
Na pior semana da pandemia de COVID-19 no Brasil, com mais de 12 mil mortes pela doen�a – apenas ontem foram 1.127 vidas perdidas para o cononav�rus, aumenta a press�o sobre o ministro da Sa�de, general Eduardo Pazuello. Durante todo o dia de ontem circularam informa��es de que ele deixaria o cargo, alegando problemas de sa�de, e poderia ser substitu�do pela m�dica cardiologista Ludhmilla Hajjar, que se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro em Bras�lia.
Em meio �s especula��es sobre a sa�da de Pazuello do minist�rio, a assessoria do general divulgou no in�cio da noite uma declara��o na qual ele afirma que n�o entregou o cargo e que o presidente da Rep�blica n�o solicitou a sua sa�da. Ele afirmou, por�m, que entregar� a pasta assim que o Bolsonaro pedir.
Em meio �s especula��es sobre a sa�da de Pazuello do minist�rio, a assessoria do general divulgou no in�cio da noite uma declara��o na qual ele afirma que n�o entregou o cargo e que o presidente da Rep�blica n�o solicitou a sua sa�da. Ele afirmou, por�m, que entregar� a pasta assim que o Bolsonaro pedir.
O fato � que o ministro est� com um p� fora da pasta, mas o presidente Bolsonaro ainda n�o encontrou um substituto para o general. Reuniu-se ontem � tarde com a m�dica cardiologista e intensivista Ludhmila Abrah�o Hajjar – que chegou a ser anunciada como nova ministra pelo presidente da C�mara, deputado Arthur Lira (PP-AL) –, mas n�o bateu o martelo. Pazuello tamb�m participou da conversa e, ap�s encontro, anunciou que n�o estava doente nem havia deixado o cargo.
“N�o estou doente, n�o entreguei o meu cargo e o presidente n�o o pediu, mas o entregarei assim que o presidente solicitar. Sigo como ministro da Sa�de no combate ao coronav�rus e salvando mais vidas"
“N�o estou doente, n�o entreguei o meu cargo e o presidente n�o o pediu, mas o entregarei assim que o presidente solicitar. Sigo como ministro da Sa�de no combate ao coronav�rus e salvando mais vidas"
Nas redes sociais, a m�dica goiana, que � supervisora cardio-oncologista do Hospital das Cl�nicas e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo (USP), passou a sofrer intenso bombardeio dos bolsonaristas, por causa de entrevista a um jornal de Goi�nia, no pen�ltimo domingo. Sua nomea��o subiu no telhado.
A fritura de Pazuello come�ou na manh� de s�bado passado, quando a c�pula do Congresso se reuniu na resid�ncia oficial do presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para discutir a proclama��o da PEC do aux�lio emergencial. Participaram da reuni�o o presidente da C�mara, deputado Arthur Lira; os l�deres do governo no Senado, senador Fernando Bezerra (MDB-PE); na C�mara, deputado Ricardo Barros (PP-PR); e no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO). A conversa derivou para a crise sanit�ria e a situa��o politicamente insustent�vel de Pazuello no Congresso, apesar de todas as oportunidades que o ministro teve explicar a situa��o e oferecer alternativas convincentes de combate � pandemia aos deputados.
Com Pazuello no Minist�rio da Sa�de, ser� praticamente imposs�vel para o governo evitar a instala��o da chamada CPI da Pandemia, ainda mais depois das duras cobran�as feitas pelo ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, que criticou a condu��o dada pelo governo ao enfrentamento da crise sanit�ria no seu primeiro pronunciamento ap�s a anula��o de suas condena��es pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin.
Respons�vel pela articula��o pol�tica do governo, o ministro da secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, que havia se incorporado � reuni�o, levou ao conhecimento de Bolsonaro a opini�o de seus aliados. N�o � de agora que os l�deres do chamado Centr�o querem desmilitarizar o Minist�rio da Sa�de, que hoje � comandado por uma equipe vista como despreparada para gerenciar o Sistema �nico de Sa�de (SUS).

