Discursos de Bolsonaro aumentam a press�o por impeachment
Processo contra o presidente ultrapassou o debate legislativo, passou a representar a vontade da maioria dos brasileiros e come�ou a ser ventilado pelo STF
Protesto contra Bolsonaro nesse s�bado, em BH, faz homenagem �s v�timas da COVID-19 no pa�s (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Tanto o presidente da Rep�blica, Jair Bolsonaro, reiterou amea�as ao andamento das elei��es, que o debate da abertura de um processo de impeachment contra ele ultrapassou o debate legislativo, passou a representar a vontade da maioria dos brasileiros e come�ou a ser ventilado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
As declara��es suscitando graves amea�as democr�ticas – como a afirma��o de que sem o voto audit�vel "corremos o risco de n�o termos elei��o no ano que vem" – bem como as consecutivas cr�ticas ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Lu�s Roberto Barroso, levantaram uma s�rie de rea��es no Congresso e Judici�rio.
Com a imagem cada vez mais desgastada diante dos ind�cios de corrup��o revelados pela Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da COVID, o presidente da Rep�blica Jair Bolsonaro reage no caminho oposto ao que poderia tir�-lo do foco das cr�ticas.
Mais distante de uma poss�vel reelei��o e com avalia��es de seu governo cada vez mais negativas, inclusive com 54% da popula��o sendo favor�vel � abertura do seu processo de impeachment, o l�der do Executivo Federal n�o mudou a postura. Em meio � crise, o mandat�rio se ocupou de passear de motocicleta com o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presid�ncia do Brasil, Onyx Lorenzoni, na garupa.
O comportamento do mandat�rio mostra que ele n�o aliviou a m�o nos coment�rios mesmo ap�s a nota do presidente do TSE que, no dia anterior, reagiu de forma mais contundente aos ataques de Bolsonaro.
Respaldado pela discuss�o entre ministros do STF e do TSE de que era necess�rio uma resposta institucional diante das amea�as � estabilidade democr�tica, Barroso afirmou que "qualquer atua��o no sentido de impedir a ocorr�ncia (de elei��es) viola princ�pios constitucionais e configura crime de responsabilidade", o que motiva a abertura de um impeachment contra o chefe do Executivo.
O arrocho veio tamb�m por parte do Poder Legislativo. Representante maior do Congresso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), foi ao p�lpito fazer um pronunciamento oficial em nome dos parlamentares, garantindo que as elei��es s�o "inegoci�veis".
"Tudo quanto houver de especula��es em rela��o a algum retrocesso � democracia, como a frustra��o das elei��es pr�ximas vindouras do ano de 2022, � algo que o Congresso Nacional, al�m de n�o concordar, repudia, evidentemente. N�s n�o admitiremos qualquer tipo de retrocesso nesse sentido."
As rea��es contra o presidente da Rep�blica se deram no calor das discuss�es envolvendo a nota das For�as Armadas, em resposta a uma declara��o do presidente da CPI da COVID, senador Omar Aziz (PSD-AM). A mensagem de que as For�as Armadas n�o toleram "ataque leviano" foi interpretada como uma amea�a aos trabalhos da CPI e reflexo de uma sinaliza��o de Bolsonaro, que tem frequentemente questionado as condu��es, bem como explicitado a necessidade do "desmonte" da comiss�o.
A carta gerou desconforto entre militares da ativa, que divergiram quanto ao tom e � assinada pelo ministro da Defesa, Braga Netto, e pelos tr�s comandantes das For�as Armadas, todos rec�m-nomeados aos cargos por Bolsonaro.
Para a c�pula dos trabalhos, j� ficou claro que houve omiss�o na compra de vacinas e ado��o de pol�ticas p�blicas baseadas em distribui��o de medicamentos sem efic�cia comprovada para combater a COVID-19 e na defesa da imunidade de rebanho natural.
“Bolsonaro desdenhou da pandemia, criou governo paralelo, sabotou os imunizantes, alastrou o v�rus e entregou vidas a charlat�es e lobistas de cloroquina como ele e os filhos; 300 mil mortes eram evit�veis; s� quis a vacina quando houve chance de propina", disse o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).
Na avalia��o do mandat�rio, no entanto, � outra. Para apoiadores, ontem, ele comemorou as decis�es tomadas durante a crise de sa�de provocada pela COVID-19, dizendo ter "tudo que falei sobre essa pandemia, eu acertei". O pa�s contabiliza 532.893 mortes pela doen�a.
Quando ela ainda se alastrava, em mar�o de 2020, Bolsonaro comparou o novo coronav�rus ao H1N1, que vitimou 796 pessoas em 2019, e previu "n�o chegar a essa quantidade de �bitos no tocante ao coronav�rus".
Ainda hoje, o presidente do Brasil � destaque negativo mundialmente por manter o discurso negacionista. Segundo ele, houve aconselhamento "por pessoas maravilhosas, entre ministros e secret�rios", completou em discurso ap�s a motociata.
Popularidade baixa
Em meio �s decis�es adotadas durante a pandemia, a aprova��o popular do mandat�rio nunca foi t�o baixa, desde que ele assumiu o mandato, em 2019. De acordo com a �ltima pesquisa Datafolha, 51% da popula��o avalia o gestor como ruim ou p�ssimo, rejei��o que cresceu 6 pontos percentuais em compara��o ao �ltimo levantamento, realizado em maio .
O percentual � ainda maior no detalhamento dos pontos negativos do mandat�rio. Pelo menos metade dos entrevistados o considera desonesto, despreparado, incompetente, falso, indeciso, pouco inteligente e autorit�rio. Pela primeira vez desde que o Datafolha come�ou a pesquisar sobre impeachment — em 2020 —, esta � a primeira vez que a maioria dos entrevistados ultrapassou o empate e foi a favor da abertura de um processo: 54% contra 42%.
PROTESTO EM BH
Protesto contra Bolsonaro nesse s�bado, em BH, faz homenagem �s v�timas da COVID-19 no pa�s (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
Manifestantes se reuniram ontem na Pra�a da Esta��o, em Belo Horizonte, para um ato inter-religioso em mem�ria das mais de 500 mil v�timas da COVID-19 no pa�s. Os presentes tamb�m protestam contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e carregam faixas e cartazes com frases de 'Fora Bolsonaro', 'Vidas importam' e 'Genoc�dio'. O grupo tamb�m colocou cruzes (foto) para lembrar as v�timas da COVID em todo o Brasil.