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Estado de Minas ENTREVISTA

Joice Hasselmann dispara: 'Bolsonaro age como vereador'

Ap�s deixar a lideran�a do governo, deputada do PSL critica a postura mercurial do presidente e o n�cleo duro do Planalto


postado em 24/11/2019 12:23


Rompida com Jair Bolsonaro h� cerca de um m�s, a deputada de primeiro mandato Joice Hasselmann (PSL-SP) e ex-l�der do governo no Congresso, agora, descreve o presidente da Rep�blica que tanto defendeu como algu�m que n�o est� � altura do cargo que ocupa. “Ele � o homem mais importante do pa�s. Mas, �s vezes, tem agido como se fosse um vereador. Quando pega o telefone para dizer ao deputado: ‘vem aqui que vou te dar um carguinho para voc� votar no meu filho na lista de l�deres’. Caramba! � para negociar o cargo de l�der de um partido, uma coisa pequena quando se compara com um presidente da Rep�blica eleito com 57 milh�es de votos”.

Alvo de ataques nas redes sociais ap�s a fam�lia presidencial levar a p�blico brigas que antes ficavam restritas aos bastidores do primeiro escal�o, ela tem o tamb�m deputado Eduardo Bolsonaro (SP), que ainda n�o p�de deixar o PSL para n�o perder o mandato, como um dos principais desafetos. “Nunca tive carinho ou amizade pelo Eduardo, nunca houve essa aproxima��o. Prezo pelo di�logo e descobri muito cedo que ele n�o cumpre a palavra. N�o consigo respeitar algu�m que n�o cumpre a palavra”. 

(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )
(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )


�s v�speras do fim do ano, Joice n�o faz mist�rio sobre sua meta para 2020 — quer comandar a principal cidade do pa�s e se coloca como pr�-candidata do PSL � prefeitura da capital paulista. Mulher mais bem votada de S�o Paulo, diz ter sofrido provoca��es machistas e trabalha para se livrar do estigma de elitista. “Quero vencer a elei��o com a ajuda de todos. N�o vou ser a prefeita de elite, aquela que fica preocupada com as mazelas da classe A. A prefeita, ou pensa no munic�pio como um todo, ou n�o est� preparada”.

Com as articula��es do Alian�a Pelo Brasil, o PSL � quem mais perde aliados. A senhora fica no partido, mas como vai ser daqui pra frente?
Para n�s, o PSL � dividido em Nutella e raiz. Os Nutella n�o concordam com diverg�ncia, n�o gostam muito do processo democr�tico, mas gostam da imposi��o. O grupo que � PSL de verdade optou pela democracia. N�o pode haver uma ditadura interna dentro do partido, que � o que se tentou fazer, inclusive com a troca do l�der (referindo-se � retirada do Delegado Waldir (GO), que foi substitu�do por Eduardo Bolsonaro, eleito por S�o Paulo). Para o PSL raiz, seria uma b�n��o que alguns sa�ssem. H� pessoas fazendo campanha para outro partido dentro do PSL. O pr�prio l�der, o deputado Eduardo Bolsonaro, faz campanha. Isso � uma indignidade. Se est� descontente, v� embora. Dizem que o problema � a regra eleitoral e, sim, ela existe porque o pa�s � uma democracia. Sen�o, vira ditadura. N�o h� que se falar em “onda Bolsonaro”. Eu tive mais de um milh�o de votos. Os outros tamb�m tiveram seus votos. N�s ajudamos o presidente a se eleger.

Ficou algum ressentimento depois das mudan�as? A senhora saiu da lideran�a do governo, houve desaven�as com o Eduardo Bolsonaro...
A gente s� tem ressentimento com quem tem sentimento. Nunca tive carinho ou amizade pelo Eduardo. Prezo pelo di�logo e descobri muito cedo que ele n�o cumpre a palavra. N�o consigo respeitar algu�m que n�o cumpre a palavra. Ali�s, essa quest�o de n�o cumprir palavra � uma marca deles (referindo-se aos filhos de Bolsonaro).

