
O mineiro Andr� Janones (Avante) diz ser um pol�tico de “extremo-centro”. O deputado federal em primeiro mandato encara como elogio as classifica��es que o colocam como “em cima do muro”.
No in�cio deste ano, candidatou-se � presid�ncia da C�mara, mas s� obteve dois votos al�m do pr�prio — resultado que, diz, o deixou positivamente surpreso.
Janones n�o poupa cr�ticas � postura de Jair Bolsonaro (sem partido) ante a pandemia de COVID-19, em especial na quest�o do aux�lio emergencial.
Em entrevista ao Estado de Minas, o congressista garante acreditar que, na pr�xima elei��o nacional, a vit�ria n�o vai ser do atual chefe do Executivo — tampouco de Luiz In�cio Lula da Silva (PT), a quem tamb�m faz restri��es. Para ele, uma terceira via, representada por nome ainda n�o posto na mesa do debate p�blico, vai triunfar.
No in�cio deste ano, candidatou-se � presid�ncia da C�mara, mas s� obteve dois votos al�m do pr�prio — resultado que, diz, o deixou positivamente surpreso.
Janones n�o poupa cr�ticas � postura de Jair Bolsonaro (sem partido) ante a pandemia de COVID-19, em especial na quest�o do aux�lio emergencial.
Em entrevista ao Estado de Minas, o congressista garante acreditar que, na pr�xima elei��o nacional, a vit�ria n�o vai ser do atual chefe do Executivo — tampouco de Luiz In�cio Lula da Silva (PT), a quem tamb�m faz restri��es. Para ele, uma terceira via, representada por nome ainda n�o posto na mesa do debate p�blico, vai triunfar.
Ele, por�m, alerta ter como prioridade a apresenta��o de um projeto nacional que pode ser incorporado por candidatos que assim o quiserem. Embora se intitule centrista, conta tentar equilibrar posi��es � esquerda e � direita. Ele se define como liberal, mas avaliza ajuda estatal ao povo pobre. “A gente nunca pode cometer o erro de desassistir os mais necessitados. No social, sou de esquerda, indiscutivelmente. Nas outras quest�es, fico do centro para a direita.”
Defensor ferrenho do aux�lio emergencial, o parlamentar encampa a bandeira da prorroga��o do benef�cio at� o fim do caos sanit�rio, com a transfer�ncia de ao menos R$ 500 mensais. Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, projetou extens�o dos pagamentos por "mais dois ou tr�s meses" depois de julho.
Janones, contudo, � contr�rio aos atuais moldes da pol�tica p�blica, cujos valores variam de R$ 150 a R$ 375. “� praticamente o pre�o de um botij�o de g�s. � voc� chegar para um brasileiro e dizer ‘vou te entregar, para voc� atravessar a maior crise da hist�ria do nosso pa�s, um botij�o de g�s por m�s’”, critica, sem poupar Guedes. A seguir, a entrevista de Andr� Janones ao Estado de Minas.
Janones, contudo, � contr�rio aos atuais moldes da pol�tica p�blica, cujos valores variam de R$ 150 a R$ 375. “� praticamente o pre�o de um botij�o de g�s. � voc� chegar para um brasileiro e dizer ‘vou te entregar, para voc� atravessar a maior crise da hist�ria do nosso pa�s, um botij�o de g�s por m�s’”, critica, sem poupar Guedes. A seguir, a entrevista de Andr� Janones ao Estado de Minas.
O senhor ganhou muita notoriedade por causa da defesa ao aux�lio emergencial. Como o governo Bolsonaro tratou esse tema desde o in�cio da pandemia?
