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Estado de Minas PARTIDO ALTERNATIVA

Neta de ministro de Hitler, deputada alem� sugere 'internacional conservadora' com Bolsonaro

Em entrevista exclusiva, Beatrix von Storch diz que conservadores precisam criar organiza��o informal da direita nos moldes da Internacional Socialista


25/08/2021 11:34 - atualizado 25/08/2021 12:43


Beatrix von Storch e o marido em encontro com Bolsonaro no Palácio do Planalto, em julho(foto: Arquivo pessoal)
Beatrix von Storch e o marido em encontro com Bolsonaro no Pal�cio do Planalto, em julho (foto: Arquivo pessoal)

Pouco mais de um m�s ap�s visitar o presidente Jair Bolsonaro em Bras�lia, a deputada alem� Beatrix von Storch, do partido de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) afirmou em entrevista exclusiva por e-mail � BBC News Brasil que sua passagem pelo Brasil � parte do projeto de cria��o do que chamou de uma "internacional conservadora".

"H� muito tempo existe uma internacional socialista. Precisamos de algo como uma 'internacional conservadora'. N�o exatamente como uma organiza��o formal, mas como uma rede de troca de informa��es, discuss�o de estrat�gias e poss�veis solu��es para problemas internacionais", afirmou Beatrix Von Storch, que est� em campanha para as elei��es ao parlamento alem�o, no pr�ximo dia 26 de setembro.

A deputada alem� faz alus�o a uma organiza��o internacional fundada em 1951 e que atualmente congrega 160 partidos em 100 pa�ses - o PDT brasileiro est� entre eles.

O objetivo declarado da atual Internacional Socialista � "implementar o socialismo democr�tico globalmente".

A rede � uma das herdeiras de um movimento mais abrangente batizado como Primeira Internacional, que operou para impulsionar movimentos sindicais europeus entre os anos 1860 e 1870, tendo como um de seus conselheiros o pensador alem�o Karl Marx, autor de O Capital.

Para von Storch, a direita precisa de algo semelhante para disseminar "os valores crist�os e conservadores".

Segundo a parlamentar da AfD, o Brasil � "uma pot�ncia global e um aliado estrat�gico" para isso.


Além de se reunir com o presidente brasileiro, von Storch esteve com os deputados Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis(foto: Arquivo pessoal)
Al�m de se reunir com o presidente brasileiro, von Storch esteve com os deputados Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis (foto: Arquivo pessoal)

"A esquerda est� muito bem organizada globalmente. Os conceitos e estrat�gias deles se movem muito rapidamente de um pa�s para outro. Antifa e Black Lives Matter s�o organiza��es internacionais. Quando essas organiza��es operam em um pa�s, � apenas uma quest�o de tempo para que se espalhem para outros pa�ses. Portanto, temos que encontrar maneiras de evitar que a esquerda internacional exer�a press�o sobre nossas institui��es democr�ticas nacionais", afirmou von Storch, ecoando um discurso repetido por Bolsonaro e integrantes de seu governo.

Em novembro de 2020, por exemplo, quando protestos Black Lives Matter eclodiram no Brasil depois que um homem negro foi espancado at� a morte por seguran�as de um supermercado, o vice-presidente Hamilton Mour�o, afirmou: "para mim, no Brasil n�o existe racismo. Isso � uma coisa que querem importar aqui para o Brasil".

A visita de von Storch a Bolsonaro gerou intensas cr�ticas n�o s� ao presidente, mas aos deputados federais que tamb�m a receberam: Bia Kicis, presidente da Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ) e Eduardo Bolsonaro, o filho 03.

Von Storch � neta de Lutz Graf Schwer, que foi ministro das Finan�as do l�der nazista Adolf Hitler e enfrenta investiga��o em seu pa�s por ter defendido que a pol�cia alem� atirasse em migrantes sem visto que tentassem atravessar a fronteira da Alemanha - incluindo mulheres e crian�as.

Ao comentar a visita de Von Storch, Bolsonaro argumentou que o tinha sido fortuito e agiu como desconhecesse o perfil da parlamentar.

