
A mudan�a no comando do Minist�rio da Defesa, as poss�veis trocas nos comandos das For�as Armadas neste momento e a eventual tentativa de se atribuir aos militares pap�is que n�o sejam estritamente constitucionais s�o elementos que amea�am a coes�o dentro das For�as Armadas.
Essa � a avalia��o do diretor do Brazil Institute da universidade King's College de Londres, Vinicius de Carvalho, que pesquisa h� mais de dez anos as �reas de Defesa e Seguran�a, com foco nas For�as Armadas da Am�rica Latina e do Brasil. Carvalho tamb�m foi oficial t�cnico tempor�rio no Ex�rcito Brasileiro.
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"Um problema muito s�rio que toda essa agita��o criada pela demiss�o do ministro cria � um risco de quebra de coes�o, porque as For�as Armadas dependem dela. Dependem de que haja hierarquia clara e que todos elementos dessa hierarquia estejam em coes�o", disse, em entrevista por telefone � BBC News Brasil.
Em uma institui��o da qual se espera "neutralidade e estabilidade de processos", com a hierarquia como caracter�stica fundamental, Carvalho diz que o risco � o surgimento de grupos internos.
"O risco de quebra de coes�o � quando surge espa�o para que esses riscos de movimenta��es individuais comecem a criar cis�es dentro da For�a e criar grupos — um grupo que apoia tal lado, um grupo que apoia tal lado. Isso n�o fez bem em nenhuma hierarquia", diz.
"Nunca fez bem em nenhuma institui��o quando voc� come�a a ter for�as internas trabalhando n�o em prol da causa republicana, mas em prol de seus pr�prios interesses e percep��es."
Em um an�ncio surpreendente nesta segunda-feira (29/03), o general da reserva Fernando Azevedo e Silva comunicou sua sa�da do Minist�rio da Defesa, sem explicar os motivos.
"Nesse per�odo, preservei as For�as Armadas como institui��es de Estado", escreveu o general em sua carta de demiss�o.
Segundo apura��o da BBC News Brasil, Bolsonaro pediu sua sa�da do cargo por estar insatisfeito com a falta de apoio das For�as Armadas a bandeiras do governo.
"N�o � novidade mudar ministro da Defesa. O fato de termos que discutir isso hoje como poss�vel quebra na hierarquia ou na coes�o � um sinal de que precisamos ainda dar passos importantes para compreender de forma clara rela��es civis-militares no Brasil", disse Carvalho.

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Em uma de suas declara��es mais recentes sobre as For�as Armadas, em mar�o, Bolsonaro usou o termo "meu Ex�rcito", ao criticar medidas restritivas devido ao coronav�rus.
"O meu Ex�rcito n�o vai para a rua para obrigar o povo a ficar em casa", disse o presidente.
Para Carvalho, Bolsonaro abre espa�o para a interpreta��o de que ele encara o Ex�rcito como sua guarda pessoal.
"Isso causa desconforto em atores militares, civis, em acad�micos que se preocupam com o tema, em pol�ticos que se preocupam com esse tipo de declara��o, j� que acaba abrindo para interpreta��o de que o presidente trata o Ex�rcito como se fosse sua guarda pretoriana — quando, na verdade, o Ex�rcito tem suas defini��es muito claras constitucionalmente dentro do Estado democr�tico de direito."
A famosa guarda pretoriana foi criada para proteger imperadores e funcionava como uma esp�cie de guarda pessoal de membros da elite do imp�rio romano.
S�rie de mudan�as

Carvalho aponta que mudan�as grandes e que afetem a hierarquia dentro das For�as s�o o que traz esse risco de cis�es.
Embora considere a substitui��o de Azevedo pelo ministro Braga Netto, tamb�m general, como uma troca de "seis por meia d�zia" em rela��o a perfis, Carvalho destaca que o novo ministro � mais moderno (mais novo no Ex�rcito, no jarg�o militar) que Pujol.
"O que estamos fazendo aqui � colocar como ministro, que estaria acima dos chefes das For�as, algu�m que � mais moderno do que o pr�prio comandante da for�a. Todos esses elementos, quando se trata do ambiente militar, devem ser levados em conta, que podem por ventura causar disruptura na coes�o. E ao causar disruptura na coes�o, h� o potencial risco de causar disruptura na hierarquia, e causar divis�es dentro de institui��es que, por sua pr�pria natureza, n�o podem viver esse tipo de divis�o", explica.
"Como institui��o de Estado, n�o deve haver posicionamentos ou grupos dentro da for�a."
J� a eventual substitui��o de Pujol poderia levar a uma s�rie de mudan�as dentro do Ex�rcito, dependendo do nome escolhido por Bolsonaro.
Para Carvalho, a posi��o de Pujol nos �ltimos dois anos � "o que se espera de um comandante de for�a". "N�o tem que sair por a� dando opini�o sobre nada e o general Pujol foi muito prudente nisso durante todo esse tempo. Foram pouqu�ssimas declara��es p�blicas e, quando as fez, foi muito para resguardar n�o envolvimento do Ex�rcito com quest�es do exerc�cio da pol�tica."
Uma cena que virou s�mbolo das diferen�as entre Pujol e Bolsonaro foi quando o comandante do Ex�rcito cumprimentou o presidente com o cotovelo em 2020, em um sinal de respeito a medidas de conten��o contra a pandemia de coronav�rus, que vinha sendo menosprezada pelo presidente.
� �poca, Bolsonaro j� havia dito que a pandemia era uma "pequena crise" e que o coronav�rus seria uma "fantasia". Hoje, o pa�s conta mais de 312 mil mortos em decorr�ncia da doen�a.
Carvalho aponta que, se Pujol sair e Bolsonaro escolher um nome para o comando do Ex�rcito que n�o esteja entre os mais antigos, isso acarretar� uma s�rie de promo��es e mudan�as em outros cargos, devido a regras internas.
"A escolha de novo comandante, se vier a acontecer, deve levar em conta uma s�rie de valores dentro da for�a. Se � escolhido um que � o sexto mais antigo, por exemplo, os anteriores a ele necessariamente v�o sair da for�a, criando onda de promo��es. Tudo isso tem escalonamento muito grande para baixo e � importante que essa escolha garanta hierarquia, coes�o, para que n�o cause desconforto, barulho, em estrutura que necessita, por sua pr�pria natureza, de estabilidade e regularidade."
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