(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas EDUCA��O

Querem nos segregar, diz jovem com defici�ncia sobre decreto de Bolsonaro

Decreto presidencial que promove escolas separadas para alunos com defici�ncia est� sendo questionado no STF. Jovens com defici�ncia falam sobre como a educa��o inclusiva em escolas regulares foi essencial para conseguirem chegar � universidade.


04/09/2021 20:33 - atualizado 04/09/2021 22:31

Manu Aguiar diz que estudar em escola regular foi essencial para sua formação
Manu Aguiar diz que estudar em escola regular foi essencial para sua forma��o (foto: Arquivo Pessoal )
Quando Manu Aguiar nasceu com paralisia cerebral, em 1993, o m�dico disse � m�e da menina que ela n�o iria falar e n�o ia andar.

 

Hoje aos 28 anos, Manu n�o s� fala e anda como faz faculdade na Universidade Federal do Paran�. A jovem de Matinhos, no litoral paranaense, diz que estudar em escola comum, ao lado de todas as outras crian�as (com ou sem defici�ncia), foi essencial para chegar onde chegou.

 

Antes de ser matriculada no ensino regular, no entanto, ela estudou em uma escola especial para pessoas com defici�ncia, na inf�ncia.

 

"Eu tinha 5 anos quando a professora disse para mim m�e que eu tinha 'possibilidade de progredir' e a aconselhou a me matricular em uma escola regular", contra Manu. "Ela disse que se eu ficasse na escola especial, n�o iria avan�ar."

 

Manu considera importante mostrar sua perspectiva em um momento em que um decreto presidencial sobre educa��o especial est� prestes a ser julgado no Supremo Tribunal Federal (STF).

 

O decreto de Jair Bolsonaro, que institui a pol�tica nacional de educa��o para alunos com defici�ncia, entrou em vigor em outubro do ano passado, mas foi questionado na Justi�a por uma a��o direta de inconstitucionalidade (ADI), ou seja, uma a��o que argumenta que o decreto � inconstitucional.

 

No fim de agosto, o STF fez uma audi�ncia p�blica para ouvir a sociedade sobre a quest�o, mas ainda n�o h� data marcada para a vota��o em plen�rio. O decreto � considerado um retrocesso por grupos de pessoas com defici�ncia e por especialistas em educa��o.

 

Ele promove a cria��o de escolas especiais para pessoas com defici�ncia que "n�o se beneficiam" da educa��o regular, ou seja, um local onde elas n�o teriam conviv�ncia com alunos sem defici�ncia, que frequentam as escolas regulares.

 

"O decreto vai na contram�o de todo um esfor�o nacional que � feito h� 20 anos no Brasil para garantir o direito de crian�as com defici�ncia � inclus�o. A gente precisa que as crian�as e adolescentes sejam inclu�dos em todos os ambientes, especialmente as escolas", afirma Pedro Hartung, presidente do Instituto Alana, entidade de defesa dos direitos das crian�as que � amicus curiae na a��o do STF.

 

Na semana passada, o ministro da Educa��o, Milton Ribeiro, afirmou que estudantes com defici�ncia "atrapalham o aprendizado de outros alunos". Ao se defender de in�meras cr�ticas que recebeu ap�s a fala, Ribeiro disse � r�dio Jovem Pan que foi "infeliz na escolha do termo", mas n�o recuou na sua posi��o.

 

Incentivar as escolas especiais seria voltar �s normas institu�das em 1994 e que vigoraram at� 2008, quando uma nova pol�tica passou a estabelecer como norma a integra��o de pessoas com defici�ncia no ambiente escolar comum.

 

O decreto de Bolsonaro n�o pro�be a matr�cula em escolas regulares, mas na pr�tica, � isso que vai acabar acontecendo, argumenta Manu. "Vai chegar um estudante com defici�ncia na escola e v�o dizer que n�o d� para incluir, v�o mandar para a especial."

 

Hartung afirma tamb�m que a cria��o de institui��es especiais, al�m de segregar, retira recursos para adapta��o de escolas regulares. "O or�amento para isso � limitado. � preciso que no pr�prio ambiente escolar a crian�a possa ter acesso a pol�ticas inclusivas, aulas no contraturno, apoio. Se todo o recurso vai para a cria��o de escolas especiais, as escolas regulares param de receber melhorias."


Jonatan estudou em escolas regulares e diz que experiência foi essencial
Jonatan estudou em escolas regulares e diz que experi�ncia foi essencial (foto: Arquivo Pessoal)

Matr�culas negadas

Manu Aguiar teme que aconte�a com os alunos com defici�ncia o que aconteceu com ela quando crian�a: teve a matr�cula negada em diversas escolas regulares.

 

"Teve muita nega��o de matr�cula aqui na �poca, diziam para colocar na escola especial. Minha m�e insistiu muito, foi de escola em escola pedindo, at� que teve uma diretora que falou 'faz a matr�cula e a gente v� o que faz depois'", conta Manu, que estudou a vida toda em escolas p�blicas.

 

A jovem � totalmente contra o decreto de Bolsonaro, e diz que � preciso investir na prepara��o das escolas regulares para receber alunos com defici�ncia, n�o promover a separa��o.

