
O protagonismo e a vit�ria eleitoral do ministro, general de Ex�rcito da reserva, o fortaleceram no comando da rela��o com os parlamentares, mas geraram inc�modo entre os militares.Um general disse que ele deveria se envergonhar. Mas Ramos rebate e, em entrevista ao Estad�o, afirma que oficiais da ativa das For�as Armadas entendem o “momento pol�tico” do governo.
“N�o me envergonho”, disse o ministro � reportagem. “N�o tenho vergonha nenhuma, n�o. Tomei uma atitude coerente. Meu desprendimento de ter aberto m�o da minha carreira no Ex�rcito mostra que estou a servi�o do Pa�s. O governo hoje � do Bolsonaro, mas � do Pa�s.”
Para o ministro, os generais da ativa compreendem a situa��o do governo Bolsonaro, que levou � alian�a com partidos do Centr�o. O presidente conseguiu, ao abra�ar o Centr�o, blindar seu mandato de amea�as de impeachment e tenta destravar a pr�pria pauta. Antes, o bloco governista era criticado pelo fisiologismo e chamado de “velha pol�tica” pelo presidente na campanha. Chegou a ser associado a “ladr�o” no palanque de Bolsonaro, nas palavras do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Seguran�a Institucional.
“Tenho contato com v�rios generais, amigos meus, n�o h� isso, n�o. Eles entendem que � o momento pol�tico, que estou cumprindo uma miss�o. N�o h� (constrangimento), muito pelo contr�rio”, afirmou Ramos.
Generais que serviram em cargos de confian�a a Bolsonaro no Pal�cio do Planalto deixaram o governo desprestigiados, passando a uma postura de oposi��o a diversas frentes do governo, entre eles a gest�o da Sa�de na pandemia da covid-19. � o caso dos generais Santos Cruz, ministro antecessor na Secretaria de Governo, e R�go Barros, ex-porta-voz da Presid�ncia, ent�o integrante da equipe direta de Ramos.
“N�o quero entrar no caminho de criticar a, b ou c. Agora, o general R�go Barros trabalhava comigo, estava dando tudo certo, sai e passa a criticar o governo. Santos Cruz trabalhava aqui, (sai) e passa a criticar o governo. N�o tenho nada contra. Eles podem fazer isso”, afirmou Ramos.
O ministro Ramos se irritou, especialmente, com declara��es do general da reserva do Ex�rcito Francisco Mamede de Brito Filho. Eles trabalhavam juntos e tinham bom relacionamento, argumentou o ministro. Brito comandou a 4ª Brigada de Infantaria Leve - Montanha, em Juiz de Fora (MG), enquanto Ramos era seu superior, comandante da 1ª Divis�o de Ex�rcito, no Rio, em 2014. Em 2019, Brito foi chefe de gabinete no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira).
Brito afirmou que a quantidade de ministros militares incomoda n�o s� quem est� na reserva, mas tamb�m na ativa. “A imagem da institui��o j� est� arranhada. Ficam do lado de um governo que comete as barbaridades que estamos presenciando”, afirmou Brito. Ele comentou diretamente o trabalho de Ramos, general quatro estrelas que articulou a elei��o dos presidentes da C�mara e do Senado. Como mostrou o Estad�o, o gabinete de Ramos passou a ser visto como um QG (quartel general) das campanhas do Legislativo, onde eram acertados os repasses de verbas e cargos para o Centr�o, o que Ramos nega. Cerca de R$ 3 bilh�es em verbas extras foram distribu�das para contemplar 285 parlamentares.
“N�o tem como dizer que ele est� a servi�o do Pa�s, ele serve ao governo. Se n�o se envergonha de ter feito isso, como n�o se envergonhou em outros eventos pass�veis de constrangimento... Eles v�o continuar, t�m suas motiva��es”, disse Brito.
