Disputa eleitoral � a bola da vez para jogadores de futebol

Pela ponta direita do gramado, S�rgio Ara�jo, ex-Atl�tico, era arisco. Com dribles e velocidades, buscava sempre o gol. Do outro lado, o esquerdo, o lateral Nonato, �dolo do Cruzeiro, tinha a fun��o de parar advers�rios r�pidos. Mais para frente, no centro da �rea, o grandalh�o Som�lia estava sempre atento, em busca de uma boa bola para balan�ar as redes.

Anos depois de deixarem o futebol, os tr�s tentam se aventurar em outro campo: o pol�tico. Eles s�o candidatos a vereador de Belo Horizonte. Os dois primeiros tentam uma cadeira na C�mara Municipal pelo Avante; Som�lia, pelo PP. Quem tamb�m quer chegar ao legislativo � Serginho (PV), que por muitos anos foi l�bero do time cruzeirense de voleibol.

 

Ao Estado de Minas, o quarteto elencou o esporte como bandeira principal de campanha. Todos creem que a pr�tica de modalidades pode impulsionar outras �reas da cidade, como sa�de, educa��o e gera��o de postos de trabalho.

“H� muitas quadras desocupadas. Hoje, um menino s� pratica futebol se tiver condi��o financeira boa, pois n�o existem mais campos de rua, mas apenas quadras de grama sint�tica. N�o � todo pai de fam�lia que pode pagar uma escolinha”, acredita Nonato, que deseja formular projeto para criar, nas escolas privadas de futebol, vagas subsidiadas pela prefeitura e destinadas a crian�as carentes.

 

"O esporte tira os meninos das drogas e ajuda muito as pessoas carentes, al�m de gerar sa�de e educa��o"

S�rgio Ara�jo, do Galo (Avante)

 

O ex-americano Som�lia, que mant�m um instituto com aulas de diversos esportes, ingl�s e inform�tica, tem opini�o parecida. “No mundo em que vivemos hoje, as coisas t�m se tornado muito complicadas na vida dos jovens e dos adolescentes. Antigamente, por todos os lados tinham espa�os para jogar futebol, v�lei ou brincar na rua. Hoje, pessoas que n�o t�m condi��es, principalmente na periferia, de pagar R$ 80 ou R$ 100 ficam prejudicadas”, pontua.

 

S�rgio Ara�jo, por sua vez, lamenta o n�mero de crian�as sem oportunidades para praticar esportes de alto rendimento. “O esporte tira os meninos das drogas e ajuda muito as pessoas carentes, al�m de gerar sa�de e educa��o”, diz. Ele � o �nico dos quatro a ter experi�ncia anterior em elei��o – tentou ser deputado estadual em 2018, pelo Podemos.

 

"Joguei oito anos no Cruzeiro, depois trabalhei mais seis anos. Moro aqui h� 30 anos e minha vida sempre foi ligada ao clube"

Nonato,do Cruzeiro (Avante)

 

“O investimento de um d�lar no esporte poupa outros cinco. Isso  quem diz � a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU). Poupamos a sa�de e v�rias outras coisas quando a gente investe no esporte”, afirma Serginho, que tem o meio ambiente, a sustentabilidade, o aux�lio a crian�as com c�ncer e a gera��o de renda como outras pautas priorit�rias. Mesmo assim, o �dolo da equipe de v�lei do Cruzeiro n�o abre m�o das origens. “Se minha campanha fosse uma �rvore, a raiz seria o esporte”, compara.

 

Lembran�a da torcida

S�rgio Ara�jo teve tr�s passagens pelo Atl�tico: primeiro, entre 1981 e 1988. Voltou no ano seguinte e, depois, tornou a vestir a camisa alvinegra de 1991 a 1993. Embora tenha encerrado a carreira h� 20  anos, adota “S�rgio Ara�jo do Galo” como nome para a urna. O ex-atacante pensa que a identifica��o com o clube pode despertar a aten��o de eleitores ainda sem um candidato definido. “� preciso fazer alguma coisa em prol (da popula��o) para ser o representante de confian�a das pessoas, mas eles sabem muito bem do meu car�ter e da minha �ndole. Ent�o, tenho certeza que, na d�vida, podem votar em mim”, opina.

 

Nonato “do Cruzeiro”: apostando em estrat�gia semelhante � de Ara�jo, � assim que o antigo defensor da Raposa ir� �s urnas. “Joguei oito anos no Cruzeiro, depois trabalhei mais seis anos. Moro aqui h� 30 anos e minha vida sempre foi ligada ao clube. N�o havia como deixar o Cruzeiro fora disso”, explica ele, presente em importantes momentos da equipe durante os anos 1990. Vindo do Rio Grande do Norte, estabeleceu fam�lia na capital mineira. Sua foto na urna � vestido com um dos uniformes que utilizou durante os tempos de jogador celeste.

 

"Antes, por todos os lados tinham espa�os para jogar futebol, v�lei ou brincar na rua. Hoje, pessoas que n�o t�m condi��es ficam prejudicadas"

Som�lia (ex-Am�rica) (PP)

 

Os gols conquistados por meio de seus quase 1,90m trazem, aos torcedores do Am�rica, boas lembran�as de Som�lia. “Andarilho” da bola, ele defendeu diversos outros escudos e encara com naturalidade o reconhecimento conquistado. Mesmo assim, cr� que o eleitorado est� interessado em outros aspectos. “As pessoas me conhecem. Fiz o nome dentro do futebol, mas elas querem saber o que ando fazendo ap�s o futebol. Quando voc� entra para a pol�tica, as pessoas perguntam suas propostas e por qual motivo devem votar.” O “nome eleitoral” � justamente o inconfund�vel apelido que o consagrou

 

Rec�m-aposentado das quadras, Serginho acrescentou o “V�lei” ao nome eleitoral. Assim como Som�lia, o esportista considera imposs�vel se dissociar da carreira constru�da com a bola nas m�os, mas n�o quer se limitar.  “Colocar o v�lei no nome da campanha representa quem sou eu nos 28 anos de carreira. Mas desde quando me coloquei como pr�-candidato, sempre tive a preocupa��o de carregar algo mais. O discurso sobre esporte � algo muito raso para que o cargo de vereador precisa”, opina.

 

"O investimento de um d�lar no esporte poupa outros cinco. Isso quem diz � a ONU. Poupamos a sa�de e v�rias outras coisas"

Serginho, do V�lei, (PV)

 

Outros casos

Brasil afora, outras figuras de destaque no esporte tentam vencer a elei��o deste ano. Em S�o Paulo, por exemplo, Marcelinho Carioca (PSL), ex-meia do Corinthians, Dinei (Republicanos), tamb�m antigo jogador do Tim�o, e Ademir da Guia (MDB), nome hist�rico do Palmeiras, tentam chegar � C�mara Municipal. Em Curitiba, quem est� na disputa � Adriano Gabiru (PMB), autor do gol que deu o t�tulo do Mundial de Clubes ao Internacional em 2006. Em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, h� Odvan (MDB), ex-zagueiro do Vasco da Gama.

 

H�, tamb�m, aqueles que se arriscam nas disputas � prefeitura. No Rio de Janeiro, o ex-nadador Luiz Lima, que disputou duas Olimp�adas, representa o PSL. Em Porto Alegre, o ex-judoca Jo�o Derly, participante dos jogos de Pequim, em 2008 concorre pelo Republicanos. Os dois s�o deputados federais.