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Estado de Minas POL�TICA

Instituto Fernand Braudel convida jovens ao debate pol�tico


postado em 23/11/2019 19:03

Na sala de estar do sobrado, boa parte dos 30 presentes veste bermudas e camisetas. Um deles tem os p�s cal�ados com chinelos Havaianas e, em um dos cantos do recinto, repousa o skate que deve ter trazido outro convidado para a reuni�o. Apesar da informalidade geral do figurino, a pauta da reuni�o discorre sobre temas como corrup��o, democracia, investimentos em infraestrutura, o Estado de Direito e a solidez das institui��es brasileiras.

A cena se repete quinzenalmente nos c�rculos de leitura do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, em Higien�polis, zona central da capital. � ali que o jornalista Normal Gall, diretor executivo do instituto, conduz um col�quio que leva temas relevantes da vida pol�tica brasileira e internacional a um grupo de adolescentes e jovens universit�rios. A ideia � propor um espa�o para reflex�o, que possa qualificar esses jovens para o debate e, por que n�o, uma futura participa��o nos rumos do Pa�s.

Ao longo do ano, pedem-se leituras pr�vias para os encontros - desde cl�ssicos como "Guerra e Paz" (Tolst�i), "Riqueza das Na��es" (Adam Smith) e "A �tica Protestante" (Max Weber), at� o recente "O Povo Contra a Democracia",de Cassio De Arantes Leite e Yascha Mounk. No encontro deste s�bado, 23, Gall distribuiu aos convivas os "Braudel Papers", uma esp�cie de apostila com alguns ensaios de sua autoria, que serviram de ponto de partida para a discuss�o. Logo de in�cio, uma provoca��o: por que no Brasil as col�nias de cupins, que constru�ram uma complexa rede de t�neis subterr�neos que se estendem por milhares de quil�metros do sul � Amaz�nia, conseguiram se organizar bem ao longo dos anos, enquanto a sociedade de humanos � incapaz de evoluir politicamente e dar conta de quest�es essenciais?

No decorrer das leituras, emergem quest�es paralelas importantes. O papel que a falta de investimentos em infraestrutura exerce na defasagem da atividade econ�mica. As perdas que a cidade mineira de Brumadinho t�m sofrido com o respaldo insuficiente do poder p�blico, e que transcendem a quest�o meramente financeira. A falta de perspectivas e o descr�dito no processo eleitoral, fruto da chamada crise de representatividade. A fus�o de pequenos munic�pios. A Reforma da Previd�ncia.

Os textos v�o ganhando novas vozes a cada par�grafo, que � lido por um participante diferente. Alguns t�m dificuldades de leitura e se atrapalham com algumas palavras. Com o tempo, vai ficando claro que h� dois p�blicos distintos convivendo ali. De um lado, universit�rios e jovens de diversas �reas, da Engenharia ao Direito, que veem nos encontros uma oportunidade de desenvolver seu senso cr�tico e sua bagagem cultural. Junto a eles, h� alunos do ensino m�dio de escolas t�cnicas, cuja participa��o nos c�rculos de leitura � subsidiada. Eles ganham uma bolsa e recebem almo�o nas depend�ncias do instituto quando termina o debate.

Em que pesem as disparidades entre os dois grupos, todos os presentes leem os mesmos textos e t�m voz ativa para interromper a leitura e fazer coloca��es. Alguns levantam a m�o com d�vidas sobre passagens mais obscuras, mas h� quem defenda seus pr�prios pontos de vista e at� discorde dos textos.

Um aluno diz que o conceito de anarquia na estrutura pol�tica est� mal formulado e que o paralelo com os cupins n�o ficou claro, outro questiona o t�tulo e a estrutura dos t�picos. Um terceiro diz que um dos textos mostrou um olhar mais condescendente com a corrup��o no Peru do que com a brasileira. Longe de se incomodar com esses questionamentos, Gall encoraja o debate, colocando seus pontos de vista sem menosprezar os dos estudantes.

A atua��o do Supremo Tribunal Federal rende boa discuss�o. Com a preval�ncia do entendimento de que o cumprimento da pena de pris�o s� � cab�vel ap�s o tr�nsito em julgado da condena��o (e n�o a partir da decis�o de segunda inst�ncia), a liberta��o dos pol�ticos que estavam detidos foi vista pelos alunos como salutar, ainda que contr�ria ao anseio da sociedade.

"Essa medida est� prevista na pr�pria Constitui��o Federal, ent�o o que est� ocorrendo � um fortalecimento das institui��es, e n�o a ru�na delas, como muitos defendem", sustenta um estudante. "O STF est� respeitando o texto constitucional e o honrando o Estado de Direito. N�o est� dando carta branca para a liberta��o de bandidos ou corruptos".

Outro aluno completa: "Ali�s, o STF n�o determinou a soltura do ex-presidente Lula, como dizem por a�. Ele apenas decidiu pela liberdade antes da condena��o final, o que possibilitou a soltura de Lula e de outros presos, o que � bem diferente. A popula��o est� comprando uma narrativa incorreta."

Uma aluna se declara favor�vel ao aborto, mas contr�ria � discuss�o do assunto pelo STF, "porque essa n�o � a atribui��o dele, ele n�o � a inst�ncia competente. � preciso respeitar as institui��es". Outro vai na mesma linha, lamentando que o tribunal tenha se pronunciado em quest�es como uni�es homoafetivas, o que ele chamou de "ativismo judicial", alegando que "essas decis�es tinham que partir do Poder Legislativo."

O tema corrup��o merece um exame mais detalhado. A partir de diferentes acep��es do termo (corrup��o como heran�a colonial, como ato individual de oferecimento de propina, como mecanismos complexos de influ�ncia na esfera pol�tica), Norman Gall esbo�ou sua pr�pria defini��o. "S�o padr�es de comportamento que buscam vantagem ileg�tima e ferem normas �ticas da sociedade. A corrup��o � s�ria porque quebra a confian�a que existe nessa sociedade". Um aluno completou que h� mais em jogo que apenas dinheiro: h� tamb�m a integridade da classe pol�tica e da pr�pria sociedade.

Mais de tr�s horas depois, o col�quio chega ao fim. Para fechar o ciclo, dois alunos tentam responder � primeira indaga��o proposta: por que no Brasil os cupins foram mais bem sucedidos que os homens? Porque s�o focados na comunidade e n�o no individual, respondeu a aluna. O outro participante arremata: "Para o Brasil se fortalecer enquanto comunidade, ele ter� de compreender a necessidade de se buscar uma converg�ncia de interesses. Os interesses comuns ir�o construir bases est�veis."


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