
Cinco dias depois que dezenas de milhares de pessoas de diferentes Estados se reuniram em S�o Paulo para apoiar o presidente, movimentos de oposi��o se reuniram na mesma avenida Paulista para pedir o impeachment de Jair Bolsonaro.
O qu�rum, contudo, foi bem distinto. Apesar da rejei��o elevada de Bolsonaro, Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem pra Rua fizeram
atos menores
em S�o Paulo e nas demais capitais em que haviam convocado manifesta��es. Conforme as estimativas da Pol�cia Militar, foram 6 mil pessoas na avenida Paulista, ante 125 mil no 7 de setembro.
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Manifesta��es de 12/9: populistas mobilizam multid�es; ideais, raramente
A ideia inicial era reunir uma esp�cie de frente ampla com grupos de esquerda. O Partido dos Trabalhadores (PT), contudo, e movimentos como os do Sem Teto vinham mostrando resist�ncia sob o argumento de que os grupos, assim como o pr�prio bolsonarismo, tinham ra�zes na extrema-direita .
O PDT de Ciro Gomes e o PCdoB, por outro lado, decidiram se juntar aos atos.
Em paralelo, MBL e Vem Pra Rua, que nasceram nos mega protestos de 2013, n�o mostraram a mesma capacidade de mobiliza��o que tinham at� 2015 e 2016, quando capitanearam grandes manifesta��es pelo impeachment da ent�o presidente Dilma Rousseff.
Para a cientista pol�tica e pesquisadora do Cebrap Camila Rocha, os atos deste domingo mostram que "a constru��o de uma frente ampla com poder de derrubar Bolsonaro de fato n�o ser� f�cil, ainda mais considerando que, por enquanto, tal movimento tamb�m n�o vem se expressando nas ruas".

Domingo de sol na Paulista
No hor�rio marcado para o in�cio dos atos, por volta de 14 horas, com exce��o dos ambulantes que vendiam mercadorias "Fora Bolsonaro", os primeiros quarteir�es da avenida viviam um domingo como muitos outros. Debaixo de muito sol, os ciclistas iam e vinham pelo canteiro central, muita gente almo�ava em mesas nas cal�adas largas, tomava cerveja, fazia fila para comprar sorvete.
Mais pr�ximo do Museu de Arte de S�o Paulo (Masp), a fragmenta��o da oposi��o a Bolsonaro se mostrava de maneira did�tica no espa�o de dois quarteir�es. Um primeiro carro de som do Movimento Direita Digital reunia algumas dezenas enquanto, do outro lado da avenida, se viam os eleitores do Partido Novo em uma aglomera��o laranja.
Alguns passos � frente, o carro de som do Movimento Brasil Livre (MBL), depois o toldo do PDT, o guarda-sol roxo do movimento Livres e, de frente para o pr�dio da Fiesp, o trio do Vem Pra Rua, com um infl�vel enorme de Bolsonaro e Lula abra�ados.
O ex-presidente, ali�s, foi um fator de fragmenta��o dentro dos movimentos de direita: enquanto o Vem Pra Rua pregava o "Nem Lula, Nem Bolsonaro" pelo microfone, o MBL se concentrava no "Fora Bolsonaro".
O grupo decidiu abandonar o mote inicial da convoca��o para os protestos, que defendia o fortalecimento de uma terceira via para as elei��es de 2022, para acomodar a esquerda no palanque. Do carro de som do MBL discursaram Ciro Gomes (PDT) e o deputado federal Orlando Silva (PCdoB).
"Acredito que a divis�o entre petismo e antipetismo entre as lideran�as pol�ticas e a popula��o em geral contribua muito para a divis�o", comenta a cientista pol�tica Camila Rocha.
A porta-voz do Vem Pra Rua, Luciana Alberto, afirma que o grupo aderiu � pauta unificada do "Fora Bolsonaro", mas entende que defender o impeachment do presidente n�o exclui a legitimidade de "falar do Lula nunca mais".
"S�o pautas que convergem."
A ideia dos atos, acrescenta a advogada, era que fossem representativos de toda a sociedade. "E uma frente ampla tem que considerar essa parcela da popula��o".
No fim do dia, o saldo da manifesta��o, para ela, foi de que reuniu mais gente que o esperado. "Me surpreendeu a quantidade de pessoas num final de feriado, um domingo muito quente, em um momento em que as pessoas est�o despertando para as pautas pol�ticas."
A indigna��o contra o presidente, que se traduz no �ndice de rejei��o elevado de Bolsonaro, n�o necessariamente significa que as pessoas se sentem motivadas a lutar por mudan�as, justifica a advogada. Movimentos como o de hoje, em sua avalia��o, v�o "despertando nelas essa consci�ncia", que deve vir com o tempo.
O vereador e porta-voz do MBL, Rubinho Nunes (PSL), tamb�m disse � BBC News Brasil julgar que a ades�o foi maior que a imaginada, com saldo positivo. Na conta dos organizadores, 55 mil pessoas foram � avenida Paulista.
"Foram pessoas com ideologias distintas, mas unidas contra o que o Bolsonaro representa. Todos os que compareceram, em defesa do Ciro Gomes, do Jo�o Doria e do Amoedo foram respeitosos, independentemente das diverg�ncias pol�ticas. As pessoas t�m uma preocupa��o maior em manter um ambiente democr�tico. � nos unirmos hoje para poder discordar amanh�", afirmou.

