
Depois de admitir o furo no teto dos gastos, contrariando afirma��o do presidente Jair Bolsonaro, para conseguir recursos e bancar o Renda Brasil, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anda na corda bamba, mas abrindo a chamada ''caixa de ferramenta'' contra, ao que parece, advers�rios de sua pol�tica econ�mica.
O desabafo do ministro aconteceu em reuni�o privada, contudo, com v�rios interlocutores, n�o s� da equipe ministerial, mas ainda da base governista no Congresso Nacional.
Reportagem da
Folha de S.Paulo
, nesta quarta-feira (27/10), publica conversa vazada dessa reuni�o, na qual Guedes vira sua metralhadora verbal contra o ministro da Ci�ncia e Tecnologia, Marcos Pontes, que recentemente sofreu um corte significativo no or�amento do minist�rio.
"Burro''
Al�m da cita��o nada elogiosa, Guedes generalizou, chamando os colegas do pr�prio governo de incompetentes, e disse que "�s vezes eu mesmo me pergunto o que estou fazendo aqui."
O desabafo ocorreu durante encontro com integrantes da comiss�o de Ci�ncia e Tecnologia da C�mara dos Deputados, que brigam para ter de volta R$ 600 milh�es de recursos retirados do minist�rio da �rea. No local estavam deputados da base e de oposi��o.
Conversa vazada
De acordo com o �udio vazado da reuni�o, Guedes citou diversas vezes Pontes, sem nomear o ministro, por�m chamando-o de astronauta.
Guedes criticou a reclama��o sobre o corte nos valores da pasta, dizendo que cerca de 50% da execu��o or�ament�ria at� agora n�o foi feita. O ministro reclamou das prioridades do minist�rio e afirmou que sempre defendeu o investimento em ci�ncia, mas que o dinheiro foi parar em 'foguetes'. Nesse momento, usou a palavra "burro" para classificar o gestor.
Elogio
O ministro da Economia usou Tarc�sio de Freitas (Infraestrutura) como exemplo da boa utiliza��o dos recursos p�blicos, afirmando que tudo que entra na pasta logo sai para investimentos na �rea.
Al�m das cr�ticas � Ci�ncia e Tecnologia, Guedes tamb�m citou outros dois ministros como exemplos que j� foram negativos de gest�o. Um deles foi Rog�rio Marinho (Desenvolvimento Regional).
Segundo a reportagem da
Folha de S.Paulo
, Jair Bolsonaro pediu no in�cio do ano que arrumasse R$ 1 bilh�o para a Infraestrutura. Depois de alguns estudos, Guedes declarou que decidiu que teria que tirar da pasta de Marinho.
Guedes atrelou a frustra��o do colega da Esplanada pelo corte a um problema de sa�de que ele teve em seguida. De acordo com essa hist�ria, o ministro do Rio Grande do Norte pediu para tirar f�rias logo ap�s perder os recursos e foi para a Bahia, onde teve um "piripaque" e teve que passar por uma cirurgia card�aca.
Marinho fez uma cirurgia no cora��o em julho.
Outro exemplo citado como negativo foi o de �nyx Lorenzoni (Trabalho).
Um parlamentar presente na reuni�o mencionou que Lorenzoni se preocupou em gastar dinheiro fazendo campinhos de futebol e campeonatos pelo pa�s. Guedes concordou imediatamente, dizendo que era exatamente essa a quest�o, falando que havia distribui��o de medalhas e de trof�u [nos supostos campeonatos organizados], em vez de pensar em outras prioridades.
Fritura
A
Folha de S.Paulo
traz tamb�m em sua reportagem que Guedes mencionou a tentativa recente de derrub�-lo do cargo (em meio � crise envolvendo o teto de gastos) e que a todo momento tentam culp�-lo pelos fracassos do governo. Nesse contexto, ele falou que "�s vezes eu mesmo me pergunto o que estou fazendo aqui."
