(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas EXCLUSIVO

Governo de MG perdeu vacina chinesa ap�s gafe diplom�tica e 'di�logo lento'

Imunizante da Sinopharm, com 79,3% de efic�cia, j� poderia estar em produ��o na Funda��o Ezequiel Dias


28/01/2021 06:50 - atualizado 31/01/2023 22:33

Vacina Sinopharm
Vacina da Sinopharm j� est� sendo aplicada na China; em Minas, tratativas conduzidas no ano passado emperraram (foto: AFP/Andrej ISAKOVIC)
Marcado para as 16h de 17 de agosto de 2020, o encontro virtual que selaria um acordo entre o laborat�rio chin�s Sinopharm e o estado de Minas Gerais acabou frustrado. As tratativas para produ��o e testagem de vacinas contra a COVID-19 foram canceladas dois dias antes pelos orientais, que alegaram dois motivos.

Um deles � uma gafe diplom�tica: �s 16h de Bras�lia, hor�rio acertado pelo governo mineiro para a videoconfer�ncia, os chineses j� estariam de pijamas. Afinal, a diferen�a entre os fusos hor�rios de Beijing, de onde falariam executivos, e de Belo Horizonte, � de onze horas. A outra raz�o citada � o ritmo de trabalho do Executivo estadual, aqu�m da urg�ncia das demandas da empresa.

O imunizante da Sinopharm foi aprovado em dezembro pelas autoridades sanit�rias da China. Com 79,3% de efic�cia, o produto foi o primeiro a obter o aval das autoridades sanit�rias daquele pa�s, no �ltimo dia de 2020. Os Emirados �rabes Unidos, o Bahrein e o Egito tamb�m aprovaram a utiliza��o do composto.

‘3 da manh�’

O naufr�gio das negocia��es est� registrado em documentos aos quais o Estado de Minas teve acesso com exclusividade, entre e-mails e memorandos arquivados no Sistema Eletr�nico de Informa��es (SEI), plataforma que re�ne informa��es ligadas � administra��o estadual. A comunica��o envolve representantes da China National Biotec Group Company (CNBG), grupo que controla a farmac�utica Sinopharm, dirigentes da Funda��o Ezequiel Dias (Funed), da Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES-MG) e do Instituto Mineiro de Desenvolvimento Integrado (Indi).

Em 15 de agosto, o articulador das negocia��es entre a CNBG e o estado – um chin�s residente na capital mineira e CEO de uma multinacional, cuja identidade n�o ser� revelada – formalizou o fim da parceria por e-mail. (Veja a �ntegra da mensagem).


“Eles (da CNBG) lamentam informar que n�o poder�o atender a essa reuni�o com (o governo de) Minas Gerais �s 3 da manh� no hor�rio de Beijing. Os amigos da CNBG realmente apreciam o duro e eficiente trabalho do Indi em concluir o MoU (Memorando de Entendimento) entre Minas e a CNBG. Eles tamb�m estavam muito entusiasmados para estabelecer essa coopera��o”, diz a mensagem, originalmente escrita em ingl�s.

O texto foi enviado para Thiago Coelho Toscano, diretor-presidente do Indi e respons�vel por comunicar o hor�rio da videoconfer�ncia, Jo�o Paulo Braga Santos, integrante da diretoria da entidade, al�m de gestores da Funed, com c�pia para Meng Li, vice-diretora de coopera��o internacional da CNBG.

“Entretanto, duas semanas ap�s a assinatura do memorando, Minas Gerais ainda n�o prop�s um plano de trabalho para os testes cl�nicos de fase 3, e tamb�m n�o tem propostas de companhias CRO (Clinical Research Organizations, empresas �s quais se pode terceirizar um ensaio cl�nico). O atual est�gio dos trabalhos preocupa a CNBG. Uma vez que a pandemia de COVID-19 ainda avan�a furiosamente, a equipe da CNBG est� correndo contra o tempo todos os dias para oferecer ao mundo uma vacina segura e efetiva. Eles n�o podem mais esperar”, conclui o e-mail do articulador chin�s.

Frustrada em Minas, a Sinopharm decidiu investir em pa�ses vizinhos do Brasil. Os testes deslancharam na Argentina e no Peru. As autoridades peruanas, ali�s, autorizaram, nessa quarta (27/1), a importa��o de um milh�o de unidades da vacina.

Expectativas frustradas

Ouvida pela reportagem sob condi��o de anonimato, uma fonte ligada � Sa�de estadual avalia que, caso o acordo tivesse vingado, a Funed, possivelmente, j� estaria produzindo vacinas contra a COVID-19, a exemplo do Instituto Butantan, em S�o Paulo.