Isso recai sobre o presidente?
Com o presidente eu n�o fiquei ressentida, fiquei triste. Ele afastou todas as pessoas que realmente gostavam dele, quem trabalhava pelo Brasil de verdade, pessoas que largaram suas vidas para fazer campanhas para ele. Todo mundo que se dedicou foi limado. Especialmente os que tinham capacidade de discordar. N�o nasci Bolsonaro. Quando comecei a apoiar essa ideia, ele foi � minha casa, pediu para eu entrar no partido dele. N�o existe uma depend�ncia, n�o tenho cord�o umbilical com ele.

O posicionamento de olhar para frente envolve a disputa pela prefeitura de S�o Paulo?
O projeto inicial do partido � “Joice prefeita de S�o Paulo”. Mas h� uma s�rie de pleitos leg�timos para fazer prefeitos, governadores e, qui��, um presidente da Rep�blica em 2022. A gente precisa entregar ao Brasil o que prometemos: um presidente liberal, com di�logo, que ouvisse todos, ainda que discorde de alguns; e n�o foi bem isso que a gente entregou. Houve um curto-circuito do que prometemos e do que entregamos. Espero que a coisa se corrija nos pr�ximos tr�s anos.

(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )
(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )


O PSL tem mais dinheiro em caixa. Vai receber R$ 1 bilh�o de Fundo Partid�rio e Fundo Eleitoral. Na elei��o passada, voc�s tinham o or�amento mais enxuto...
Foi enxut�ssimo. Minha campanha e a do Major Ol�mpio (senador do PSL de S�o Paulo) foram as mais baratas do Brasil. Pouco dinheiro, coisa de centavinho. Pensava: gente, se eu com R$ 100 mil fa�o uma campanha forte, imagina esse povo com R$ 2 milh�es, R$ 3 milh�es. Gastei R$ 100 mil do Fundo Partid�rio, mas teve gente que doou trabalho e eu coloquei um pouquinho de dinheiro, mas nem precisei usar.

A senhora acha que o PSL se desvirtuou? Temos as candidaturas laranja, o presidente da Rep�blica deixando o partido, confus�es pelos cargos...
� uma estupidez dividir o �nico partido 100% fechado com o presidente. E quem dividiu? O presidente e o filho. O Planalto tinha 53 votos cativos na C�mara. Se o presidente falasse que vermelho era azul, todos ali votariam a favor. Por uma vaidade, porque o menino n�o ia conseguir uma embaixada (Eduardo Bolsonaro foi indicado pelo pai como embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Mas a iniciativa n�o foi adiante), eles conseguiram rachar o partido. Quantos pol�ticos entrariam numa guerra para ter 53 deputados alinhados? A �nica base que o governo tinha acabou. Mas o PSL n�o se desvirtuou. Quem se desvirtuou foi o PSL Nutella, que est� de sa�da rumo ao partido da fakel�ndia.

Insisto nas candidaturas laranjas. Isso recai sobre o partido?
Em mim, n�o recai absolutamente nada. Sou a prova viva de que a mulher pode fazer um grande volume de votos. N�o acredito na teoria de candidaturas laranjas. Mas supondo que realmente isso tenha existido, precisamos perguntar quem foi a laranja, de onde saiu o dinheiro e a quem beneficiou. Siga o rastro do dinheiro. A investiga��o precisa acontecer e, se aconteceu, as pessoas t�m de ser punidas. Acho incoerente o Marcelo �lvaro (ministro do Turismo) ser denunciado por isso e permanecer ministro. � incoerente o presidente falar desse assunto (em ataques ao PSL depois das brigas internas no partido) quando o denunciado � ministro dele. Essa conta n�o fecha. O PSL vai mostrar que sem a turma da tarja-preta, que queria criar uma ditadura interna, ser� o partido mais transparente do Brasil.

