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Estado de Minas ENTREVISTA

Senadora Simone Tebet: "As mulheres n�o t�m vez na CPI"

Parlamentar diz que a falta de representatividade feminina na comiss�o s� escancara o preconceito que reina na pol�tica


31/05/2021 04:00 - atualizado 31/05/2021 07:17

Simone Tebet (MDB-MS):
Simone Tebet (MDB-MS): "Muitos nem percebem, mas dia a dia � uma constante essa forma diferenciada que se trata uma mulher na pol�tica" (foto: Jefferson Rudy/Ag�ncia Senado)

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), l�der da bancada feminina no Senado Federal, afirmou que apesar das mulheres terem conquistado um espa�o na Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da COVID, ainda continuam sem vez. Isso porque, mesmo com o acordo entre os integrantes do colegiado de estarem entre os primeiros 19 parlamentares a fazerem questionamentos �s testemunhas nas oitivas, o direito de participar nas vota��es e outras prerrogativas foram negados.

“Foi um conjunto de situa��es e isso s� exp�s uma situa��o que ainda reina no Senado Federal e na pol�tica brasileira: a sub-representatividade da mulher em todos os setores, �rg�os e poderes”, ressaltou a senadora. Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, ela defendeu o direito de espa�o na comiss�o entre os parlamentares em estados que tiveram agravantes na pandemia, como Manaus (AM), mas acredita que faltou “olhar democr�tico” antes de assinar o ato de instalar a CPI e ver que faltava uma mulher, que representa a maioria da popula��o brasileira.
 
Para a senadora, elas conseguiram o m�nimo para ter uma voz feminina entre os primeiros parlamentares a levantarem questionamentos que pudessem contribuir com o relat�rio final. 

Apesar disso, ainda sim, houve um desentendimento com os senadores governistas durante a oitiva com o ex-ministro da Sa�de, Nelson Teich. Segundo Ciro Nogueira (PP-PI), a quest�o n�o foi deliberada, n�o houve acordo para a participa��o da bancada feminina na CPI.

O l�der do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), afirmou que o Regimento da Casa “est� sendo rasgado”. Marcos Rog�rio (DEM-RO), por sua vez, apontou que, na falta de acordo, prevalece o que est� definido na norma. O senador afirmou ainda que as mulheres querem “dar peia” no presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
 
Tebet explicou a situa��o: “Eles criaram toda aquela confus�o porque  imaginaram que est�vamos colocando uma representante espec�fica, que entendiam que era da oposi��o. Ent�o eles se prepararam para ouvir. N�o tiveram paci�ncia para entender antes de partir para o ataque, questionando a legitimidade da decis�o do presidente Omar Aziz”, rebateu.
 
Segundo ela, a bancada feminina vai apresentar aos l�deres do Congresso Nacional um projeto de resolu��o protocolado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) para mudar o regimento interno. “Estabelece que nas pr�ximas CPIs, quando n�o houver indica��o de uma mulher pelas lideran�as — o que n�s n�o podemos obrigar, claro —, que se abra mais uma vaga para que a bancada feminina possa indicar uma senadora. N�o vale para esta CPI, �bvio, mas acredito que n�o haver� dificuldade para aprovar essa altera��o no regimento”, afirmou.


A CPI da COVID foi constitu�da sem que houvesse uma senadora mulher entre titulares e suplentes. Como avalia essa situa��o?

N�o � uma perplexidade, como muita gente acabou falando. Acho que foram um conjunto de situa��es e isso s� exp�s uma situa��o que ainda reina no Senado Federal e na pol�tica brasileira: a sub-representatividade da mulher em todos os setores, �rg�os e poderes. A CPI tem uma composi��o reduzida de membros.

Embora sejam 11, a princ�pio h� prefer�ncia regimental na composi��o por quem apresenta, que � o titular que assina e comp�e. Nesta CPI, o objeto principal era a situa��o do Amazonas, e os senadores desse estado tiveram prioridade.

"H� uma certa dificuldade dos homens em ouvir as mulheres nas inst�ncias de poder, uma certa impaci�ncia e intoler�ncia"


Ent�o, 11 membros viraram 8 vagas, mas, ainda assim, teria que haver, por parte do Senado e dos l�deres, essa sensibilidade, que faltou de perceber naquele momento — antes de assinar o ato — que estava faltando uma mulher, que representa a maioria da popula��o brasileira.

