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Estado de Minas CEN�RIO GRAVE

Bolsonaro no G20: Brasil tem pior perspectiva de crescimento em 2022 entre pa�ses do grupo

Infla��o, juros e d�lar em alta devem fazer o pa�s ter o pior desempenho entre as maiores economias do mundo no pr�ximo ano. Furo do teto de gastos e elei��es turbulentas agravam o cen�rio.


29/10/2021 06:21 - atualizado 29/10/2021 12:12


Jair Bolsonaro caminha em frente a bandeiras de países do G20 durante encontro do grupo em 2019
Infla��o, juros e d�lar em alta devem fazer Brasil ter pior desempenho entre as maiores economias do mundo no pr�ximo ano. Furo do teto de gastos e elei��es turbulentas agravam o cen�rio. (foto: AFP)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participa neste s�bado e domingo (30 e 31/10) da Reuni�o de C�pula do G20, grupo que re�ne os 19 pa�ses mais ricos do mundo e a Uni�o Europeia.

Na pauta, estar�o temas como a cria��o de um tributo global sobre empresas multinacionais, os pre�os do petr�leo, a crise energ�tica que afeta diversos pa�ses do mundo, e os gargalos log�sticos e de fornecimento de insumos, que tamb�m t�m prejudicado o desempenho da economia mundial.

O grupo se re�ne num momento em que o mundo enfrenta uma desacelera��o do crescimento, diante do avan�o das press�es inflacion�rias, e da perda de ritmo da economia chinesa, em meio � crise do setor imobili�rio e energ�tica enfrentada pela superpot�ncia asi�tica.

Mesmo nesse cen�rio desfavor�vel generalizado, o Brasil se destaca negativamente.

O pa�s deve registrar o menor crescimento em 2022 entre os membros do G20, segundo estimativas do FMI (Fundo Monet�rio Internacional) divulgadas neste m�s.

Pelas proje��es do �rg�o multilateral, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deve crescer 5,2% este ano, mas apenas 1,5% no ano que vem. O crescimento projetado para 2022 � menor do que o esperado para outros emergentes, como R�ssia (2,9%), Argentina (2,5%) e �frica do Sul (2,2%).

- Leia:  Os 3 telhados de vidro de Bolsonaro no G20: economia, meio ambiente e pandemia


Projeções do FMI para PIB dos membros do G20 em 2022
(foto: BBC)

Nas estimativas da OCDE (Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico), divulgadas ao fim de setembro, o quadro n�o � muito diferente.

O "clube dos pa�ses ricos" espera que o PIB do G20 deve desacelerar de um crescimento de 6,1% em 2021, para 4,8% em 2022. Para o Brasil, a previs�o � de uma perda de ritmo bem mais acentuada: de alta de 5,2% este ano, para 2,3% no ano que vem. Segundo a OCDE, o pa�s s� ficaria � frente do Jap�o (2,1%) e da Argentina (1,9%) em termos do crescimento esperado para 2022.

Se o cen�rio j� n�o parece muito bom na compara��o internacional olhando esses dados, a tend�ncia � a coisa piorar.

Isso porque as proje��es das entidades multilaterais como FMI e OCDE s�o atualizadas com menos frequ�ncia do que aquelas feitas pelos economistas de mercado, que trabalham em bancos, gestoras de recursos e consultorias, acompanhando a economia brasileira no seu dia a dia.

Alguns desses economistas passaram a prever nesta semana que o PIB brasileiro pode entrar em recess�o ou ficar estagnado em 2022, diante do desarranjo das contas p�blicas provocado pela quebra do teto de gastos — regra que limita o crescimento da despesa do governo � infla��o.

� o caso do Ita�, que revisou na segunda-feira (25/10) sua proje��o para o PIB do pa�s em 2022 para queda de 0,5%. O banco J.P. Morgan e a consultoria MB Associados cortaram suas estimativas de 0,9% e 0,4%, respectivamente, para 0%.

E mesmo quem ainda espera algum crescimento para o Brasil em 2022, est� baixando a bola de suas expectativas, caso da XP Investimentos, que cortou sua estimativa para o PIB do pr�ximo ano de 1,3% para 0,8%. O Credit Suisse reduziu de 1,1% para 0,6%. E a ASA Investments, de 1,5% para 0,4%.


Estimativas para PIB do Brasil em 2022, em %
(foto: BBC)

Assim, mesmo o microcosmo do G20 parece desmentir a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, na �ltima sexta-feira (22/10): "O Brasil � um pa�s bem visto l� fora. As pessoas veem o que a gente est� fazendo aqui. O Brasil vai crescer bem mais no ano que vem", disse Guedes, durante coletiva ao lado de Bolsonaro, em que ambos confirmaram o furo do teto de gastos.

