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Estado de Minas 'OS INT�C�VEIS'

Em livro autobiogr�fico, Moro se enxerga como um 'Intoc�vel'

O ex-magistrado avaliou como um erro ter aceitado o convite para assumir o Minist�rio da Justi�a e Seguran�a P�blica


04/12/2021 17:00 - atualizado 04/12/2021 18:27

Ex-ministro da Segurança e Justiça, Sergio Moro
Sergio Moro se transporta para o filme "Os Intoc�veis", de Brian de Palma, e se define como 'intoc�vel' (foto: Eduardo MATYSIAK / AFP)
Se fosse poss�vel contar a hist�ria de S�rgio Moro por meio de uma �nica cena de seu livro Contra o Sistema da Corrup��o (Editora Sextante, 269 p�g.), a escolha recairia na que o ex-magistrado se transporta para o filme "Os Intoc�veis", de Brian de Palma. Ele se v� na pele de Eliot Ness, interpretado por Kevin Costner, quando o agente usa um machado para arrombar um dep�sito de bebidas ilegais de Al Capone. Seu parceiro, interpretado por Sean Connery, diz: "Se atravessar essa porta, n�o ter� como voltar atr�s".


Moro se v� como uma esp�cie de intoc�vel, algu�m que arromba portas em nome de um bem maior: o combate � corrup��o. Seu "dep�sito" foi a audi�ncia em outubro de 2014, na qual interrogou o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. "A audi�ncia foi devastadora. A Lava Jato revelava em todos os seus detalhes o sistema de corrup��o que governava o Brasil." Ao fim, disse aos funcion�rios: "Nada ser� como antes".

Moro � assim: se v� na pele de Ness, enquanto os cr�ticos enxergam nele um Sim�o Bacamarte ou um Girolamo Savonarola, personagens da fic��o e da vida real que tiveram fins n�o muito auspiciosos. Em seu livro, defende sua atua��o como juiz e como ministro da Justi�a das cr�ticas de parcialidade e de coniv�ncia com o governo de Jair Bolsonaro, o principal advers�rio de seu mais famoso r�u: Luiz In�cio Lula da Silva.

Tamb�m ataca o petista e o presidente, seus concorrentes em 2022. "Vejo atualmente o governo Bolsonaro muito parecido com o governo Lula, especialmente na parte �tica." Ele critica o Supremo Tribunal Federal, que o considerou parcial ao julgar Lula. Por fim, quer mostrar que n�o � uma variante de Bolsonaro e se diz comprometido com a democracia.

O livro n�o se confunde com as autobiografias de personalidades ou influencers. � obra que busca influir no debate p�blico, como Minha Vida, de Leon Trotsky, ainda que, est�tica e politicamente, esteja distante do revolucion�rio russo. Trotsky n�o escondia de que lado da hist�ria estava. Moro quer fazer o leitor crer que n�o fazia considera��es pol�ticas ao tomar suas decis�es.


Premissa

 

Mas o pr�prio autor diz: "Este livro � a minha hist�ria focada no combate ao sistema da corrup��o. Um grupo de policiais, procuradores da Rep�blica, advogados e ju�zes, com grande apoio da popula��o e da opini�o p�blica, conseguiu vit�rias importantes contra a grande corrup��o". Moro parte da premissa de que o juiz � parte de um grupo com procuradores e delegados. Foi esse voluntarismo que fez o STF consider�-lo parcial com Lula.


Moro aborda todas as pol�micas. Conta como manobrou para Teori Zavascki - que morreu em 2017 - voltar atr�s na decis�o de soltar os r�us da Lava Jato em 2014. Diz que pediu informa��es a Teori e o alertou da presen�a de um traficante de drogas entre os presos. Os cr�ticos diriam que ficou a um passo de atuar como o Minist�rio P�blico, a quem cabe recorrer de decis�es favor�veis � defesa.

O autor � superficial ao tratar das provas contra Lula. Pode-se dizer que o fez nos autos, mas agora � pr�-candidato e devia demonstr�-las. Moro n�o conta qual ind�cio espec�fico fez a Pol�cia Federal ir atr�s de Lula. Alega que suas decis�es foram referendadas por tribunais. Mas n�o reconhece as decis�es do STF - tamb�m um tribunal - como crit�rio para julgar seus atos. Diz que publicar a dela��o de Antonio Palocci antes da elei��o de 2018 n�o prejudicou Fernando Haddad (PT) porque ele n�o era citado. Cabe ao leitor julgar o argumento.

Ministro

J� Bolsonaro � pintado como desleal, mentiroso, extremista e preocupado apenas em proteger a fam�lia das acusa��es de corrup��o. No Planalto importava mais se vingar de advers�rios do que pensar em administrar de forma eficiente. Moro admite que se calou diversas vezes diante do chefe.

Diz hoje saber ter sido um erro aceitar o convite de Bolsonaro. Mas usa a Opera��o M�os Limpas, da It�lia, para justificar por que entrou no governo. Queria evitar que a Lava Jato fosse destru�da, como as M�os Limpas. Moro esqueceu outra li��o dos magistrados italianos: n�o entrar na pol�tica sem quarentena. Dois procuradores foram convidados pelo direitista Silvio Berlusconi para serem ministros. Ambos recusaram.

Moro pensa diferente. Cr� que a Lava Jato mudou o jogo da captura do Estado pelos interesses privados. Tudo parece come�ar e terminar no ex-juiz. Mas, se os homens fazem a sua hist�ria, n�o a fazem segundo a sua livre vontade e sob circunst�ncias de sua escolha, mas sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas pelo passado. Essa li��o cl�ssica das ci�ncias sociais passou longe do autor. Sua an�lise � a de um operador do direito, n�o a de um int�rprete de seu tempo.

Moro p�e a corrup��o dos grandes acima de tudo, como se os males do Pa�s pudessem ser explicados pela descoberta de um sistema corrupto. N�o que ele n�o tenha enfrentado obst�culo reais - o balan�o da Lava Jato mostra isso -, mas � como se dissesse: "Pouca sa�de e muita sa�va os males do Brasil s�o". Sua hist�ria ainda n�o acabou. Seu eleitor espera que o homem que se v� como Eliot Ness n�o termine no papel de Macuna�ma, revelando o descompasso entre quem ele � e quem gostaria de ser. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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