
A pandemia do novo coronav�rus pegou o mundo justamente em um per�odo no qual o movimento de nega��o a tudo que � cient�fico � crescente. O v�rus se alastrou e j� matou mais de 614 mil pessoas, segundo dados da Universidade de Johns Hopkins (EUA).
Somado ao p�nico do que � novo, a a��o de negar a ci�ncia fica ainda mais evidente, com informa��es falsas divulgadas massivamente, inclusive por autoridades, colocando em risco a sa�de das pessoas.
A antrop�loga e historiadora Lilia Schwarcz, que � curadora-adjunta de hist�rias do Museu de Arte de S�o Paulo (MASP), fala sobre o negacionismo no Brasil. Ela, que est� escrevendo um livro sobre a gripe espanhola (1918) no Brasil, junto com a historiadora e cientista pol�tica Helo�sa Starling, previsto para sair em setembro, faz um paralelo sobre como o pa�s lidou com aquela pandemia e como est� lidando com a do novo coronav�rus.
Somado ao p�nico do que � novo, a a��o de negar a ci�ncia fica ainda mais evidente, com informa��es falsas divulgadas massivamente, inclusive por autoridades, colocando em risco a sa�de das pessoas.
A antrop�loga e historiadora Lilia Schwarcz, que � curadora-adjunta de hist�rias do Museu de Arte de S�o Paulo (MASP), fala sobre o negacionismo no Brasil. Ela, que est� escrevendo um livro sobre a gripe espanhola (1918) no Brasil, junto com a historiadora e cientista pol�tica Helo�sa Starling, previsto para sair em setembro, faz um paralelo sobre como o pa�s lidou com aquela pandemia e como est� lidando com a do novo coronav�rus.
Um dos pontos curiosos que a hist�ria mostra � “a cren�a em uma cura m�gica”. Durante a gripe espanhola, se popularizou no pa�s o sal de quinino, usado como medicamento no combate � mal�ria. Ainda que n�o fosse tratamento para a gripe, as pessoas o tomavam.
Coincidentemente, o rem�dio da vez, a hidroxicloroquina, tamb�m � usado contra a mal�ria e � altamente recomendado pelo presidente Jair Bolsonaro, apesar de n�o ter comprova��o cient�fica de sua efic�cia em pacientes com COVID-19. “Isso mostra como as pessoas se apegam a pensamentos m�gicos. A diferen�a � que, naquela �poca, o presidente n�o falava em tomar sal de quinino.”
Confira os principais trechos da entrevista com a antrop�loga a seguir:
Coincidentemente, o rem�dio da vez, a hidroxicloroquina, tamb�m � usado contra a mal�ria e � altamente recomendado pelo presidente Jair Bolsonaro, apesar de n�o ter comprova��o cient�fica de sua efic�cia em pacientes com COVID-19. “Isso mostra como as pessoas se apegam a pensamentos m�gicos. A diferen�a � que, naquela �poca, o presidente n�o falava em tomar sal de quinino.”
Confira os principais trechos da entrevista com a antrop�loga a seguir:
Vivemos em um per�odo no qual h� forte negacionismo no pa�s e no mundo, e isso n�o se restringe ao coronav�rus. Por que essa nega��o a tudo que � cient�fico acontece no Brasil?
Penso que isso vem de fora, n�o � algo s� brasileiro. Houve um movimento grande nas redes sociais, que democratizaram, de um lado, a informa��o e, de outro lado, a falta de informa��o, porque as pessoas n�o se preocupam em verificar a fonte. A l�gica das redes � a do imediatismo, sem respeito � produ��o de conhecimento.
E pesquisas mostram que em pa�ses desiguais, como o nosso, a pol�tica de negacionismo tende a ter mais sucesso, porque h� uma lacuna de conhecimento. Vivemos em um governo tecnocrata, autorit�rio e populista. O presidente acredita que todo conhecimento est� detido nele ou nas pessoas que o rodeiam e compactuam da mesma ideologia, e que n�o precisa da imprensa, da ci�ncia, tampouco das institui��es democr�ticas.
