
Bras�lia - H� um m�s, o senador Otto Alencar (PSD-BA), de 73 anos, m�dico abria a reuni�o de instala��o da CPI da COVID do Senado, criada para apurar a atua��o do governo federal na pandemia do novo coronav�rus e o uso de verbas transferidas pela Uni�o para estados e munic�pios enfrentarem a crise sanit�ria.
Na ocasi�o, foram escolhidos o presidente, o vice-presidente e o relator do colegiado. Essa distin��o foi concedida a Alencar por ser ele o mais idoso entre os indicados para compor a comiss�o.
Ele destaca que, dificilmente, o presidente Jair Bolsonaro n�o ser� responsabilizado pela comiss�o por receitar medicamentos sem efic�cia comprovada contra a doen�a, incentivar a imunidade de rebanho e virar as costas para v�rias ofertas de vacinas ao Brasil. O presidente “� r�u confesso”, diz o parlamentar nesta entrevista.
Ele destaca que, dificilmente, o presidente Jair Bolsonaro n�o ser� responsabilizado pela comiss�o por receitar medicamentos sem efic�cia comprovada contra a doen�a, incentivar a imunidade de rebanho e virar as costas para v�rias ofertas de vacinas ao Brasil. O presidente “� r�u confesso”, diz o parlamentar nesta entrevista.
Que balan�o o senhor faz do primeiro m�s de investiga��es da CPI?
Ach�vamos que criando a CPI se mudaria o modus operandi do Minist�rio da Sa�de. Ent�o quando se chegou a 28 assinaturas, inclusive demorou para o presidente [do Senado, Rodrigo Pacheco instalar a CPI, logo o Bolsonaro demitiu Pazuello e colocou um m�dico [Marcelo Queiroga] no lugar, porque Pazuello � um general que n�o entende nada de epidemiologia, medicina sanit�ria, COVID muito menos. As perguntas mais simples que eu fiz ele n�o respondeu. Perguntei coisas �bvias, que qualquer estudante de medicina saberia responder, do primeiro ou do segundo ano. Ent�o, Bolsonaro colocou um m�dico no Minist�rio da Sa�de. Mas ele deve ter dito para o ministro: ‘Olha, voc� faz a sua parte, eu fa�o a minha. Voc� pede para fazer isolamento f�sico, e eu n�o fa�o isolamento f�sico, eu vou aglomerar, voc� aceita?’. O Marcelo aceita. A� o presidente continua: ‘Eu n�o vou defender vacina, voc� fica l� com o seu Z� Gotinha que eu fico com o meu Z� Gotinha, que � o Pazuello’. Ele levou o Pazuello ao Rio de Janeiro para ficar como o Z� Gotinha dele, para ficar aglomerado tamb�m. A� o presidente diz ao ministro: ‘Voc� n�o vai defender hidroxicloroquina, mas eu vou defender’. S� que o Bolsonaro entendeu que n�o pode mais falar o nome hidroxicloroquina, agora ele s� fala ‘o rem�dio’, porque a a��o dele com a hidroxicloroquina matou muita gente no Brasil, inclusive aqui na Bahia.
O senhor considera que o presidente tem que ser responsabilizado por essas mortes?
Sim, porque hidroxicloroquina ser receitada pelo presidente da Rep�blica, para um paciente que � card�aco, ela mata. � crime, � crime. Quem tem arritmia card�aca, doen�a do cora��o, n�o pode tomar hidroxicloroquina. Um presidente da Rep�blica, que teve cinquenta e tantos milh�es de votos, ainda � l�der. Quando ele diz que toma hidroxicloroquina, voc� acha que muitos n�o v�o tomar? Aqui, na Bahia, um colega meu, m�dico, morreu porque tomou hidroxicloroquina. Ele n�o sabia que tinha arritmia e, desavisado, tomou, teve parada card�aca e morreu. Tem v�rios outros casos Brasil afora. O pessoal vai ter que dotar a Uni�o para pagar muita indeniza��o. Por causa da receita irrespons�vel do presidente da Rep�blica. Quando � um m�dico que receita um medicamento sem efic�cia, ele perde o CRM [licen�a profissional expedida pelo Conselho Regional de Medicina], mas, o presidente da Rep�blica, � muito grave, � muito mal. Ent�o ele poder� ser responsabilizado pela a��o, por ter receitado o rem�dio, e por omiss�o, por n�o ter comprado vacina.
O senhor, hoje, tem certeza de que o governo optou por favorecer a transmiss�o do coronav�rus para, quando a maioria da popula��o estivesse infectada, houvesse imunidade de rebanho?
