A paulistana J�lia Sampaio, de 16 anos, sabe bem as mudan�as que deseja ver na pol�tica brasileira. "Mais poder de fala para as mulheres e mais empenho para reduzir as desigualdades sociais, por exemplo", disse ela, que, mesmo na faixa et�ria em que o voto � facultativo, j� agendou a emiss�o do t�tulo de eleitor para votar nas elei��es do ano que vem. "Considerando tudo o que passamos durante a pandemia, acho legal que os adolescentes exer�am esse direito", afirmou a estudante.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quer atrair mais jovens como J�lia. As estat�sticas divulgadas pelo �rg�o mostram que o n�mero de eleitores com idade entre 16 e 17 anos diminuiu de 2,3 milh�es, em 2016, para pouco mais de 1 milh�o na elei��o mais recente, realizada em novembro do ano passado.
O tribunal tem feito uma campanha para incentivar o voto jovem - "lembrando" que quem se encontra nesta faixa et�ria pode votar em 2022. Mesmo quem ainda tem 15 anos j� pode tirar o t�tulo de eleitor, desde que fa�a anivers�rio at� outubro do ano que vem.
Para a pesquisadora Larissa Dion�sio, coordenadora de um estudo sobre o ecossistema de inova��o pol�tica no Brasil, n�o � � toa que o comparecimento de adolescentes �s urnas tenha diminu�do. Em sua avalia��o, o Pa�s passa por uma crise que tem reduzido a confian�a nas institui��es, sobretudo entre os jovens. "Quem est� chegando agora desconfia do poder do voto, acha que n�o vai mudar nada", afirmou Larissa.
� o caso da estudante Sofia Astuti, que tamb�m tem 16 anos, mas segue o caminho oposto de J�lia. Sofia n�o sabe se vai votar em 2022, mas disse que, no momento, n�o se sente pronta para escolher um candidato. Segundo ela, a atual conjuntura do Pa�s dificulta ainda mais essa decis�o. "Parece que as pessoas n�o sabem mais conversar de forma sensata sobre quest�es pol�ticas", disse a jovem. "Isso me deixa irritada e acabo perdendo o interesse."
Espa�os de poder
Para casos como o de Sofia e outros adolescentes "desanimados" com a pol�tica, Larissa afirmou que uma forma de atra�-los � mostrar que a participa��o de jovens � um caminho para fomentar a pluralidade nos espa�os de poder, reduzir as polariza��es e fortalecer a democracia.
"Quanto mais adolescentes exercendo a cidadania por meio do voto, maior a chance de constru��o de uma agenda de desenvolvimento com mais diversidade na tomada de decis�es", observou a pesquisadora. "N�o ocupar � deixar o espa�o vazio para que outros personagens ingressem, os mesmos homens brancos e velhos", afirmou.
A miss�o do Instituto Update, organiza��o sem fins lucrativos da qual Larissa faz parte, � despertar a "urg�ncia do presente" no imagin�rio pol�tico da juventude. O instituto apoia lideran�as que promovem transforma��o pol�tica nas ruas, nas redes e nas institui��es, usando a democracia como princ�pio para reduzir as desigualdades sociais, raciais e econ�micas.
De acordo com a pesquisadora, as redes sociais mostram que os adolescentes brasileiros n�o s�o apol�ticos, mas, sim, bastante engajados. O que falta, segundo ela, � levar as causas que est�o em pauta na internet e nas redes sociais para onde as decis�es s�o tomadas. "� preciso trazer a pol�tica mais para perto desse grupo, estimular o di�logo saud�vel e a coletividade", afirmou Larissa.
Representatividade
Foi justamente a vontade de romper hegemonias na administra��o p�blica que levou o mineiro Daniel Cabral a buscar um espa�o no Legislativo de seu munic�pio. Formado em Ci�ncias Sociais pela Universidade Federal de Vi�osa (UFV), ele foi eleito vereador em 2020, aos 23 anos, e usa as redes para manter contato com seu eleitorado, em grande parte, jovens.
Assim como J�lia, Cabral mencionou a pandemia como um per�odo definidor para a participa��o pol�tica desse segmento. O vereador destacou a alta procura pela vacina contra a covid-19 por parte dos adolescentes, que, segundo ele, usaram a internet para cobrar lideran�as pelo avan�o da imuniza��o no Pa�s. Para ele, houve um "c�rculo virtuoso". "Quando tem gente jovem na pol�tica, outras pessoas dessa idade se sentem representadas e s�o estimuladas a votar, pois percebem mudan�as em suas vidas."
Sala de aula
Para chamar esse p�blico �s urnas, iniciativas pelo Brasil apostam no fomento da educa��o cidad�, que tenta despertar a consci�ncia pol�tica nos adolescentes. Uma delas, o projeto Politize! desenvolve material pedag�gico e oferece forma��o para professores tratarem de temas relacionados � democracia na sala de aula.
Segundo a coordenadora de comunica��o do projeto, Mariana Fernandes, o objetivo � apoiar o desenvolvimento de "lideran�a ativa" nos estudantes e ensinar sobre inova��o, pol�ticas p�blicas e mobilidade social. O material do programa, distribu�do gratuitamente nas escolas da rede estadual de S�o Paulo, fala, por exemplo, sobre a import�ncia da imprensa e do di�logo e informa sobre o acesso de cidad�os � Justi�a.
O Politize! tem acordo com os governos de S�o Paulo, Bahia, Sergipe, Amazonas e Roraima, mas professores de todos os Estados podem solicitar acesso ao material pedag�gico. "Queremos formar uma gera��o de cidad�os conscientes e comprometidos com a pol�tica", afirmou Mariana. "Acreditamos que assim vamos construir uma democracia realmente plena no Pa�s." As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.
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