Hoje somos 52%. Faltou, sim, essa sagacidade, sensibilidade e olhar democr�tico diante de uma sociedade t�o plural e diversa como a brasileira.

Tentamos resolver isso da melhor forma poss�vel e, mesmo assim, tivemos resist�ncia para mostrar quais s�o os percal�os que a mulher na pol�tica sofre. � velado, muitos nem percebem, mas dia a dia � uma constante essa forma diferenciada que se trata uma mulher na pol�tica. 

Depois, houve o acordo de cederem espa�o para a bancada feminina nas oitivas. Quais as bases deste trato?

Foi levantada uma quest�o de ordem para que pud�ssemos, apenas e t�o somente, ter voz na CPI. Ter voz, mas continuamos n�o tendo vez.

N�o podemos levantar uma quest�o de ordem que tenha como resultado a mudan�a no trabalho dos procedimentos, n�o temos direito de apresentar requerimentos, n�o vamos votar relat�rio e nem podemos apresentar substitutivo.

O m�ximo que temos � o direito de, na lista de titulares e suplentes, ao inquirir as testemunhas, ter uma senadora falando em nome da bancada feminina.

Foi isso e t�o somente isso. Simplesmente o que n�s conseguimos foi impedir que tivessem apenas vozes masculinas nos primeiros 19 oradores na lista.

Mesmo que n�o tiv�ssemos conseguido esse pleito, ter�amos, como qualquer senador, o direito de fazer perguntas no final da fila. Ir�amos para a lista de n�o membros.

Quero dizer que o que conseguimos n�o foi uma grande conquista. Apenas mesclar um pouco para que a representatividade da mulher, o que ela representa na sensibilidade e na maneira que leva para o Congresso, pudesse estar mais presente na CPI.

Houve at� mesmo rejei��o por parte de alguns senadores governistas, que alegaram que a presen�a das mulheres tem a inten��o de prejudicar o presidente Bolsonaro. O que pensa dessas falas?

Como n�s falamos de vozes femininas, s�o vozes muitas vezes questionadas como hist�ricas, nervosas e que falam muito.

H� uma certa dificuldade dos homens de ouvir as mulheres nas inst�ncias de poder, uma certa impaci�ncia e intoler�ncia. Esse � um exemplo claro. Eles criaram toda aquela confus�o porque  imaginaram que est�vamos colocando uma representante espec�fica, que entendiam que era da oposi��o.

Ent�o eles se prepararam para ouvir. N�o tiveram paci�ncia para entender antes de partir para o ataque, questionando a legitimidade da decis�o do presidente Omar Aziz.

N�o est�vamos falando que era senadora A ou B que comporia. Eles, por uma quest�o de ordem levantada por uma senadora, entenderam que ela estaria presente.

E essa senadora � da oposi��o ao governo. Esse mal entendido s� refor�a essa discrimina��o velada que existe, no inconsciente de muitos colegas — n�o da maioria. A gente s� tem a lamentar.

Depois que se esclareceu, n�o precisava dessa exposi��o p�blica, que manchou a imagem do Senado Federal.

S�o pequenos detalhes como esse que fazem a diferen�a no ju�zo de valor que a sociedade brasileira faz da pol�tica. S�o maus exemplos.

Eles tinham que saber que est�vamos em rede nacional, nos grandes ve�culos de comunica��o brasileira, dando uma demonstra��o e confirmando claramente o que n�s, da bancada feminina, sentimos na pele e, quando externamos, dificilmente somos acreditadas.

� dif�cil acreditar que em pleno s�culo 21, no Senado Federal, na C�mara dos Deputados, em uma casa pol�tica, h� este tipo de comportamento ou mesmo discrimina��o velada e, repito, at� inconsciente por parte de alguns.

Recentemente, vi que houve uma jornalista fazendo a pergunta para um senador, foi interrompida diversas vezes. O assunto era CPI e ela falou: ‘Voc� n�o vai fazer comigo o que faz com as senadoras’.

Nada � por acaso na vida e isso, de alguma forma, trouxe luz a uma quest�o que, de t�o irracional e il�gica, chega a ser questionada como verdadeira. ‘Imagina que haja discrimina��o, que as mulheres s�o tratadas de forma diferente, que n�o tenham o espa�o na devida proporcionalidade dentro do Senado Federal’.

