Ainda embrion�rios, fragmentados e sem lideran�a �nica, os movimentos contra o governo que ganharam for�a nas �ltimas semanas j� obrigam o presidente Jair Bolsonaro e apoiadores a p�r em pr�tica uma plano de rea��o. Sem saber a dimens�o que os manifestos nas redes sociais e nas ruas alcan�ar�o, a estrat�gia bolsonarista � tentar sufocar ainda no in�cio esses grupos construindo a narrativa de que s�o violentos e, por isso, devem ser criminalizados. Eventuais confrontos com a pol�cia ser�o explorados como exemplo de que "o governo � o lado certo."
Bolsonaro, que durante sete domingos consecutivos participou de atos em Bras�lia, pediu, diante do avan�o dos protestos contra ele, para seus apoiadores ficarem em casa no final de semana passado. Publicamente, o argumento era para se evitar um confronto entre manifestantes contra o governo. Nos bastidores, no entanto, a preocupa��o � pol�tica.
O Pal�cio do Planalto temia que a compara��o entre os n�meros contra e a favor do presidente possam mostrar um cen�rio desfavor�vel, evidenciando que a propor��o cr�tica ao governo era maior. A avalia��o � a de que, se isso ocorrer nos pr�ximos protestos, pode entusiasmar opositores, assim como ocorreu com a ex-presidente Dilma Rousseff, que sofreu impeachment em 2016.
Na C�mara, h� 45 pedidos de impedimento de Bolsonaro. At� agora, nenhum foi apreciado pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Parlamentares alegam que os processos n�o avan�aram porque, em meio ao isolamento social, falta clima nas ruas para um impedimento. O temor dos bolsonaristas � que o ambiente comece a ser criado agora.
Nas �ltimas semanas, Bolsonaro aplicou vacinas contra os atos e adjetivou os manifestantes contr�rios a ele de "terroristas", "marginais", "desocupados", "maconheiros" e "viciados".
Pediu aos pais que n�o deixem os filhos participar de atos. "Isso n�o � liberdade de express�o, � quebra-quebra", disse em transmiss�o na "live" da quinta-feira passada.
E fez uma explana��o condenando grupos antifascistas e os associando aos black blocks, que ganharam as ruas nas manifesta��es de 2013 com epis�dios de viol�ncia. Os protestos ocorridos naquele ano, no entanto, foram marcados tamb�m pela atua��o de agentes infiltrados das pol�cias e das For�as Armadas para provocar confus�o e, assim, justificar uso de bombas.
Na segunda-feira passada, depois dos atos, Bolsonaro avaliou que as manifesta��es contr�rias ao governo s�o "o grande problema do momento". "Est�o come�ando a colocar as mangas de fora", disse o presidente a apoiadores, no Pal�cio da Alvorada.
Os atos ocorreram no Distrito Federal e em ao menos 11 capitais. A ades�o foi maior em S�o Paulo, onde tamb�m houve panela�os e buzina�os contra o presidente. Novos atos est�o marcados para este domingo.
Escalada
A arquiteta Monica Ben�cio, companheira da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada em 2018, avalia que a onda de protestos pode crescer diante da conduta do presidente. "Fomos os primeiros a falar que ficar em casa era ato de responsabilidade, mas tamb�m � urgente que a gente ocupe as ruas com responsabilidade, com cuidados com a sa�de, para mostrar ao governo que n�o ficaremos silenciados diante da barb�rie e desse projeto genocida em curso", afirmou.
Integrante da torcida Gavi�es da Fiel e organizador do protesto do domingo passado em S�o Paulo, o estudante de Hist�ria Danilo P�ssaro diz que as falas do presidente refor�am um car�ter autorit�rio. "� mais uma prova de que ele n�o sabe lidar com manifesta��es e express�es do pensamento diferentes", ressalta.
Nas redes sociais, os filhos do presidente criaram a narrativa de que os movimentos contra o governo s�o ileg�timos. O temor � perder espa�o na internet, onde o grupo se organizou e onde o presidente tem sua maior for�a.
Parlamentares ligados a Bolsonaro tamb�m entraram em a��o, como os deputados estaduais de S�o Paulo Gil Diniz (PSL) e Douglas Garcia (PSL), ambos citados no inqu�rito das fakes news no Supremo Tribunal Federal.
Diniz, que era assessor do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) antes de se eleger, anunciou na sexta, dia 5, que protocolaria um pedido para a abertura de uma CPI para investigar os "antifas", ap�s, segundo ele, ter recebido den�ncia de "viol�ncia e outros crimes cometidos por membros do grupo".
J� a Garcia � atribu�do o vazamento de dados de mil pessoas que supostamente integrariam grupos antifascistas. "� contra este tipo de gente que se diz antifa que eu entreguei (n�o vazei) o dossi� � pol�cia!", escreveu no Twitter, ao publicar imagens de protesto no M�xico. O parlamentar defende que os manifestantes sejam enquadrados na Lei de Seguran�a Nacional.
Pela primeira vez desde o in�cio do governo, Bolsonaro enfrenta uma narrativa negativa nas redes sem dispor de seus principais influenciadores no melhor momento, j� que o inqu�rito das "fake news" no Supremo Tribunal Federal passou a mirar o "gabinete do �dio".
Uma an�lise da empresa de consultoria AP Exata apontou queda imediata de 14% para 10% nas publica��es dos chamados perfis de interfer�ncia. H� 77 dias, a empresa computa mais intera��es contr�rias do que a favor do presidente.
"At� o final de 2019, Bolsonaro dominava. Na virada do ano, come�ou a perder. S� que apesar de ele ter mais cr�ticas do que men��es positivas n�o se podia dizer que tinha uma oposi��o forte. N�o era uma coisa concentrada at� a narrativa do movimento Somos Todos 70%", observou o diretor da empresa, S�rgio Denicoli.
SP e v�rios Estados
Movimentos de oposi��o ao presidente da Rep�blica, Jair Bolsonaro, convocaram novas manifesta��es de rua para este domingo. A expectativa � de que os atos ocorram em 17 Estados e no Distrito Federal.
O principal ato - convocado pelo movimento Somos Democracia - ser� em frente ao Masp, na Avenida Paulista.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
POL�TICA