
Dentre as muitas revela��es das manifesta��es de 7 de Setembro, est� a de que o propalado apoio ao presidente Jair Bolsonaro entre caminhoneiros est� mais para blefe do que para uma ades�o org�nica da categoria. “N�o houve greve de caminhoneiros em 2021. Nem in�cio de greve. Houve greve de meia d�zia de fan�ticos bolsonaristas. N�o estavam ali em representa��o � categoria. Por acaso eram caminhoneiros, mas poderiam ser gar�ons, empres�rios. N�o era um movimento dos caminhoneiros”, avalia o deputado federal Andr� Janones (Avante-MG) – considerado fen�meno das redes sociais – lideran�a que alcan�ou visibilidade nacional com a greve dos caminhoneiros em 2018.
Na avalia��o do parlamentar, os caminhoneiros enfrentam condi��es desafiadoras em seu exerc�cio profissional, como o pre�o da gasolina e do diesel e a tabela do frete, e n�o se mobilizariam por uma pauta pol�tica. “Acha que v�o entrar num movimento assumidamente bolsonarista? N�o v�o. N�o repetiremos outra greve daquela em nossa gera��o, com aquele grau de ades�o. Foi momento �nico. Com v�rias coisas que convergiram para aquilo. Houve ades�o popular, estava num governo com 97% de reprova��o popular. Uma s�rie de fatores que dificilmente acontecem de novo. E o principal: n�o ter conseguido, mesmo com aquela paralisa��o, conquistas que durassem, que permanecessem, vit�rias p�fias que duraram um ou dois meses, esse � fator principal para desestimular novas paralisa��es daquela dimens�o”, avalia.
Mesmo com partidos de centro-direita e direita anunciando oposi��o ao governo federal, Janones acredita que o impeachment n�o v� prosperar na C�mara dos Deputados. “Bolsonaro blefa. Ele n�o tem prest�gio em lugar nenhum, nem nas For�as Armadas. Ele est� com um estilingue na m�o amea�ando um golpe. � um fraco, sem comando, perdeu, se � que j� teve comando”, diz. “Apesar disso, o Centr�o n�o vai aderir, porque j� tem a chave do cofre, administra o pa�s, j� tem tudo, n�o tem o que tirar mais. Sobrou pra ele a faixa da Presid�ncia e o pal�cio para morar”, afirma Andr� Janones nesta entrevista ao Estado de Minas.
Foi na greve dos caminhoneiros de 2018 que o sr. alcan�ou visibilidade nacional. Qual foi a ades�o dos caminhoneiros �s manifesta��es de 7 de Setembro?
Convivi muito de perto e aprendi como funciona os movimentos, as associa��es dos caminhoneiros com a greve de 2018. Os caminhoneiros t�m muitas dissens�es internas, s�o in�meras associa��es, sindicatos, n�o t�m um movimento unificado. Em 2018, a mobiliza��o foi alcan�ada porque a pauta era corporativa: melhorar as condi��es da categoria. Depois as pautas que foram se ampliando e somadas ao movimento viraram um grande manifesto. Desta vez, n�o era pauta para a categoria. N�o houve greve de caminhoneiros em 2021. Nem in�cio de greve. Houve greve de meia d�zia de fan�ticos bolsonaristas. N�o estavam ali em representa��o � categoria. Por acaso eram caminhoneiros, mas poderiam ser gar�ons, empres�rios. N�o era um movimento dos caminhoneiros.
Mas esses mobilizados falaram em nome da categoria...
Mas n�o foram autorizados por nenhuma associa��o, entidade ou lideran�a dos caminhoneiros. Entre as lideran�as com as quais tenho contato, ningu�m no meio dos caminhoneiros sabe quem � Z� Trov�o. Ningu�m nunca ouviu falar nesse cara. Perguntei a v�rios. Ningu�m sabe quem � ele, ningu�m tem informa��o sobre ele. N�o � uma lideran�a caminhoneira. Ele tem um caminh�o. Ponto. Ent�o � um bolsonarista, que tem um caminh�o. E se ele tem um canal de YouTube com seguidores, s�o seguidores bolsonaristas.
Qual � a for�a de Bolsonaro entre os caminhoneiros?
� do mesmo tamanho que tem no eleitorado brasileiro. N�o h� identifica��o espec�fica com a categoria. Em todo lugar ter�o esses extremistas.
Como foi a prepara��o dos caminhoneiros para o 7 de Setembro?