Pelo regimento, n�s at� temos, mas na pr�tica, de fato, isso n�o acontece.

Estamos com um projeto de resolu��o protocolado agora, da senadora Eliziane Gama, e na pr�xima reuni�o de l�deres eu vou levar para os l�deres do Congresso e do Senado, estabelecendo que nas pr�ximas CPIs, quando n�o houver indica��o de uma mulher pelas lideran�as – o que n�s n�o podemos obrigar, claro –, que se abra mais uma vaga para que a bancada feminina possa indicar uma senadora.

N�o vale para esta CPI, �bvio, mas acredito que n�o haver� dificuldade para aprovar essa altera��o no regimento.

Interrup��es �s mulheres s�o comuns no cotidiano do Senado? 

Todo dia, toda hora, e eles nem percebem. A mulher tende a ser mais detalhista em tudo o que faz. Consequentemente, quando vai expor um problema, colocar um ponto de vista, defender uma tese, suas convic��es ou um projeto de lei, tende a ser mais detalhista.

H� total impaci�ncia por parte de muitos em rela��o a esta caracter�stica da mulher, de querer fazer tudo com detalhes.

Ent�o “a mulher fala muito”, quando levanta a voz est� “nervosa” ou “hist�rica” e, quando deixa de falar, est� sendo “omissa”.

Epis�dios como esse nunca olho como negativos. O que aconteceu foi extremamente positivo. Trouxe uma pauta necess�ria no momento em que estamos tendo muita visibilidade.

Uma pauta que, ao contr�rio do passado, que se falava que era ‘mimimi’, e discurso que n�o encontrava verdade nos fatos.

Hoje, ningu�m contesta que h� esse tipo de situa��o porque eles presenciaram, ao vivo e em cores, a forma indelicada como fomos tratadas por fazermos uma simples quest�o de ordem das mais b�sicas, que faz parte do cotidiano do Parlamento brasileiro, e � a oportunidade de ser ouvida, de participar e debater em pautas que s�o relevantes e urgentes para o pa�s.

Isso exp�s uma situa��o que acontece no Congresso Nacional e, consequentemente, em toda �rea p�blica que a mulher participa.

A senhora disse ao ex-ministro Pazuello durante a fala sobre a camisa com ‘alvo no peito ou no pulm�o’, que o minist�rio deixou os brasileiros em uma guerra sem armas. Al�m de Pazuello, quem deixou o pa�s desarmado neste conflito? Como eles devem ser responsabilizados?

Ele foi escolhido pelo presidente da Rep�blica n�o porque entenda – ele mesmo disse que se surpreendeu positivamente com o SUS, embora n�o tenha aproveitado todas as boas ferramentas que o SUS tem, inclusive o Plano Nacional de Imuniza��o, um dos melhores do mundo.

Ele foi escolhido pelo presidente por ser um general que tinha experi�ncia em planejamento estrat�gico e log�stica, que � tamb�m (parte do SUS), mas n�o s� isso, necess�rio naquele momento. 

Naquele momento, precis�vamos de um gestor, que entenda de medicina, do Minist�rio da Sa�de. Como general, infelizmente, ele provou que n�o tinha absolutamente nenhum conhecimento log�stico de planejamento estrat�gico na �rea de sa�de.

Ele colocou todos n�s nessa guerra civil contra o inimigo invis�vel e mortal, como o coronav�rus, em campo aberto.

Em uma guerra, ningu�m vai batalhar ou guerrear em campo aberto. Tem que ter toda uma estrat�gia. E foi pior: ele nos jogou a campo aberto sem armas, que s�o as vacinas.

Com isso, ajudou e contribuiu para que n�s tiv�ssemos, como vamos chegar a�, estamos na porta de ver meio milh�o de brasileiros inocentes perdendo prematuramente a sua vida.

Por isso que eu disse, em campo aberto e sem armas, que s�o as vacinas, com uma camisa, uma mira no peito.

Digo no pulm�o porque o que se mata mais s�o as pneumonias, como consequ�ncia. Nesse aspecto, eu disse claramente para o general, ‘o senhor est� deixando os seus soldados morrerem. Quando eu falo com ele, eu tamb�m estou falando do governo federal.