E pesquisas mostram que em pa�ses desiguais, como o nosso, a pol�tica de negacionismo tende a ter mais sucesso, porque h� uma lacuna de conhecimento. Vivemos em um governo tecnocrata, autorit�rio e populista. O presidente acredita que todo conhecimento est� detido nele ou nas pessoas que o rodeiam e compactuam da mesma ideologia, e que n�o precisa da imprensa, da ci�ncia, tampouco das institui��es democr�ticas.
A pandemia refor�ou esse negacionismo?
N�s vivemos numa sociedade ocidental que n�o � preparada para a morte, para o luto, nem para gestos de solidariedade. E isso � comum em contextos end�micos. As pessoas preferem acreditar num milagre. Durante a gripe espanhola, em 1918, foi impressionante a entrada do chamado sal de quinino, que as pessoas tomavam, apesar de saberem que era usado para mal�ria (como a hidroxicloroquina).
Qual a diferen�a? Na �poca, os dirigentes da Sa�de, os m�dicos respons�veis e o presidente (Rodrigues Alves) n�o apoiavam o sal de quinino. Muito diferente do que acontece agora, quando o presidente da na��o faz propaganda para que a popula��o tome a cloroquina. O que h� em comum: o pensamento m�gico. Naquela �poca, as pessoas tomavam no desespero.
Ou seja, se a ci�ncia n�o resolve, eu vou resolver de outra maneira. A chegada de epidemias sempre causa problemas pol�ticos, eleva alguns l�deres e derruba outros. Mas impressiona um presidente sem um especialista m�dico (referindo-se ao cargo de ministro da Sa�de, ocupado interinamente pelo militar Eduardo Pazuello). Na �poca, Rodrigues Alves chamou Oswaldo Cruz.
Qual a diferen�a? Na �poca, os dirigentes da Sa�de, os m�dicos respons�veis e o presidente (Rodrigues Alves) n�o apoiavam o sal de quinino. Muito diferente do que acontece agora, quando o presidente da na��o faz propaganda para que a popula��o tome a cloroquina. O que h� em comum: o pensamento m�gico. Naquela �poca, as pessoas tomavam no desespero.
Ou seja, se a ci�ncia n�o resolve, eu vou resolver de outra maneira. A chegada de epidemias sempre causa problemas pol�ticos, eleva alguns l�deres e derruba outros. Mas impressiona um presidente sem um especialista m�dico (referindo-se ao cargo de ministro da Sa�de, ocupado interinamente pelo militar Eduardo Pazuello). Na �poca, Rodrigues Alves chamou Oswaldo Cruz.
Esse negacionismo existia l� atr�s?
N�o � a primeira vez que temos governos populistas, sobretudo na Am�rica Latina. O que tem de novidade agora? Esse populismo autorit�rio e tecnocrata, de figuras que est�o acima, que s�o a na��o, que s�o o Estado, governantes muito ufanistas, pretensamente nacionalistas. O presidente tenta construir uma nostalgia nos seus eleitores, fi�is seguidores, que � uma mitifica��o da hist�ria.
E o que dizer de eleitores que chamam seu presidente de mito? Ao fazerem isso, eles est�o dizendo que v�o segui-lo fielmente, n�o importa o que ele venha a dizer. � a� ca�mos no negacionismo. Estamos num momento de governos populistas autorit�rios, e todos t�m em comum o negacionismo, com atitudes que atacam todos os setores que produzem informa��o.
Jornalistas, acad�micos, cientistas, nada disso interessa, porque o suposto dessa p�s-verdade � criticar, questionar todos aqueles que estudam. A mesma coisa acontece com a hist�ria tamb�m. Faz parte do negacionista atacar em todas as suas frentes e n�o ter qualquer respeito diante da informa��o.
E o que dizer de eleitores que chamam seu presidente de mito? Ao fazerem isso, eles est�o dizendo que v�o segui-lo fielmente, n�o importa o que ele venha a dizer. � a� ca�mos no negacionismo. Estamos num momento de governos populistas autorit�rios, e todos t�m em comum o negacionismo, com atitudes que atacam todos os setores que produzem informa��o.