O grande sucesso de minha defesa do aux�lio emergencial foi pelo fato de eu estar caminhando, lado a lado, com o povo brasileiro, e ter ouvido os anseios daquele momento. N�o � que o Andr� Janones s� falava no aux�lio emergencial; � que o povo brasileiro s� falava no aux�lio. E a principal fun��o do parlamentar, sen�o a �nica, �, justamente, dar voz �s pessoas a quem representa. O governo falhou na comunica��o e em n�o dar a devida aten��o ao aux�lio. Em algum momento, eles conseguiram perceber a import�ncia do aux�lio e, a�, come�aram a fazer certa politicagem em cima do tema. A gente v�, claramente, o ministro Paulo Guedes, (que) por ‘n’ vezes (disse): ‘N�o temos condi��o continuar pagando o aux�lio’. A�, vinha a press�o popular, capitaneada, de alguma maneira por mim, e a� ‘vamos pagar mais duas parcelas’. Ora, mas n�o disse que n�o tinha recursos? Quando voc� n�o tem, n�o tem. O recurso surgia. Isso aconteceu ‘n’ vezes, em todas as prorroga��es. Agora, estamos �s v�speras de nova prorroga��o por mais dois meses, sendo que o ministro, quando anunciou as tr�s parcelas que est�o sendo pagas agora, garantiu que n�o teria como aumentar os valores. Uma s�rie de informa��es desencontradas. A gente conseguiu provar, at� aqui, que o que defend�amos desde o in�cio era verdade: que tinha dinheiro para pagar o aux�lio e que tinha dinheiro para pagar R$ 600 — o que, em minha vis�o, seria o m�nimo para suprir as necessidades do povo brasileiro.
O que pensa do atual modelo do benef�cio, que varia entre R$ 150 e R$ 375, com pagamentos at� julho?
Hoje, o valor pago � uma vergonha. Muitas pessoas chamam de ‘aux�lio humilha��o’ ou ‘aux�lio esmola’. � um valor muito irris�rio. Comemorei quando a gente concedeu o aux�lio de R$ 600, mas tive vergonha de comemorar novamente quando conseguimos um aux�lio que chega a R$ 150 para algumas pessoas. � praticamente o pre�o de um botij�o de g�s. � voc� chegar para um brasileiro e dizer: ‘Vou te entregar, para voc� atravessar a maior crise da hist�ria do nosso pa�s, um botij�o de g�s por m�s’. O governo peca, primeiro, em n�o descer do palanque. E, segundo, em n�o ter a sensibilidade de entender quais s�o as principais necessidades do povo no momento. Defendo o aumento para R$ 500, e sou autor de projeto que tramita na C�mara para reajustar o valor, apontando as fontes para esse financiamento.
Quais s�o as fontes apontadas pelo senhor para prorrogar e aumentar o valor do aux�lio?
Existem v�rias fontes. Apontamos solu��es a m�dio prazo — n�o seriam a curto prazo — como taxa��o de dividendos e a institui��o do Imposto Sobre Grandes Fortunas (IGF). O que quero chamar a aten��o �s pessoas, e coloquei essas fontes pois as pessoas cobram muito (a apresenta��o das fontes), � (que) infelizmente o governo consegue distorcer o debate. A fonte para pagar o aux�lio � a mesma de onde se tira dinheiro para a sa�de, educa��o, obras, corrup��o ou qualquer lugar. O or�amento da Uni�o � um s�. Governar um pa�s nada mais � que eleger prioridades. Na minha vis�o, a prioridade do povo brasileiro hoje � sair vivo desta pandemia. Esse discurso de austeridade fiscal e responsabilidade com gastos � v�lido em todo momento, exceto no meio de uma pandemia, onde a fome volta a preocupar com a for�a que preocupava nos anos 1990. A gente sai desta pandemia com a fome sendo, novamente, o maior dos problemas do pa�s — nunca deixou de ser um problema, mas n�o era mais a protagonista.
O presidente Bolsonaro disse que quem quiser um valor maior de aux�lio deve procurar empr�stimo banc�rio. Como analisa essa declara��o?
Classifico como chacota. Parece que (est�) tirando sarro da popula��o. (Foi) a mesma coisa quando teve o ato de provocar aglomera��o de milhares de motos no Rio de Janeiro e, no mesmo dia, � noite, no Equador, coloca a m�scara e diz que � para n�o dar um mau exemplo. E, aqui no Brasil, pregando exatamente o contr�rio. Vejo (a fala) como um desd�m. No in�cio do mandato, o via apenas como algu�m aqu�m do cargo. Hoje, me questiono se � apenas algu�m despreparado, aqu�m do cargo, ou se n�o est� realmente mal-intencionado.
Qual a responsabilidade do presidente sobre as quase 500 mil mortes?
A responsabilidade do presidente, indiscutivelmente, � direta. A gente n�o pode ser hip�crita e dizer que se (a pandemia) tivesse sido conduzida da melhor forma poss�vel, nenhuma vida teria sido perdida. Mas acho que de 30% a 50% das mortes poderiam ser evitadas se tiv�ssemos um presidente conduzindo a na��o de forma unida e coesa, e n�o com uma politiza��o extremada como foi feito.