O governo federal negou a pandemia no in�cio. Num primeiro momento, � natural do ser humano, a gente n�o quer aceitar algo que realmente nos assusta, como nos assustou a pandemia.

"Quando voc� nega, n�o age. E, n�o agindo, se omite. Neste caso, a omiss�o � culposa e tem elementos de neglig�ncia"



Mas, logo em seguida, era importante ver que n�o era uma ‘gripezinha’, que o negacionismo iria levar � omiss�o, o que aconteceu. Quando voc� nega, n�o age. E, n�o agindo, se omite.

Neste caso, a omiss�o � culposa e tem elementos de neglig�ncia, imprud�ncia, e ind�cios que n�o sabia planejar. 

A pergunta que se faz � se junto, na responsabilidade, em alguns estados tamb�m houve a responsabilidade de governadores, de prefeitos, secret�rios municipais e secret�rios estaduais. Isso a CPI vai dizer.

Mas, o problema n�o foi falta de dinheiro: o problema maior foi falta de coordena��o de se tentar, como se tentou, atrapalhar a todo momento aqueles bons gestores que, desesperados, resolviam fazer alguma coisa.

Como o Cons�rcio do Nordeste, o cons�rcio de governadores ia em busca de vacinas e se via a gest�o pol�tica tentando impedir a aprova��o, como ainda n�o foi aprovado na Anvisa a Sputnik.

A todo momento, vamos usar um rem�dio e confundir a toda popula��o de que poderia substituir as vacinas. A� se via uma m� vontade em rela��o �s vacinas, que a pr�pria Covax Facility estava oferecendo.

Ent�o ficou muito claro, ali, acho que foi um verdadeiro xeque-mate. Talvez os dois depoimentos mais contundentes, de n�o se precisar nem mais de provas nas vacinas, tenham sido de dois t�cnicos, que n�o t�m interesse partid�rio nenhum: um da Pfizer e outro do Butantan, e disseram claramente ‘foram ofertadas, n�o tivemos respostas’, ‘foram ofertadas, foi negado’.

O que isso representou eles deixaram claro, como falou o diretor do Butantan: poder�amos ser o primeiro pa�s a come�ar a vacinar e ter�amos com certeza, at� junho deste ano, 100 milh�es de doses da vacina apenas do Butantan.

O fato de eles terem demorado tanto para assinar fez com que o Butantan agora atrasasse as vacinas, porque os insumos que deveriam ter contratado para se fazer o imunizante foram contratados por outros pa�ses.

Quem pode fornecer os insumos, como �ndia e China, est� atendendo primeiro outros pa�ses, pois os contratos foram assinados primeiro.

O pr�prio Butantan seria prejudicado no atraso do cronograma de vacinas para o Brasil, pois, simplesmente, o governo federal retardou a decis�o de aceitar e contratar a compra de vacinas.

Como a senhora avalia que se deve ser a responsabiliza��o?

Essa � uma quest�o importante de se entender como � a CPI. A comiss�o s� vai investigar. O relat�rio que vai ser contundente e deixar elementos de provas, de ind�cios s�rios e comprovados em alguns casos, de que houve responsabilidade de A, B ou C.

Feito isso e aprovado o relat�rio apontando quais os erros e de quem a responsabilidade, o bast�o vai para o Minist�rio P�blico e para a esfera jur�dica, se forem abertos processos criminal e civil.

Ent�o, n�o s� (responsabiliza��o) financeira, mas edificando os crimes de acordo com o C�digo Penal. A� estamos falando de qualquer autoridade que tenha de alguma forma responsabilidade: governo federal, estaduais ou municipais.

O outro resultado da CPI � pol�tico. A�, sim, entra o Congresso Nacional. N�o vejo, hoje, nenhuma movimenta��o ou possibilidade de impeachment neste momento porque n�o seria um processo jur�dico, mas pol�tico, no Congresso Nacional.

A CPI, neste aspecto pol�tico, j� est� surtindo um efeito negativo no governo federal mostrado recentemente pelas pesquisas.

O que a pandemia n�o fez de estrago na popularidade do presidente da Rep�blica neste um ano, hoje aliado ao n�mero de mortes absurdas, a CPI fez.