“Se esse processo tivesse avan�ado, ter�amos acordo com um produtor internacional de vacinas, como o Butantan tem. Poder�amos, provavelmente, estar no mesmo patamar deles”, comentou um interlocutor.

Segundo ele, as conversas entre a Funed e a Sinopharm come�aram no in�cio de junho, antes do an�ncio da parceria entre o Butantan e a farmac�utica Sinovac, que resultou na CoronaVac. A coopera��o t�cnica foi anunciada pelo governador Jo�o Doria (PSDB) em 11 de junho do ano passado, contemplando comercializa��o, produ��o, transfer�ncia de tecnologia e testagem do imunizante, cujos ensaios cl�nicos, �quela altura, estavam na fase 3.

Cerca de oito meses depois, o produto obteve aprova��o emergencial na Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) e come�ou a ser aplicado em todo o Brasil. O Butantan j� envasou 4,8 milh�es de doses da vacina.

A reportagem teve acesso ao memorando de entendimento firmado entre Minas e a Sinopharm, que descreve os termos da negocia��o malsucedida. Escrito em tr�s l�nguas - portugu�s, ingl�s e mandarim - o documento menciona “ampla parceria na pesquisa cl�nica, registro e comercializa��o do Produto do CNBG no Brasil”. O papel leva a assinatura do Secret�rio de Estado de Sa�de, Carlos Eduardo Amaral, do governador Romeu Zema (Novo), do vice-presidente da CNBG, Zhang Yuntao, entre outras autoridades. (Leia na �ntegra).


A fonte ouvida pelo Estado de Minas conta que os chineses demonstraram, inicialmente, muito interesse em negociar com a Funed, sobretudo pelo fato de se tratar de uma funda��o p�blica, condi��o que torna o relacionamento com a Anvisa mais �gil.

“O que a Funed n�o teria condi��o de oferecer � Sinopharm seriam os testes cl�nicos. A institui��o n�o faz. Quando eles s�o necess�rios, a institui��o terceiriza essa parte para as chamadas ‘CROs’. Isso foi proposto aos chineses e eles concordaram”, revelou o interlocutor.

O que diz o governo

Diante dos questionamentos do jornal sobre as negocia��es com a Sinopharm - feitos por telefone, e-mail e WhatsApp - a assessoria enviou inicialmente a seguinte resposta:

"Em aten��o � sua solicita��o, a Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES-MG) esclarece que as reuni�es entre o governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Sa�de, e a empresa Sinopharm n�o avan�aram nas tratativas. Vale ressaltar que estamos dispon�veis para conversar com todos os fornecedores que apresentem os requisitos t�cnicos necess�rios."

Na noite desta quinta-feira (28/1), o Executivo enviou uma nota, publicada tamb�m no site do estado:

“Durante a pandemia, o tempo de a��es e de negocia��es deve ser o mais r�pido poss�vel, desde que n�o comprometa as quest�es de seguran�a. Sem acesso a essas informa��es e a dados estrat�gicos, n�o � poss�vel concluir uma tratativa. Pela aus�ncia dessas informa��es, inclusive de dados sobre as fases 1 e 2, as negocia��es com a Sinopharm n�o evolu�ram da forma desejada”, diz um trecho do texto.

O governo do estado afirma, ainda, estar aberto a negocia��es com laborat�rios e afirma que, para a adequada produ��o dos imunizantes, al�m da transfer�ncia de tecnologia, seria necess�rio aprimorar a planta de trabalho da Funed . “A estrutura atual, diferente da existente no Instituto Butant� e na Funda��o Oswaldo Cruz, n�o permite a produ��o imediata de imunizantes contra a covid-19. Uma eventual produ��o deve levar em conta tamb�m o acesso a insumos, hoje em falta em todo o mundo. Leia o posicionamento na �ntegra.

O comunicado deixa muitas perguntas sem resposta, como por exemplo: Se o laborat�rio deixou de apresentar os estudos das fases 1 e 2 na fase inicial das negocia��es, o que, na vis�o do estado, comprometeria quest�es de seguran�a, por que o governo prosseguiu com as conversas? Vale lembrar que a Sinopharm - e n�o o estado - interrompeu a coopera��o t�cnica.

Este e outros questionamentos foram encaminhados ao Executivo e ainda aguardam resposta.

Quanto � gafe diplom�tica, o Secret�rio de Estado de Sa�de, Carlos Eduardo Amaral, admitiu � TV Globo que uma reuni�o acabou desmarcada "por conta do fuso hor�rio". A reportagem tentou, durante toda a tarde, entrevistar o chefe da sa�de estadual, sem sucesso

Esta reportagem foi atualizada �s 21h41 de 28/01/2021, com nova nota enviada pelo governo de Minas.