O ministro da Economia deixou claro aos presentes, ainda, que n�o � pol�tico, nem nunca foi, e que quem decide para onde vai o dinheiro � a Casa Civil, comandada por Ciro Nogueira (PP-PI).
Ele afirmou que � de Nogueira a ordem de colocar ou tirar recursos das pastas.
Guedes tamb�m disse que pode conversar para devolver o dinheiro cortado do Minist�rio da Ci�ncia, mas especificou que n�o negociar� com o "astronauta", mas apenas com t�cnicos que entendam do assunto.
Vice-l�der do governo na C�mara, o deputado Evair de Melo (PP) disse �
Folha
que Guedes n�o estava irritado, mas agoniado, e que suas falas foram no sentido de incentivar os apoiadores da gest�o Bolsonaro.
"O ministro Paulo Guedes precisa ter execu��o or�ament�ria. A palavra n�o � irritado, mas agoniado. O ministro est� vendo que chegou novembro e n�s precisamos dar agilidade �s execu��es or�ament�rias. � atitude de quem � respons�vel. O Paulo Guedes vai ser cobrado no final de ano pelo todo. Ele est� fazendo o papel dele de botar pilha e cobrar dos ministros as execu��es financeiras."
Slides
O titular da Economia passou uma apresenta��o com slides mostrando que a Ci�ncia e Tecnologia s� empenhou at� o momento 59% do montante que tem.
"Existe or�amento, existe dinheiro, ent�o n�o � que est� irritado. Como capit�o do time, ele est� gritando para o time 'vamos l�, vamos l�'", completou Melo.
"A irrita��o dele � mais um discurso de autoestima, vamos l�, vamos virar 24h, vamos empenhar, vamos definir prioridades. � o capit�o motivando o time", falou o vice-l�der do governo na C�mara, em defesa de Guedes.
"O Paulo Guedes � isso mesmo: franco, objetivo, pragm�tico. Eu sa� da reuni�o, como vice-l�der do governo, motivado. Para quem nunca trabalhou, nunca foi de empresa privada, nunca teve que bater meta, mostrar resultado, acha que � irrita��o. Ele estava � pilhado para fazer as coisas"
Sobre Guedes ter chamado ministros de incompententes e o astronauta, de burro, afirmou que "isso � como time de futebol. N�o tem ningu�m ofendendo ningu�m, n�o. Quem te passou isso passou em um tom jocoso e de maldade. Isso � palavra no dia a dia de uma empresa. N�s viemos do setor privado. Se algu�m te passou isso, passou para achar coisa contra o governo. Em hip�tese alguma. Estamos falando do m�rito de um assunto. O Minist�rio de Ci�ncia e Tecnologia precisa, sim, melhorar a execu��o financeira e or�ament�ria. � palavra de motiva��o, n�o � nenhuma cr�tica pontual. N�o sei quem te passou, mas o tom do Paulo Guedes n�o foi esse, n�o. Foi tom de motiva��o, de 'vamos l�, tem que ter mais compet�ncia, tem que executar, o dinheiro � pouco, � escasso, ent�o o pouco que tem � pra executar'. Em momento algum tem tom pejorativo."
Questionado sobre o termo "burro" usado na reuni�o, o parlamentar afirmou que "isso � Paulo Guedes, rapaz."
"Quer vencer, quer ganhar, todo mundo grita com todo mundo. Se j� jogou futebol, basquete, voc� sabe. O capit�o grita com todo mundo. 'Vamos l�, perna de pau, t� amarrado das pernas, levanta a cabe�a'. N�o tem ningu�m ofendendo. � uma palavra de est�mulo, de g�s".
Evair de Melo ainda falou que o pr�prio Guedes se chamou de burro.
"Ele falou 'eu era um burro de pol�tica p�blica, de burocracia interna do �rg�o, era um incompetente. E a� fui estudar e ler'. Foi uma reuni�o informal para poder dizer da dificuldade que �, muito mais reclamando da lentid�o da m�quina p�blica, da burocracia. N�o foi nada pessoal. Se algu�m te passou em tom jocoso, foi com maldade para criar desaven�a."