 

Entenda por que a economia do mundo todo deve desacelerar em 2022 e como o Brasil deve ter desempenho ainda pior do que os outros pa�ses.

Por que a economia mundial vai crescer menos em 2022

"O crescimento global deve ser menor e a infla��o maior devido � desacelera��o na China e ao aumento dos pre�os de energia em todo o mundo", resumiu o Ita�, em relat�rio recente.

A economista Margarida Gutierrez, professora do Coppead/UFRJ (Instituto de P�s-Gradua��o e Pesquisa em Administra��o da Universidade Federal do Rio de Janeiro), explica que o aumento da infla��o em todo o mundo deve levar os bancos centrais de diversos pa�ses a encerrar o ciclo de est�mulos em resposta � pandemia e normalizar suas pol�ticas monet�rias.

A mudan�a de dire��o na a��o dos bancos centrais deve funcionar como um freio para a atividade econ�mica em todo o mundo.

"Com a infla��o batendo na porta dos Estados Unidos e da Zona do Euro — economias que estavam com taxas de juros zero ou pr�ximas de zero —, vai come�ar a ter uma normaliza��o das pol�ticas monet�rias, ent�o os juros v�o come�ar a subir", diz Gutierrez.

"O caso da economia americana � emblem�tico: pelo quinto m�s consecutivo, os Estados Unidos t�m apresentado uma infla��o de 5,4% em 12 meses, o que sinaliza que n�o � uma infla��o transit�ria, como inicialmente se supunha", acrescenta a economista.

"Nesse cen�rio, o FED [Federal Reserve System, o sistema de bancos centrais dos Estados Unidos] e o Banco Central Europeu j� sinalizaram que v�o reduzir seus programas de compras de ativos e, depois disso, v�o come�ar a subir as taxas de juros, praticando o que chamamos de normaliza��o monet�ria. Essa subida de juros j� � um freio � atividade econ�mica por si s�."

A infla��o global tem sido puxada pela alta de pre�os das commodities, em meio ao aumento da demanda global com a reabertura das economias ap�s o isolamento social provocado pelo coronav�rus; e pela desorganiza��o das cadeias produtivas, que tem provocado falta de insumos para a ind�stria — como o setor de autom�veis, que tem sofrido com a escassez de semicondutores.

J� na China, s�o dois os problemas principais: uma crise no setor imobili�rio, puxada pelo alto endividamento da incorporadora Evergrande; e uma crise energ�tica, provocada pela disparada de pre�os e escassez de carv�o, num momento em que o pa�s asi�tico tamb�m tenta reduzir suas emiss�es de carbono, visando atingir metas ambientais estabelecidas para 2030 e 2060.

"Na China, desde a crise de 2008, eles promoveram um padr�o de crescimento muito baseado no endividamento", explica Gutierrez. "Essas construtoras que agora est�o em crise s�o um exemplo disso, est�o inadimplentes, ap�s serem estimuladas pelos empr�stimos de bancos p�blicos e por uma pol�tica de governo de incentivo ao endividamento."

"Soma-se a isso a escassez de carv�o que est� paralisando parte do setor produtivo. Ent�o a China tem um problema grave a� que � o seu modelo de crescimento", diz a professora.

O FMI prev� que a China desacelere de um crescimento de 8% este ano, para 5,6% em 2022. J� a OCDE, projeta um avan�o de 8,5% do PIB da China em 2021 e de 5,8% no pr�ximo ano.

Com a China representa sozinha cerca de 18% do PIB mundial e � uma grande compradora internacional de commodities produzidas por outros pa�ses, uma desacelera��o dessa magnitude tende a afetar a economia do mundo todo.

Como o Brasil vai ter desempenho ainda pior que o resto do mundo

"N�o tem nenhum motor de crescimento no Brasil", diz Claudio Considera, coordenador do N�cleo de Contas Nacionais do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas).

"O desemprego est� enorme, a infla��o est� fazendo com que as fam�lias percam renda, isso diminui o consumo", enumera. "O investimento tamb�m n�o tem nenhum est�mulo, porque ningu�m acredita que o Brasil vai crescer. Ent�o a economia n�o tem qualquer impulso de crescimento."