O general tamb�m lembrou que Bolsonaro prometeu a seus eleitores, em 2018, n�o ceder ao “toma l�, da c�”, a troca de cargos e verbas federais por votos no Legislativo: “O que est� acontecendo agora � mais uma trai��o �s promessas de campanha, mais uma que vai para o ralo. A pol�tica do toma l�, da c� � agora praticada de maneira aberta e escancarada. Considero um fato grave e, se eu estivesse no governo, ficaria muito constrangido e certamente estaria pensando em abandonar o barco”.
As declara��es desagradaram o ministro de Bolsonaro. Ramos disse repudiar os coment�rios, que, para ele, expressam “desconhecimento” das fun��es de ministro. Ele criticou a forma como Brito deixou o Ex�rcito, em 2017, no cargo de general de Brigada, sem ser escolhido para promo��o.
“O que me incomodou foi um general que trabalhou comigo, sabe meus valores, sabe que sou uma pessoa correta. Se ele acha que meu desempenho est� tendo repercuss�o ruim no Ex�rcito, essas atitudes e declara��es dele � que est�o ficando ruins para ele. Deveria ter mais compromisso com a verdade”, afirmou o ministro. “Ele n�o tem lastro moral nenhum. Se algu�m tem que ter vergonha, no caso, � o general Brito pela maneira como saiu do Ex�rcito, ao n�o ser promovido a general de Divis�o. Foi uma grande decep��o. N�o quis passar o comando.”
Para o ministro, a prova de que ele n�o tem outras motiva��es ao permanecer no governo � que decidiu passar � reserva no ano passado, embora pudesse ficar na ativa at� o fim deste ano. Houve forte press�o de colegas generais, incomodados com a presen�a de oficiais em atividade no primeiro escal�o ministerial. Al�m de Ramos, o ministro de Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque, tamb�m pediu a reserva na Marinha e agora v� seu cargo cobi�ado pela base do governo no Senado. A perman�ncia do ministro da Sa�de, Eduardo Pazuello, como general de Divis�o na ativa ainda contraria o Alto Comando do Ex�rcito.
“Eu pedi reserva exatamente para n�o dar margem a coment�rios do tipo que ele fez. Comuniquei minha decis�o ao comandante do Ex�rcito, o presidente nem era favor�vel, para que n�o haja nenhuma ila��o como est� havendo com Pazuello. Abri m�o de estar no Ex�rcito por um ano e meio. Brinco que sou um trapezista que mandou tirar a rede de prote��o embaixo. Estou ministro de Estado. Se o presidente decidir me trocar, vou para casa. N�o tem prova maior de desprendimento do que isso”, afirmou Ramos.
Ele n�o quis comentar mudan�as no governo para abrir espa�o ao Centr�o, que almeja minist�rios e deve atingir ministros de carreira militar.
Como o Estad�o mostrou, generais da ativa admitem, reservadamente, a expectativa de que a forma��o do governo seja de fato alterada. Eles tamb�m reconhecem certo constrangimento com a chegada do Centr�o � primeira linha do governo, mas ponderam que “ainda � cedo” para saber no que a nova alian�a vai dar.
Os oficiais dizem que o presidente estava “emparedado” e foi for�ado a buscar amparo pol�tico, na base do fisiologismo. Tamb�m lembram que n�o ser� o primeiro governo a se aliar ao Centr�o, apesar das promessas do presidente de n�o ceder � troca de cargos, e argumentam que o bloco pode dar sustenta��o � agenda de campanha.
O general de Ex�rcito Maynard de Santa Rosa, ex-secret�rio de Assuntos Estrat�gicos de Bolsonaro, afirmou que n�o considera saud�vel rotular um arranjo pol�tico inteiro como corrupto. Reconhece, por�m, que existe esse preconceito com o bloco entre os militares. “S� vai ter problema se o Centr�o confirmar o preconceito”, disse. “O que acontece fora do Ex�rcito n�o necessariamente influi na tropa, a n�o ser que haja interesses afetando os dois lados. O que pode afetar � a imagem da institui��o na opini�o p�blica.”