Jornalistas, acad�micos, cientistas, nada disso interessa, porque o suposto dessa p�s-verdade � criticar, questionar todos aqueles que estudam. A mesma coisa acontece com a hist�ria tamb�m. Faz parte do negacionista atacar em todas as suas frentes e n�o ter qualquer respeito diante da informa��o.
O ato de usar m�scara � simples, e � n�o s� para me proteger, mas para proteger o pr�ximo. Muitos se recusam ou resistem, inclusive o presidente. Isso � reflexo do negacionismo ou aus�ncia de empatia?
Acho que � negacionismo � ci�ncia. Depois h� uma soberba por parte dessas popula��es infladas pelo presidente, do tipo de pensamento “eu n�o pego porque eu sou atleta, voc� pega porque � fraco”. E h� tamb�m um discurso machista, de uma ideia que aqueles que s�o “machos” n�o pegam. A gente n�o pode esquecer que Bolsonaro falou que usar m�scara “� coisa de viado”.
Quem mais morre na pandemia s�o os de sempre: pretos e pobres. Enquanto os brancos puderam se proteger, os pretos e pobres continuam se arriscando. A pandemia nos ensina algo?
A pandemia escancarou a nossa desigualdade. Eu sou muito desconfiada desse conceito “novo normal”. Normal para quem? As pessoas que falaram desse novo normal s�o, em geral, de classe m�dia alta, que vivem em casas com mais de um c�modo. E vimos que mesmo nesses grupos aumentou o feminic�dio, a viol�ncia contra a crian�a. Esse novo normal n�o funciona. A pandemia veio de avi�o, atacou os bairros mais nobres e, logo, ficou especialmente letal nos bairros de baixa renda. S�o popula��es que historicamente t�m menor acesso � sa�de p�blica.
O presidente se elegeu tendo um discurso elogioso � ditadura militar. O que isso diz sobre a rela��o do brasileiro com o autoritarismo? Ou � mais uma nega��o � hist�ria?
S�o quest�es diferentes. Em primeiro lugar, faz um certo tempo que foi sendo constru�da essa m�stica em torno da figura do ex�rcito. Ela come�a ainda no contexto da Guerra do Paraguai, 1864 a 1870. Quando o Brasil sai da guerra, a monarquia sai mais enfraquecida, porque gastou muito com a guerra. Mas o ex�rcito surge de l� como uma institui��o ilibada, e � quando come�a a ser constru�da essa imagem, esse mito dos salvadores da na��o.
Esse mito vai ser de novo constru�do por ocasi�o do golpe da Rep�blica, que � patrocinado pelo Ex�rcito em cima do Partido Republicano Paulista. Ent�o, essa imagem da institui��o que equilibra a democracia, que � uma esp�cie de p�ndulo da democracia, n�o consegue nem no contexto do in�cio da Rep�blica, porque a Rep�blica se inicia com um golpe justamente do Ex�rcito.
Temos tamb�m Get�lio Vargas, depois temos a Ditadura Militar, e temos a hist�ria de uma Constitui��o de 1988, que � muito ampla, generosa, que tentou cuidar dos direitos plurais dos brasileiros, mas n�o lidou com a quest�o do ressarcimento e da avalia��o do Ex�rcito. Tanto que n�s tivemos uma Comiss�o da Verdade que poderia indicar os nomes, mas que n�o poderia julgar essas pessoas.
Muito diferente do que aconteceu em outros contextos. Isso fez com que o Ex�rcito ficasse muito salvaguardado, como, por exemplo, na quest�o da aposentadoria. Ou seja, ele foi muito preservado, mesmo em contextos mais democr�ticos. � uma nostalgia de um passado que nunca existiu. � uma nostalgia de um Ex�rcito aristocr�tico, fiel balan�a da democracia. E o Ex�rcito nunca foi isso. Durante a Ditadura Militar, o que foram os 17 atos institucionais se n�o uma tentativa de acabar com a democracia?
A gente sempre ouve que a hist�ria � c�clica, que se repete. A forma como lidamos com a pandemia do novo coronav�rus nos mostra isso?
