
Apesar de pregar, publicamente, que h� uma unidade entre os seus ministros, Bolsonaro considera a demiss�o de Guedes. A conviv�ncia j� n�o � das melhores. O presidente at� reconhece que a sa�da do economista poderia tumultuar o mercado financeiro, mas os efeitos seriam passageiros, pois o substituto receberia a promessa de que os compromissos do governo com o ajuste fiscal ser�o mantidos. O nome mais citado no Pal�cio do Planalto como sucessor de Guedes � o do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “A rela��o entre o presidente e Guedes esgar�ou-se demais. Ser� muito dif�cil ele se reconciliar com o Posto Ipiranga”, disse uma fonte ao Correio.
Assessores pr�ximos de Bolsonaro asseguram que o presidente chegou ao limite com o ministro. Nos bastidores, o mandat�rio n�o escondeu a insatisfa��o depois de Guedes levantar suspeitas de estouro do teto de gastos. Segundo o chefe do Executivo, como 2020 � excepcional e todos os limites fiscais foram estourados, o que se quer � usar sobras de recursos do Or�amento para obras, como forma de acelerar a economia, arrasada pela pandemia do novo coronav�rus.
O desabafo de Guedes, na ter�a-feira, quando reclamou de “ministros fura-teto” do governo, foi considerado por Bolsonaro e outros membros do alto escal�o como totalmente inapropriado. Al�m de o ministro ter admitido que havia uma debandada na equipe econ�mica, n�o agradou ao presidente ouvir de um dos seus principais aliados que ele poderia sofrer um impeachment. Agravou o mal-estar o fato de a declara��o ter acontecido ao lado do presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que n�o tem uma boa rela��o com o chefe do Planalto e � quem decide se abre um processo de impedimento contra o presidente.
Futuro
Se o desentendimento entre Bolsonaro e Guedes se prolongar, analistas pol�ticos tamb�m veem a possibilidade de o ministro ser demitido, ou ent�o, de ele deixar o governo, levando consigo o discurso de que fez o que p�de. “O grande desafio de Guedes � encontrar uma v�lvula de escape para que ele saia com a vaidade intocada e seu conhecimento da m�quina do governo para suas inten��es futuras”, ponderou o analista pol�tico Melillo Dinis. Ele destacou que o ministro, como ultraneoliberal, j� sente dificuldades em se posicionar, sob press�o de militares e grupos que veem o investimento p�blico em grandes obras como a principal sa�da para a crise econ�mica provocada pela covid-19.
“O jogo, hoje, � dilem�tico. Uma encruzilhada com muitos caminhos. Um � o crescimento da crise at� estourar de vez qualquer tipo de controle. Outro � que o aux�lio emergencial d� voto. Tem um setor militar e do Centr�o que quer fazer obra, dinheiro, libera��o de or�amento, emendas parlamentares e jogar o jogo, e ambos culpam Guedes. Se n�o mudar a realidade, seja do gasto, seja da arrecada��o, vai ter muito pouca possibilidade de investimentos”, avaliou.
Cientista pol�tico e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Geraldo Tadeu Monteiro acredita que Bolsonaro tem mais a perder do que a ganhar com a sa�da de Guedes. “A carta Paulo Guedes � o peso-pesado da economia. Ele faz intermedia��o com os setores econ�micos mais importantes. Se o presidente perder essa carta, vai ter dificuldade, como est� tendo para colocar um ministro da Sa�de, e vai ter de colocar algu�m que reze na cartilha dos militares, o que pode provocar uma ruptura na base de sustenta��o.”
Meta da reelei��o ganha for�a
O projeto do presidente Jair Bolsonaro de se reeleger em 2022 ganhou um est�mulo importante com a melhora de seus �ndices de avalia��o, apontada pelas �ltimas pesquisas. Em um momento altamente desfavor�vel, marcado pelos n�meros tr�gicos da covid-19 no pa�s, o chefe do governo, contrariando as expectativas, tem conseguido fazer da pr�pria pandemia um cen�rio para expandir sua popularidade. O pagamento do aux�lio emergencial a milh�es de brasileiros e outros acenos na �rea social, por exemplo, foram bem recebidos at� em setores refrat�rios ao presidente, em especial nas regi�es Norte e Nordeste, cujo eleitorado, historicamente, � mais favor�vel ao PT e a outros partidos de esquerda.Com um �ndice de aprova��o de 37%, a melhor avalia��o desde a posse presidencial — segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem —, Bolsonaro vai colhendo dividendos de uma agenda bem diferente daquela que ele pregou na campanha eleitoral. Al�m do aux�lio emergencial, o an�ncio da cria��o do programa pr�-Brasil, de cunho desenvolvimentista, e do Renda Brasil, uma vers�o refor�ada do Bolsa Fam�lia, � outro trunfo eleitoral, defendido pela ala militar do governo. Por�m, essa mudan�a de rumo, de t�o abrupta, provocou descontentamento do ministro da Economia, Paulo Guedes.
