
Ele declara que as pessoas devem ir �s ruas na pr�xima ter�a-feira (07/09) para lutar a favor do pa�s, da fam�lia e dos princ�pios de Deus. Discursos semelhantes t�m sido adotados por outros l�deres evang�licos nas redes sociais para convocar os fi�is para a manifesta��o pr�-Bolsonaro.
Um dos principais representantes do segmento � o pastor Silas Malafaia. Em 23 de agosto, ele compartilhou um v�deo no qual l�deres evang�licos convocam os fi�is para o ato na Avenida Paulista.
"Eu estou capitaneando, sim. Estou na frente disso, chamando tudo que � l�der. E nunca, na hist�ria desse pa�s, os evang�licos se mobilizaram para um ato como esse", diz Malafaia � BBC News Brasil. Segundo ele, evang�licos de todo o pa�s est�o se organizando para participar de manifesta��es em suas cidades.
Os evang�licos, que segundo pesquisas recentes comp�em cerca de 30% da popula��o brasileira, representam um grupo significativo para Bolsonaro. Uma pesquisa Datafolha de maio deste ano apontou que 24% da popula��o em geral considera o governo �timo ou bom. J� apenas entre a popula��o evang�lica, esse n�mero corresponde a 33%.
Em 2018, a pesquisa Datafolha na v�spera do segundo turno projetou que sete em cada 10 eleitores evang�licos votariam em Bolsonaro contra o petista Fernando Haddad.
Em maio deste ano, a pesquisa Datafolha ilustrou um cen�rio diferente de 2018 entre o bolsonarismo e as igrejas evang�licas. O levantamento mostrou que 35% dos evang�licos escolheriam o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva em um primeiro turno. J� Bolsonaro teria 34% dessa popula��o. Conforme a pesquisa, cada candidato tem 45% das inten��es de voto desses religiosos em um eventual segundo turno entre os dois.
"Existe um desembarque das for�as em torno do bolsonarismo. Cada vez mais, o Bolsonaro est� restrito ao que chamamos de bolsonarismo raiz, grupo do qual os evang�licos fazem parte", aponta Vin�cius do Valle, doutor em ci�ncia pol�tica pela Universidade de S�o Paulo (USP).
"Mas os evang�licos representam um grupo muito heterog�neo no Brasil. Nas elei��es de 2018, o Bolsonaro conseguiu certa hegemonia entre os evang�licos e manteve isso por muito tempo, mas hoje est� em crise. Hoje a gente n�o v� a quantidade de pastores defendendo o Bolsonaro como antes da pandemia", acrescenta Valle, que h� uma d�cada estuda a rela��o entre pol�tica e as igrejas evang�licas.
No meio evang�lico, h� pastores que se manifestaram contra a presen�a de fi�is na manifesta��o de sete de setembro.
"Todo esse movimento tem por finalidade amea�ar as institui��es do nosso pa�s. Essas pessoas defendem o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal), essas pessoas defendem o fechamento do Congresso Nacional. Logo, essas pessoas agem contra a democracia, contra o estado democr�tico de direito", declara o pastor Rodrigo Coelho, do Rio de Janeiro, em um v�deo compartilhado nas redes sociais.
'Em todo o Brasil vai ter evang�lico na rua'
Os l�deres religiosos est�o organizando, segundo o pastor Malafaia, meios de transporte para os fi�is, bandeira e faixas para participarem de atos em S�o Paulo, Bras�lia ou em outras cidades pelo pa�s.
"Isso vai ser em todo o Brasil. Em todo o Brasil vai ter evang�lico na rua. N�o � s� em S�o Paulo e no Rio de Janeiro. Vai ter caravana de tudo quanto � jeito no Brasil", afirma Malafaia.
"Aqui no Rio de Janeiro, estamos colocando um trio el�trico gigante. Mas isso n�o tem nome de igreja, porque igreja � acima disso. N�s, cidad�os, � que somos evang�licos, ent�o n�o vai ter nome de igreja nenhuma", completa o pastor.
Malafaia argumenta que a convoca��o dos fi�is para os atos � fundamental porque, segundo ele, atualmente a liberdade de express�o est� em jogo no pa�s.
"Estamos vendo o STF rasgar a Constitui��o, uma das coisas mais vergonhosas, e com a coniv�ncia da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), da ABI (Associa��o Brasileira de Imprensa) e de grande parte da m�dia", declara.
O "ataque � Constitui��o Federal" ao qual Malafaia e outros l�deres evang�licos utilizam como argumento para a convoca��o aos atos � referente a decis�es recentes do STF, que incomodaram Bolsonaro e seus aliados.
