
Pelos corredores do Congresso Nacional, enquanto o Brasil discutia os termos da redemocratiza��o, um �ndio xavante engravatado e de cocar carregava um aparelho a tiracolo para gravar conversas mantidas com pol�ticos.
Era o cacique M�rio Juruna, eleito deputado federal em 1982, pelo PDT. Ele n�o conseguiu a reelei��o e, quase 37 anos depois, Joenia Wapichana (Rede-RR) chegou a Bras�lia.
Nesse intervalo, os povos ind�genas nacionais ficaram sem representante no Legislativo nacional. Pa�s afora, por�m, comunidades origin�rias conseguiram emplacar representantes. A elei��o municipal de 2020 terminou como o pleito com o maior n�mero de vit�rias de �ndios.
Dados da Articula��o dos Povos Ind�genas do Brasil (Apib) e do Instituto Socioambiental (ISA) apontam que, no primeiro turno, as tribos obtiveram 213 cadeiras nas C�maras Municipais, 10 prefeituras e 11 postos de vice. Em Minas Gerais, h� 11 vereadores, um prefeito e um vice.
Era o cacique M�rio Juruna, eleito deputado federal em 1982, pelo PDT. Ele n�o conseguiu a reelei��o e, quase 37 anos depois, Joenia Wapichana (Rede-RR) chegou a Bras�lia.
Nesse intervalo, os povos ind�genas nacionais ficaram sem representante no Legislativo nacional. Pa�s afora, por�m, comunidades origin�rias conseguiram emplacar representantes. A elei��o municipal de 2020 terminou como o pleito com o maior n�mero de vit�rias de �ndios.
Dados da Articula��o dos Povos Ind�genas do Brasil (Apib) e do Instituto Socioambiental (ISA) apontam que, no primeiro turno, as tribos obtiveram 213 cadeiras nas C�maras Municipais, 10 prefeituras e 11 postos de vice. Em Minas Gerais, h� 11 vereadores, um prefeito e um vice.
Segundo a Apib, as campanhas vitoriosas em 2020 representam aumento de 17% em rela��o aos cargos conquistados quatro anos antes. Dos vereadores ind�genas mineiros, h� representantes dos povos Krenak, Maxakali, Patax�, Xacriab� e Xukuru Kariri.
Em S�o Jo�o das Miss�es, no Norte do estado, Jair Xacriab�, do Republicanos, venceu a corrida pela prefeitura. Os n�meros de Minas Gerais representam 5,5% das vit�rias obtidas pelos �ndios em todo o pa�s.
A lideran�a do ranking cabe ao Amazonas: os 42 parlamentares municipais, os dois vice-prefeitos e o prefeito de comunidades origin�rias do estado representam 19% do total nacional.
Em S�o Jo�o das Miss�es, no Norte do estado, Jair Xacriab�, do Republicanos, venceu a corrida pela prefeitura. Os n�meros de Minas Gerais representam 5,5% das vit�rias obtidas pelos �ndios em todo o pa�s.
A lideran�a do ranking cabe ao Amazonas: os 42 parlamentares municipais, os dois vice-prefeitos e o prefeito de comunidades origin�rias do estado representam 19% do total nacional.
Em S�o Jo�o das Miss�es, cidade onde cerca de 70% da popula��o � ind�gena, Jair Xacriab� recebeu 53,7% dos votos. Ele cr� que os povos origin�rios precisam ser incentivados a participar do processo eleitoral.
“� preciso que os �rg�os p�blicos estaduais, federais e munic�pios conscientizem as pessoas, principalmente os ind�genas, de estarem dentro da pol�tica. Vivemos em um pa�s democr�tico, onde os cargos p�blicos s�o abertos a todos, mas ainda h� grande receio dos ind�genas em enfrentar esses cargos, at� mesmo por ainda existirem certos preconceitos. Temos que quebrar os tabus”, diz.
“� preciso que os �rg�os p�blicos estaduais, federais e munic�pios conscientizem as pessoas, principalmente os ind�genas, de estarem dentro da pol�tica. Vivemos em um pa�s democr�tico, onde os cargos p�blicos s�o abertos a todos, mas ainda h� grande receio dos ind�genas em enfrentar esses cargos, at� mesmo por ainda existirem certos preconceitos. Temos que quebrar os tabus”, diz.
Professor de matem�tica e ex-diretor de uma escola estadual da cidade, o prefeito vislumbra ter papel importante na busca pela representatividade ind�gena.
“Temos que estimular as institui��es p�blicas e pol�ticas a reconhecer os ind�genas como um povo que merece ser respeitado e ter seu espa�o na pol�tica. A partir do momento que eu, como prefeito ind�gena, me aproximar dessas autoridades, automaticamente v�o come�ar a enxergar os ind�genas de outra forma”.