Esse mito vai ser de novo constru�do por ocasi�o do golpe da Rep�blica, que � patrocinado pelo Ex�rcito em cima do Partido Republicano Paulista. Ent�o, essa imagem da institui��o que equilibra a democracia, que � uma esp�cie de p�ndulo da democracia, n�o consegue nem no contexto do in�cio da Rep�blica, porque a Rep�blica se inicia com um golpe justamente do Ex�rcito.
Temos tamb�m Get�lio Vargas, depois temos a Ditadura Militar, e temos a hist�ria de uma Constitui��o de 1988, que � muito ampla, generosa, que tentou cuidar dos direitos plurais dos brasileiros, mas n�o lidou com a quest�o do ressarcimento e da avalia��o do Ex�rcito. Tanto que n�s tivemos uma Comiss�o da Verdade que poderia indicar os nomes, mas que n�o poderia julgar essas pessoas.
Muito diferente do que aconteceu em outros contextos. Isso fez com que o Ex�rcito ficasse muito salvaguardado, como, por exemplo, na quest�o da aposentadoria. Ou seja, ele foi muito preservado, mesmo em contextos mais democr�ticos. � uma nostalgia de um passado que nunca existiu. � uma nostalgia de um Ex�rcito aristocr�tico, fiel balan�a da democracia. E o Ex�rcito nunca foi isso. Durante a Ditadura Militar, o que foram os 17 atos institucionais se n�o uma tentativa de acabar com a democracia?
A gente sempre ouve que a hist�ria � c�clica, que se repete. A forma como lidamos com a pandemia do novo coronav�rus nos mostra isso?
Eu acho que a hist�ria est� piorada, porque a gripe espanhola era mais letal mas era mais curta. Agora n�s temos uma situa��o muito mais problem�tica; n�s, que nos achamos t�o tecnol�gicos, t�o adiantados, n�o conseguimos vencer esse microorganismo. E se a hist�ria � c�clica, ela retroage; ela n�o avan�a.
No que se refere ao Brasil, sobretudo, e aos pa�ses que t�m presidentes autorit�rios, o que est� acontecendo � que eles est�o apanhando da pandemia. Rodrigues Alves saiu como her�i. J� Jair Bolsonaro, eu acho que sair� como um desastre em termos de combate � COVID-19. Ent�o, se a hist�ria se repete, ela se repete no sentido inverso. Ou seja, estamos retroagindo.
A senhora diz que se a hist�ria � c�clica, ela retroage. Vivemos per�odo de avan�os com pautas importantes, a��es afirmativas, discuss�o sobre homofobia, racismo, e de repente isso pareceu mudar. O que aconteceu?
Penso que faz parte dessa guinada autorit�ria que o mundo conheceu e que o Brasil conheceu. � impressionante como o Bolsonaro n�o tem sequer originalidade. Quando Donald Trump (presidente dos Estados Unidos) censurou alguns jornais norte-americanos, ele censurou a Folha de S. Paulo. Ent�o, a gente pode ver como existe uma correla��o imediata entre as a��es que fazem barulho nos EUA e as a��es que o Bolsonaro pretende empreender no Brasil.
Existe uma guinada de raiz autorit�ria no mundo todo, mas � preciso pensar nas consequ�ncias do autoritarismo em um pa�s t�o desigual como o Brasil. Nesses 30 anos de democracia, se n�o absoluta, mas pelo menos plena, eu acho que os brasileiros viram o surgimento de novos sujeitos com as suas bandeiras, como o movimento negro, feminista, feminista negro, movimento vinculado ao meio ambiente, LGBTQI+, ind�genas, e n�s vimos a agenda se alargar.
Conseguimos, ent�o, come�ar a imaginar uma hist�ria mais plural, n�o t�o europeia, n�o t�o colonial. O que aconteceu a partir de 2013, com a crise recessiva que o Brasil viveu, foi o aparecimento de setores que talvez n�s n�o v�amos. Existia um setor muito descontente que come�ou a achar que tudo que estavam perdendo, como emprego, eram culpa da cotas, dos novos sujeitos. Ou seja, havia sim uma popula��o que vinha a� com muito �dio, intoler�ncia, e que come�ou a tomar o espa�o das ruas, espa�os que sempre foram progressistas.
