
Marinho, que foi secret�rio especial de Previd�ncia do Minist�rio da Economia antes de ser al�ado ao primeiro escal�o do governo, n�o est� sozinho na guerra contra Guedes. Tem a seu lado os ministros militares com assento no Planalto, sendo o mais pr�ximo dele o chefe da Casa Civil, Braga Neto. Tamb�m conta com a simpatia do secret�rio-geral da Presid�ncia, Jorge Oliveira, e do ministro de Infraestrutura, Tarc�sio Freitas. Construiu uma ponte importante com o ministro das Comunica��es, F�bio Faria, o que o aproximou ainda mais do Centr�o, grupo ao qual Bolsonaro se aliou para impedir qualquer movimenta��o do presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quanto a um poss�vel processo de impeachment — h� mais de 40 pedidos nesse sentido engavetados pelo democrata.
Se o ministro do Desenvolvimento Regional alardeia que conseguiu se cercar de figuras relevantes do entorno de Bolsonaro, Guedes tamb�m bate no peito ter o apoio necess�rio para levar adiante a sua agenda. Ele assegura ter 100% de suporte do presidente. Cita como exemplo as declara��es do presidente na live de quinta-feira e os posts nas redes sociais, na sexta. Em todos, comprometendo-se com o ajuste fiscal. O ministro tamb�m garante ter o apoio do colega F�bio Faria e dos filhos do presidente. “N�o tem outro caminho. Ou seguimos com a responsabilidade fiscal, ou o pa�s quebrar� de novo, como ocorreu no governo Dilma e como se viu recentemente na Argentina” tem dito nas conversas mais recentes com interlocutores do governo.
Guedes afirma, ainda, que os “fura-teto” est�o se aproveitando da proximidade do fechamento do Or�amento de 2021 para impor a agenda da gastan�a, quando o momento � de controlar despesas. N�o h�, no entender do chefe da equipe econ�mica, como repetir 2020, quando todos os limites da responsabilidade fiscal foram jogados para o espa�o por conta da pandemia. Ele entende que, ao longo do tempo, ser� poss�vel ampliar os investimentos do governo, mas, antes, � preciso conter o deficit explosivo das contas p�blicas, que pode chegar a R$ 800 bilh�es neste ano, e a disparada da d�vida p�blica, que encosta nos 90% do Produto Interno Bruto (PIB), levantando questionamentos sobre a solv�ncia do pa�s.
A ala que joga contra Guedes n�o perdoa. Afirma que, al�m de ele nunca ter feito esfor�os para construir rela��es fortes dentro governo, acreditando ser intoc�vel, viu que o seu programa liberal para a economia n�o trouxe os resultados esperados pelo presidente — um crescimento mais r�pido da atividade, sobretudo. Tamb�m demorou para agir durante a pandemia do novo coronav�rus, o que escancarou as fragilidades de sua pol�tica. Foi durante as duras cr�ticas que o governo recebeu pela falta de cr�dito r�pido �s empresas que Marinho se estruturou de vez para ocupar espa�o e partir para cima do ex-chefe. Nessa empreitada, atraiu apoio de empres�rios insatisfeitos com Guedes.
Entre amigos do ministro da Economia, Guedes e o desafeto s�o chamados de “inimigos cordiais”. Procurado, Marinho n�o comentou o assunto.
Trai��o

Na fat�dica reuni�o ministerial de 22 de abril, o ministro da Economia classificou o Pr�-Brasil como um “erro” e comparou a proposta ao Programa de Acelera��o do Crescimento (PAC), elaborado pela ex-presidente Dilma Rousseff. “Voltar a uma agenda de trinta anos atr�s, que � investimento p�blico financiado pelo governo, foi o que a Dilma fez”, disse Guedes, ressaltando, claramente, as digitais do oponente. “Todo o discurso � conhecido: acabar com as desigualdades regionais. Marinho, claro, est� l�, s�o as digitais dele”, disparou.
