
"Sabemos que voc� anda com escolta, mas o G., n�o." A frase � parte de um e-mail com amea�a de estupro encaminhado � deputada Carla Zambelli (PSL-SP). Enviado por um remetente velado, o texto foi acompanhado de uma foto da parlamentar abra�ada ao filho menor de idade e uma descri��o pormenorizada da viol�ncia sexual.
Esta � uma das tantas mensagens enviadas ao endere�o oficial da deputada, que levaram a C�mara a escalar dois policiais legislativos para escoltar os passos de Zambelli em Bras�lia. "Come�aram a me amea�ar em 2015, na �poca do impeachment", disse a parlamentar. "J� tentaram contratar pela internet uma pessoa para assassinar a mim e a meu filho."
N�o � s� ela. Tal�ria Petrone (PSOL-RJ), tamb�m acompanhada h� pelo menos um m�s por seguran�as da C�mara, diz que a viol�ncia pol�tica se ampliou. "Isso � bastante grave para a democracia." Opositoras no Congresso, Zambelli e Tal�ria fazem parte de uma "bancada" que vem crescendo nesta Legislatura: a dos parlamentares escoltados.
Atualmente, sete deputados andam protegidos pela Pol�cia Legislativa Federal, sendo cinco deles depois de amea�as de morte. No ano passado, havia apenas um deputado amea�ado - Jean Wyllys (PSOL-RJ). Por se sentir perseguido e inseguro, ele renunciou ao mandato para o qual foi reeleito e deixou o Pa�s antes da posse.
Al�m de Zambelli e Tal�ria, os outros parlamentares que foram alvo de amea�as e pediram prote��o s�o Marcelo Freixo (PSOL-RJ), jurado por milicianos desde que presidiu uma CPI das Mil�cias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, em 2009; a l�der do governo na C�mara, Joice Hasselmann (PSL-SP); e Al� Silva (PSL-MG).
"Essa Legislatura, sem d�vida alguma, � a que tem o maior n�mero de deputados com escolta", diz o diretor-geral da C�mara, S�rgio Sampaio.
Por prerrogativas legais, o presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tamb�m tem direito � escolta. Existe ainda prote��o estendida ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), fruto de entendimento com o Gabinete de Seguran�a Institucional (GSI) da Presid�ncia da Rep�blica, respons�vel por garantir a integridade da fam�lia presidencial. O "filho 03" do presidente Jair Bolsonaro circula com dois, �s vezes tr�s agentes pela C�mara.
No Senado, Fl�vio Bolsonaro (PSL-RJ) tamb�m goza do benef�cio. Al�m dele, o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), possui seguran�a semelhante � de Maia, feita pela Pol�cia do Senado. Questionado, o Senado n�o respondeu se h� outros casos.
Investiga��o
Os autores das amea�as ainda est�o sob investiga��o. Especialistas em intelig�ncia costumam dizer que, at� ser debelada, qualquer amea�a deve ser considerada real. Carla Zambelli desconfia que, por tr�s das amea�as contra a vida dela e do filho, esteja um grupo que navega na internet por meio de f�runs como a "Dogolachan", na deepweb, esp�cie de submundo virtual usado por hackers com identidade oculta, o que dificulta o rastreamento.
Eles j� fizeram montagens em que o menino aparece morto, afirma a deputada. Alguns usu�rios j� foram investigados por v�nculos com os massacres nas escolas de Realengo, no Rio, e de Suzano, em S�o Paulo, e estariam por tr�s de amea�as ao ex-deputado Jean Wyllys.
Ap�s assumir o cargo, Zambelli mandou instalar, em seu escrit�rio de representa��o, alarmes e sistema de monitoramento. Diz que contratou um seguran�a particular de quem era amiga e que pensa agora em comprar um carro blindado.
Ex-vereadora em Niter�i (RJ), Tal�ria Petrone j� havia sido escoltada no ano passado ap�s a execu��o a tiros da vereadora Marielle Franco, tamb�m do PSOL, e do motorista dela, Anderson Gomes. "Tenho um hist�rico de muitas amea�as, at� antes de a Marielle ser assassinada. Recentemente, houve o entendimento de que h� um novo risco", afirmou a hoje deputada federal.
H� cerca de duas semanas, agentes do Departamento de Pol�cia Legislativa passaram a acompanhar a rotina pessoal da deputada Al� Silva (PSL-MG), que acusou o ministro do Turismo, Marcelo �lvaro Ant�nio, deputado licenciado do PSL de Minas Gerais, de ter feito amea�as de morte. O motivo seria o fato de ela ter levado a autoridades p�blicas informa��es sobre a suspeita de que o ministro fraudou a montagem de chapas de candidatas do PSL no Estado. O objetivo seria desviar dinheiro por candidaturas laranjas. O ministro nega as duas acusa��es.
"Eles fazem rondas regularmente junto ao meu endere�o residencial em Bras�lia. Junto � C�mara, eu n�o fico com um policial legislativo por todo o tempo porque o meu chefe de gabinete � PM da reserva e j� faz esse trabalho", disse a deputada.
Apura��o pr�via
A C�mara fornece escolta policial armada pr�pria aos deputados federais sob amea�as consideradas de natureza grave. O parlamentar deve fazer um pedido formal ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para obter a prote��o. Essa solicita��o passa por an�lise t�cnica por parte da equipe da Pol�cia Legislativa Federal, processo que inclui a apura��o pr�via do caso e tamb�m depoimento do parlamentar. Nem todos os pedidos s�o atendidos.
Em alguns casos, os deputados registram boletim de ocorr�ncia para formalizar a queixa de crime. Como a maior parte das amea�as chega por meios virtuais, os agentes checam dados para avaliar qual o grau de risco � integridade do deputado, a autoria e tamb�m a veracidade do teor das amea�as. Depois disso, um relat�rio � encaminhado a Rodrigo Maia, que tem "autoridade suprema" sobre a Pol�cia Legislativa - o que est� previsto no Regimento Interno da C�mara - e � quem tem a palavra final.
Sigilo
A C�mara mant�m sigilo e n�o informa detalhes sobre a rotina dos agentes, os hor�rios e a quantidade destacada para acompanhar cada parlamentar como forma de n�o interferir na seguran�a deles.
A reportagem apurou que, em geral, s�o pelo menos dois policiais legislativos armados para cada deputado durante o dia e � noite. Eles acompanham a rotina di�ria a partir do momento em que o parlamentar deixa sua resid�ncia at� a hora em que encerra as atividades do dia. A C�mara tem seguran�a terceirizada contratada para vigiar os edif�cios com apartamentos funcionais dos parlamentares.
O efetivo de policiais pode variar, assim como o prazo da escolta - se as amea�as persistirem, chega a durar os quatro anos de mandato. A escolta do pr�prio Maia, por exemplo, � maior do que dois policiais, ao incluir equipes de plant�o na resid�ncia oficial, ve�culos pr�prios, acompanhamentos em viagens nacionais e internacionais e est� assegurada enquanto ele presidir a presidir a Casa.
A de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da Rep�blica, � direito do deputado at� que o pai conclua o mandato no Pal�cio do Planalto. A C�mara dos Deputados j� autorizou, por exemplo, que dois agentes o escoltassem em viagem ao exterior.