At� 5 ou 6 de setembro, houve tentativa de mobiliza��o. Mas as informa��es que tive foram de que n�o tinham for�a para iniciar uma mobiliza��o. At� surpreendeu, porque conseguiram iniciar, mas o resultado final n�o surpreendeu, foi um fracasso, como todo mundo previa que ia ser. N�o foi um movimento da categoria, com pauta da categoria, dos caminhoneiros aut�nomos. Foi um movimento bolsonarista dentro da categoria. A ades�o foi muito baixa, n�o teve mobiliza��o unificada, n�o houve movimento central de onde partia. Agora, foi financiado, n�o sei detalhar, mas sabemos que no inqu�rito dos atos antidemocr�ticos est� sendo investigado.
Os caminhoneiros bolsonaristas estavam impedindo os outros caminhoneiros de circular?
Estavam impedindo. Os caminhoneiros que n�o atendiam eram hostilizados, alguns chegaram a receber amea�as de agress�o e danos nos caminh�es.
Como reagiram os caminhoneiros bolsonaristas com a capitula��o da suposta tentativa de golpe frustrado?
Temos de separar o ''bolsominion'' do eleitor bolsonarista comum. Ele perde pouco no n�cleo duro, porque esse pessoal vive em outra dimens�o, lambe o ch�o pra ele. Ent�o, vai se isolando cada vez mais dentro desse bolsonarismo raiz. J� no conjunto dos apoiadores, acho que ele teve queda vertiginosa. Agora, em se tratando dos caminhoneiros, acho que o pouco que perdeu no n�cleo duro, foi justamente entre os caminhoneiros. Ele convocou o pessoal para as ruas. A maioria foi para a rua no dia 7 e voltou no mesmo dia para casa. Mas os caminhoneiros, n�o. Teve gente com caminh�o guinchado, teve confronto em Bras�lia entre policiais e caminhoneiros. A pessoa olha para aquilo e se sente um idiota. O segundo fator que agrava � a quest�o da imagem. Vi muito caminhoneiro pelo Brasil fazendo v�deo falando: “Esse movimento n�o � dos caminhoneiros. Estou aqui com o pre�o do frete, do diesel e da gasolina, nenhuma dessas pautas est� sendo considerada”.
Como os caminhoneiros reagem � narrativa de Bolsonaro, que joga a culpa do pre�o da gasolina e do diesel sobre os governadores, culpando o ICMS?
Os fan�ticos do n�cleo duro compram qualquer coisa. N�o interessa o que Bolsonaro faz. O fanatismo cega. Eles mergulham nessa realidade paralela. Mas a maioria n�o se deixa ser usada como massa de manobra.
Como o sr. avalia a movimenta��o de Bolsonaro para de 7 de setembro?
Foram atos preparat�rios para o golpe. Ele vem tentando num crescente. Come�ou no dia da posse e a cada dia deu um passo. Dia 7 seria o grande dia, ele pretendia migrar dos atos preparat�rios para o golpe. A faixa que a gente mais lia em Bras�lia: “Eu autorizo”. Dia 7 ele ia pegara autoriza��o para o golpe. Mostrou que n�o tem for�a nem apoio popular. Teve dinheiro envolvido nessa mobiliza��o, e muito dinheiro. Em Ituiutaba no Tri�ngulo Mineiro vieram dois �nibus lotados. A pessoa que fretou n�o tinha dinheiro para fazer isso. Estavam pagando as pessoas pra vir. Foi uma mobiliza��o que se iniciou em junho. Ele imaginava que teria dois milh�es na Paulista, um milh�o na Esplanada. Pretendia assustar deputados e senadores, achou que haveria movimento interno, com convoca��o do Conselho da Rep�blica, e a partir dali iria costurar um formato diferente, submetendo os outros poderes. S� que ningu�m se sentiu intimidado com a mobiliza��o. Do outro lado n�o houve recuo. Agora, Bolsonaro blefa. Ele n�o tem prest�gio em lugar nenhum, nem nas For�as Armadas. Ele est� com um estilingue na m�o amea�ando um golpe. � um fraco, sem comando, perdeu, se � que j� teve comando. N�o sei dizer se ele sabe que n�o tem for�a e blefa, para ver se o outro recua, ou se ele � ot�rio que n�o percebeu que n�o tem comando. O dia 7 escancarou. Eu tinha d�vida. Mas ser� que ele tem o comando das For�as Armadas, ser� que elas embarcam nessa aventura? Esse � o grande preju�zo para o bolsonarismo. Ele n�o consegue mais blefar, n�o consegue mais mostrar for�a que n�o tem. Sete de setembro foi o extrato banc�rio que caiu na rua.
