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Estado de Minas LUTA ANTIRRACISTA

Vidas Pretas Importam: Negros relatam racismo em Belo Horizonte

Pela voz de tr�s moradores de BH, EM retrata a repercuss�o dos movimentos que se espalham pelo mundo e as expectativas de uma popula��o em busca de respeito


08/06/2020 09:18 - atualizado 08/06/2020 13:52

(foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.a Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.a Press)
Manifesta��es contra o racismo se espalham pelo mundo. Cidades como Nova York, Londres, Paris, Vancouver, S�o Paulo e Belo Horizonte transformam as ruas em palco de protestos, em muitos casos, luta e enfrentamentos. O estopim dos movimentos foi a morte do ex-seguran�a negro George Floyd, asfixiado por um policial branco em uma “abordagem” nos Estados Unidos. A frase “N�o consigo respirar” se transformou em lema planeta afora, reverberando o apelo da v�tima enquanto era mantida sob o joelho do agressor e cobrando o fim do racismo estrutural. Mesmo com o risco de serem contaminados pelo novo coronav�rus, negros e brancos se deram as m�os para exigir mudan�a. No Brasil, o movimento antirracista se fundiu a diversas outras pautas, com apelos por democracia e sendo convocado inclusive por torcidas rivais, como ocorreu no maior protesto, em S�o Paulo, h� uma semana – que acabou em confronto. A cena de torcidas rivais juntas se repetiu ontem em S�o Paulo e Belo Horizonte. Para entender dramas concretos por tr�s de reivindica��es que por vezes parecem difusas, o Estado de Minas deu voz a tr�s personagens, que d�o testemunhos sobre epis�dios de discrimina��o na capital mineira e p�em em palavras a dor que milhares de brasileiros sentem na pele.

 

(foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.a Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.a Press)

"A bandeira ficou maior que o medo"

Gleidistone Silva, publicit�rio, 26 anos

 

 

Conhecido como Tom Tom, Gleidistone afirma se sentir representado pelo movimento antirracismo e cr� que o mundo passa por um marco na hist�ria. “� um momento que extrapola barreiras, sociais e internas, algumas at� mesmo sanit�rias, devido ao novo coronav�rus. As pessoas n�o t�m mais medo, a bandeira ficou maior que isso. Precisamos falar sobre racismo e ecoar o grito de que pessoas pretas est�o morrendo. Vidas pretas importam”, afirma.

 

Quando questionado sobre eventual mudan�a, por�m, o publicit�rio � reticente. “Muda? N�o sei dizer. Por toda a minha vida vivi em uma sociedade racista, isso est� impregnado na pol�tica e na hist�ria do mundo. O racismo no Brasil � institucional. Por que um branco julga um preto no tribunal? O juiz precisa ser preto. S� assim o julgamento vai ser justo. � preciso que pessoas brancas enxerguem isso, comecem a se questionar. Observem o que est� acontecendo, aprendam a escutar. Isso � um marco, uma oportunidade”, avalia.

 

Para ele, pessoas brancas podem ajudar o movimento antirracista procurando entender a causa. “N�o tentem protagonizar um espa�o neste momento. Busquem por conhecimento e por educa��o, leiam livros, artigos e jornais. Criem espa�os para a voz preta. Usem empresas e contratem modelos pretos. Em festivais de m�sica, contratem artistas pretos. S�o pequenas a��es que transformam o mundo e trazem representatividade para a causa”, acredita.

 

O publicit�rio classificou como “p�ssimo” o movimento “Blackout Tuesday”, que lotou o Instagram de fotos pretas. “Tira o foco da a��o. As pessoas precisam ver os rostos das vidas que foram assassinadas. No Estados Unidos, foi Floyd, aqui, no Brasil, a menina Agatha, o jovem Jo�o Pedro e tantos outros mortos pela repress�o policial”, lembra. Para ele, uma hashtag n�o muda, n�o transforma. “� preciso ver pessoas pretas falando, ver nossos rostos.” 

 

(foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.a Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.a Press)

 

"N�o � preciso esperar algo acontecer"

Ana Carolina Nagem, estudante de psicologia, 22 anos

 

 

A estudante da FUMEC usa sua voz para falar com amigos sobre a luta antirracista. Moradora do Funcion�rios, bairro de classe m�dia alta de BH, a jovem sempre estudou em col�gios particulares e convive em ambientes majoritariamente frequentados por pessoas brancas. “Como uma pessoa negra, em uma situa��o de privil�gio, convivo com muita gente branca, o que j� esbo�a o racismo estrutural no Brasil. O racismo acontece diariamente. Por ser quase sempre a �nica negra, chamo a aten��o ao chegar, as pessoas me olham e me julgam”, conta.