Naquele momento, o ministro da Economia conseguiu o apoio de Bolsonaro para segurar o �mpeto gastador de Marinho e dos militares. O problema � que, agora, com a polularidade em alta por causa do aux�lio emergencial de R$ 600, o presidente est� focado na reelei��o, e quer transformar o Brasil em um canteiro de obras. Diante dessa ambi��o, dizem integrantes do grupo de Marinho, Guedes n�o ser� um estorvo. Ainda mais depois das declara��es que deu na �ltima ter�a-feira, consideradas muito acima do aceit�vel pelo presidente. A interlocutores, Bolsonaro disse que o ministro da Economia havia passado dos limites ao levantar a possibilidade de ele sofrer um impeachment pelo aumento de gastos.
Entre os auxiliares de Guedes, a ordem � resistir. “N�o se trata apenas de Marinho, um pol�tico que est� botando fogo no parquinho. H� uma leva de pessoas de dentro do governo dispostas a derrubar o ministro”, diz um integrante da equipe econ�mica. Para ele, em vez de o presidente ficar irritado com Guedes, por ele ter falado a verdade e ter exposto a press�o pelo aumento de gastos, Bolsonaro deveria agradecer ao subordinado. “O pouco de credibilidade que ainda resta na quest�o fiscal se deve ao ministro. N�o fosse ele, a farra fiscal j� estaria institucionalizada”, complementa, lembrando que h� pessoas no Congresso dispostas a ajudar Guedes, inclusive na unifica��o das Propostas de Emenda � Constitui��o (PECs) do Pacto Federativo e a Emergencial.
Outro integrante do time de Guedes afirma que, se o presidente diz que est� no limite com o ministro, o chefe da equipe econ�mica tamb�m n�o est� nada satisfeito com os ataques generalizados que vem recebendo. “Por enquanto, ele ainda est� disposto a enfrentar o fogo amigo. Todos n�s sabemos que Guedes n�o tolera muita coisa. N�o h� chance de ele ficar se humilhando por um cargo. Ele quer ajudar, pois acredita nas boas inten��es do presidente. Mas, humilha��o p�blica n�o � com ele”, frisa. (Colaborou Rosana Hessel)
Reformula��o para ganhar agilidade
Na tentativa de responder mais r�pido � demanda do governo, evitar mais debandadas da equipe e conter o tiroteio do qual est� sendo alvo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu a seu secret�rio-executivo, Marcelo Guaranys, que acelere a reestrutura��o da pasta, considerada emperrada demais pela sobreposi��o de fun��es. Esse projeto vem sendo desenhado desde o fim do ano passado.N�o ser�, por�m, um processo f�cil, dado �s vaidades que imperam no minist�rio que foi criado com a fus�o de cinco pastas. H� secret�rios que agem como se fossem o pr�prio ministro e n�o aceitam perder poder. “Isso, por�m, n�o ser� problema para o Guedes. Ele atropela quem estiver criando dificuldades”, diz um integrante da Economia a par das mudan�as que est�o sendo pensadas. “Estamos falando de uma estrutura resultante da fus�o de cinco minist�rios. Tem que corrigir o que est� criando dificuldade”, acrescenta.
J� foram identificadas, por exemplo, sobreposi��es entre a Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, chefiada por Carlos da Costa, e a Secretaria Especial de Desestatiza��o, agora, comandada por Diogo Mac Cord — ele substituiu Salim Mattar. Outros pontos de conflitos envolvem a secretaria de Carlos da Costa e a de Previd�ncia e Trabalho, chefiada por Bruno Bianco. “Temos visto muita coisa se sobrepondo. E, em vez de decidir, tudo fica emperrado”, ressalta o mesmo t�cnico.
Ciente de que precisa reagir, Guedes retomou as reuni�es semanais com seus secret�rios especiais e assessores mais pr�ximos — esses encontros haviam sido suspensos por causa da pandemia. O desta segunda-feira ser� virtual, mas importante para que o ministro unifique o discurso e contenha qualquer movimento de disputa interna por mais espa�o. “Sabemos que, quando h� mudan�as em equipes, sempre aparece algu�m querendo ocupar mais espa�o. Esse n�o � o momento para egos inflados. O Minist�rio da Economia est� sob ataque e precisa de uni�o”, afirma o mesmo t�cnico.