“Temos que estimular as institui��es p�blicas e pol�ticas a reconhecer os ind�genas como um povo que merece ser respeitado e ter seu espa�o na pol�tica. A partir do momento que eu, como prefeito ind�gena, me aproximar dessas autoridades, automaticamente v�o come�ar a enxergar os ind�genas de outra forma”.
Ao tomar posse como vereador de Resplendor, no Vale do Rio Doce, Geovani Krenak (PSD) discursou em l�ngua nativa e tocou flauta, ritual feito pelo seu povo como forma de buscar sabedoria e trazer harmonia aos ambientes.
“A representa��o se faz muito necess�ria. Somos habitantes imemoriais do Vale do Rio Doce. Antes mesmo das cidades se instalarem, nosso povo j� travava guerras sanguin�rias por esse lugar. Retomando a lideran�a que nosso povo sempre teve no Vale do Rio Doce”, afirma o ind�gena eleito com 430 votos.
“A representa��o se faz muito necess�ria. Somos habitantes imemoriais do Vale do Rio Doce. Antes mesmo das cidades se instalarem, nosso povo j� travava guerras sanguin�rias por esse lugar. Retomando a lideran�a que nosso povo sempre teve no Vale do Rio Doce”, afirma o ind�gena eleito com 430 votos.
Os Krenak s�o muito conectados aos temas ambientais. A defesa do Rio Doce, altamente prejudicado pela lama que escorreu da trag�dia de Mariana, em 2015, � uma das prioridades do vereador.
“Estamos tratando de um elemento fundamental para a nossa vida: a �gua. Lutamos, desde sempre, para proteger o Rio Doce, principal fonte de �gua aqui. Nossa pauta � urgente, e hoje todo o Vale reconhece como uma coisa emergencial”, ressalta.
“Estamos tratando de um elemento fundamental para a nossa vida: a �gua. Lutamos, desde sempre, para proteger o Rio Doce, principal fonte de �gua aqui. Nossa pauta � urgente, e hoje todo o Vale reconhece como uma coisa emergencial”, ressalta.
Geovani reconhece que os meandros do sistema pol�tico brasileiro, muitas vezes, inibem a participa��o ind�gena. Mesmo assim, acredita na representatividade como forma de dar voz �s demandas dos povos origin�rios.
“� muito complicado (participar do processo eleitoral), principalmente no interior, onde ainda h� aquela pol�tica dos coron�is muito presente, mas � necess�rio lutar e enfrentar para ocupar espa�os e participar das tomadas de decis�o que influenciam na vida dos povos ind�genas”.
“� muito complicado (participar do processo eleitoral), principalmente no interior, onde ainda h� aquela pol�tica dos coron�is muito presente, mas � necess�rio lutar e enfrentar para ocupar espa�os e participar das tomadas de decis�o que influenciam na vida dos povos ind�genas”.

Trabalho de base
A elei��o de 2020 registrou crescimento, tamb�m, no n�mero de ind�genas participantes. Os mais de 5 mil munic�pios nacionais abrigaram 2.212 candidatos origin�rios, o que representa crescimento de 27% em compara��o a 2016.
Ao longo do �ltimo ciclo eleitoral, a Articula��o dos Povos Ind�genas Brasileiros trabalhou para mostrar, �s comunidades, a import�ncia de disputar a elei��o.
“� nos munic�pios que se inicia toda a ret�rica de conflito pelos direitos territoriais. E onde se iniciam, tamb�m, as principais viola��es aos direitos dos povos”, sustenta Dinamam Tux�, coordenador-executivo da Apib.
Ao longo do �ltimo ciclo eleitoral, a Articula��o dos Povos Ind�genas Brasileiros trabalhou para mostrar, �s comunidades, a import�ncia de disputar a elei��o.
“� nos munic�pios que se inicia toda a ret�rica de conflito pelos direitos territoriais. E onde se iniciam, tamb�m, as principais viola��es aos direitos dos povos”, sustenta Dinamam Tux�, coordenador-executivo da Apib.
Para o mission�rio Roberto Ant�nio Liebgott, coordenador da Regional Sul do Conselho Mission�rio Indigenista (Cimi), os povos origin�rios t�m conseguido, gradativamente, aumentar a participa��o na formula��o de pol�ticas p�blicas voltadas a esses grupos.
Ele aponta a Constitui��o Federal de 1988 como elemento importante, por ter permitido aos ind�genas que se manifestassem conforme suas cren�as e costumes.
“(O resultado das elei��es de 2020) n�o � um fato isolado. � decorr�ncia de um processo hist�rico conduzido pelos povos e suas organiza��es, em articula��o com setores da sociedade e partidos pol�ticos”, explica.
Ele aponta a Constitui��o Federal de 1988 como elemento importante, por ter permitido aos ind�genas que se manifestassem conforme suas cren�as e costumes.
“(O resultado das elei��es de 2020) n�o � um fato isolado. � decorr�ncia de um processo hist�rico conduzido pelos povos e suas organiza��es, em articula��o com setores da sociedade e partidos pol�ticos”, explica.