A CPI colocou luz em fatos que, de alguma forma, estavam embaralhados e escondidos. Era um quebra-cabe�a que estava sob a mesa e ningu�m sabia qual era a figura que seria formada e n�o conseguia montar essas pe�as.

A CPI est� montando o quebra-cabe�a e vai mostrar � sociedade brasileira uma imagem muito clara. � uma imagem de que o Brasil est� no epicentro da pandemia. O Brasil foi o pa�s que mais errou na condu��o desta pandemia e que, proporcionalmente, est� mais matando filhos teus. 

Nesse quebra-cabe�a, duas coisas est�o muito claras: houve atraso na vacina��o por culpa e responsabilidade do governo federal e, portanto, envolvendo o negacionismo, m� vontade.

E, segundo, um negacionismo que tentou a todo custo vender uma imagem de que havia, fora a vacina, um rem�dio que pudesse curar, e prevenir, que � a cloroquina  A gente sabe que isso a� � exercer ilegalmente a medicina.

Tem algumas coisas que est�o muito claras e que n�o tem o que se fa�a mais para mudar essa realidade. Ent�o o que vai entrar como pe�a nesse quebra-cabe�a, que imagem final a sociedade vai ter em rela��o a isso, a� � s� mesmo com o resultado da CPI, e a gente tem pelo menos mais 60 dias.

O que pensa da convoca��o de prefeitos e governadores? 

Isso faz parte do jogo pol�tico. A gente tem que entender. Como tamb�m o Randolfe [vice-presidente da CPI] quis embaralhar essas cartas, convocando o presidente da Rep�blica quando, claramente, sabemos que � inconstitucional.

N�o h� essa possibilidade, pela Constitui��o Federal, de convocar um presidente da Rep�blica em uma CPI. Temos muito poder, mas n�o temos tudo, e somos submissos � Constitui��o.

Mas, da mesma forma que embaralham do lado de l�, tamb�m embaralham do lado de c�. Isso faz parte do jogo pol�tico  � sempre assim. 

Se fosse um processo jur�dico, t�o somente, seria uma atribui��o do poder judici�rio. S� acho que os governadores v�o ganhar na Justi�a o direito de n�o ir porque, pelo paralelismo, da mesma forma que o presidente n�o pode ser convocado, governadores e prefeitos tamb�m n�o podem.

O que n�o significa que n�s n�o possamos investigar. Temos outras formas de investigar a m� administra��o de dinheiro p�blico, corrup��o, se houve – ou o que houve. M� conduta, omiss�o das autoridades p�blicas atrav�s de documentos, oitivas e acaricia��o. Tudo vai ser feito.

Mesmo tendo a decis�o favor�vel do Supremo, acho que os governadores, por meio do representante do cons�rcio, deveria se convidar e colocar � disposi��o de convidado – e n�o convocado.

Assim, prestar os esclarecimentos para mostrar que quem n�o deve n�o teme, o lado dos governadores, as dificuldades que est�o passando e que dinheiro n�o � tudo. Eles receberam o dinheiro e a maioria utilizou de forma correta.

Mesmo assim, nenhum dinheiro no mundo coloca vacina no bra�o do brasileiro. Est� faltando vacina hoje no mundo porque n�o fizemos o dever de casa.

Toda essa situa��o faria ou far� bem aos governadores que v�o � CPI, n�o como convocados porque, como eu disse, a Constitui��o pro�be, mas pelo menos um ou dois se convidando para falar sobre o que foi esse um ano de pandemia nos estados e o que tiveram que passar, o que tiveram que fazer ou deixaram de fazer neste momento.

A falta de coordena��o, as dificuldades encontradas no Minist�rio da Sa�de. Eu vejo ali uma forma de os governadores se apresentarem, talvez at� mesmo mostrar o lado cruel do dia a dia de quem enfrentou e enfrenta nos estados, os munic�pios, os hospitais, nos postos de sa�de esse triste quadro de ver brasileiros morrendo sufocados porque n�o t�m um aparelho para aliviar e colocar o oxig�nio para fazer o papel do pulm�o que est� comprometido por conta da doen�a.

Acho que ser�o esses os pr�ximos cap�tulos da CPI. Talvez o Supremo negue a convoca��o, o direito de convocar, algum governador se apresente para esclarecer fatos e muita luz pode ser trazida pela �tica dos governadores.