A senhora fala de tarja-preta, ditadura, em um contexto que envolve o presidente e seus filhos. Bolsonaro tem atitudes autorit�rias?
Muitas. Esse � um ponto de conflito entre n�s. Sempre tive a liberdade de falar tudo o que eu queria com o presidente. Conheci o Jair quando ele ia �s manifesta��es em que a gente lotava ruas em S�o Paulo, contra a Dilma, e ele chegava de chinel�o Rider e bermuda. Ficava l� embaixo e ningu�m sabia quem ele era. Eu tinha a liberdade de dizer: est� errado. Cheguei a dizer que, se ele continuasse seguindo esse caminho, ele acabaria como o Fernando Collor (ex-presidente da Rep�blica cujo fim do mandato ocorreu ap�s um processo de impeachment). Isso foi gravado. Falei: cara, me ajuda a te ajudar. E isso no segundo m�s de governo, quando come�ou aquela confus�o do Gustavo Bebianno (ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presid�ncia da Rep�blica). Mandei uma mensagem dizendo: se voc� n�o sabe fazer essas coisas, deixa que eu fa�o. Nunca escondi do presidente que ele tem atitudes impr�prias. �s vezes o presidente mandava piadinhas de outros pol�ticos, memes, coisas que eu achava de mau gosto. Eu respondia: amigo, vamos l�, cresce. Chegou ao ponto de a gente se bloquear no WhatsApp. Ele � muito turr�o.

Algu�m incentiva esse posicionamento?
Todo mundo ao redor dele, dos filhos aos assessores. Especialmente os assessores colocados pelos filhos, o que � chamado por a� de gabinete do �dio. S�o pessoas com acesso ao presidente que despacham diretamente com ele. Acompanham reuni�es, ficam ali o tempo todo sugerindo informa��es, disparam coisas na lista de transmiss�o do presidente, �s vezes atacam pol�ticos. O presidente tem uma mania de distorcer informa��es e fica zangado quando algu�m pensa diferente.

Sobre listas de transmiss�o, ataques a advers�rios e fake news, h� quem culpe o partido...
A campanha do presidente teve dois n�cleos para tratar das redes sociais. Um, feito com as redes do PSL com a ajuda de quem tinha perfis com muitos seguidores. O outro, coordenado pelo Carlos Bolsonaro (vereador do Rio de Janeiro), ningu�m chegava perto. O Carlos tinha senhas, comandava o n�cleo e conversava com as pessoas envolvidas l�.

Os ataques do partido e dos filhos do presidente alcan�aram a senhora. Como isso a afetou?
Havia um desejo enorme de tentar me agredir, mas ningu�m conseguia, porque eu entregava tudo o que o governo precisava. A estrat�gia adotada foi tentar, depois da campanha, colar em mim a pecha de que eu trocaria o Bolsonaro pelo Doria. Mas fiz a campanha do Doria autorizada pelo Bolsonaro. “Entre de cabe�a”, ele disse, aproveitando para xingar o senador (Major Ol�mpio), que estava apoiando o advers�rio do Doria, o M�rcio Fran�a (PSB). O presidente da Rep�blica, que ainda era candidato, me autorizou. Querem queimar todo mundo que pode ser uma pedra no sapato dele. O S�rgio Moro (ministro da Justi�a) � um exemplo. A popula��o gostaria de v�-lo presidente e, agora, ele est� deixado de lado. O Doria falou “quem sabe, um dia”, e tornou-se inimigo mortal do cl�. Criou-se uma narrativa que foi se intensificando. Quando aconteceu de eu deixar a lideran�a do governo, abriram a porteira: espalharam um dossi� falso, colocaram minha cabe�a em uma foto com o corpo de uma prostituta. Retribu�ram tudo o que eu fiz pelo governo desse jeito. O que me assombra � o presidente n�o ter pulso para colocar ordem nisso ou compactuar. As duas coisas s�o assustadoras.

O presidente n�o tem pulso?
Ele � o homem mais importante do pa�s. Mas, �s vezes, tem agido como se fosse um vereador. Quando pega o telefone para dizer ao deputado “vem aqui que vou te dar um carguinho para voc� votar no meu filho na lista de l�deres”, apequena o cargo. Caramba! Negociar o cargo de l�der de um partido, uma coisa pequena para um presidente da Rep�blica eleito com 57 milh�es de votos. Quando essa pequenez acontece, fico entristecida. Se Bolsonaro n�o consegue botar ordem nos filhos, � um problema. Se compactua, o problema � maior ainda.