Entre essas decis�es est�o medidas como uma determina��o do ministro do STF Alexandre Moraes, no in�cio de agosto, para incluir o presidente Jair Bolsonaro entre os investigados no inqu�rito sobre divulga��o de informa��es falsas .
Outro ponto criticado por religiosos bolsonaristas s�o as investiga��es da Pol�cia Federal sobre ataques de "mil�cias digitais". Segundo as apura��es, s�o atos feitos para desestabilizar institui��es como o STF e atentar contra a democracia. Em meados de agosto, o ex-deputado Roberto Jefferson foi preso ap�s as investiga��es apontarem que ele � parte do n�cleo pol�tico desse grupo.
Apesar de muitos pastores n�o citarem o presidente nas convoca��es dos fi�is nas redes sociais para os atos, o discurso desses l�deres religiosos � totalmente alinhado ao de Bolsonaro. Outra pauta que eles defendem, a favor do presidente, � o voto impresso, derrotado na C�mara dos Deputados .
"Claro que sabemos que tamb�m � (ato) de apoio ao presidente. � evidente", afirma Malafaia.

"A igreja n�o apoia ningu�m. N�s, evang�licos, apoiamos. N�s, evang�licos, n�o vamos participar de ato de partido pol�tico. Mas (ato) de apoio ao presidente, vamos participar. N�o tenha d�vida nenhuma", acrescenta o pastor.
Malafaia destaca que uma das maiores movimenta��es entre evang�licos em sete de setembro deve ocorrer em Manaus (AM). O pastor afirma que os evang�licos da regi�o esperam que 500 mil pessoas saiam �s ruas da capital amazonense na manifesta��o pr�-Bolsonaro.
O pastor Ren� Terra Nova, de Manaus, tamb�m tem feito diversas publica��es em suas redes sociais para convocar os fi�is para o ato na ter�a-feira.
Terra Nova afirma que est� apoiando o Brasil, mas diz que no atual contexto isso significa que precisa estar ao lado de Bolsonaro.
"No atual cen�rio, o governo Bolsonaro est� lutando pelo pa�s, e esse � o sonho de qualquer cidad�o s�rio. O Governo Bolsonaro est� com nosso apoio, mas n�o estamos indo �s ruas por causa de uma pessoa, mas por causa da plataforma que defendemos - Deus, P�tria e Fam�lia, e a nossa liberdade", diz Terra Nova � BBC News Brasil.
Para convencer os fi�is, o discurso dos l�deres costuma ser extremo, como o de Munguba J�nior que afirma que aqueles que n�o participarem do ato querem ser escravizados.
"Quando falo sobre uma poss�vel escravid�o, estamos defendendo a liberdade do povo. Vamos fazer ora��o no local (do ato) pedindo para que Deus nos livre do comunismo. Se o comunismo for implantado, seguramente a liberdade vai embora", diz Munguba � BBC News Brasil.
A "amea�a comunista", segundo o pastor, se tornar� real se um partido de esquerda como o PT for eleito para governar o pa�s. Esse argumento � utilizado por religiosos bolsonaristas para refor�ar a ideia de que a participa��o nos atos � uma esp�cie de "luta do bem contra o mal".
Munguba, que � de Fortaleza (CE), afirma que o v�deo que publicou para convocar para os atos vale para todo o pa�s, pois argumenta que sua igreja, Seven Church, � acompanhada por fi�is de diferentes regi�es do Brasil.
'Somos crist�os, mas n�o defendemos o que essas pessoas defendem'
As convoca��es de Malafaia e seus aliados incomodaram pastores que comp�em o Movimento Resist�ncia Reformada, um grupo de lideran�as evang�licas que se op�e �s medidas de Bolsonaro.
"Somos crist�os, mas n�o defendemos o que essas pessoas defendem, por isso nos posicionamos. N�o queremos, de forma alguma, que o Brasil se torne uma teocracia, que � o que essas lideran�as almejam. Isso tudo � lament�vel", declara o pastor Rodrigo Coelho, l�der do Resist�ncia Reformada.

Quando notaram o crescente apelo de l�deres como Malafaia para que os fi�is participassem das manifesta��es, os membros do movimento, cerca de 100 l�deres religiosos no Brasil e alguns do exterior, publicaram um v�deo contr�rio a isso.
"Voc�, nesse lugar, � t�o somente massa de manobra, t�o somente uma pessoa sendo manipulada (por pastores bolsonaristas) para que essas pessoas possam permanecer no poder e permanecer com os seus privil�gios. N�o se permita isso. N�o se permita ser cooptado por essa gente", diz Coelho, em trecho de v�deo compartilhado por ele nas redes sociais.
