
Com as vit�rias em Contagem e Juiz de Fora, o PT ficou com 28 prefeituras no estado e � o grande derrotado nestas elei��es municipais. Pela primeira vez, desde 1988, n�o vai administrar a cidade mais importante de um estado. Em 2016, havia conseguido Rio Branco (AC). O decl�nio � comprovado mais ainda quando se compara com o pleito de 2004, quando fez nove prefeitos. O Novo, sigla do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, tamb�m sai enfraquecido e sem capitais. Venceu apenas em Joinville (SC).
Quem tamb�m n�o viu a vit�ria dos seus candidatos foi o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), principalmente nos dois maiores col�gios eleitorais do pa�s. S�o Paulo, o maior deles, n�o conseguiu emplacar Celso Russomanno (Republicanos) no segundo turno — terminou em quarto. Bruno Covas (PSDB), correligion�rio de seu principal advers�rio pol�tico atualmente, o governador paulista Jo�o Doria, conquistou novo mandato.
No Rio de Janeiro, o candidato do presidente, Marcelo Crivella (Republicanos) tamb�m afundou ao perder para Eduardo Paes (Democratas) com margem expressiva: 64,07% a 35,93%.
O presidente conseguiu vit�rias em duas cidades de m�dio porte. Apoiados diretamente por ele, Capit�o Nelson (Avante) e Roberto Naves (PP) venceram, respectivamente, em S�o Gon�alo (RJ) e An�polis (GO).
Na avalia��o do cientista pol�tico Carlos Ranulfo, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bolsonaro sai da elei��o com “menor” cacife pol�tico. Mesmo assim, segundo ele, � dif�cil cravar os impactos das derrotas acumuladas neste ano na pr�xima corrida presidencial.
“Bolsonaro perdeu, mas n�o foi o grande derrotado. Afinal de contas, s�o elei��es municipais. A elei��o de 2022 � outro jogo. N�o tem muito a ver com o que est� acontecendo agora”, diz.
Ranulfo v� conex�es entre os apoios dados por Bolsonaro e o pleito presidencial. “Bolsonaro cultiva uma base pr�pria, que envolve os evang�licos e os mais conservadores. Por isso, apoiou Russomanno e Crivella. Ele cultiva essa base por achar que ela vai dar suporte na elei��o de 2022. Bolsonaro n�o est� pensando em governar, mas apenas na elei��o”, sustenta.
A cientista pol�tica Camila Rocha, pesquisadora do Centro Brasileiro de An�lise e Planejamento (Cebrap) e estudiosa do bolsonarismo, tem opini�o parecida. “Existe uma certa pressa de comentaristas e analistas para falar que Bolsonaro saiu derrotado. � muito cedo para falar algo desse tipo. O bolsonarismo est� experimentando um momento bastante cr�tico”, afirma.
Ela acredita que o desempenho ruim de Crivella no segundo turno n�o provoca efeitos negativos de grandes propor��es � imagem do presidente. “Bolsonaro est� sem partido. Nos apoios que deu a v�rios candidatos, como Crivella, pareciam que estava sendo coagido a apoiar. Boa parte deles n�o eram org�nicos. Ele n�o fez muito esfor�o”, explica.
O futuro de Kalil
Reeleito em BH no primeiro turno, com 63,36% dos votos v�lidos,o prefeito de BH, Alexandre Kalil, pode chegar a 2022, como nome relevante para a disputa nacional, segundo Camila Rocha. “Vamos ter que ver o desempenho de Kalil no segundo mandato. Em dois anos, tudo pode acontecer”, avalia. “H� flutua��es da opini�o p�blica e as demandas do eleitorado. O PSD est� em uma posi��o que pode mudar de orienta��o sem sofrer desgastes”, defende.Carlos Ranulfo, entretanto, n�o vislumbra o prefeito belo-horizontino com pretens�es de ter papel ativo na corrida rumo ao Pal�cio do Planalto. Ele ressalta, inclusive, que h� chances de Bolsonaro e PSD costurarem acordo — visto que a sigla comp�e o Centr�o, bloco de congressistas que d� sustenta��o ao governo no Legislativo nacional.