Eu digo at� mais, digo que prefeitos tamb�m poderiam ter um representante, um secret�rio que representa os conselhos municipais de sa�de, para estar na CPI. Acredito que isso possa ser poss�vel. 

Senadores dizem que o depoimento de Pazuello foi recheado de mentiras e contradi��es. Pode ter sido estrat�gia para blindar Bolsonaro? Como evitar que ele repita essa estrat�gia na nova oitiva?

A reconvoca��o se faz necess�ria. Muitos me questionaram porque gastei 15 minutos sem perguntas. Sou advogada e vi nas primeiras perguntas que n�o conseguiria extrair nada.

Comecei dizendo isso: ‘Acabei de chegar a conclus�o que o senhor veio munido de um habeas corpus n�o para ficar calado, mas para fazer tudo que queria, e do jeito que queria, at� mentir na comiss�o’. Nada que eu perguntasse conseguiria trazer luz para ter esclarecimentos para o relat�rio.

Ent�o, preferi afirmar, simplesmente, o que j� era minha convic��o. � importante que ele venha sem outro habeas corpus para ser questionado naquilo que foi contraditado por outras testemunhas.E, se ele n�o atender ou n�o ficarmos satisfeitos com as respostas, (que se fa�a) at� mesmo uma acarea��o entre ele e as demais autoridades que desdizem o que ele disse.

A blindagem ao presidente da Rep�blica est� clara. Ele foi cumprir uma miss�o. O problema � que foi munido com um instrumento muito poderoso, que tirava de n�s o poder de fazer o dever de casa, que � extrair a verdade.

N�o estou dizendo que ele n�o deveria vir naquele momento, munido de HC. Como advogada, nem questiono o Supremo e acho que foi correto. 

Tanto foi correto que disse o seguinte: 'Naquilo que ele est� respondendo processo’. S� que o Pazuello entendeu o habeas corpus como um atestado para fazer o que quiser e, inclusive, mentiu. O HC n�o dava poder para ningu�m mentir. O poder � de ficar calado quando achar que o que disser vai incrimin�-lo. Mas, ao mentir, nos garantiu o direito de reconvoc�-lo. E, na reconvoca��o, ele n�o poder� mentir.

A m�dica Nise Yamaguchi, grande defensora da hidroxicloroquina, foi convocada para depor na CPI. O que esperar deste depoimento, tendo em vista que o diretor da Anvisa, Antonio Barra Torres, disse que, numa reuni�o com o governo federal, a pesquisadora defendeu alterar a bula da cloroquina?

N�o espero que a doutora v� mudar seu posicionamento em rela��o � hidroxicloroquina. Acho s� que ela vai ter que explicar o que significa esse tratamento precoce, em que condi��es, o que ela efetivamente estava querendo dizer com o uso dessa medica��o.

Se ela acabar falando se isso � uma quest�o de se substituir a vacina ou n�o, se houve um mal entendido por parte do governo.

N�o concordo com a cloroquina, mas ainda que concordasse, uma coisa n�o exclui a outra e o governo entendeu que o uso da cloroquina � um substituto da vacina.

Se n�o pensassem assim, por que demorou tanto para contratar ou por que n�o contratou as vacinas? N�s sabemos que no caso da CoronaVac foi uma quest�o pol�tico-partid�ria porque era China, S�o Paulo, e daria os meios para o governador Jo�o Doria sair como presidenci�vel.

Mas e as outras vacinas? Por que tratar a Pfizer como tratou a outra?  Ela vai ser questionada nessa linha.

A �nica coisa que eu acho que n�o podemos, e isso est� me incomodando, � o refor�o que acaba se fazendo por parte dos governistas em hor�rio nobre da televis�o, mais de cinco horas por dia, do uso do tal tratamento precoce, da cloroquina.

A CPI tem que tomar muito cuidado com esses depoimentos e com quem vai chamar para parar de tratar essa quest�o da hidroxicloroquina.

Eu diria at� mais: quando o assunto for hidroxicloroquina, eles deveriam votar um requerimento para que a reuni�o fosse fechada, sem transmiss�o ao vivo,  porque muitas vezes s� refor�a nos argumentos daqueles que hoje se projetam no presidente da Rep�blica de que est�o no caminho certo e devem usar a cloroquina mesmo sabendo dos efeitos colaterais.