Apesar dos sinais positivos, o clamor pela reforma do sistema eleitoral permanece. Para Roberto Liegbott, mudan�as precisam ser feitas para acomodar de modo natural os ind�genas que desejam se candidatar.
“Nosso sistema pol�tico-partid�rio � hegem�nico e n�o abre possibilidades e perspectivas para al�m do que os partidos imp�em como regra para candidaturas. (Isso) restringe a participa��o dos povos nas disputas eleitorais. N�o se compreende, nesse sistema, as diferen�as �tnicas e culturais. Trata-se todo mundo da mesma forma, quando a Constitui��o pede o respeito �s diferen�as”.
“Nosso sistema pol�tico-partid�rio � hegem�nico e n�o abre possibilidades e perspectivas para al�m do que os partidos imp�em como regra para candidaturas. (Isso) restringe a participa��o dos povos nas disputas eleitorais. N�o se compreende, nesse sistema, as diferen�as �tnicas e culturais. Trata-se todo mundo da mesma forma, quando a Constitui��o pede o respeito �s diferen�as”.
Dinaman Tux� lembra que a discrimina��o sofrida pelos povos ind�genas por s�culos a fio fez com que, por muitos anos, as tribos n�o tivessem sequer um representante em Bras�lia. “H� um racismo institucional impregnado nas estruturas do estado e da sociedade brasileira”, aponta.
Embora reconhe�a a decep��o de muitos ind�genas com o modelo partid�rio brasileiro, Dinaman sustenta a import�ncia de ocupar os espa�os internos das agremia��es para mudar as estruturas por dentro.
“Esses partidos j� t�m seus v�cios e ideologias, que muitas vezes colidem com os interesses dos povos ind�genas, o que acaba fomentando a viola��o dos direitos dos povos ind�genas, tanto no �mbito administrativo quanto na pr�tica. Bancadas do Congresso Nacional v�m, sim, financiando o genoc�dio e a viol�ncia contra os povos ind�genas”, sustenta, comemorando a profus�o de candidaturas pa�s afora. Para ele, o modelo ajuda a consolidar a participa��o ind�gena nos pleitos.
“Esses partidos j� t�m seus v�cios e ideologias, que muitas vezes colidem com os interesses dos povos ind�genas, o que acaba fomentando a viola��o dos direitos dos povos ind�genas, tanto no �mbito administrativo quanto na pr�tica. Bancadas do Congresso Nacional v�m, sim, financiando o genoc�dio e a viol�ncia contra os povos ind�genas”, sustenta, comemorando a profus�o de candidaturas pa�s afora. Para ele, o modelo ajuda a consolidar a participa��o ind�gena nos pleitos.
Juruna pioneiro
Fundador do PDT, Leonel Brizola foi apresentado a M�rio Juruna, o primeiro ind�gena a ser congressista, por filiados ao partido. Ao lado do antrop�logo Darcy Ribeiro, seu fiel escudeiro, resolveu levar o cacique para ser candidato pelo Rio de Janeiro.
A popularidade de Brizola em solo fluminense garantiu a elei��o do ind�gena nascido no Centro-Oeste. “Ele j� tinha vontade de ser candidato, mas se sa�sse pelo Mato Grosso, n�o teria o sucesso que teve no Rio de Janeiro”, conta Rafael Weree, neto de Juruna e presidente do Movimento Ind�gena pedetista.
A popularidade de Brizola em solo fluminense garantiu a elei��o do ind�gena nascido no Centro-Oeste. “Ele j� tinha vontade de ser candidato, mas se sa�sse pelo Mato Grosso, n�o teria o sucesso que teve no Rio de Janeiro”, conta Rafael Weree, neto de Juruna e presidente do Movimento Ind�gena pedetista.
Falecido em 2002 e batizado Mario Dzuruna Buts�, o ex-parlamentar criou, na C�mara, a Comiss�o Permanente do �ndio. O colegiado foi um embri�o da atual Comiss�o de Direitos Humanos e Minorias.
“(Juruna) lutou muito pela demarca��o (de terras), defendeu direitos, denunciou v�rias invas�es, mortes de lideran�as e demarca��es mal-feitas. Foi s� um mandato. Ele denunciou v�rias vezes a corrup��o no Congresso. H� aquela imagem dele devolvendo dinheiro de propina”, fala seu neto, lembrando quando o av� acusou um empres�rio de tentar suborn�-lo para garantir voto em Paulo Maluf na elei��o presidencial indireta de 1985.
“(Juruna) lutou muito pela demarca��o (de terras), defendeu direitos, denunciou v�rias invas�es, mortes de lideran�as e demarca��es mal-feitas. Foi s� um mandato. Ele denunciou v�rias vezes a corrup��o no Congresso. H� aquela imagem dele devolvendo dinheiro de propina”, fala seu neto, lembrando quando o av� acusou um empres�rio de tentar suborn�-lo para garantir voto em Paulo Maluf na elei��o presidencial indireta de 1985.