
Os tr�s conversaram informalmente neste domingo (31/10), com a ajuda de um tradutor, em Roma, It�lia, onde Jair Bolsonaro participa de encontro do G20. Durante a intera��o, o presidente cobrou uma posi��o do ministro sobre crian�as ao menos tr�s vezes.
"Queiroga, palavras dele: A OMS n�o recomenda a vacina para crian�as. Temos que ter uma nota nesse sentido, dizendo que a OMS n�o recomenda", disse. "Essa quest�o da vacina��o de crian�a, tem que ter uma nota sua, baseada na OMS", insistiu. "N�o pode deixar governador � vontade. Voc� tem que escrever isso, Queiroga".
O v�deo da reuni�o foi divulgado nos perfis oficiais de Jair Bolsonaro. No entanto, a grava��o foi editada de modo que n�o contemplou a resposta completa de Tedros Adhanom sobre a posi��o da OMS em rela��o � imuniza��o de crian�as.
O Planalto exibiu apenas a parte em que o diretor fala que estudos ainda est�o em andamento. Contudo, a OMS j� se manifestou a respeito de vacinar esse grupo. Em maio, pediu para que pa�ses desenvolvidos suspendessem a aplica��o em crian�as porque na��es subdesenvolvidas ainda n�o haviam conseguido vacinar grupos de risco e profissionais de sa�de. O diretor da OMS, � �poca, alegou que estavam avan�ando "�s custas dos trabalhadores da sa�de e grupos de alto risco em outros pa�ses".
Al�m disso, a OMS reconhece oficialmente os estudos da Pfizer que apontaram seguran�a e efic�cia do imunizante para jovens com mais de 12 anos, como j� usado no Brasil. Na sexta (29/10), a Food and Drug Administration (FDA), �rg�o dos Estados Unidos semelhante � Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), autorizou a aplica��o do imunizante em crian�as com idades entre 5 e 11 anos. A Pfizer vai fazer o pedido para uso no mesmo p�blico � Anvisa, em novembro. Diretores da ag�ncia receberam amea�as de morte para se posicionarem contra. Todas as vacinas usadas no Brasil, para qualquer p�blico, dependem de aval da Anvisa.
Queiroga assentiu ao ser cobrado por Bolsonaro e disse que manteve conversas com lideran�as do Reino Unido sobre como proteger crian�as, considerando que elas "n�o t�m condi��o de decidir". "Conversamos sobre esse tema, da vacina��o em crian�as, no sentido de se querer obrigar pais e m�es a vacinar crian�as de toda forma. Porque a crian�a, ela n�o tem condi��o de decidir", disse Queiroga, antes de ser interrompido por Bolsonaro.
O respaldo da OMS que Bolsonaro buscou ao dar a ordem a Queiroga contrasta com a rela��o que o chefe do Executivo teve com a entidade durante a maior parte da pandemia. O presidente desdenhou de orienta��es gerais da organiza��o sobre, por exemplo, distanciamento social e uso de m�scaras. Ele insistiu com rem�dios ineficazes mesmo ap�s a organiza��o tamb�m concluir que eles n�o funcionam.
Em transmiss�es ao vivo, Bolsonaro chegou a desdenhar das orienta��es de Tedros. "Estou respondendo processos dentro e fora do Brasil, sendo acusado de genoc�dio, por ter defendido uma tese diferente da OMS. Pessoal fala tanto em seguir a OMS. O diretor presidente da OMS � m�dico? N�o � m�dico! Sabia disso?", disse, em abril de 2020.
Em outra parte da conversa em Roma, Tedros precisou explicar o "b�-a-b�" do funcionamento das vacinas a Bolsonaro para contrapor coloca��es equivocadas. O presidente disse a ele que, "no Brasil, muitos que tomaram a segunda dose est�o contraindo o v�rus", informa��o amplamente difundida por grupos que tentam negar a efici�ncia do imunizante.
"A vacina n�o previne a infec��o, mas previne uma doen�a grave, previne o �bito, a morte. E � esse o prop�sito", explicou Tedros. Bolsonaro insistiu com outra vers�o falsa, a de que "muitas pessoas" est�o morrendo mesmo com a segunda dose. Mais uma vez, o diretor-geral da OMS esclareceu: "Sem a vacina��o, a gravidade da doen�a � de alt�ssima probabilidade. Com a vacina��o, � menos grave. Mas, como voc� falou, ainda pode haver alguns (�bitos), sim, sobretudo daqueles que t�m alguma comorbidade ou algumas outras condi��es".
Ao final da conversa, Queiroga disse a Tedros que todas as vacinas do Brasil foram compradas por Bolsonaro. O presidente usou a deixa para reclamar que, mesmo assim, � investigado por sua conduta no combate � doen�a e acusado de genoc�dio. O ministro da Sa�de riu ao lembrar que vem sofrendo as mesmas acusa��es e riu ao falar do processo que responder� no Tribunal Penal Internacional, em Haia. A CPI da COVID vai denunciar membros do governo � Corte. "Eu tamb�m (sou acusado). Eu vou com ele para Haia, vou passear l� em Haia", disse, rindo.