"Na semana passada tinha um deputado chileno e uma deputada alem�. Conversei, bati um papo. Vai que a deputada alem� � neta de um ex-ministro do Hitler. P�, me arrebentaram na imprensa. Eu acho que n�o pode ligar um filho ao pai, muitas vezes, um fez uma coisa errada, ligar ao outro. Os regimes comunistas, quando n�o encontravam o homem acusado de um crime, prendiam a esposa dele, prendiam filhos. Eu n�o posso atender essa deputada? Foi eleita democraticamente na Alemanha."

As palavras de von Storch � BBC News Brasil, no entanto, sugerem uma a��o muito mais coordenada entre o governo brasileiro e outras for�as estrangeiras no mesmo espectro ideol�gico.

Ela mesma confirma isso em um artigo que escreveu no come�o de agosto - depois da passagem pelo Brasil - para a publica��o alem� conservadora Junge Freiheit.

"Se os conservadores n�o trabalharem juntos globalmente, v�o sempre estar em desvantagem e perder a disputa. O governo Bolsonaro j� entendeu isso e est� aberto a coopera��es com conservadores de outros pa�ses", escreveu, entre elogios ao mandat�rio brasileiro.

Steve Bannon, von Storch e a lideran�a de Bolsonaro

As declara��es de von Storch � BBC News Brasil acontecem ao mesmo tempo em que outro �cone da direita global se move para apoiar e fortalecer a candidatura de Jair Bolsonaro � reelei��o em 2022: o ex-estrategista de Donald Trump, Steve Bannon.


No início de agosto, o deputado Eduardo Bolsonaro foi aos EUA, mas não se encontrou com integrantes da gestão Joe Biden. Sua visita era ao ex-presidente americano Donald Trump(foto: Twitter Eduardo Bolsonaro)
No in�cio de agosto, o deputado Eduardo Bolsonaro foi aos EUA, mas n�o se encontrou com integrantes da gest�o Joe Biden. Sua visita era ao ex-presidente americano Donald Trump (foto: Twitter Eduardo Bolsonaro)

No in�cio de agosto, o deputado Eduardo Bolsonaro foi aos EUA. Mas ele n�o se encontrou com integrantes da gest�o Joe Biden.

Ao contr�rio, visitou o ex-presidente americano Donald Trump em Nova York e postou foto ao lado do republicano na qual dizia: "Estou do lado dos que n�o se curvam ao politicamente correto".

Na sequ�ncia, compareceu a um simp�sio promovido pelo CEO da empresa de travesseiros MyPillow, Mike Lindell, um dos maiores defensores de Trump e propagador de falsas alega��es de fraude eleitoral que teriam levado Biden � Casa Branca.

Em 12 minutos de apresenta��o no evento, Eduardo condensou - em ingl�s - as mais de duas horas de live que seu pai apresentou aos brasileiros dias antes na qual tentava apontar evid�ncias de fraude eleitoral nas urnas eletr�nicas.

Bolsonaro tem argumentado que as elei��es s� ser�o confi�veis caso haja voto impresso - mesmo depois de a C�mara dos Deputados ter derrubado em plen�rio a proposta de altera��o do sistema. Ele chegou a dizer que sem voto impresso n�o haveria elei��es.

Pouco ap�s a exposi��o de Eduardo, o ex-estrategista de Trump, Steve Bannon, afirmou no mesmo palco que o pleito brasileiro de 2022 � a "segunda elei��o mais importante do mundo".

Von Storch partilha de opini�o semelhante: "Depois da sa�da de Trump, Bolsonaro � o l�der conservador mais importante do mundo ocidental".

Bannon, von Storch e as urnas eletr�nicas

No evento de Lindell, em Sioux Falls, no Estado da Dakota do Sul, Bannon foi categ�rico em afirmar: "Bolsonaro vencer� a menos que seja roubado, adivinhem s�, pelas m�quinas (urnas eletr�nicas)".

Seu coment�rio remete n�o apenas �s acusa��es de fraude recentes de Bolsonaro, reiteradamente desmentidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas a uma alega��o do pr�prio Trump de que teria sido v�tima de fraude em urnas eletr�nicas nos Estados da Ge�rgia e do Arizona.

Nenhuma dessas alega��es do republicano jamais foram comprovadas.

