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Estado de Minas Bolsonaro

'Frente ampla' deve se impor no Congresso em defesa do impeachment

Nem a sinaliza��o de recuo do presidente, na quinta-feira passada, deve bastar para conter esse processo


12/09/2021 10:05 - atualizado 12/09/2021 10:24

Fachada do Congresso Nacional, em Brasília
Fachada do Congresso Nacional, em Bras�lia (foto: Flickr)

S�o Paulo - O �pice das amea�as golpistas e ataques do presidente Jair Bolsonaro � democracia, no 7 de Setembro, inspira a mobiliza��o de partidos de diferentes matizes ideol�gicos na cria��o de uma frente ampla pelo impedimento de Bolsonaro, avalia o cientista pol�tico e professor da Universidade de S�o Paulo Andr� Singer


Nem a sinaliza��o de recuo do presidente, na quinta-feira passada, deve bastar para conter esse processo.

Segundo Singer, que foi porta-voz da Presid�ncia no governo Lula de 2005 a 2007, a situa��o atual pode ganhar contornos de um movimento unificado similar �s Diretas J�, que atraiu for�as antag�nicas em torno da defesa de elei��es nos anos 1980.

Foi o pesquisador quem cunhou o termo "lulismo" para explicar o realinhamento eleitoral que decorreu do governo petista. Ele introduz uma nova defini��o para nomear a marcha do governo Bolsonaro corrosiva � democracia: um "autocratismo de vi�s fascista". A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estad�o:

O que significa o recuo de Bolsonaro ap�s os ataques ao STF?
A nota publicada pelo presidente faz parte de uma estrat�gia adotada desde o come�o do mandato de ora avan�ar, ora recuar. Ele tem uma capacidade que n�o se previa de jogar em diversas dimens�es: na institucional, na mobiliza��o de massa, que demonstrou na ter�a-feira, e com alian�as partid�rias com uma liberdade inesperada. Por exemplo, substituiu a alian�a com o ex-ministro S�rgio Moro por uma com o Centr�o de uma forma que n�o se imaginava poss�vel. � prov�vel que volte a fazer amea�as e ter o mesmo comportamento agressivo e golpista que construiu no mandato.

Qual o impacto das atitudes recentes do presidente?
Bolsonaro faz parte de um fen�meno novo no Brasil e no mundo, associado a Donald Trump e ao Brexit, de total descompromisso com os fatos, uma "p�s-verdade" que n�o se coaduna com a pol�tica normal. Ambiguidades s�o pr�prias da pol�tica normal, mas ela tem compromisso com fatos, diferente de Bolsonaro. No 7 de Setembro, ele diz que defende a liberdade e a Constitui��o, quando, de fato, defende golpe contra a Constitui��o, democracia e liberdade. E as pessoas que v�o � rua est�o envolvidas por esse ambiente no qual n�o h� nexo com a realidade. N�o entenderemos Bolsonaro se n�o o colocarmos no fen�meno que chamo de autocratismo de vi�s fascista - n�o fascista no sentido hist�rico, mas com elementos fascistas. Essa ambi�ncia ideol�gica em que se puxa pessoas a uma cren�a sem conex�o com fatos foi pr�pria do fascismo, em que havia elementos delirantes. Por isso, n�o acho que devemos interpretar a nota como recuo. � uma t�tica diversionista, que confunde a sociedade, as for�as pol�ticas e atrapalha uma a��o que precisa ser clara. As idas e vindas de Bolsonaro fazem propositalmente tudo parecer uma brincadeira. O fascismo e o nazismo agiam assim.

Se n�o foi um recuo, qual foi o objetivo da nota?
O primeiro � causar confus�o, desorganizar advers�rios e a sociedade, que est�o entendendo que este processo precisa ser parado. O segundo � dar uma resposta a setores da economia, � popula��o e ao presidente da C�mara, o �nico que pode dar andamento ao impeachment. Bolsonaro tem demonstrado uma capacidade de a��o que, em circunst�ncias parecidas, o ex-presidente Collor n�o teve. No entanto, vem perdendo popularidade, tem rejei��o grande e est� relativamente isolado. Nada disso vai ser alterado por esse movimento, mas ele segue demonstrando capacidade de a��o.

Qual � o impacto dos acontecimentos do 7 de Setembro na articula��o de impeachment?
Aumenta o n�mero de for�as pol�ticas que percebem que o �nico recurso dispon�vel na Constitui��o para parar este processo autorit�rio � o impeachment. Crime de responsabilidade est� n�tido que foi cometido. No entanto, depende tamb�m do presidente da C�mara e de votos no Congresso. Neste momento nenhuma das duas condi��es s�o satisfeitas. At� aqui a C�mara mostra coniv�ncia impl�cita com o que est� ocorrendo.