O pastor argumenta que o principal objetivo do movimento � defender os direitos humanos e se posicionar contra os "desmandos do Bolsonaro" e de seus aliados.
"O movimento nasce no contexto do governo Bolsonaro, mas vai al�m dele, porque a gente cr� que o governo Bolsonaro vai passar. Decidimos nos posicionar (contra o ato de sete de setembro) porque � um absurdo o que acontece no Brasil, sobretudo o apoio de parte da igreja evang�lica", declara Coelho.
"O Silas j� apoiou toda a classe pol�tica, de direita ou esquerda, e me parece fazer qualquer coisa para estar no poder e ter privil�gios de quem transita no Pal�cio (do Planalto). Mas na verdade, a gente entende que lugar de profeta � fora do Pal�cio, denunciando quem faz coisa errada", completa.
Os v�deos de religiosos convocando para os atos alcan�aram mais de um milh�o de visualiza��es nas diferentes redes sociais. Coelho n�o tem dados exatos sobre o alcance do v�deo feito por ele contra os chamados para esses atos, mas admite que a visualiza��o foi muito menor.
"A gente faz isso de forma org�nica, enquanto esse pessoal (como Malafaia) patrocina os posts. Esse pessoal est� desesperado porque o governo, a cada dia mais, enfrenta momentos ruins", declara.
"Por�m, estamos satisfeitos em saber que chegamos em v�rios lugares com o nosso v�deo. V�rias pessoas do Brasil t�m entrado em contato para manifestar apoio. Isso prova que nas igrejas evang�licas h� pessoas que n�o est�o alinhadas a essas lideran�as religiosas e a esse governo", completa o pastor.
Evang�licos e Bolsonaro
O racha entre evang�licos sobre o apoio a Bolsonaro n�o abala aqueles que t�m convocado os atos a favor do presidente.

Pastores ligados ao presidente afirmam que o apoio ao governo segue em alta entre esses religiosos. Malafaia diz, apenas com base em experi�ncia pr�pria, que cerca de 80% dos evang�licos apoiam Bolsonaro.
"Conhe�o o mundo evang�lico. Isso � uma piada (as pesquisas que indicam queda no apoio ao presidente entre os evang�licos). Tenho acompanhado o Bolsonaro em v�rios lugares. No m�nimo, uns 50% das pessoas que est�o em aeroportos e nos lugares em que o presidente est� s�o evang�licos", declara Malafaia.
Especialistas ressaltam que a ret�rica de Bolsonaro de ser perseguido injustamente enquanto tenta combater um mal maior, que seria a esquerda ou uma "constante amea�a comunista", vai no sentido do que as igrejas evang�licas pregam entre os fi�is da luta do bem contra o mal.
No atual cen�rio, segundo o cientista pol�tico Vin�cius do Valle, o presidente tenta resgatar o discurso de que se trata do bem contra o mal no Brasil para tentar reunir o maior n�mero de apoiadores. "Ele diz que os bolsonaristas podem salvar o presidente do mal se forem contra o STF", diz o especialista.
"Os evang�licos surgem como uma das poucas for�as que permanecem fi�is ao presidente, como os militares e muitos ruralistas, ainda que de forma reduzida atualmente", acrescenta Valle.
O especialista ressalta que as in�meras convoca��es de l�deres religiosos n�o significam a garantia de presen�a massiva dos evang�licos nos atos de sete de setembro.
"Os evang�licos n�o seguem � risca os posicionamentos dos pastores. Al�m disso, dentro da pr�pria igreja h� diferentes lideran�as, que nem sempre seguem o mesmo posicionamento. O pastor que fala diretamente com o p�blico nem sempre tem o mesmo discurso do pastor que � presidente da igreja", afirma Valle.
Al�m disso, fatores como a alta do desemprego, a crise econ�mica e o aumento dos pre�os de itens b�sicos t�m feito, conforme os especialistas, com que muitos evang�licos abandonem o bolsonarismo.
O cientista Felipe Nunes, da Quaest, empresa de intelig�ncia de dados, afirma que o eleitor brasileiro � mais pragm�tico do que ideol�gico. "O brasileiro avalia o seu bem-estar. No atual momento, com a qualidade de vida caindo, com o aumento da infla��o, falta de crescimento econ�mico e a percep��o de que as coisas n�o v�o melhorar, isso tudo recai sobre a imagem do presidente", diz � BBC News Brasil.
Em raz�o disso, segundo ele, uma parcela dos mais pobres entre os evang�licos come�ou a se afastar do presidente. "Um resultado econ�mico ruim leva os evang�licos mais pobres a sofrer na carne com tudo o que est� acontecendo e colocam na conta do presidente", explica Nunes.
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