Vazamentos
Informado da situa��o, o presidente Bolsonaro mobilizou os generais do Pal�cio do Planalto para uma conversa com Pazuello, ocorrida na noite do s�bado, no hotel de tr�nsito do Ex�rcito em Bras�lia, onde o ministro mora. Participaram da conversa os generais Fernando Azevedo, ministro da Defesa; Walter Braga Neto, ministro da Casa Civil; al�m do ministro Ramos, o porta-voz da insatisfa��o dos pol�ticos. Pazuello foi comandante da Brigada de Paraquedistas quando o general Azevedo foi Comandante do Leste, tendo Braga Neto como chefe de Estado-Maior e Ramos, comandante da Vila Militar. Os quatro formam um grupo pol�tico que hoje d� as cartas no Pal�cio do Planalto. Na conversa, Pazuello foi informado por Bolsonaro de que precisaria ser substitu�do.
A decis�o acabou vazando na manh� de ontem, por causa da reuni�o com Ludhmila, marcada para o Pal�cio do Alvorada na tarde de ontem. O presidente da C�mara, Arthur Lira, chegou a defender no Twitter a indica��o da medida goiana para a pasta, por causa da “capacidade t�cnica” e do “di�logo pol�tico”. “Capacidade t�cnica e de di�logo pol�tico com os in�meros entes federativos e inst�ncias t�cnicas. S�o exatamente as qualidades que enxergo na doutora Ludhmila”, escreveu Lira
Mudan�a
O presidente atual da C�mara, seu antecessor, Rodrigo Maia, e o governador de Goi�s, Ronaldo Caiado (DEM), foram tratados por ela quando tiveram COVID-19. A indica��o pegou de surpresa at� a Frente Parlamentar da Sa�de, que preferiria na pasta um pol�tico com experi�ncia de gest�o no SUS. Esses parlamentares desejam ver no cargo o presidente da Comiss�o de Seguridade Social da C�mara, Dr. Luizinho (PP-RJ), que j� foi secret�rio estadual de Sa�de. Entretanto, o parlamentar tem excelente relacionamento com Pazuello e acabou de assumir o comando da comiss�o, diz que n�o pleiteia a pasta.
O maior bombardeio contra Ludmilla, por�m, vem dos bolsonaristas. Natural de An�polis (GO), Ludmilla defende posi��es que se chocam frontalmente com as do presidente Jair Bolsonaro, mais ou menos como aconteceu com o ex-ministro da Sa�de Nelson Teich, que ficou um m�s no cargo e pediu demiss�o. Nas redes sociais e na m�dia, tem defendido o uso de m�scaras, o isolamento social e criticado o chamado “tratamento precoce”. � duro para Bolsonaro uma mudan�a de rota como essa, ainda mais com a m�dia atribuindo a queda de Pazuello �s exig�ncias do Centr�o e �s cr�ticas do ex-presidente Lula. Mas � o que seu governo precisa, para enfrentar a pandemia.
Desgastes do general no comando da Sa�de
O general Eduardo Pazuello ganhou notoriedade no Minist�rio da Sa�de em 16 de maio de 2020, quando assumiu interinamente a pasta, ap�s a sa�da de Nelson Teich. �quela �poca, o pa�s contava com 15.633 mortos e 233.142 casos. Apresentado como um especialista em log�stica, Pazuello comandava a 12ª Regi�o Militar da Amaz�nia antes de se transferir para Bras�lia. Chegou � capital federal para operar a transi��o entre Luiz Henrique Mandetta, defenestrado ap�s seguidos desgastes com o presidente Bolsonaro, e o m�dico Teich. Em entrevista � Veja, o secret�rio-executivo esclareceu os objetivos � �poca. “Ao final de um per�odo, o ministro estar� com todos os nomes que ele escolheu e eu estarei saindo, voltando para a minha tropa”.
Nada disso ocorreu. Em meio � desastrada pol�tica de enfrentamento � pandemia, Pazuello, um amador na �rea da Sa�de, mantinha-se no cargo. Em 14 de setembro, o Brasil j� acumulava 132.006 mortes e 4.345.610 de casos de covid. Com o avan�o devastador da pandemia e a demora para iniciar o programa de vacina��o, Eduardo Pazuello entrou em uma espiral de sucessivos desgastes.
Veja as principais crises do general Eduardo Pazuello no Minist�rio da Sa�de
16 de maio de 2020
Ministro interino da Sa�de
Pazuello assumiu, interinamente, o minist�rio da sa�de ap�s a sa�da de Nelson Teich, em 15 de maio de 2020, durante a pandemia de COVID-19 no Brasil.
19 de maio de 2020
Protocolo autoriza cloroquina
No cargo de ministro interino, Pazuello amplia a recomenda��o do uso da cloroquina e hidroxicloroquina para todos os casos de pacientes de COVID-19 (leves, moderados e graves) e por um per�odo maior, apesar da falta de comprova��o cient�fica de efic�cia do medicamento.
