Nas bancadas dos partidos que formam o Centr�o, nova base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro no Congresso, um em cada quatro deputados � investigado ou responde por crimes ou a��es por improbidade administrativa com dano ao er�rio e enriquecimento il�cito. Dos cerca de 200 deputados que formam o bloco informal na C�mara, ao menos 60 possuem implica��es na Justi�a com acusa��es e suspeitas que envolvem desde lavagem de dinheiro e corrup��o a crimes ambientais.
Com o agravamento da crise pol�tica, o Planalto passou a fazer uma investida expl�cita para atrair apoio das siglas do Centr�o em troca de cargos. As negocia��es se chocam com o discurso contra a "velha pol�tica" e o "toma l�, d� c�" no Congresso, adotado por Bolsonaro desde a campanha eleitoral. Esse movimento se intensificou ap�s S�rgio Moro deixar o Minist�rio da Justi�a e Seguran�a P�blica acusando o presidente de tentar interferir indevidamente na Pol�cia Federal.
Na �ltima semana, a��es criminais avan�aram sobre dois dos principais l�deres do Centr�o. O presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da For�a (SP), foi condenado a dez anos e dois meses de pris�o pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes contra o sistema financeiro nacional, lavagem de dinheiro e associa��o criminosa. J� o l�der do Progressistas (antigo PP), Arthur Lira (AL), foi denunciado por corrup��o passiva pela Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR) em uma investiga��o da Opera��o Lava Jato.
Lira e Paulinho da For�a lideram as agremia��es que fazem parte do Centr�o mais atingidas por investiga��es ou den�ncias. Entre os sete partidos do bloco, o Solidariedade tem a bancada com o maior n�mero de deputados comprometidos na Justi�a. Seis dos 14 parlamentares, mais de 40%, s�o alvo de processos judiciais que questionam sua conduta no setor p�blico. A maior parte dos casos � referente a improbidade administrativa, com suspeita de danos aos cofres p�blicos.
O Progressistas vem em seguida, com 38% de seus representantes na C�mara implicados em processos que apontam ou investigam desde lavagem de dinheiro at� fraude em licita��o. Outras siglas que integram o Centr�o s�o PTB (33% da bancada investigada) - que tem o ex-deputado Roberto Jefferson como presidente nacional -, PSD (25%), Republicanos (25%), DEM (27%) e PL (23%).
No total, os casos de improbidade administrativa e dano ao er�rio correspondem a mais da metade dos processos levantados. Fraude em licita��o e falsidade ideol�gica tamb�m est�o entre os crimes mais comuns pelos quais os parlamentares respondem.
O levantamento do Estad�o n�o leva em conta processos j� extintos, a��es de danos morais ou execu��es fiscais. A inclus�o desses casos aumentaria o n�mero de processados no Centr�o de 60 para 77 deputados.
Fora do levantamento, h� situa��es em que inqu�ritos foram arquivados por falta de provas. � o caso do deputado F�bio Faria (PSD-RN), indicado por Bolsonaro na quarta-feira passada para chefiar o rec�m-criado Minist�rio das Comunica��es.
Em 2017, Faria foi citado em depoimentos de cinco delatores da construtora Odebrecht, ap�s um acordo de leni�ncia celebrado com o Minist�rio P�blico Federal. Eles afirmaram ter pago R$ 100 mil � sua campanha para deputado federal, que n�o teriam sido contabilizados. A doa��o, segundo os delatores, teria sido paga em troca de apoio � Odebrecht Ambiental nas �reas de saneamento b�sico e infraestrutura no Rio Grande do Norte.
O ent�o governador do Estado e pai do deputado, Robinson Faria (PSD), tamb�m foi investigado no mesmo inqu�rito - ele foi arquivado ap�s pedido da ent�o PGR Raquel Dodge, que alegou n�o ter encontrado elementos suficientes para o oferecimento de den�ncia, "apesar dos fortes ind�cios da pr�tica do delito". � �poca, o deputado disse que prestaria "todos os esclarecimentos � Justi�a e ao Minist�rio P�blico para provar minha inoc�ncia". A reportagem n�o conseguiu contato com Faria.
Recurso
Ao Estad�o, o Solidariedade respondeu que os deputados n�o iriam se manifestar. A defesa do deputado Paulinho da For�a disse, ap�s sua condena��o no STF, que respeita a decis�o, mas discorda da senten�a, e afirmou que ir� recorrer.
Contatado, o Progressistas n�o respondeu. Ap�s a den�ncia contra o deputado Arthur Lira ser apresentada, sua defesa disse que a argumenta��o da PGR "n�o se sustenta", que a vers�o da acusa��o j� foi desmentida por envolvidos, e que a dela��o que baseia a den�ncia j� teve "inverdades" reconhecidas pelo Supremo. O deputado n�o havia se manifestado at� a conclus�o desta edi��o.
"Me inclua fora dessa", diz ACM Neto sobre o bloco
No momento que o Centr�o recebe cargos no governo federal, o prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto recha�ou em entrevista ao Estad�o o bloco parlamentar que hoje d� sustenta��o ao Pal�cio do Planalto. Apesar do seu partido ocupar o maior n�mero de minist�rios e avan�ar no 2.�escal�o da m�quina federal, Neto disse que o Democratas n�o faz parte do Centr�o. "Os quadros do partido que est�o no governo foram escolhidos por Bolsonaro", afirmou.
O DEM � do Centr�o?
Me inclua fora dessa. N�s n�o integramos o Centr�o. O Democratas deixou claro ao presidente da Rep�blica desde o processo de transi��o em 2018 que n�o participaria da indica��o de cargos e n�o aceitaria discutir espa�os no governo.
Os quadros do partido que est�o no governo foram escolhidos pelo pr�prio presidente Bolsonaro, que quando quis tamb�m tirou, a exemplo do ministro (da Sa�de, Luiz Henrique) Mandetta. O presidente o demitiu e n�o teve que dar nenhuma satisfa��o ao partido, como n�o deu quando na hora que escolheu. N�o vamos participar dessa pol�tica de negocia��o de espa�os.
Qual o papel que o sr. acha que o Centr�o cumpre hoje?
Eu n�o gosto de generaliza��es. Existem situa��es diferentes entre os partidos chamados de Centr�o. Mas � evidente que alguns desses partidos foram governistas com Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma, Temer e agora com Bolsonaro. Eles ser�o governo com qualquer um que chegar � presid�ncia da Rep�blica. Esse � um tra�o que distingue o Democratas. N�s fizemos oposi��o ao PT durante todo o per�odo que o partido esteve no governo. Temos uma linha ideol�gica e de princ�pios muito clara. Existe um jogo de interesses muito claro de lado a lado que torna conveniente a rela��o, mas ela n�o � baseada em cren�as comuns e em princ�pios. Portanto n�o tem a solidez necess�ria para a articula��o de um governo com o Congresso Nacional. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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