A senhora foi uma das mulheres mais poderosas do Congresso. Enxergava machismo?
O primeiro ataque de machismo partiu da fam�lia Bolsonaro. Logo comigo, que sempre disse que os movimentos feministas s�o um exagero. Nunca sofri machismo no Congresso. Cheguei l� com um bando de marmanjo, gente que est� na pol�tica h� d�cadas, e ningu�m ousou. Um l�der poderoso no Congresso chegou a falar, em uma entrevista, que as pessoas tinham medo de mim. A�, justamente pelas m�os do homem que eu defendi, disse para as mulheres: “eles n�o s�o machistas, eles s�o mach�es. � outra coisa”. Mas eu me enganei nesse quesito. Espero que ainda haja corre��o, pelo bem do Brasil. Quero que esse governo d� certo.

Todo pa�s precisa de um presidente honesto e competente. O Brasil elegeu algu�m com essas caracter�sticas?
Acho que falta o preparo de gestor, experi�ncia de lideran�a que o presidente n�o teve na C�mara. Ele nunca foi l�der de nada, de comiss�o nenhuma. Mesmo o baixo clero consegue fazer os seus grupinhos. A falta de preparo intelectual, que tamb�m existe ali, pode ser suprida com os ministros. Se souber montar um bom time, teremos um excelente presidente. Se surtar com as emo��es, como tem acontecido com frequ�ncia, se torna uma coisa perigosa. Os surtos constantes t�m afastado todo mundo. Quanto tempo o Moro vai aguentar? Quanto tempo o Paulo Guedes vai aguentar?

O governo corre o risco de se desfazer?
Claramente, sim. Quantas vezes estive no Pal�cio e o Paulo Guedes me falou: “N�o aguento mais. Vou embora”. Ou o presidente faz o reequil�brio emocional urgente ou as pessoas v�o embora. O ministro mais novo que chegou, o Luiz Eduardo Ramos (da Secretaria-Geral da Presid�ncia da Rep�blica), falou “Joice, eu perdi o brilho nos olhos”. Ele acabou de chegar. Ningu�m consegue aplicar aquilo que pode para ajudar o presidente. S� o Paulo Guedes e o S�rgio Moro t�m essa possibilidade porque sem eles h� grandes chances de o governo sucumbir.

O seu mandato se confundiu com o governo?
Com toda certeza. Tive que me tornar um organismo, uma roda girat�ria do governo federal dentro da C�mara e do Senado. Todo mundo me via ali: “Ela � a boca do Bolsonaro ali dentro”. Eu ouvia tudo o que ele falava, filtrava, e trazia um discurso polido que dizia a mesma coisa. Tive que virar uma representante do governo no Congresso. Mas, com isso, consegui entregar uma das pautas da minha campanha, justamente a reforma da Previd�ncia. Eu era o governo.

As �ltimas decis�es do Supremo Tribunal Federal (STF) foram mal recebidas pelo Congresso. O embate entre os Poderes aumentou?
A independ�ncia entre Poderes foi esquecida. Muitas vezes, o legislativo se aquietou quando deveria ter se mexido. E o Judici�rio acabou engolindo um peda�o do legislativo, e come�ou a legislar. Isso � perigoso, est� na hora de colocar cada macaco no seu galho.
“Se Bolsonaro n�o consegue botar ordem nos filhos, � um problema. Se compactua, o problema � maior ainda. 

“Quando pega o telefone para dizer ao deputado “vem aqui que vou te dar um carguinho para voc� votar no meu filho na lista de l�deres”, apequena o cargo. 

Impeachment 

Em entrevista publicada pelo Correio em 3 de novembro, o ex-presidente Fernando Collor afirma que se o governo Bolsonaro "continuar assim", ele n�o v� a "menor possibilidade de dar certo", trazendo � tona a perspectiva de o capit�o seguir pelo mesmo caminho do ca�ador de maraj�s — que terminou o mandato ap�s um processo de impeachment.


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