
Sem base de sustenta��o no Senado, o governo intensificou as negocia��es para distribuir cargos no momento em que o senador Fl�vio Bolsonaro (Republicanos-RJ) � alvo de investiga��es e a oposi��o recolhe assinaturas para outra CPI no Congresso. Ao mesmo tempo, desde a pris�o do ex-assessor Fabr�cio Queiroz, no �ltimo dia 18, l�deres de partidos pressionam o Conselho de �tica do Senado para abrir processo de cassa��o contra Fl�vio, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro.
Embora o senador tenha conseguido uma vit�ria no inqu�rito que investiga o esquema de "rachadinha" em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio, a avalia��o no Pal�cio do Planalto � a de que o governo precisa de uma blindagem no Senado. Depois das tratativas sobre cargos para indicados pelo Centr�o na C�mara, com o objetivo de barrar qualquer processo de impeachment contra Bolsonaro, o Planalto tem agora um foco maior sobre outra Casa, de Sal�o Azul.
As conversas tamb�m envolvem um poss�vel apoio do governo � reelei��o do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). A disputa no Congresso est� marcada para fevereiro de 2021 e a Constitui��o pro�be que presidentes da C�mara e do Senado sejam reconduzidos ao posto na mesma legislatura. Alcolumbre tem, no entanto, um parecer indicando que, como o mandato de senador dura oito anos - o dobro do de deputado -, existe sa�da jur�dica para permitir a reelei��o. Maia, por sua vez, nega que seja candidato.
At� agora, Alcolumbre conseguiu manter com seu partido, o DEM, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do S�o Francisco e do Parna�ba (Codevasf). A indica��o foi feita pela C�mara, mas apadrinhada pelo presidente do Senado. Na outra ponta, o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa��o (FNDE) ficou com o chefe de gabinete do senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas. O FNDE tem uns dos or�amentos mais cobi�ados pelos partidos: R$ 54 bilh�es por ano.
Fragilidade
Todas essas negocia��es avan�aram diante da fragilidade do governo Bolsonaro e dos problemas enfrentados por Fl�vio. Aliada do presidente, a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) admitiu que, "politicamente", o caso Queiroz atrapalha o governo. "Tanto � que, antes de qualquer julgamento, querem abrir processo de cassa��o contra o Fl�vio. Mas baseado em qu�?", perguntou ela. "Se for condenado e provado, � outra hist�ria. At� agora, � s� inqu�rito".
Na �ltima quinta-feira, a 3.ª C�mara Criminal do Tribunal de Justi�a do Rio concedeu foro especial ao senador no julgamento do processo sobre o esquema de "rachadinha, pr�tica que consiste no repasse de parte do sal�rio do servidor a pol�ticos e assessores. A suspeita do Minist�rio P�blico do Rio � a de que Queiroz atuava como operador de Fl�vio quando ele era deputado estadual. Os dois negam as acusa��es.
Para Soraya, Bolsonaro deve cobrar apoio dos partidos do Centr�o - bloco formado por Progressistas, PL, Republicanos, Solidariedade, PSD e parte do DEM -, contemplados com cargos no governo. O grupo, no entanto, n�o atua no Senado. "Ou � porteira fechada e tem o minist�rio inteiro ou garante ‘x’ de votos e tem metade do minist�rio", disse a senadora.
Mesmo com a pandemia do coronav�rus, a oposi��o tem recolhido assinaturas para a instala��o da "CPI do Queiroz", que reuniria deputados e senadores. Atualmente, j� tramita no Congresso a CPI das Fake News. Para a abertura de uma CPI � necess�rio o apoio de 171 deputados e 27 senadores. A instala��o dessa comiss�o mista, por�m, depende de Alcolumbre.
"Estou coletando assinaturas p/ criar uma CPI p/ investigar as liga��es de Queiroz c/ Fl�vio Bolsonaro. A pris�o de Queiroz deixou evidente liga��o dele e do filho do presidente c/ mil�cias, rachadinhas e, possivelmente, c/ o ‘escrit�rio do crime’",escreveu o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) no Twitter. "A CPI do Queiroz � o pedido mais rid�culo que j� vi", reagiu o l�der do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO).
Na avalia��o de Gomes, o governo e o Congresso "amadureceram" nas negocia��es, ap�s Bolsonaro ter sido acusado de se render � velha pol�tica. "Estamos chegando numa fase em que o novo normal � ser normal", disse ele. Pressionado para abrir um processo de cassa��o contra Flavio, o presidente do Conselho de �tica, senador Jayme Campos (DEM-MT) avisou que n�o tomar� uma decis�o dessas de maneira intempestiva. "Eu n�o sou Maria vai com as outras. Sou independente e vou agir dentro da forma da lei", argumentou.
Sempre dizendo que as negocia��es em curso n�o representam "toma l�, d� c�", o senador Telm�rio Motta (Pros-RR) indicou, em recente conversa com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, o interesse de integrar a base aliada. "O presidente precisa de base parlamentar para todos os projetos. Isso � um processo muito natural e o Pros est� disposto a levar a ele sugest�es e indica��es, contribuindo com pol�ticas p�blicas", observou Telm�rio. Ir�nico, o senador Major Ol�mpio (PSL-SP) resumiu a situa��o recorrendo a um antigo ditado. "A vaca j� foi para o brejo h� muito tempo. Agora, s� precisamos saber a dist�ncia do brejo e a velocidade da vaca", provocou.