
Na semana passada, o presidente n�o aceitou a indica��o da m�dica Ludhmila Hajjar, de perfil t�cnico, para substituir o general Eduardo Pazuello, no Minist�rio da Sa�de. Ela havia sido endossada pelo presidente da C�mara, Arthur Lira (Progressistas-AL).
Ludhmila se guiava por uma cartilha de combate � covid-19 que seguia as orienta��es de especialistas mundiais. O presidente escolheu o cardiologista Marcelo Queiroga, amigo de seu filho senador, Fl�vio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Queiroga prometeu seguir a cartilha do Planalto.
Lira ficou contrariado. Numa videoconfer�ncia, falou em evitar a "agonia" dos brasileiros e um "vexame internacional". Antes, ele se manifestava contra a abertura de um processo de impeachment de Bolsonaro. Chegou a dizer que n�o seria "prioridade" e poderia "desestabilizar" o Pa�s. Na �ltima semana, esquivou-se com outro argumento: n�o teve "tempo" de analisar os pedidos.
Queiroga est� assumindo o minist�rio sem poder contar com a "paci�ncia" do Centr�o, sem tempo para aprender e sem poder errar, avisou o vice-presidente da C�mara, Marcelo Ramos (PL-AM). Ele e Lira tamb�m declararam publicamente que Bolsonaro n�o poder� contar com eles para impor medidas mais extremas. Horas antes, Bolsonaro citou o termo "estado de s�tio" em uma conversa truncada com apoiadores, no Alvorada, na qual criticava os governadores.
Sinais
O deputado Fausto Pinato (Progressistas-SP) confirma que h� uma mudan�a sutil no relacionamento do Centr�o com o governo e que o "sinal laranja" de alerta j� est� ligado e "caminhando para o vermelho". "Ningu�m vai querer se expor em um governo que pode acabar mal por causa da pandemia. Acredito que os l�deres est�o se afastando de Bolsonaro at� ver no que vai dar esse ministro da Sa�de e qual plano ser� adotado", afirmou Pinato. "Se n�o mantiver um cronograma de vacina��o, e as mortes aumentarem, n�o ter� como segurar (a CPI)", avisou.
A deputada Celina Le�o (Progressistas-DF), cada vez mais pr�xima da fam�lia Bolsonaro, diz que a C�mara tem sido colaborativa, mas alerta: "O grande erro de Bolsonaro foi n�o entender, no momento certo, a import�ncia da vacina".
No Senado, a press�o pela CPI da Sa�de � ainda maior. O presidente Rodrigo Pacheco (DEM-MG) se diz contra, mas, ap�s a morte do senador Major Ol�mpio (PSL-SP), o terceiro por covid, j� admite que n�o sabe at� quando poder� evitar a investiga��o. Teme que chegue um momento em que se ver� entre garantir o apoio � sua gest�o ou � de Bolsonaro. "A situa��o cr�tica do Brasil exige a coordena��o do presidente, a��es do Minist�rio e toda colabora��o dos poderes, governadores, prefeitos e institui��es", disse no Twitter.
Dias antes da queda de Pazuello, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, disse ao Estad�o que houve uma mudan�a not�vel na rela��o entre os poderes e minimizou o desgaste que se avizinhava. "Todos estamos muito preocupados pela pandemia, mas ela vai fazer a gente se unir mais ainda", ressaltou. "Essa pandemia � um fator que ainda vai solidificar mais ainda nossa uni�o."
Lula
Um dirigente do DEM, com tr�nsito no Pal�cio do Planalto, afirma que o Centr�o se move pela expectativa de poder - por isso, n�o h� d�vidas de que pode abandonar Jair Bolsonaro. E cita como exemplo a debandada do grupo, em 2016, do governo Dilma Rousseff, o que deteriorou as condi��es pol�ticas da presidente para enfrentar o impeachment. Um a um, partidos como Republicanos, Progressistas, PSD e PL foram deixando o governo para depois ingressar na c�pula do governo Michel Temer.
As fissuras entre o governo e o Centr�o coincidem com sinais positivos de integrantes do bloco � reabilita��o eleitoral do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. Para caciques, as pesquisas de inten��o de voto ter�o papel decisivo. A taxa de rejei��o, atualmente mais alta para Bolsonaro, � fator mais considerado, pois indica o teto de votos. Eles tamb�m lembram que, em algum momento, todos os pol�ticos no controle dos partidos do Centr�o foram aliados de Lula.
No bloco, o PL, o Progressistas e o Republicanos s�o vistos por ministros do governo e dirigentes partid�rios como os mais fechados com Bolsonaro. No governo, os ministros reconhecem que abandonar ou n�o Bolsonaro ser� movido por ideologia, sentimento de poder e circunst�ncias regionais.
O Solidariedade � um dos partidos que balan�am entre Bolsonaro e Lula. A interlocutores, o presidente do partido, Paulinho da For�a (SP), j� admitiu inclina��o por apoiar uma eventual candidatura de Lula em 2022. Chefe do PSD, o ex-ministro Gilberto Kassab, apoiador de Bolsonaro, tamb�m n�o descarta o petista.