em 26/04/2019 07:35 / atualizado em 26/04/2019 07:59

"Eles recusaram a Lei de Acesso � Informa��o. � quase um caso de improbidade administrativa ter os n�meros n�o divulgados. Deixaram passar (a PEC) na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a, que votou nas escuras, n�o sabia no que estava votando" (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Derrotado pelo presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das elei��es de 2018, o petista Fernando Haddad afirma que o governo federal constr�i uma pauta negativa di�ria, com assuntos de irrelev�ncia brutal para o pa�s.

“Ele tem ocupado, inclusive, o espa�o da oposi��o”, disse o ex-prefeito de S�o Paulo, em entrevista ao programa CB.Poder, uma parceria entre o Correio e a TV Bras�lia.

Durante o programa de 40 minutos, Haddad falou sobre educa��o, reformas, pol�tica externa, entre outros temas, e lamentou que os dados que deram base � proposta do Executivo para a reforma da Previd�ncia tenham sido apresentados � sociedade apenas ontem, depois da vota��o do texto na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a da C�mara.

“A CCJ votou no escuro”, frisou. Na avalia��o dele, as mudan�as deveriam come�ar pelos regimes pr�prios, ou seja, por servidores p�blicos, em acordo com governadores e prefeitos, e s� depois evolu�rem para altera��es no Regime Geral. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

A oposi��o parece n�o ter feito muito para barrar as medidas do governo que considera ruins. Tem faltado uni�o entre os partidos?
Na verdade, o governo tem ocupado, inclusive, o espa�o da oposi��o e consegue construir uma pauta negativa praticamente diariamente, com assuntos de uma irrelev�ncia brutal para o pa�s. O Caged, do antigo Minist�rio do Trabalho, soltou dados sobre 43 mil postos de trabalho a menos em um pa�s que j� est� sofrendo com desemprego. A infla��o est� retomando em escalada, sobretudo com o enorme aumento do pre�o dos combust�veis. A gasolina j� subiu 30%, e o diesel, 24%, este ano. O governo n�o consegue aprovar nenhum projeto relevante no Congresso Nacional. Segundo os l�deres do pr�prio PSL, ele n�o tem base no Congresso, parece n�o estar preocupado em constituir uma base. Ent�o, parece que ele, infelizmente, reconhecidamente, se diz n�o preparado para o cargo, com uma dificuldade, inclusive, de gerenciar assuntos dom�sticos, com a pr�pria fam�lia, e sem dar para o pa�s uma diretriz clara, gerando desconfian�a por parte dos empres�rios e, agora, dos pr�prios consumidores, o que pode agravar uma situa��o que j� n�o � confort�vel.

O senhor diz que a PEC da Previd�ncia tira direitos, mas h� um consenso de que � preciso fazer uma reforma.
N�s somos contra o regime de capitaliza��o. As pessoas se esquecem que o Lula fez uma reforma da Previd�ncia com os sindicatos. A Dilma fez reforma da Previd�ncia sentada com os sindicatos. Voc� discute democraticamente os ajustes que precisam ser feitos. Gra�as a Deus, a popula��o est� envelhecendo. Quero que o Guedes (ministro da Economia, Paulo Guedes) me diga em que pa�s ele est� se inspirando. Se for no Chile, que ele considera o Pinochet a maior obra-prima da pol�tica, um ditador neoliberal, n�o d� certo. Ali�s, Bolsonaro vai ao Chile e toma um pux�o de orelha por ter elogiado um ditador que ningu�m mais respeita. Temos que acabar com essa hist�ria de elogiar ditadores. Vai a Israel e perdoa holocausto e diz que o nazismo � de esquerda. N�s temos de parar de falsificar a hist�ria. Hist�ria � hist�ria, e fatos s�o fatos. Quem tem compromisso com o arb�trio n�o � democr�tico, e ponto. O PT tem a obriga��o de dizer o que vai acontecer. Vamos criar uma legi�o de idosos pobres. N�s conseguimos superar isso com muito custo com pol�tica de valoriza��o do sal�rio m�nimo, com a Constitui��o de 1988. N�o tem mais idosos miser�veis. No plano de governo, n�s conversamos com governadores e prefeitos que vinham pedir para incluirmos na reforma os regimes pr�prios, e tivemos que abrir uma mesa de negocia��o. Reconhecemos que existe um problema dos entes federados, e n�s vamos abrir uma negocia��o. No nosso entendimento, era para sentar com governadores, prefeitos e servidores, como primeiro passo, para arrumar a casa no plano do Estado. Eu sou a favor do regime �nico, mas acho que ele tem de ser constru�do, come�ando pela reforma dos regimes pr�prios.