“As elei��es presidenciais ainda est�o distantes, e muita coisa pode mudar. Mas, hoje, � ineg�vel que Bolsonaro seria um candidato competitivo. Seus advers�rios n�o podem desprez�-lo. A d�vida, agora, � saber qual ser� a op��o do presidente entre o seu projeto de reelei��o e a cartilha ortodoxa de Guedes”, avaliou o cientista pol�tico Andr� Pereira C�sar, da Hold Assessoria Legislativa.
Na opini�o de Ricardo Ismael — professor e pesquisador do Departamento de Ci�ncias Sociais da Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) —, ainda � cedo para fazer progn�stico sobre as elei��es de 2022. “Acho que o aux�lio emergencial � conjuntural. Ent�o, � importante saber como Bolsonao vai manter a fidelidade desse eleitor de baixa renda. O movimento � favor�vel, mas n�o d� para saber se se sustenta”, destacou. “Dois anos � muito tempo. D� margem, inclusive, para a oposi��o e o centro comporem novas estrat�gias. Bolsonaro est� seguindo o caminho de Michel Temer (ex-presidente), de se blindar no Congresso, mas o tempo joga contra ele”, destacou.

Presidente recua e defende teto
Em publica��o nas redes sociais, ontem, o presidente Jair Bolsonaro comentou que a responsabilidade fiscal e o teto de gastos s�o o “norte” do governo. No texto, acusou a imprensa de ter desvirtuado o que ele disse na live de quinta-feira. Na transmiss�o, o chefe do Executivo admitiu que houve uma articula��o dentro do governo para que o Planalto aproveitasse o chamado or�amento de guerra — medida que flexibilizou os gastos p�blicos deste ano para garantir mais recursos especificamente para o combate � covid-19 — e investisse em obras p�blicas. “A ideia de furar o teto de gastos existe, qual � o problema?”, declarou o presidente, na ocasi�o.Ontem, contudo, Bolsonaro escreveu: “Quando indagado na live de ontem (quinta) sobre ‘furar’ o teto, comecei dizendo que o ministro Paulo Guedes mandava 99,9% no Or�amento. Tudo, ap�s essa declara��o, resumia que, por mais justa que fosse a busca de recursos por parte de ministros finalistas, a responsabilidade fiscal e o respeito � emenda constitucional do ‘teto’ seriam o nosso norte”.
“Vamos trabalhar junto ao Congresso para controlar despesas, com o objetivo de abrir espa�o para investimentos e, assim, atravessarmos unidos essa crise. O presidente e seus ministros, sempre focados no absoluto respeito �s leis, seguem trabalhando para resgatar econ�mica, �tica e moralmente o Brasil”, frisou.
Educa��o
Em inaugura��o de uma escola c�vico-militar no Rio de Janeiro, ontem, Bolsonaro afirmou que, antes do seu governo, o pa�s estava na contram�o da educa��o, o que poderia ser comprovado com o resultado da prova do Programa Internacional de Avalia��o de Estudantes (Pisa), ocorrida a cada tr�s anos. Ele ainda comparou o ambiente escolar a um quartel.“Hoje, n�s somos sempre o antepen�ltimo, pen�ltimo ou �ltimo lugar entre esses 70 pa�ses (participantes do Pisa). Isso n�o se muda de uma hora para outra. Mas, onde � que tem de come�ar a mudar? Na escola, j� que temos �timos professores, mas temos de dar meios e autoridade para cumprirem seu trabalho. � quase como um quartel: se n�o tiver hierarquia e disciplina, ele n�o cumpre com sua miss�o”, defendeu.
Bolsonaro ressaltou que o objetivo da escola c�vico-militar � que o estudante se torne um profissional, e n�o apenas um “militante pol�tico”. “Aos seus 20, 21, 22, 25 anos, ele seja formado um bom profissional. Vai ser um bom empregado, um bom patr�o, um bom liberal, e n�o apenas, como acontece em parte do Brasil ainda, apenas um militante pol�tico”, declarou.
Ele tamb�m disse que o governo quer “resgatar os pobres, e n�o � s� atrav�s de programa social, que, em grande parte, n�o resgata. � dando conhecimento”. “Programas sociais s�o bem-vindos, mas o que liberta o homem e a mulher � o conhecimento.”
Na solenidade, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, entregou a Bolsonaro a Medalha Zen�bio da Costa, a maior honraria concedida pela Guarda Municipal.