O senhor votou no presidente Bolsonaro em 2018?
N�o votei. Fiz campanha independente. Nunca apoiei o presidente — e desafio qualquer pessoa a encontrar v�deos e postagens defendendo-o. Nunca apoiei Lula. Sempre que vou votar projetos na C�mara, n�o quero saber quem est� propondo. Se o projeto � bom para o pa�s, voto favoravelmente; se � ruim, meu voto � contr�rio. Independentemente de quem prop�s.
O que o governo est� fazendo de concreto para reduzir o desemprego e a infla��o no pa�s? E a fome?
� ineg�vel que o governo tem tido alguns resultados positivos na economia, principalmente se considerarmos o momento dif�cil que o pa�s est� atravessando. O que precisamos ver � a que custo conseguimos esses bons resultados. Voc� n�o pode analisar de forma fria os n�meros da economia. Os n�meros s�o bons — e � hipocrisia quem diz que n�o s�o. N�o s�o excelentes ou �timos, mas pelo momento que estamos atravessando, s�o razo�veis para bons. Mas a que custo isso? Quem est� sendo sacrificado? Paulo Guedes, em todas as declara��es dele, deixa claro o preconceito latente contra a classe menos favorecida. Ele j� disse que o brasileiro � vagabundo, que se pagar aux�lio de R$ 600 o povo nunca mais vai querer trabalhar. Ele tem vis�o muito distorcida da realidade. Os mais vulner�veis nunca foram deixados de lado de forma t�o covarde como acontece na gest�o do ministro Paulo Guedes.
Paulo Guedes n�o participou de audi�ncia da Comiss�o de Fiscaliza��o Financeira na semana passada. Nas redes, o senhor disse que ele ‘fugiu’ de ter que encontr�-lo. Faz ideia do que o levou a faltar?
Jamais vou ter como provar porque ele cancelou. Ele pode falar que tinha agendas, compromissos ou que n�o quis ir. Fato � que, por tr�s vezes, t�nhamos encontros “programados”, onde ele ia em comiss�es que eu estava. E, nas tr�s, ele desmarcou. Coincidentemente, depois de eu divulgar nas redes sociais que ele estaria naquela comiss�o e pedir ao povo que deixasse o que queriam que eu falasse ao ministro. Na comiss�o, ele n�o tem como me impedir de falar. Como parlamentar, tenho direito garantido de falar, e ele � obrigado a me ouvir. Ele fugiu. Se foi por minha culpa ou n�o, n�o tenho como provar. Mas, no m�nimo, foi uma baita coincid�ncia.
Quando o senhor se candidatou � presid�ncia da C�mara, recebeu tr�s votos. Depois, disse n�o saber quem eram os donos dos outros dois. O senhor j� descobriu quem o escolheu para comandar o Parlamento?
N�o tenho a m�nima ideia de onde vieram aqueles dois votos. Esperava ter s� o meu voto. N�o concebo uma democracia em que a participa��o popular aconte�a a cada quatro anos. A democracia, para mim, � constante. N�o concebo mandato parlamentar sem participa��o popular. Eu sou um populista nato. O problema � que as pessoas sempre colocaram tom pejorativo no populista — que nada mais � que quem faz pol�tica junto com o povo, sem intermedi�rios. Tive 180 mil votos sem o apoio de prefeitos, vereadores ou presidentes de (associa��es) de bairros. Falo diretamente para o povo.
Recentemente, circularam not�cias apontando que o senhor quer ser candidato � Presid�ncia. Esse � um desejo?
