
De acordo com os ve�culos, os procuradores contavam com a contribui��o do auditor fiscal Roberto Leonel, � �poca chefe da �rea de intelig�ncia da Receita em Curitiba (PR) e hoje presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). As mensagens examinadas fazem parte do pacote obtido pelo Intercept.
Os di�logos analisados indicam proximidade entre os procuradores da Lava-Jato e Leonel. Em diversas ocasi�es, integrantes da for�a-tarefa solicitaram informa��es ao auditor sem apresentar requisi��es formais ou autoriza��o da Justi�a para quebrar o sigilo fiscal dos investigados.
A Folha de S.Paulo divulgou ainda que membros da Lava-Jato recorreram a Leonel mais de uma vez sem provas que justificassem o acesso aos dados.
Em agosto de 2015, por exemplo, o procurador Roberson Pozzobon teria pensado em falar com Leonel para obter dados que o ajudariam em uma investiga��o envolvendo neg�cios do sobrinho de Lula em Angola. "Quero pedir via Leonel para nao dar muito na cara, tipo pescador de pesque e pague rsrsrs", escreveu Pozzobon numa mensagem a Deltan.
O v�nculo entre a for�a-tarefa e o auditor teria sido frequente no in�cio de 2016, quando se desenrolava a investiga��o sobre as reformas no s�tio de Atibaia frequentado pelo ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. O caso levou Lula � segunda condena��o na Justi�a.
Na �poca, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da for�a-tarefa, teria pedido que Leonel levantasse informa��es sobre o caseiro do s�tio, sobre uma nora de Lula, sobre o patrim�nio dos antigos donos do im�vel e sobre compras que a mulher do ex-presidente, Marisa Let�cia, havia feito. Em uma das mensagens examinadas pela Folha, o procurador sugeriu que colegas pedissem para que Leonel desse uma "olhada informal" no imposto de renda (IR) do caseiro Elcio Pereira Vieira, conhecido como Maradona.
"Vcs checaram o IR de Maradona? N�o me surpreenderia se ele fosse funcion�rio fantasma de algum �rg�o p�blico (comissionado). Pede pro Roberto Leonel dar uma olhada informal", escreveu Dallagnol, segundo as mensagens publicadas pela Folha e pelo Intercept.
Em 2016, de acordo com as mensagens obtidas, o procurador Athayde Ribeiro Costa pediu que Leonel averiguasse se os seguran�as de Lula haviam comprado uma geladeira e um fog�o para mobiliar o tr�plex em 2014. De acordo com a Folha, n�o h� mensagens que comprovem que o favor foi feito, mas a investiga��o concluiu que os eletrodom�sticos do ex-presidente foram pagos pela OAS.
Ainda de acordo com informa��es da Folha, em ao menos um caso Leonel teria repassado informa��es de pessoas que n�o eram investigadas em Curitiba. Em 2017, o segundo mensagens, auditor informou Deltan que havia feito uma representa��o contra os pais do deputado Rodrigo Rocha Loures (MDB-PR) e preparava outra contra a ex-mulher do parlamentar. Loures era investigado pela PGR, n�o pela for�a-tarefa da Lava-Jato.
Em troca de mensagens com Deltan, Leonel afirmou ter sido questionado por seu superior, chefe da Coordenadoria de Pesquisa e Informa��o (COPEI), Gerson Schaan.
"Ele quis saber pq fiz etc e se tinha passado esta inf a vcs 24 de maio. Disse q NUNCA passei pois nao tem origem ilicita suspeita !!! por favor delete este assunto por enquanto", enviou para Dallagnol no dia 24 de maio.
Outro lado
Tanto a for�a-tarefa da Lava-Jato quanto a Receita Federal afirmaram que a troca de informa��es entre elas � permitida pela legisla��o e n�o amea�a o sigilo fiscal dos contribuintes. De acordo com a Folha, nenhuma delas quis se manifestar sobre o car�ter informal dos pedidos de informa��o feitos via mensagem.
"� perfeitamente legal - comum e salutar no combate ao crime organizado - o interc�mbio de informa��es entre o Minist�rio P�blico Federal e a Receita no exerc�cio das fun��es p�blicas de apura��o de fatos il�citos de atribui��o dos �rg�os", declarou a for�a-tarefa por meio de sua assessoria de imprensa. Os procuradores afirmaram � Folha, ainda, que a coopera��o com a Receita Federal � "autorizada e incentivada" pela lei das organiza��es criminosas e pela lei org�nica do Minist�rio P�blico da Uni�o.
A for�a-tarefa tamb�m refor�ou n�o reconhecer as mensagens obtidas pelo The Intercept Brasil. "O material � oriundo de crime cibern�tico e tem sido usado, editado ou fora de contexto, para embasar acusa��es e distor��es que n�o correspondem � realidade."
A Receita Federal disse que o Minist�rio P�blico Federal tem poder de requisitar informa��es protegidas por sigilo fiscal. De acordo com a Folha, Roberto Leonel n�o quis se manifestar.