Sem d�vida., Inclusive, o deputado Osmar Terra [MDB-RS], membro do 'gabinete paralelo', falou v�rias vezes isso. A� a doutora Mayra Pinheiro [secret�ria de Gest�o do Trabalho e da Educa��o na Sa�de do Minist�rio da Sa�de], a 'capit� cloroquina', n�s [da CPI], durante o depoimento dela, exibimos um v�deo dela dizendo que ia acontecer a imunidade de rebanho. Depois ela mentiu, dizendo que era apenas para crian�as. Ali�s, crian�a n�o vai no �nibus escolar n�o? Se o motorista estiver doente, ela n�o se contamina? Crian�a n�o contamina o professor, a professora? N�o contamina a merendeira? N�o contamina o servente que limpa a sala? E o seguran�a? Quantas pessoas gravitam em torno de uma escola? Quantas pessoas? No v�deo ela fez uma confiss�o de culpa sobre a imunidade de rebanho, que matou muita gente no Amazonas, que matou muita gente Brasil afora. Gente que n�o quis usar m�scara, achando que podia pegar covid-19 que n�o ia acontecer nada. S�o fatos muito graves. N�o recomendar o uso de m�scara, isso � muito grave.
"Hidroxicloroquina receitada pelo presidente da Rep�blica para um paciente card�aco � crime"
O senhor acredita que as press�es da CPI v�o provocar mudan�a nas a��es do governo na pandemia?
Eu sou independente, mas confesso aqui que h� tempo para corrigir os erros, sempre h� tempo para corrigir os erros. O erro do presidente � permanecer no erro. Ele podia tomar vacina, estimular a vacina. Reconhecer o erro � virtude, permanecer no erro � burrice. Eu uso sempre uma frase do pensador franc�s Voltaire. Ele disse: ‘Os homens erram, os grandes homens assumem seus erros, corrigem os seus erros’. Mas ele [presidente] n�o tem grandeza para corrigir os seus erros. Ele quer continuar, com o nariz empinado, na vaidade, na trucul�ncia, como ele costuma dizer: ‘Eu n�o errei nada, eu acertei tudo’. Mas em um ponto ele reconheceu. Por isso ele n�o fala mais em hidroxicloroquina, porque ele tem parte na contabilidade de mortes. Se voc� tiver arritmia card�aca e tomar esse rem�dio voc� morre. Deixa eu explicar aqui: a arritmia card�aca aumenta o espa�o entre um batimento card�aco e o outro. Se a pessoa tiver arritmia e tomar hidroxicloroquina, esse espa�o triplica. Bate uma vez e n�o volta mais. Se voc� n�o tiver um cardioversor, para dar um choque no peito, o cora��o n�o volta mais. Recomendar um medicamento desse � crime. O ministro Marcelo Queiroga, no depoimento � CPI, eu puxei por ele, e ele admitiu: ‘Sim, d� arritmia mesmo, aumenta o intervalo entre os batimentos card�acos’. Mas, para se segurar no cargo, o Queiroga aceita que o presidente fa�a uma coisa e ele fa�a outra.
Que tipos de crime o senhor imputaria ao presidente da Rep�blica?
O presidente vai ser responsabilizado, de alguma forma, por crime de a��o e omiss�o. Vamos mandar o relat�rio [da CPI] para a Procuradoria-Geral da Rep�blica. S�o o procurador-geral da Rep�blica e a C�mara dos Deputados que tomam essas decis�es.
A CPI aprovou novo depoimento do ex-ministro Pazuello. Que explica��es ele precisa dar � CPI nesse novo depoimento?
Ele vai ser chamado, primeiro, a explicar como � que, sendo ex-ministro da Sa�de, ele chega para a oitiva da CPI de m�scara, defende m�scara e depois vai l� para a reuni�o com Bolsonaro, no Rio de Janeiro, fazendo aquele papel�o. N�s chamamos ele de ‘Z� Gotinha do Bolsonaro’.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse que se Pazuello voltar a mentir no novo depoimento � comiss�o, e n�o estiver protegido por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, ele poder� sair algemado do depoimento. O senhor concorda com isso?
Est� provado que o governo n�o priorizou vacinas. O presidente tem 14 declara��es contra a vacina. � r�u confesso. S�o 14 declara��es contra a vacina. Ele n�o quis comprar a [vacina da] Pfizer, no ano passado. Desqualificou a CoronaVac. Disse que n�o ia comprar a ‘vachina’, a ‘vacina do Doria’. O [Jo�o] Doria [governador de S�o Paulo pelo PSDB] se virando para comprar vacina, e ele esculhambando com Doria.