16 de setembro de 2020
Oficialmente ministro da Sa�de
O ent�o interino desde 15 de maio general Eduardo Pazuello foi efetivado � frente do Minist�rio da Sa�de pelo presidente, Jair Bolsonaro.
20 de outubro
“Um manda e o outro obedece”
Pazuello anunciou que o Minist�rio da Sa�de havia comprado 46 milh�es de doses da CoronaVac para o programa brasileiro de vacina��o. Mas, no dia seguinte, o general foi desautorizado pelo presidente, Jair Bolsonaro, que postou em uma rede social que seu governo n�o compraria “vacina chinesa de Jo�o Doria.” Dois dias depois, o ent�o ministro da Sa�de apareceu em uma live com o chefe do Executivo e, visivelmente desconcertado, resumiu: “� simples assim. Um manda e o outro obedece, mas a gente tem um carinho”, relatou. Isso tudo ocorreu enquanto o ministro estava diagnosticado com a COVID-19, quando chegou a ser internado para receber soro por ter apresentado quadro de desidrata��o.
6 de junho de 2020
Dados nacionais fora do ar
Retirou do ar os n�meros dos mortos de covid-19, apresentados no boletim do Minist�rio da Sa�de diariamente, ap�s ter atrasado a divulga��o dos dados nacionais da pandemia dias antes com objetivo de que eles n�o fossem reportados nos principais notici�rios do pa�s.
7 de janeiro de 2021
“N�s n�o queremos a interpreta��o dos senhores (jornalistas)”
Em coletiva de imprensa realizada no dia em que o Brasil ultrapassou a tr�gica marca de 200 mil mortos pela COVID-19, Pazuello dedicou-se a reclamar da imprensa brasileira e deixou a entrevista sem responder �s perguntas dos jornalistas. “N�o queremos tend�ncia ideol�gica ou de bandeiras, eu quero assistir TV e ver a not�cia do fato. Se cada um interpretar como quer, a desinforma��o � completa. Numa pandemia como essa, a desinforma��o e a interpreta��o equivocada ou tendenciosa leva a consequ�ncias tr�gicas, leva ao medo, � ansiedade, � ang�stia”, criticou, na ocasi�o.
12 de janeiro de 2021
“Tratamento precoce” Vs “Atendimento precoce”
Pazuello lan�ou o aplicativo TrateCOV para auxiliar m�dicos no tratamento da COVID-19. Mas o sistema recomendava “tratamento precoce" da doen�a por meio de rem�dios sem efic�cia comprovada cientificamente, por exemplo, pelo uso de cloroquina, ivermectina e doxiciclina. A plataforma foi testada em Manaus, com mais de 340 profissionais de sa�de cadastrados. Uma semana depois, Pazuello tentou justificar a conduta dizendo que nunca recomendou “tratamento precoce”, mas “atendimento precoce”. Na ocasi�o, disse: “Atendimento � uma coisa, tratamento � outra. Como leigos, �s vezes falamos o nome errado. Mas temos que saber exatamente o que queremos dizer: atendimento precoce”
14 de janeiro de 2021
Manaus sem oxig�nio
Os hospitais de Manaus entraram em colapso, inclusive, com falta de cilindros de oxig�nio. Em live, o ministro Pazuello voltou a falar sobre medicamentos sem efici�ncia comprovada e disse que uma das causas para a situa��o da regi�o era a “falta de aten��o da capital ao tratamento precoce”. Diante da declara��o de que o Minist�rio da Sa�de foi avisado com anteced�ncia sobre a possibilidade da falta de oxig�nio nos hospitais amazonenses, o general apresentou vers�es diferentes sobre a data em que teria recebido essa informa��o e responde a inqu�rito, determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sobre sua conduta na pandemia. Segundo o Minist�rio P�blico Federal, 28 pessoas morreram por falta de oxig�nio na capital do Amazonas em janeiro de 2021.
11 de mar�o de 2021
“Sistema de sa�de n�o colapsou, nem vai colapsar”
No dia em que o Brasil perdeu 2.349 vidas para a COVID-19 em 24 horas, Pazuello declarou que o sistema de sa�de brasileiro “n�o colapsou, nem vai colapsar”, em v�deo divulgado pela assessoria do Minist�rio da Sa�de. A afirma��o foi contestada por secret�rios de Sa�de, prefeitos e governadores ao redor do pa�s.