Acho que o pensamento conservador � bom para a democracia. O problema � que come�ou a aparecer um setor muito retr�grado e que queria fazer retroagir justamente essas conquistas. E isso tudo vai refluir na campanha vitoriosa de Jair Bolsonaro, que j� era conhecido h� 28 anos, que havia se apresentado algumas vezes e sempre morria na praia, era ironizado, e de repente ele construiu uma campanha poss�vel.
Essas pessoas come�aram a se apresentar mais. N�o � que n�o existiam machistas, mis�ginos, racistas, mas as pessoas tinham receio de falar isso. De repente, esse novo ambiente autorizou esses comportamentos. E eu sempre digo que me preocupa no nosso atual presidente n�o � s� o que ele pensa, mas � o que ele avaliza com a sua conduta. Ele permite que essas pessoas que s�o intolerantes pratiquem o �dio, a l�gica do eu, como se fosse uma l�gica virtuosa.
No que se refere ao Brasil, sobretudo, e aos pa�ses que t�m presidentes autorit�rios, o que est� acontecendo � que eles est�o apanhando da pandemia. Rodrigues Alves saiu como her�i. J� Jair Bolsonaro, eu acho que sair� como um desastre em termos de combate � COVID-19. Ent�o, se a hist�ria se repete, ela se repete no sentido inverso. Ou seja, estamos retroagindo.
A senhora diz que se a hist�ria � c�clica, ela retroage. Vivemos per�odo de avan�os com pautas importantes, a��es afirmativas, discuss�o sobre homofobia, racismo, e de repente isso pareceu mudar. O que aconteceu?
Penso que faz parte dessa guinada autorit�ria que o mundo conheceu e que o Brasil conheceu. � impressionante como o Bolsonaro n�o tem sequer originalidade. Quando Donald Trump (presidente dos Estados Unidos) censurou alguns jornais norte-americanos, ele censurou a Folha de S. Paulo. Ent�o, a gente pode ver como existe uma correla��o imediata entre as a��es que fazem barulho nos EUA e as a��es que o Bolsonaro pretende empreender no Brasil.
Existe uma guinada de raiz autorit�ria no mundo todo, mas � preciso pensar nas consequ�ncias do autoritarismo em um pa�s t�o desigual como o Brasil. Nesses 30 anos de democracia, se n�o absoluta, mas pelo menos plena, eu acho que os brasileiros viram o surgimento de novos sujeitos com as suas bandeiras, como o movimento negro, feminista, feminista negro, movimento vinculado ao meio ambiente, LGBTQI+, ind�genas, e n�s vimos a agenda se alargar.
Conseguimos, ent�o, come�ar a imaginar uma hist�ria mais plural, n�o t�o europeia, n�o t�o colonial. O que aconteceu a partir de 2013, com a crise recessiva que o Brasil viveu, foi o aparecimento de setores que talvez n�s n�o v�amos. Existia um setor muito descontente que come�ou a achar que tudo que estavam perdendo, como emprego, eram culpa da cotas, dos novos sujeitos. Ou seja, havia sim uma popula��o que vinha a� com muito �dio, intoler�ncia, e que come�ou a tomar o espa�o das ruas, espa�os que sempre foram progressistas.
Acho que o pensamento conservador � bom para a democracia. O problema � que come�ou a aparecer um setor muito retr�grado e que queria fazer retroagir justamente essas conquistas. E isso tudo vai refluir na campanha vitoriosa de Jair Bolsonaro, que j� era conhecido h� 28 anos, que havia se apresentado algumas vezes e sempre morria na praia, era ironizado, e de repente ele construiu uma campanha poss�vel.
Essas pessoas come�aram a se apresentar mais. N�o � que n�o existiam machistas, mis�ginos, racistas, mas as pessoas tinham receio de falar isso. De repente, esse novo ambiente autorizou esses comportamentos. E eu sempre digo que me preocupa no nosso atual presidente n�o � s� o que ele pensa, mas � o que ele avaliza com a sua conduta. Ele permite que essas pessoas que s�o intolerantes pratiquem o �dio, a l�gica do eu, como se fosse uma l�gica virtuosa.