 

"N�o temos menos valor para sermos segregados assim", diz Manu. "� preciso preparar o ensino regular, dar meios para os professores promoverem a inclus�o e combater o preconceito", afirma.

 

Crescendo em uma �poca em que havia pouca conscientiza��o sobre preconceito contra pessoas com defici�ncia (o chamado capacitismo), Manu conta que sofreu muito preconceito na escola comum, especialmente na adolesc�ncia, quando a escola a separou da turma onde ela tinha amigos e a menina sofreu bullying agressivo.


Inclusão é benéfica para todas as crianças, com ou sem deficiência, dizem educadores
Inclus�o � ben�fica para todas as crian�as, com ou sem defici�ncia, dizem educadores (foto: Getty Images)

"Eu recebia amea�as no MSN (antigo aplicativo de troca de mensagens), virei chacota. As pessoas falavam para os meninos: 'Voc� � muito feio, vai namorar com a Manu'. O pior momento foi quando uma menina colocou o p� na minha frente para eu cair no corredor", conta ela.

 

A paralisia cerebral faz com que Manu tenha dificuldade de mobilidade, e na �poca dos pr�dios n�o tinham rampas e instala��es acess�veis. Ela tamb�m se cansava muito em escrever. "Meus pais compraram um notebook, porque na digita��o eu era r�pida. E parecia que tinham parcelado uma casa, de t�o caro que era na �poca", conta.

 

A escola tamb�m foi se adaptando aos poucos, e dando os apoios previstos em lei, como um professor de apoio que a acompanhava fora do hor�rio das aulas comuns.

 

Apesar de todos os obst�culos que enfrentou, Manu diz que n�o trocaria o ensino na escola regular pela especial. "Se h� capacitismo, voc� tem que combater, educar, n�o segregar as pessoas que sofrem esse preconceito. Separar n�o � a solu��o", afirma.


Hoje, mais de 90% dos alunos com deficiência estão matriculados em escolas regulares
Hoje, mais de 90% dos alunos com defici�ncia est�o matriculados em escolas regulares (foto: Getty Images)

Chegando � universidade

Manu afirma que foi essencial ter o mesmo conte�do que as pessoas sem defici�ncia e tamb�m a intera��o com todo mundo.

 

"O mundo � diverso e a gente n�o pode ficar numa caixa, numa bolha. Eu tirei nota baixa, tive que fazer recupera��o, tinha os apoios que a lei prev�, aprendi a lidar com as adversidades. S� cheguei na universidade porque frequentei uma escola regular", diz a jovem.

 

"Hoje estou terminando a licenciatura em geografia e a gente pesquisa a �rea de educa��o inclusiva. As pessoas que continuaram na institui��o especial onde eu estudei continuam l� at� hoje", diz ela.

 

"As estat�sticas est�o a� para mostrar que, entre os estudantes com defici�ncia na universidade, rar�ssimos s�o os que v�m de escola especial. � um resultado que mostra que a educa��o inclusiva � o caminho."

 

O estudante universit�rio Jonatan Silva de Jesus, de 25 anos, tamb�m cresceu na �poca da pol�tica das escolas especiais (entre 1994 e 2008) e conta que s� estudou em escolas regulares porque "muita gente bateu o p�".

 

"Foi gra�as � minha av�, que insistiu. E eu tamb�m, porque eu queria ir para a mesma escola dos meus primos", diz Jonatan, que tem paralisia cerebral.

"Na �poca n�o tinha inclus�o, voc� n�o via deficientes na rua. Quando me matricularam, a escola falou '� por sua conta e risco'", diz ele.

 

O jovem tamb�m acredita que n�o teria chegado � universidade se n�o fosse a educa��o que recebeu na escola regular. Hoje ele cursa educa��o f�sica na faculdade, estuda inclus�o e faz academia. "Treino h� cinco anos, mas demorou 4 anos para uma academia me aceitar", diz ele.

 

"Muita gente recusa, tem medo que eu me machuque. Mas essa desculpa � muito ruim. N�o tem adapta��o? Ent�o faz a adapta��o", afirma.

 

J� na escola, disse, ele teve sorte ao encontrar uma professora que, embora n�o estivesse totalmente preparada para a inclus�o, fez de tudo para que isso acontecesse.

 

"Ela falou vamos: aprender todos juntos. Onde eu tinha dificuldade, recebia ajuda, outros alunos me perguntavam. Eu fui bolando junto com professores algumas alternativas", afirma o jovem de Santana do Parna�ba, no interior de S�o Paulo.

 

"Ela procurava at� atividades na educa��o f�sica para eu fazer parte tamb�m. Me senti acolhido. Meus amigos tamb�m abra�aram a ideia e eu fui mostrando para eles tamb�m a minha realidade. Se eu tivesse ido para uma escola especial, ia viver numa bolha", afirma.

 

Jonatan diz que "at� entende" pais que defendem a cria��o das escolas especiais. "Eu entendo, os pais querem proteger. E tem que proteger sim, mas n�o colocar em uma bolha de vidro e n�o deixar viver."

 

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube ? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)