Este momento n�o seria pr�prio para a oposi��o se articular melhor? H� dificuldade de uni�o? Outros partidos de oposi��o est�o claramente separando o PT.
Na C�mara, eu n�o vejo assim, pelo contr�rio. At� a Rede e o PDT est�o unidos a PSol, PT, PCdoB e PSB em uma frente mais ampla que tem l� os expedientes legais previstos para impedir reformas, que v�o de encontro ao que a gente imagina que n�o seja justo. Por exemplo, na quest�o da reforma da Previd�ncia, houve uma conflu�ncia. Por que mexer com o Benef�cio de Presta��o Continuada, que envolve idosos e pessoas com defici�ncia? Aposentadoria rural. Voc� sabia que do R$ 1 trilh�o de que se fala mais de R$ 800 bilh�es afetam diretamente a vida de quem ganha at� tr�s sal�rios m�nimos? Ent�o, o discurso do governo de que a reforma da Previd�ncia combate privil�gios � falso. Isso se atesta porque o pr�prio governo se recusa a abrir para a imprensa os pr�prios n�meros da reforma e as planilhas de c�lculos. Foi aberto depois da implica��o do Minist�rio P�blico. Pela LAI (Lei de Acesso � Informa��o), eles n�o abriram. Passou toda a CCJ sem abrir. Eles recusaram a Lei de Acesso � Informa��o. � quase um caso de improbidade administrativa ter os n�meros n�o divulgados. Deixaram passar na CCJ, que votou nas escuras e n�o sabia no que estava votando.

O que a oposi��o pode fazer para ajudar o pa�s a sair do imbr�glio em que est� metido, principalmente na quest�o econ�mica?

A primeira coisa � trazer lucidez para o debate. Quando eu falo que o regime de capitaliza��o n�o vai dar certo no Brasil, invoco experi�ncias internacionais para demonstrar essa tese. Eu estou contribuindo no melhor para o pa�s e, daqui a 30 anos, quando v�o dizer, 'onde estava a oposi��o que n�o alertou o pa�s sobre os riscos?' � o que procuro fazer. No projeto anticrime do Moro (ministro da Justi�a, S�rgio Moro), o que de fato acontece � que a viol�ncia vai aumentar, sobretudo a repress�o, e um recorde de encarceramento. Somos um pa�s que prende muito e mal, que deixa bandido solto e bota em risco a integridade f�sica das pessoas. Voc� tem 8% de resolu��o de homic�dio no Brasil. Em pa�ses desenvolvidos, esse �ndice � superior a 50%. Em vez de focar no que importa para as pessoas sa�rem de casa e irem trabalhar sabendo que v�o voltar �ntegras, estamos trabalhando desfocando aten��o, dizendo que o problema � o policial poder matar sob forte emo��o e dizer que essa pessoa n�o pode ser um excludente de licitude. A leg�tima defesa j� est� disciplinada pela jurisprud�ncia. N�o h� d�vida.