� hora de se colocar uma pedra nesse assunto. Temos que parar de falar, as pessoas precisam esquecer desse nome para ningu�m ir atr�s e, quando for � farm�cia, n�o lembrar nem o nome mais para pedir essa medica��o.

Isso � o �nico lado da CPI que n�o me agrada hoje, essa exposi��o excessiva de um rem�dio que deveria ser banido do mercado quando o assunto for, obviamente, o coronav�rus. Sei que � um rem�dio muito bom para outras doen�as.

No dia seguinte, m�dicos representando as entidades brasileiras de medicina, como o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia. A CPI quer um contraponto � cloroquina?

Isso � fundamental. N�o s� um contraponto, mas mostrar o qu�o nociva foi essa exposi��o da cloroquina, o que isso representou em fazer com que as pessoas n�o buscassem no tempo certo, e no jeito certo, o tratamento dos sintomas do v�rus.

Uma sensa��o falsa de que usando a cloroquina eu poderia ir para o mercado de trabalho, andar na rua e cumprimentar as pessoas de forma protegida. Faz parte de uma estrat�gia do relator e da comiss�o para comprovar no relat�rio as consequ�ncias, e portanto, a responsabilidade de quem ficou vendendo propaganda enganosa do tratamento precoce. 

Isso tamb�m � algo que precisa ser esclarecido, que esses profissionais de infectologia t�m que dizer. O tratamento precoce n�o significa que n�o tenha que se prevenir. A preven��o � necess�ria, isso n�o foi muito tratado. Se o coronav�rus ataca a imunidade, mas voc� tem boa resposta imunol�gica e o organismo est� bem, a tend�ncia do v�rus �, obviamente, fazer menos mal.

Uma coisa � voc� fazer o tratamento precoce. Outra coisa � voc� tomar vitaminas como a C, que o m�dico prescreve para voc� estar bem. O pr�polis, que vem do mel, o zinco, vitamina C, vitamina D, que � o sol.

Essa preven��o � diferente do tratamento precoce, que envolve rem�dios, e isso tamb�m n�o foi dito. Muita gente tem dito: ‘Eu estou me prevenindo, fa�o tratamento precoce porque tomo vitamina C’.

S�o coisas distintas, que tamb�m � importante mostrar para n�o dar for�a ao tratamento precoce, para as pessoas entenderem exatamente o que estamos condenando, o que estamos dizendo que n�o � certo fazer. Para n�o falarem que o presidente e o governo t�m raz�o.

Tomo sol de vez em quando, pois sei que n�o posso ter vitamina D baixa no organismo. Quando a vitamina D est� baixa, te deixa fr�gil para qualquer doen�a — que dir� para o coronav�rus. � algo que d� para explorar bem com os infectologistas.

O depoimento da presidente da Fiocruz e do presidente do Instituto Gamaleya, da vacina Sputnik, podem agravar a situa��o do governo ap�s as �ltimas confirma��es de recusa de vacinas?

Eles v�m no mesmo sentido do Butantan e da Pfizer. V�o complementar as dificuldades que tiveram para convencer o governo, em um primeiro momento, de que existia uma vacina e precisavam contratar o mais r�pido poss�vel para combater a pandemia.

Pode agravar, sim. Foi um xeque-mate os dois (depoimentos de Murillo e Covas). Quem joga xadrez sabe: quando tem xeque-mate, n�o h� sa�da. Eles v�o coroar a confirma��o de que o maior pecado do governo federal foi n�o ter acreditado e contratado em tempo h�bil as vacinas para o povo brasileiro.

Portanto, qual � o saldo a mais de mortes que estamos tendo? Quantas pessoas inocentes est�o morrendo por quest�o de um m�s, 15 dias, que n�o foram vacinadas? Todas as mortes agora, por exemplo, de pessoas de 50 anos ou mais, no in�cio de maio, poderiam estar sendo evitadas.

Pelo menos uma d�cada de gera��o poderia estar imunizada, e n�o est�o por neglig�ncia, omiss�o, m� condu��o, falta de planejamento estrat�gico e negacionismo de um governo que at� hoje n�o est� aceitando que existe uma pandemia, uma doen�a sem controle no Brasil, e que a falta de direcionamento nacional faz toda a diferen�a.



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