
Moro � assim: se v� na pele de Ness, enquanto os cr�ticos enxergam nele um Sim�o Bacamarte ou um Girolamo Savonarola, personagens da fic��o e da vida real que tiveram fins n�o muito auspiciosos. Em seu livro, defende sua atua��o como juiz e como ministro da Justi�a das cr�ticas de parcialidade e de coniv�ncia com o governo de Jair Bolsonaro, o principal advers�rio de seu mais famoso r�u: Luiz In�cio Lula da Silva.
Tamb�m ataca o petista e o presidente, seus concorrentes em 2022. "Vejo atualmente o governo Bolsonaro muito parecido com o governo Lula, especialmente na parte �tica." Ele critica o Supremo Tribunal Federal, que o considerou parcial ao julgar Lula. Por fim, quer mostrar que n�o � uma variante de Bolsonaro e se diz comprometido com a democracia.
O livro n�o se confunde com as autobiografias de personalidades ou influencers. � obra que busca influir no debate p�blico, como Minha Vida, de Leon Trotsky, ainda que, est�tica e politicamente, esteja distante do revolucion�rio russo. Trotsky n�o escondia de que lado da hist�ria estava. Moro quer fazer o leitor crer que n�o fazia considera��es pol�ticas ao tomar suas decis�es.
Premissa
Mas o pr�prio autor diz: "Este livro � a minha hist�ria focada no combate ao sistema da corrup��o. Um grupo de policiais, procuradores da Rep�blica, advogados e ju�zes, com grande apoio da popula��o e da opini�o p�blica, conseguiu vit�rias importantes contra a grande corrup��o". Moro parte da premissa de que o juiz � parte de um grupo com procuradores e delegados. Foi esse voluntarismo que fez o STF consider�-lo parcial com Lula.
Moro aborda todas as pol�micas. Conta como manobrou para Teori Zavascki - que morreu em 2017 - voltar atr�s na decis�o de soltar os r�us da Lava Jato em 2014. Diz que pediu informa��es a Teori e o alertou da presen�a de um traficante de drogas entre os presos. Os cr�ticos diriam que ficou a um passo de atuar como o Minist�rio P�blico, a quem cabe recorrer de decis�es favor�veis � defesa.
O autor � superficial ao tratar das provas contra Lula. Pode-se dizer que o fez nos autos, mas agora � pr�-candidato e devia demonstr�-las. Moro n�o conta qual ind�cio espec�fico fez a Pol�cia Federal ir atr�s de Lula. Alega que suas decis�es foram referendadas por tribunais. Mas n�o reconhece as decis�es do STF - tamb�m um tribunal - como crit�rio para julgar seus atos. Diz que publicar a dela��o de Antonio Palocci antes da elei��o de 2018 n�o prejudicou Fernando Haddad (PT) porque ele n�o era citado. Cabe ao leitor julgar o argumento.
Ministro
J� Bolsonaro � pintado como desleal, mentiroso, extremista e preocupado apenas em proteger a fam�lia das acusa��es de corrup��o. No Planalto importava mais se vingar de advers�rios do que pensar em administrar de forma eficiente. Moro admite que se calou diversas vezes diante do chefe.
Diz hoje saber ter sido um erro aceitar o convite de Bolsonaro. Mas usa a Opera��o M�os Limpas, da It�lia, para justificar por que entrou no governo. Queria evitar que a Lava Jato fosse destru�da, como as M�os Limpas. Moro esqueceu outra li��o dos magistrados italianos: n�o entrar na pol�tica sem quarentena. Dois procuradores foram convidados pelo direitista Silvio Berlusconi para serem ministros. Ambos recusaram.
Moro pensa diferente. Cr� que a Lava Jato mudou o jogo da captura do Estado pelos interesses privados. Tudo parece come�ar e terminar no ex-juiz. Mas, se os homens fazem a sua hist�ria, n�o a fazem segundo a sua livre vontade e sob circunst�ncias de sua escolha, mas sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas pelo passado. Essa li��o cl�ssica das ci�ncias sociais passou longe do autor. Sua an�lise � a de um operador do direito, n�o a de um int�rprete de seu tempo.
Moro p�e a corrup��o dos grandes acima de tudo, como se os males do Pa�s pudessem ser explicados pela descoberta de um sistema corrupto. N�o que ele n�o tenha enfrentado obst�culo reais - o balan�o da Lava Jato mostra isso -, mas � como se dissesse: "Pouca sa�de e muita sa�va os males do Brasil s�o". Sua hist�ria ainda n�o acabou. Seu eleitor espera que o homem que se v� como Eliot Ness n�o termine no papel de Macuna�ma, revelando o descompasso entre quem ele � e quem gostaria de ser. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.