Na �rea do senhor, que � educa��o, como est� vendo a gest�o do governo Bolsonaro?
Ele j� demitiu dois ministros. Na minha opini�o, tem uns cinco na fila que precisavam ser substitu�dos. N�s temos um problema no Minist�rio do Meio Ambiente, que est� sendo completamente desmontado, v�rios �rg�os ambientais est�o sendo decapitados. O ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conserva��o da Biodiversidade), por exemplo, ningu�m mais sabe o que faz. N�s temos um problema grav�ssimo no Itamaraty, que � nosso cart�o de visitas paro o mundo. Temos uma pessoa completamente despreparada, que n�o tinha nem carreira de peso para assumir a chancelaria, metendo os p�s pelas m�os. Temos problemas com �rabes, judeus e europeus; com Fran�a, Portugal, Argentina, a troco do qu�? Quando o pa�s compra uma briga, tem de comprar uma disputa para trazer algum benef�cio, e estamos dispersando energia com o que n�o interessa, em vez de focar em rela��es comerciais e paz no continente. O pa�s tem de ter peso nos f�runs internacionais. O ministro do Turismo (Marcelo �lvaro Antonio) j� tem 10 den�ncias, acusa��o no MP com confiss�o de membros do partido, e � como se nada tivesse acontecido. No Minist�rio da Educa��o, foi trocar seis por meia d�zia. N�o � conhecido da comunidade educacional.

O senhor teme pelas universidades?
A universidade no Brasil, a p�blica sobretudo, � onde se gera pensamento criativo e cr�tico. Mais de 90% da pesquisa � feita pelo Estado por meio das universidades e das ag�ncias de pesquisa. Bolsonaro falou que n�o, que � na faculdade particular que � feita a pesquisa. O desconhecimento dele do Brasil � medonho. Sa�ram v�rios documentos e artigos no jornal. � ignor�ncia ou m�-f�. Na minha opini�o, as duas coisas.

Com rela��o �s quest�es internacionais, houve a visita de Gleisi Hoffmann (presidente do PT) � Venezuela, que foi muito criticada aqui no Brasil. Como o senhor viu essa iniciativa dela?
O PT tem tradi��o de respeito � determina��o dos povos, da qual jamais vai abrir m�o. O PT tem firme convic��o de que n�o se deve misturar assuntos internos, que o mundo desenvolvido faz quando � do seu interesse. Gleisi tomou a decis�o de prestigiar a posse em nome desses princ�pios. Em entrevistas, eu disse o seguinte: a comunica��o deveria ter sido feita de outra maneira. Da maneira como foi comunicada, n�o foi a express�o mais fiel.

O senhor iria?
Depende muito das circunst�ncias. Se eu tivesse sido eleito, a gente n�o estaria discutindo interven��o militar na Venezuela, porque os Estados Unidos jamais teriam a ousadia de entrar na Am�rica do Sul passando por cima do interesse brasileiro. Jamais fariam uma aventura na Venezuela, se eu fosse presidente do Brasil. N�s j� demos demonstra��o, no governo Lula, de como fazer, em 2003, quando o Lula e o Bush (George W. Bush, ent�o presidente americano) fizeram um acordo em torno da quest�o da Venezuela. Eles compuseram o grupo de amigos da Venezuela, e cercaram de cuidados para que sa�sse da crise institucional, garantindo os direitos �s rela��es internacionais e evitando o que sempre foi uma amea�a naquele pa�s. A Venezuela tem uma grande reserva de petr�leo, ent�o, vai ser um lugar cobi�ado sempre, por China, Estados Unidos e at� R�ssia. Temos de ter clareza que � um vizinho que inspira cuidados e, institucionalmente, a Venezuela precisa se estabilizar. E o Brasil pode oferecer apoio quanto a isso.

Em rela��o aos Estados Unidos, como o senhor v� a aproxima��o feita pelo governo Bolsonaro?

Estamos nos aproximando pelo pior lado, que � o do conflito. Por exemplo: quando voc� tem s� dois pa�ses do mundo que mudaram a embaixada para Jerusal�m. N�s temos amizade com os povos �rabes de d�cadas. Se voc� somar o que compram da gente, � mais do que muitos pa�ses desenvolvidos. N�o � uma reivindica��o de fora para dentro e, ent�o, n�s mudamos. Se quer fazer uma aproxima��o com os Estados Unidos, fa�a pelo lado certo, pelo lado da ci�ncia, pelo lado da coopera��o, n�o pelo lado ideol�gico. Isso traz preju�zo, inclusive, em quest�es de emprego para o Brasil. � um alinhamento equivocado. Um erro de agenda brigar com o mundo para fazer coro com Trump (presidente dos EUA, Donald Trump), que � considerado um atraso de vida na quest�o ambiental. Para que vamos fazer isso? O que vamos ganhar com isso, se a gente exporta para pa�ses que t�m meio ambiente como crit�rio de parceria comercial? At� hoje, n�o fechamos acordo com a Uni�o Europeia porque o Macron (Emmanuel Macron, presidente da Fran�a) j� disse que, sem o crit�rio de meio ambiente, n�o tem acordo.