A intera��o entre Eduardo Bolsonaro e Steve Bannon no palco (Lindell chamou Eduardo de "amigo" de Bannon) evidencia a interlocu��o entre eles o que para muitos sugere um interesse m�tuo de uma poss�vel atua��o de Bannon na campanha do Brasil.


Steve Bannon foi um dos homens mais influentes da administração de Trump(foto: Reuters)
Steve Bannon foi um dos homens mais influentes da administra��o de Trump (foto: Reuters)

N�o seria a primeira vez que o estrategista americano se dedica a elei��es fora dos EUA, mas pode ser a mais importante.

H� tr�s anos, Bannon se lan�ou em uma excurs�o na Europa para dar consultorias de campanha a partidos de direita e extrema-direita, entre eles a AfD de von Storch.

Questionada pela BBC sobre qual seria o papel de Bannon em uma "internacional conservadora", von Storch afirmou que "as ideias dele s�o uma inspira��o para muitos conservadores em todo o mundo".

Bannon foi procurado pela BBC News Brasil para comentar sua fun��o na campanha brasileira de 2022, mas n�o respondeu at� o fechamento desta reportagem.

A respeito de como pretende apoiar o presidente Bolsonaro em sua campanha, Von Storch afirmou que respeita a soberania do povo brasileiro, a quem "exclusivamente cabe decidir sobre seu pr�ximo governo".

A deputada, no entanto, fez uma ressalva: "continua a ser importante que as elei��es sejam audit�veis, a fim de dissipar as alega��es de fraude eleitoral. Pelo menos a Corte Constitucional alem� exigiu isso aqui. Este deve ser o padr�o para um Estado constitucional democr�tico", afirmou von Storch.

A deputada se refere a uma decis�o da Suprema Corte alem� de 2009 que decidiu que o uso de urnas eletr�nicas era inconstitucional nas elei��es para o parlamento, porque, segundo os ju�zes, os cidad�os n�o podiam se certificar de que seus votos haviam sido computados como eles o preenchiam.

A urna eletr�nica come�ou a ser usada na Alemanha em 1999, mas em 2008 o sistema de voto em papel foi retomado.

Apesar disso, a Corte alem� validou os resultados eleitorais obtidos pelas urnas e afirmou n�o haver qualquer evid�ncia de fraude em seu funcionamento pregresso.

Ao fazer tal afirmativa, von Storch revela alinhamento no discuro com Bannon e Bolsonaro, cada qual a sua maneira.

No Brasil, o TSE afirma que a urna eletr�nica � audit�vel e segura, produz um extrato impresso dos votos que est�o em cada aparelho e que a apura��o pode ser acompanhada por representantes de partidos e da sociedade civil.

Questionada sobre a repercuss�o da reuni�o com Bolsonaro e sobre a lembran�a de que seu av� serviu a Hitler, von Storch tergiversou. Afirmou que o assunto foi sequestrado pelas esquerdas brasileira e alem�.

"Eles tentaram sabotar nossas negocia��es sobre uma coopera��o mais estreita entre os partidos conservadores e o governo, mas sem sucesso. Eles temem que essa coopera��o internacional conservadora possa levar a uma promo��o muito mais eficaz dos valores crist�os e conservadores no mundo ocidental. Isso limitaria a capacidade da esquerda de pressionar nossas institui��es democr�ticas e influenciar a pol�tica", disse Von Storch.

Para ela, as esquerdas usam a imprensa para espalhar suas narrativas.

Em um exemplo que deu em seu artigo ao jornal alem�o, von Storch acusa o restante da imprensa do pa�s de perfilar "Bolsonaro como o presidente que queima a floresta Amaz�nica e rouba terras de ind�genas" e sugere que o discurso serve aos planos de "internacionalizar" a floresta, o que nenhum �rg�o multilaretal ou pa�s jamais defendeu oficialmente.

"A disputa pela Amaz�nia n�o � apenas sobre a conserva��o da natureza ou do "clima", mas tamb�m sobre os interesses econ�micos globais e a luta pela soberania nacional", diz von Storch.

Desde 2019, quando Bolsonaro tomou posse, o Brasil tem batido recordes de desmatamento de acordo com os dados oficiais.

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