“N�o � do estilo do Kalil, que n�o � um pol�tico tradicional. Dificilmente, ele vai ter um papel na elei��o de 2022. Acho que, se o partido dele apoiar Bolsonaro, ficar� quieto. Kalil fez o contr�rio do que Bolsonaro falou para ser feito na pandemia — e isso ficou muito claro”. Em entrevista ap�s sua reelei��o, Kalil deixou em aberto seu futuro pol�tico, inclusive sobre poss�vel candidatura ao governo de Minas.

'Racha' nas esquerdas
Outro embate que deve deixar marcas profundas, na avalia��o de Carlos Ranulfo, � o protagonizado por Jo�o Campos (PSB) e Mar�lia Arraes (PT), no Recife. Na disputa, vencida pelo pessebista, eles lutaram pelo esp�lio pol�tico de Eduardo Campos e Miguel Arraes, respectivamente. O cientista pol�tico lembra que o PT � parte da base aliada ao governo pernambucano, administrado pelo PSB.
“A rela��o entre PT e PSB j� n�o est� boa e vai piorar depois da campanha no Recife. Jo�o Campos atacou fortemente o PT, como se fosse um cara de direita. O PT participa do governo de Pernambuco. � uma contradi��o atacar quem est� no seu governo. N�o sei se esses dois partidos conseguem se articular para 2022”, opina.
Em 2018, a candidatura de Mar�lia ao Executivo estadual foi vetada pelo diret�rio nacional petista. O objetivo era costurar acordo com o PSB: o apoio a Paulo C�mara foi “trocado” pela neutralidade da sigla na elei��o nacional.
Camila Rocha, no entanto, projeta a supera��o do entrevero. Ela aposta que alian�as como as formadas em torno de Guilherme Boulos (Psol) e Manuela D’�vila (PCdoB) no segundo turno devem prevalecer. “Sempre h� um desgaste, mas pensando nos combinados de sucesso que ocorreram, acho que, provavelmente, as lideran�as partid�rias v�o tender a apostar em uma uni�o. O eleitorado � muito mais receptivo a isso”.
Mesmo com a derrota em S�o Paulo, os dois cientistas pol�ticos concordam que Guilherme Boulos sai fortalecido. Apesar disso, Carlos Ranulfo acredita que o Psol n�o ser� o partido protagonista das esquerdas em 2022. “Boulos � a principal lideran�a ascendente da esquerda, mas o Psol � um partido pequeno, n�o tem tempo de televis�o e n�o tem express�o nacional. O Psol tem for�a em alguns estados, mas s�. PT e PDT s�o partidos organizados nacionalmente. Tem muita conversa pela frente”, projeta.
A uni�o em torno de Boulos no segundo turno contou com PT, PDT, PCB, Unidade Popular e PCdoB. Na avalia��o de Camila Rocha, essas composi��es enriquecem o campo progressista na disputa pela Presid�ncia. “Compor esse tipo de frente, se isso permanecer em 2022, com certeza fortalece a esquerda — e n�o apenas ela, pensando em uma frente antibolsonarista”.
Prefeituras por partido — a partir de 2021
- MDB (5) – Porto Alegre, Goi�nia, Teresina, Cuiab� e Boa Vista
- Democratas (4) – Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba e Florian�polis
- PSDB (4) – S�o Paulo, Natal, Porto Velho e Palmas
- PDT (2) – Fortaleza e Aracaj
- PSB (2) – Recife e Macei�
- PSD (2) – Belo Horizonte e Campo Grande
- Avante (1) – Manaus
- Podemos (1) – S�o Lu�s
- PP (1) – Rio Branco e Jo�o Pessoa
- Psol (1) – Bel�m
- Republicanos (1) - Vit�ria