 

A universit�ria relata que j� sofreu discrimina��o em espa�os como shopping e boate da capital, e que, em um dos epis�dios, chegou a chamar a pol�cia. Mas conta que nada foi feito. “Chegaram e falaram que eu estava exagerando.”

 

Questionada sobre o movimento que vem tomando conta de cidades pelo mundo, Ana Carolina diz que se sente representada. “Representatividade importa muito, ainda mais na vida das crian�as negras. Todo dia, essas meninas e meninos escutam que o que � bonito � ser branco. Ter a boca pequena, o nariz fino, a cor mais clara. Elas crescem escutando isso. Vendo essas imagens, das ruas e do mundo, isso inspira. Eu me sinto representada porque a indigna��o da comunidade negra finalmente est� a�. E isso precisa ser lembrado, assim como o pedido pela vida das crian�as negras mortas nas favelas do Rio de Janeiro. Esse � o verdadeiro pedido de socorro.”

 

Inspirada por movimentos  antirracistas, a jovem usa a plataforma do Instagram para tirar d�vidas de jovens do seu meio social. De acordo com ela, muitos amigos a procuraram para entender o que estava acontecendo no mundo. “Isso me deixa feliz, mas, muitas vezes, as pessoas s� falam sobre racismo quando a pauta est� em alta. Esperam algo acontecer. Entendam, n�o � preciso esperar algo acontecer nos Estados Unidos para abrir um di�logo”. Ao afirmar que o presidente do Brasil � conhecido por “declara��es racistas, machistas, homof�bicas”, ela questiona: “E a�? Por que ningu�m faz nada? � preciso ter rodas de conversa, incluindo essas pessoas racistas, porque essa � uma problem�tica branca.” 

 

(foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.a Press)
(foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.a Press)

"Pessoas precisam sair das redes e levar a s�rio"

Poliana Ramos, estudante de direito, 28 anos

 

 

Perto de completar o curso de direito na Faculdade Arnaldo, Poliana desabafa: “Estou me formando agora e, na foto da turma, sou a �nica mulher com cabelo crespo. � dif�cil olhar para os sonhos e n�o sentir que existe chance de conquist�-los”, lamenta. Ela destaca que, em toda a hist�ria do Supremo Tribunal Federal (STF) – posto que � meta para qualquer estudante de direito –, houve apenas um magistrado negro. “Um, apenas um. Precisamos falar sobre representatividade e o papel que ela tem na vida de pessoas pretas.”, afirma.

 

Quando questionada sobre a atua��o de pessoas brancas na luta antirracismo, a estudante cita o ator Paulo Gustavo. “Durante esta semana, ele cedeu a p�gina no Instagram para pessoas negras. Eu me senti representada. � isso que brancos precisam fazer: dar voz �s pessoas negras. A fala quando vem da boca de um negro � muito mais forte”, diz.

 

Poliana relata que a cobertura da m�dia durante o protesto proporcionou um momento �nico em sua vida. “Minha m�e � mais velha, n�o sabe escrever, n�o teve as mesmas oportunidades. Outro dia, me gritou: ‘Filha est�o falando dos negros na TV’. Fiquei emocionada. Ela nunca tinha visto aquilo, e finalmente est� se reconhecendo como negra e entendendo que ela n�o � o problema e sim parte da solu��o”, afirma, admitindo que ela mesma demorou a se aceitar negra.

 

A estudante faz um alerta sobre a import�ncia da milit�ncia nas ruas. Segundo ela, a juventude tem um poder muito grande nas m�os e pode contribuir para que a pauta seja realmente escutada. “Sempre falo que as pessoas precisam sair das redes sociais e levar a s�rio. Os jovens est�o come�ando a tomar consci�ncia do seu papel na sociedade. Mas vale lembrar que a melhor forma de fazer a diferen�a � elegendo representantes pol�ticos que s�o a favor da luta, da cultura e da inclus�o.” 

 

*Estagi�ria sob supervis�o do editor Roney Garcia

 Nas redes Entrevistados pela reportagem usam redes sociais para responder �s perguntas sobre a luta antirracista. Acesse para saber mais e se manter informado:

 

 


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