Acordos

Ap�s cr�ticas de Zema aos governadores e prefeitos que se adiantam ao Plano Nacional de Vacina��o, o governo do estado admitiu publicamente estar em tratativas com fabricantes de vacinas. Al�m de tentar se reaproximar da Sinopharm, o Pal�cio Tiradentes, conversa com a Covaxx, dos Estados Unidos, al�m do instituto indiano Serum, um dos produtores das doses criadas pela universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca.

A informa��o foi revelada no �ltimo dia 22 pelo secret�rio Carlos Eduardo Amaral, em entrevista coletiva. Assim como na primeira tentativa de acordo com os chineses, os di�logos ocorrem por meio de memorandos de entendimento. Ao comentar o tema, ele foi cauteloso e descartou a obten��o de doses nos pr�ximos 30 ou 40 dias.

“� claro que, se n�s tivermos condi��o de comprar a vacina, e repassar ao Minist�rio (para distribui��o nacional) dentro do programa de imuniza��o, n�s vamos faz�-lo'', ponderou o chefe da sa�de estadual.

Meningite

A Funda��o Ezequiel Dias � respons�vel pelo �nico p�lo nacional a distribuir doses do imunizante contra a meningite C. O princ�pio ativo do produto � importado da companhia brit�nica GSK. Os mineiros, por seu turno, t�m a responsabilidade de embalar e rotular as doses.

O acordo de transfer�ncia de tecnologia com a GSK prev� que o laborat�rio brasileiro passe, gradativamente, a ter mais pap�is no processo de confec��o da vacina. As doses que chegam a Minas Gerais s�o repassadas ao Minist�rio da Sa�de para sustentar o Programa Nacional de Imuniza��o (PNI).

Nessa quarta (27/1), ao garantir vacinas contra a COVID-19 no estado, mas pregando cautela, Zema alegou que as aten��es dos pesquisadores est�o voltadas, justamente, ao composto contra a meningite C.

“Nossa prioridade neste momento � agilizar o processo de vacina��o, agilizar o recebimento de mais vacinas pelo Brasil e pelo estado, porque adaptar uma unidade produtiva n�o � algo que voc� faz de um dia para o outro. A Funed hoje est� com toda capacidade dela ocupada produzindo a vacina da meningite C. Ent�o n�o seria poss�vel tirar essa produ��o, porque vamos corrigir um problema e criar outro. Mas eu quero deixar claro aqui que Minas vai ter a vacina contra a COVID-19, sim”, sustentou, � R�dio 98 FM.

Em novembro, a Funed iniciou a imuniza��o de cavalos para dar forma a um soro anti-COVID-19. O ant�doto � produzido a partir dos anticorpos de equinos que se tornam imunes pelo v�rus inativo SARS-CoV-2. � �poca, a sa�de estadual disse que a ideia era ministrar as ampolas apenas a pacientes internados. Pesquisadores da funda��o, vale lembrar, s�o refer�ncia na produ��o de soros para barrar efeitos do contato com animais pe�onhentos.

A funda��o trocou de presidente durante a pandemia. Em novembro, o infectologista Dario Brock Ramalho foi anunciado para a vaga de Maur�cio Abreu Santos, servidor de carreira da entidade. O novo mandat�rio atuava como subsecret�rio estadual de Vigil�ncia em Sa�de.

Hist�rico de gafes

Em outubro de 2018, �s v�speras do segundo turno da elei��o estadual, Romeu Zema mostrou desconhecer as compet�ncias da Funed. Em entrevista ao G1, ele foi questionado por um internauta sobre propostas para fortalecer a autarquia.

“Gostaria que o Daniel me explicasse o que � a Funed. Ou voc� sabe?”, disse, se referindo ao respons�vel pela pergunta e aos apresentadores que conduziam a sabatina.

Depois de receber esclarecimentos sobre a fun��o da entidade, Zema emendou: “A proposta nossa � que todas essas autarquias do governo sejam muito bem avaliadas para que possamos ver o que est�o tendo de custo e o que est�o proporcionando (em termos) de servi�os � popula��o. Muitas vezes, algumas unidades do estado viraram verdadeiros cabides de emprego”.

Press�o

A press�o pela participa��o da Funed no debate em torno das vacinas ganhou contornos pol�ticos. O deputado estadual Rafael Martins (PSD), por exemplo, apresentou projeto para que a entidade utilize o Fundo Estadual de Incentivo � Inova��o Tecnol�gica para produzir imunizantes — por meio do licenciamento de tecnologias j� aprovadas.

Ainda na Assembleia Legislativa, Jo�o V�tor Xavier (Cidadania) protocolou requerimento que pede a participa��o da Funed no processo de confec��o dos imunizantes. Beatriz Cerqueira (PT) mant�m conversas semelhantes com a Mesa Diretora do Parlamento.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)