Documentos obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo mostram a participa��o do Brasil nas negocia��es que levaram � paz em Mo�ambique e o uso pelas Na��es Unidas do acordo de Chapultepec, que encerrou a guerra em El Salvador, como modelo para acabar com o conflito que durava 15 anos. Foi l� - ap�s 27 anos de aus�ncia - que o Pa�s voltou a ter tropas em for�as de paz: os paraquedistas do general Franklimberg de Freitas.
Os tra�os dessa hist�ria come�am com uma carta de Joaquim Chissano, presidente de Mo�ambique. Escrita no Rio, em 12 de junho de 1992, tinha duas p�ginas. Era endere�ada ao secret�rio-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali. "A delega��o do governo de Mo�ambique e a delega��o da Renamo (a guerrilha rebelde), presentemente reunidas em Roma, concordaram na necessidade de envolver desde j� a Organiza��o das Na��es Unidas como observadora nas negocia��es de paz em Mo�ambique."
O documento pedia o envio "o quanto mais cedo poss�vel" de uma delega��o da ONU � It�lia e Chissano se colocava � disposi��o do secret�rio. Ghali repassou o pedido ao subsecret�rio-geral James Jonah, que designou Hor�rio Boneo, especialista da ONU em elei��es. Mas ele precisava de um conselheiro militar.
A presen�a de Chissano no Rio n�o era coincid�ncia. Havia a avalia��o no Itamaraty, e no Estado-Maior das For�as Armadas, de que, superada a Guerra Fria, a diplomacia brasileira devia assumir um papel mais atuante na nova ordem mundial. A presen�a em miss�es de paz da ONU - especialmente em pa�ses com os quais os Brasil tivesse afinidade, como as na��es de l�ngua portuguesa ou da Am�rica Latina - era parte da estrat�gia.
Na �poca, o coronel brasileiro Romeu Antonio Ferreira estava em El Salvador, na miss�o de paz da ONU (Onusal). Ele escreveu em relat�rio: "Pode-se concluir que a participa��o do Brasil em miss�es de paz da ONU � de fundamental import�ncia pelas raz�es b�sicas: aumentar a credibilidade junto � ONU, tendo em vista assuntos como a participa��o no Conselho de Seguran�a, a solu��o do problema da Ant�rtida, a quest�o da Amaz�nia, as rela��es comerciais etc."
Pedido
Ap�s designar Boneo, Jonah, por meio de seu Departamento Pol�tico, procurou a delega��o brasileira na ONU com um pedido. Queria que o Pa�s indicasse um militar que estivesse em Angola ou em El Salvador para a miss�o secreta em Roma.
O brigadeiro Murillo Santos, conselheiro militar da delega��o brasileira, enviou dois documentos ao Estado-Maior das For�as Armadas informando sobre o pedido. No segundo, de 24 de junho de 1992, o brigadeiro afirmou que o secretariado da ONU "expressou seu desejo" de que o coronel Romeu fosse enviado a Roma. "A miss�o deve durar algumas semanas, e o oficial dever� usar trajes civis e partir para Roma t�o breve quanto poss�vel."
Romeu foi � It�lia sem ser desligado da Onusal. Ali recebeu orienta��o de informar o subsecret�rio-geral sobre os desdobramentos da negocia��o. Debaixo do bra�o, levava os documentos do Acordo de Chapultepec, que acabou com o conflito em El Salvador, que ele e a ONU acreditavam poder servir de modelo para a paz em Mo�ambique. � o que mostra um documento confidencial de 29 de julho de 1992.
Enviado ao subsecret�rio-geral Jonah, nele Boneo e Romeu relatam o encontro entre os presidentes Chissano e Robert Mugabe (Zimb�bue) e o l�der da Renamo, Afonso Dhlakama. "N�s providenciamos informa��es adicionais sobre o cessar-fogo nos acordos de El Salvador."
Romeu j� carregava uma c�pia do material e a ONU queria fornecer outras para serem entregues �s partes.
O coronel teve sua presen�a em Roma prorrogada at� que as partes assinaram a declara��o conjunta de 7 de agosto, na qual se comprometeram a firmar o tratado de paz em 1.� de outubro de 1992.
Romeu voltou a El Salvador. "Queriam que eu fosse para Mo�ambique, mas n�o fui."
Logo ap�s o acordo, a ONU mandou os capacetes azuis a Mo�ambique. Deixou em 1993 a Onumoz, a for�a de paz no pa�s, sob o comando do general brasileiro L�lio Gon�alves Rodrigues da Silva. Um ano depois, o contingente de tropas brasileiras cruzou o mar para atuar com capacete azul. O Brasil fazia ent�o parte do Conselho de Seguran�a da ONU e fora convidado a enviar tropas em 1993. A medida contava com o apoio do chanceler Celso Amorim, mas, mesmo assim, a autoriza��o do Congresso s� saiu no ano seguinte.
A tropa chegou em 1994 e foi ocupar a base em Mocuba, no centro da prov�ncia da Zamb�zia, antiga �rea sob controle da Renamo, que continuava sem nenhum capacete azul da ONU.
"Como nossa tropa era mecanizada e blindada e composta por paraquedistas, s� profissionais, o comandante regional central, um general italiano (Silvio Mazzaroli), falou: 'Voc�s v�o para l�'. E nos colocou no meio da prov�ncia", contou o general Franklimberg de Freitas.
Na �poca, ele era major e comandava o contingente brasileiro. Eram 170 homens da Brigada Paraquedista, todos volunt�rios. Ao todo, os soldados brasileiros recolheram 6 mil armas e 6 toneladas de explosivos. A tropa brasileira partiu no fim do ano. Quase ao mesmo tempo, outro contingente do pa�s chegava do outro lado da �frica. Eram os homens da Unavem 3, a terceira tentativa da ONU de obter a paz em Angola.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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POL�TICA
Relat�rios revelam a��o do Brasil para paz em Mo�ambique
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