H� manifesta��es convocadas neste domingo por grupos � direita. Representantes pr�ximos ao centro e � esquerda anunciaram presen�a, mas n�o o PT. Como o senhor v� a poss�vel uni�o dos espectros pol�ticos distintos?
A frente democr�tica � poss�vel, necess�ria e tendo a achar que vai acabar ocorrendo. J� est� em curso. Um exemplo � o fato de que, depois de longo tempo, Fernando Henrique Cardoso se encontrou com Lula e declarou voto nele se houver disputa com Bolsonaro. No entanto, a manifesta��o deste domingo talvez n�o conte com todas as for�as poss�veis dada a maneira como foi convocada, em certo momento sob o lema "nem Bolsonaro nem Lula". Nesses termos, o PT e outros setores da esquerda n�o podem comparecer. Os dirigentes devem perceber que � preciso compromisso com aquilo que unifica as for�as: a defesa da democracia, que no caso espec�fico � o impeachment, elei��es com urna eletr�nica e respeito ao resultado. Guardadas as bandeiras que unificam, as demais devem ser livres. S� assim poder� haver uma frente ampla em que as pessoas sabem porque est�o unificadas e o que as dividir� no momento seguinte, que � o eleitoral.

A uni�o em torno da frente ampla pode ser atropelada pela disputa eleitoral?
A esta altura, considera��es de natureza estritamente eleitoral deveriam ficar em segundo plano diante de um processo autorit�rio que n�o devemos subestimar. Como essa frente demorou e n�o est� ainda constitu�da, est� se confundindo com a situa��o eleitoral, o que a atrapalha. � fundamental n�o cobrar das for�as pol�ticas o que fizeram antes, porque estiveram divididas no impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff. Embora historicamente isso tenha de ser discutido, o fato � que agora h� um objetivo maior que pode unificar, de defesa da democracia.

O PT e outras for�as est�o maduras para uma frente democr�tica?
Acredito que sim. O "superpedido" de impeachment, por exemplo, juntou num mesmo palanque a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre, um dos pilares do impeachment de Dilma, com respeito e harmonia dentro de for�as que s�o em outros sentidos opostas, mas dispostas a disputar democraticamente e aceitar os resultados. Talvez, neste domingo, ainda n�o seja poss�vel.

O que falta para essa frente existir de fato?
O que falta � tempo para que isso amadure�a e resulte em um grande movimento popular a favor do impeachment e da democracia. O setor que apoia Bolsonaro existe e demonstrou que est� disposto a se mobilizar, mas � minorit�rio; 75% dos brasileiros querem democracia e precisam demonstrar isso em manifesta��es pac�ficas com o tamanho que essa vontade tem. Cabe �s for�as pol�ticas e movimentos sociais permitirem essa manifesta��o por meio da sua pr�pria organiza��o.

Seria necess�ria uma nova etapa de manifesta��es?
Exatamente. Mas n�o se pode esperar que seja t�o r�pida. Esse processo guarda alguma semelhan�a com a situa��o das Diretas, muito importante para a hist�ria pol�tica brasileira, pois ali se deu o exemplo de uma frente que unificou for�as antag�nicas, por�m n�o foi vitoriosa no Congresso Nacional naquele momento. Por mais que estejamos cada dia mais perto da elei��o, dada a excepcionalidade do que est� ocorrendo, deve-se continuar insistindo no impeachment.

Que outras a��es faltam para que esse processo amadure�a?
O PSDB e o PSD se deslocaram a partir do 7 de Setembro. H� outros partidos, como � o caso do Democratas, que poderiam se posicionar a favor do impeachment, para n�o falar do pr�prio Progressistas, que hoje � o principal esteio do governo e articula siglas menores que tamb�m sustentam o presidente.

O senhor se refere ao Centr�o. � poss�vel imaginar uma mudan�a de postura desse grupo?
Sim. Est�o no governo e h� grande vantagem nisso, mas fazem c�lculos, s�o pragm�ticos. O problema � que esta n�o � a pol�tica normal, como foi da redemocratiza��o at� 2014. Acredito na sagacidade da classe pol�tica e acho que perceberam que n�o � normal, mas decidiram agir como se fosse, o que � um risco que nenhuma sociedade democr�tica deveria correr. O Centr�o � uma for�a importante no Congresso e tem peso hist�rico, inclusive porque foram essas for�as que impediram as Diretas de avan�ar, n�o vamos esquecer que o PP veio da Arena. Dada a atua��o do ex-presidente Temer, menciono tamb�m o MDB, que entrou em cena para fazer aparentar uma normalidade que n�o existe. S�o atores importantes agindo em benef�cio de que este processo continue. Bolsonaro demonstrou capacidade de mobiliza��o, apesar de ser minorit�rio, o que indica maiores chances de ir ao segundo turno do que se o supus�ssemos mais isolado.


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