A fala dele (Lucas Ragazzi, da 98 FM, que noticiou o assunto) � quase irretoc�vel. S� tem uma corre��o, quando ele fala que desejo ser candidato � Presid�ncia. Dei margem para essa confus�o. Em v�rias entrevistas, disse que em 2018 n�o quis me comprometer com nenhum projeto. Ent�o, n�o apoiei candidatos � Presid�ncia nos dois turnos. Fui de 2 milh�es de seguidores nas redes sociais para 12 milh�es. Nosso trabalho teve alcance muito maior do que o previsto. Eu n�o imaginava. Tive quatro momentos que marcaram: a reforma da Previd�ncia, a tentativa de cassar meu mandato, Brumadinho, e, agora, a defesa do aux�lio emergencial. Isso alavancou nosso mandato sobremaneira. E por serem, a maioria delas, pautas nacionais, o trabalho est� repercutindo em todo o Brasil. Temos levantamentos internos que mostram que a mesma inten��o (de votos) para a Presid�ncia que tenho em Minas, tenho no Nordeste, em S�o Paulo ou em Goi�s. A gente tem um trabalho unificado no Brasil. Baseado nisso, disse algumas vezes que, em 2022, vou apresentar um projeto nacional para o pa�s. N�o fazer como em 2018, em que me isentei, recuei e n�o participei do debate nacional. Pela abrang�ncia do meu mandato, sou obrigado a apresentar um projeto para o pa�s. N�o posso responder para esses 12 milh�es de pessoas que me seguem e para os 40 milh�es que alcan�o que n�o vou me envolver no debate nacional. Quando digo apresentar um projeto nacional, n�o necessariamente significa disputar a Presid�ncia da Rep�blica. Posso apresentar esse projeto e apoiar o candidato que se comprometer com ele. Disputar a Presid�ncia n�o depende s� de mim. Depende de v�rios fatores — partid�rios, do cen�rio, ou se h� viabilidade. N�o descarto disputar a Presid�ncia, mas n�o cravo que sou pr�-candidato. Primeiro, porque n�o quero cometer o erro de Bolsonaro. O grande erro dele, na minha vis�o, � que ele n�o desceu do palanque. Tenho, hoje, aval total do meu partido e do presidente nacional do Avante, Luis Tib�, para disputar a Presid�ncia da Rep�blica. Tenho todos os ingredientes de que preciso para lan�ar essa candidatura, que representaria, de fato, uma terceira via, uma op��o � polariza��o que vivemos.
Em 2018, o Avante esteve com Ciro Gomes (PDT), no primeiro turno. Ele pode ser uma terceira via?
N�o vejo nenhuma terceira via colocada hoje como terceira via. A terceira via que vai vencer as elei��es do ano que vem — e eu acredito que essa terceira via vai vencer — � algu�m que a gente n�o consegue colocar na discuss�o agora. Como foi o governador Romeu Zema na elei��o passada. Algu�m que n�o est� colocado na mesa e ser� o �ltimo a sentar. Acredito que essa pessoa vencer� a pr�xima elei��o. E a terceira via n�o pode ser anti-Lula nem anti-Bolsonaro. Ela tem que ser pr�-povo. � isso o que as pessoas est�o esperando. O momento � de muita polariza��o e muito �dio. A terceira via n�o � algu�m que vem para intensificar esse �dio, como t�m feito Ciro, Mandetta e Amo�do. A terceira via n�o vem para trazer mais �dio. A gente quer algu�m para unir o pa�s, sem esse neg�cio de ‘ele n�o’, ‘genocida’, ‘comunista’ ou ‘vai para Cuba’. Algu�m com discurso centrado que consiga unir o que tem de melhor em ambos os extremos.
O senhor se considera de direita ou de esquerda?
De centro. Costumo dizer que tem a extrema-direita e a extrema-esquerda; me considero de extremo-centro. Concebo vis�o progressista e, de alguma maneira, at� liberal. Mas a gente nunca pode cometer o erro de desassistir os mais necessitados. No social, sou de esquerda, indiscutivelmente. Nas outras quest�es, fico do centro para a direita.
Como o senhor avalia os governos de Lula e Dilma?
Ficou muito aqu�m do que poderia ser feito. O mundo vivia um momento muito positivo, principalmente na economia. A gente n�o pode negar que houve avan�os, principalmente na quest�o social, mas a conta chegou para ser paga. Estamos pagando as consequ�ncias de um governo que, apesar de fazer social e ter tido avan�os no social e na educa��o, foi um governo corrupto. Minha cr�tica em rela��o � volta do ex-presidente Lula � justamente essa. N�o podemos fazer a popula��o ref�m e dizer que para que o pobre tenha voz e os mais necessitados sejam ouvidos � preciso se conformar com a corrup��o, que � um c�ncer a ser combatido.
E quanto ao governo de Romeu Zema? Qual a sua avalia��o?
Fa�o boa avalia��o. (Zema) pegou um estado quebrado, em situa��o muito dif�cil, e est� conseguindo tocar, fazer o essencial. De 0 a 10, daria nota 6.