A reportagem questionou Rubinho, que tamb�m � fundador do MBL, sobre a presen�a de pessoas ligadas a outros partidos, como o PT, um alvo hist�rico do grupo.
"Eu respeito muito e parabenizo essa pessoa pela grandeza democr�tica que ela representa. Esse foi um ato supra ideol�gico com o objetivo de barrar a manuten��o de um prot�tipo de ditador na presid�ncia. Nesse momento, bandeiras ideol�gicas s�o deixadas de lado quando Jair Bolsonaro representa um risco. Stalin e Churchill estiveram no mesmo lado contra um mal maior, que � o que temos no Brasil", afirmou.
Nas redes sociais, manifestantes pr�-Bolsonaro disseram que os atos fracassaram. O fundador do MBL disse que o mesmo foi dito pela ex-presidente Dilma Rousseff num ato promovido pelo grupo no dia 1° de novembro de 2014.
"Aquilo virou um marco, e depois levamos milh�es de pessoas �s ruas em 2015 e 2016. Mexemos com a corja bolsonarista e agora as manifesta��es v�o crescer e fazer a diferen�a", disse.

Pandemia, economia, democracia
Entre os manifestantes na avenida, a gestora financeira Luisa Furtado - que se considera liberal na economia e nos costumes - diz que foi ao protesto para pedir o impeachment de Bolsonaro principalmente por conta das a��es do presidente na pandemia.
"Eu fui para a Paulista reivindicar a queda dele porque ele nunca me representou e foi o oposto do que eu acredito. Perdi meus av�s e meu tio com covid-19", afirmou.
Para ela, os familiares foram contaminados por pessoas que acreditavam em not�cias falsas sobre a pandemia e que se tornaram vetores da doen�a.
Ela disse que em 2018 votou nulo no segundo turno porque n�o se identificava com o PT nem com Bolsonaro. Hoje, afirma buscar uma op��o "mais t�cnica e menos populista" que traga solu��es para os mais ricos e mais pobres.

Questionada pela reportagem, declarou que votaria no governador de S�o Paulo, Jo�o Doria (PSDB), caso as elei��es presidenciais fossem hoje.
"Ele peitou o Bolsonaro e temos uma vacina do Brasil por causa dele. N�o gosto dele, nunca votei antes, mas eu acho que seria uma op��o. N�o podemos focar numa op��o ideal, mas uma op��o poss�vel, e ele foi algu�m que fez uma coisa positiva nesse cen�rio negativo."
Para ela, a manifesta��o s� n�o foi maior porque muitas pessoas ainda t�m medo de poss�veis atos de viol�ncia, tanto dos manifestantes quanto policial, durante os protestos. E avaliou como positiva a presen�a de pessoas com partidos e ideologias diferentes.
"A presen�a dos partidos de esquerda demonstra que a gente est� unido em prol da democracia. S�o pessoas que buscam as mesmas coisas por caminhos diferentes", afirmou.
Os poucos manifestantes de esquerda que foram � Paulista no domingo faziam coro ao argumento de que o importante era unir uma frente ampla em defesa da democracia.
"Isso � democracia. Quem discordar de mim, est� no direito dele. Se o cara mandar eu sair porque estou com a m�scara do PT, est� dentro do direito dele. Isso � democracia", disse, de camisa vermelha, Francisco Lino Neto, que saiu da zona leste em um grupo de 15 amigos.
"Mas n�o � um problema dividir o ato com eles. N�o sou filiado ao PT, mas sou simpatizante do partido h� 40 anos, desde a funda��o."
Desempregado, o trabalhador da constru��o civil afirma que o governo � "p�ssimo" e diz estar na rua tamb�m por mais emprego e maior celeridade na vacina��o contra a covid-19.
J� o empres�rio Ricardo Brand�o, que saiu sozinho de S�o Bernardo do Campo, na Grande S�o Paulo, diz que foi � Paulista para defender especialmente a auditoria da d�vida p�blica.
Tamb�m se disse a favor do impeachment de Bolsonaro, a pauta que acomodava as diferentes ideologias que foram protestar no domingo. Em seu ponto de vista, "isso pacificaria o Brasil".
O mineiro votou em Ciro Gomes no primeiro turno das elei��es de 2018 e diz que foi "obrigado" a votar em Fernando Haddad (PT) no segundo turno "porque era o menos pior".
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