Parece-lhe prov�vel o caminhoheiro entrar numa mobiliza��o sem nenhuma pauta da categoria?
Nunca n�o v�o entrar nisso. Quando participei da paralisa��o dos caminhoneiros, nunca mencionei pol�tica l�. Fui convidado, estava como cidad�o. Quando descobriram que eu fora filiado ao PT, j� perdi a legitimidade para falar em nome deles. Agora, acha que v�o entrar num movimento assumidamente bolsonarista? N�o v�o. N�o repetiremos outra greve daquela em nossa gera��o, com aquele grau de ades�o. Foi momento �nico. Com v�rias coisas que convergiram para aquilo. Houve ades�o popular, estava num governo com 97% de reprova��o popular. Uma s�rie de fatores que dificilmente acontecem de novo. E o principal: n�o ter conseguido, mesmo com aquela paralisa��o conquistas que durassem, que permanecessem, vit�rias p�fias que duraram um ou dois meses, esse � fator principal para desestimular novas paralisa��es daquela dimens�o.
Como � hoje a condi��o do caminhoneiro?
P�ssima, n�o melhorou em nada. S�o as mesmas condi��es que eram antes de 2018. As principais pautas de 2018 que ainda permanecem, a defasagem do valor frete, a quest�o do ped�gio pesa um pouco mesmo, mas n�o deixa de ser tamb�m, e o pre�o do diesel.
Bolsonaro prometeu resolver essas coisas?
Prometeu, se colocou ao lado da mobiliza��o. Apoiou, fez compromisso com a categoria e no fim se mostrou o cara do sistema que sempre foi.
Ap�s 7 de Setembro, o sr. acredita que h� chance de um processo de impeachment seguir na C�mara dos Deputados?
Pelas informa��es que me foram repassadas por l�deres do Centr�o, j�, em 7 de julho, por ocasi�o da troca de farpas entre o senador Omar Aziz (PSD-SM) e o ministro da Defesa, numa reuni�o que terminou �s 3h da manh� no Pal�cio do Planalto, com a presen�a do presidente da Rep�blica, o presidente discutiu abertamente a possibilidade de um golpe, o que fez com que os parlamentares presentes, que antes tratavam como chacota as amea�as do presidente, pela primeira vez levassem a s�rio a possibilidade e estavam muito preocupados. Isso est� relacionado ao 7 de Setembro. Ent�o essa amea�a, est� pairando. E o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional est�o juntos para evitar isso. Mesmo Arthur Lira (PP-AL), que n�o se posiciona com firmeza para recha�ar os ataques de Bolsonaro, n�o apoiaria o golpe. Qual � a d�vida, por que ningu�m parou Bolsonaro? Porque a d�vida sempre esteve pairando em rela��o � posi��o das For�as Armadas. O dia 7 de Setembro escancarou que Bolsonaro sacou arma sem muni��o. Ficou claro que ele n�o tem as For�as Armadas, o STF e o Congresso foram para cima dele.
Ent�o, em sua avalia��o, o Centr�o n�o discute o impeachment porque est� com a chave do cofre?
Uma lideran�a do Centr�o me disse que Bolsonaro j� entregou o governo para o Centr�o, n�o h� mais o que tirar. Sobrou a faixa da Presid�ncia e o pal�cio para morar. Ent�o, o Centr�o j� tem tudo, n�o tem o que tirar mais, o Centr�o administra.
O sr. transita muito bem nas redes sociais e alguns de seus v�deos j� alcan�aram dezenas de milh�es de compartilhamentos. Em sua avalia��o, como anda a popularidade digital do presidente nas redes ap�s o recuo aos atos antidemocr�ticos de 7 de Setembro?
Desde o dia em que ele assumiu que � candidato � reelei��o, o n�mero de seguidores dele cresce todos os dias. Em todo esse per�odo, foram dois momentos de queda. O primeiro quando Sergio Moro saiu do governo. E o segundo foi agora, ap�s 7 de Setembro. No epis�dio Moro, ele tinha um ano de governo, Bolsonaro ressurge com convic��o. Mas, desta vez, o cen�rio � muito diferente, o pre�o dos alimentos, da gasolina nas alturas, ele n�o consegue se recuperar e acho que n�o estar� no segundo turno das elei��es de 2022.