O senhor vai ser candidato pelo PT novamente?

Tem muito ch�o pela frente. Eu nunca agi, na minha vida, por projeto pessoal. Respeito quem tem, mas n�o � minha escola. Minha escola � fazer parte de um time e estar � disposi��o desse time. Se for escalado, tamb�m n�o diria n�o. Estou pronto para os desafios. Eu n�o tenho essa coisa de ambi��o pessoal. Um dia, o Lula me perguntou: 'Qual � seu projeto pessoal?' Eu sou muito ambicioso para ter projeto pessoal. Voc� s� transforma a sociedade com um projeto coletivo, e n�o pode ficar de vaidade de 'ah, eu s� brinco se for governador, s� brinco se eu for presidente'. Eu brinquei, no bom sentido, quando aceitei um cargo na Assessoria Especial do Minist�rio do Planejamento. Dois anos depois, eu era ministro. N�o importa muito a posi��o, importa o projeto. Eu era um profissional maduro, era subsecret�rio de Finan�as de S�o Paulo e vim para uma posi��o que todo mundo consideraria subalterna. Eu n�o achei. Achei que estava prestando servi�o para o pa�s.

O ex-presidente Lula pode sair para o regime semiaberto. O senhor acha que isso ajuda o partido?
Evidente. Acabo de ouvir uma explica��o do juiz M�rio J�nior em que ele diz, com todas as letras, segundo a lei em vigor, que os 13 meses em que Lula permaneceu preso t�m de ser abatidos dos oito anos e 10 meses que ele foi condenado como fixa��o do regime. Como d� menos de oito anos, o regime do Lula hoje j� deveria ser o semiaberto.

Fazendo um balan�o, quais foram os erros que o PT cometeu nas elei��es?
As proje��es do segundo turno, at� o fim de setembro, davam vit�ria para n�s. Eu acredito que n�o tenhamos nos atualizado em rela��o � tecnologia da informa��o da campanha eleitoral. O que aconteceu na �ltima semana do primeiro turno, n�s efetivamente n�o est�vamos preparados. Por exemplo, a dissemina��o de fake news. J� peguei v�rios recortes de pesquisas muito bem-feitas. O p�blico evang�lico foi decisivo na elei��o do Bolsonaro e muito influenciado por fake news.

O senhor esteve com o Bernie Sanders (candidato derrotado por Hillary Clinton nas elei��es prim�rias do Partido Democrata dos EUA) no in�cio do ano. H� algum desdobramento daquela conversa?
Houve um desdobramento importante. Na verdade, foi um encontro muito r�pido, falei com ele e a esposa, em um ambiente de lan�amento de uma Internacional Progressista, que visa manter direitos conquistados h� 200 anos. Faz 200 anos que estamos conquistando direitos civis, pol�ticos e, mais recentemente, ambientais, e agora est�o todos em risco por conta da onda conservadora, que n�o respeita minorias, meio ambiente nem trabalhador. S� respeita o capital. Ent�o, tem uma Internacional Progressista sendo montada, e eu fui l�, me apresentei, passei um pouco do contexto latino-americano e brasileiro, em particular. Eu me coloquei � disposi��o do projeto, e agora fui convidado para compor o board mundial desse projeto.

Como o senhor acha que o PT vai reverter esse sentimento antipetista em parte do eleitor brasileiro? A rejei��o ao longo da campanha foi muito clara.
Reconhe�o que existe antipetismo, mas n�o � novo, isso vem desde a funda��o. Com tudo isso, o PT fez 45% dos votos no segundo turno. � um partido importante, que ganhou quatro elei��es, que cometeu erros, dos quais eu sempre falo. A reforma pol�tica deveria ter sido uma provid�ncia fundamental desde o primeiro ano de governo. Era um sistema de muitas brechas para a��es individuais ou sombreadas ou ilegais de todos os partidos.


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