Cartazes de protesto contra a inflação na Avenida Paulista, em São Paulo
'N�o tem nenhum motor de crescimento no Brasil. O desemprego est� enorme, a infla��o est� fazendo com que as fam�lias percam renda', diz Claudio Considera, do Ibre-FGV (foto: Roberto Parizotti )

Esse cen�rio tende a ser agravado pela alta de juros que est� sendo feita pelo Banco Central, na tentativa de conter a infla��o.

Nesta quarta-feira (27/10), o Copom (Comit� de Pol�tica Monet�ria) elevou a Selic de 6,25% para 7,75% ao ano, alta de 1,5 ponto percentual.

O comit� indicou ainda que deve fazer outro aumento de igual magnitude na sua pr�xima reuni�o, marcada para dezembro, o que deve levar a taxa para 9,25%. Parte dos economistas aposta que o ciclo de aperto monet�rio n�o deve parar por a�, com a taxa b�sica de juros indo a dois d�gitos no come�o do pr�ximo ano.

"Com isso, as fam�lias que gostariam de tomar cr�dito para consumo n�o v�o mais fazer isso. E essa alta de juros vai espantar os investimentos tamb�m, porque ningu�m vai investir tendo que pagar juros elevados, � melhor colocar o dinheiro na compra de t�tulos da d�vida e ganhar 10% a 12% de retorno sem os riscos do investimento produtivo", diz Considera.

Mas se o mundo inteiro est� sofrendo com infla��o, por que a alta de pre�os no Brasil � t�o mais significativa do que nos demais pa�ses, exigindo essa dose cavalar de juros em resposta?

"No Brasil, al�m de sofrer tudo que o mundo est� sofrendo, n�s temos uma taxa de c�mbio super pressionada por causa das nossas incertezas, da nossa percep��o de risco, que est� subindo muito", explica Margarida Gutierrez, da Coppead/UFRJ.

"A nossa taxa de c�mbio est� absolutamente descolada do resto do mundo, e o c�mbio mais desvalorizado gera press�es inflacion�rias, isso contamina as expectativas de infla��o e, por isso, nossa infla��o � t�o maior do que a de outros pa�ses".

O d�lar fechou 2020 cotado a R$ 5,19 e nesta semana j� supera os R$ 5,60, tendo encostado nos R$ 5,70 na semana passada, quando foi confirmada a quebra do teto de gastos. Acompanhando esse movimento, as expectativas para a infla��o em 2021 come�aram o ano em 3,3% e est�o atualmente pr�ximas dos 9%, segundo o boletim Focus do Banco Central.

Na pr�via da infla��o de outubro, medida pelo IPCA-15, a taxa acumulada em 12 meses chegou a 10,34%.

O c�mbio desvalorizado afeta, por exemplo, os custos industrias, j� que boa parte dos insumos da nossa ind�stria s�o importados. Impacta tamb�m os pre�os dos combust�veis, j� que o petr�leo � cotado internacionalmente em d�lares. E estimula as exporta��es, reduzindo a oferta de alimentos no mercado interno, o que tamb�m contribui para a alta de pre�os.


Jair Bolsonaro e Paulo Guedes
Jair Bolsonaro e Paulo Guedes durante coletiva em que confirmaram a quebra do teto de gastos em 2022 (foto: Getty Images)

E por que a quebra do teto de gastos piorou ainda mais esse cen�rio j� desfavor�vel?

Porque, sem o teto como refer�ncia para os gastos do governo, os investidores deixam de ter clareza sobre a trajet�ria da d�vida p�blica. Com isso, a percep��o de risco de insolv�ncia do Brasil aumenta e investidores estrangeiros tiram divisas do pa�s, desvalorizando o c�mbio e alimentando as expectativas de infla��o, o que leva o Banco Central a ter que subir mais os juros para control�-la.

Por fim, a cereja nesse bolo desandado do Brasil � que 2022 � ano de elei��es no pa�s.

"Ser�o elei��es altamente incertas e polarizadas, com dois presidenci�veis a favor do aumento do gasto p�blico, o que pode agravar a situa��o fiscal. Isso est� minando a confian�a dos agente para o ano que vem", diz Gutierrez.

Assim, podemos esperar novas revis�es para baixo nas proje��es de crescimento para o Brasil feitas pelo FMI e pela OCDE, mesmo com o Brasil j� estando atualmente na rabeira das expectativas do G20.

"Certamente ser�o revisadas. Eles devem esperar os resultados da economia no terceiro trimestre, mas devem trazer esses n�meros para baixo, com certeza", acredita Considera, da FGV. "Estamos entrando numa situa��o que eu n�o imaginava jamais que n�s voltar�amos", lamenta o economista.

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