
O cientista pol�tico Felipe d’�vila, pr�-candidato do Novo � Presid�ncia da Rep�blica, garante que o partido prepara “propostas ousadas” para apresentar ao pa�s. Nesta semana, ele vem a Minas Gerais cumprir uma s�rie de agendas — na lista, h� encontro com o governador Romeu Zema, colega de sigla. A ideia, segundo d’�vila, � colher sugest�es dos mineiros para dar forma ao pacote que a legenda quer defender em 2022. “Est� em jogo a democracia e, por isso, precisamos de propostas muito ousadas, para n�o deixar o pa�s continuar nas garras do populismo de esquerda e de direita, que nos levaram a uma situa��o tr�gica”, diz ele, ao Estado de Minas, pregando abertura econ�mica e privatiza��o de empresas.
O desembarque dele no estado ocorre pouco tempo ap�s Zema se encontrar com Sergio Moro (Podemos), outro presidenci�vel que tenta se opor a Luiz In�cio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Apesar disso, mant�m a cren�a em apoio do governador � eventual candidatura do Novo. Ele pleiteia o que chama de “mudan�a radical” em prol de reformas estruturais. “H� candidatos que falam ‘sou liberal, mas vou manter a Zona Franca de Manaus’, como o Jo�o Doria (PSDB), ou ‘sou liberal, mas n�o vou mexer na Petrobras’. Desculpa, mas n�o � o que o Brasil precisa”, afirma. Aos 58 anos, d’�vila � fundador do Centro de Lideran�a P�blica (CLP). Ele estudou nos Estados Unidos e na Europa. Atuou, ainda, como editorialista e comentarista pol�tico.
O que o senhor pretende conversar com Romeu Zema e a dire��o do Novo em Minas Gerais?
� um pouco da nossa estrat�gia para a campanha presidencial, de ouvir o brasileiro. Criamos um movimento, que lan�aremos em breve, para escutar as pessoas. � muito importante, neste momento de descren�a em rela��o � pol�tica e de desesperan�a, se reconectar �s pessoas. A melhor forma de se reconectar � ouvi-las. Vai ser uma estrat�gia bem diferenciada do Novo em rela��o aos demais partidos. Geralmente, o pol�tico tradicional chega a um lugar e come�a a falar o que tem que fazer. Nossa ideia � chegar e conversar, entender um pouco dos valores, das aspira��es e dos medos das pessoas, para que isso d� bons subs�dios para moldar propostas e, evidentemente, a narrativa. A segunda parte � a discuss�o de propostas. O Novo vai colocar propostas bem ousadas, pois a situa��o do Brasil � muito grave. Essa elei��o n�o � s� de altern�ncia de poder entre partidos. Est� em jogo a democracia e, por isso, precisamos de propostas muito ousadas, para n�o deixar o pa�s continuar nas garras do populismo de esquerda e de direita, que nos levaram a uma situa��o tr�gica, de 10 anos de recess�o, mais de 15 milh�es de desempregados, mais de 20 milh�es de volta � mis�ria e queda recorde de investimentos. Isso mostra desconfian�a em rela��o ao pa�s e inseguran�a pol�tica e econ�mica. Vamos ter de apresentar uma agenda bem robusta, de abertura econ�mica, privatiza��o de todas as estatais, inser��o na economia global e aumento de competitividade para gerar renda e emprego, objetivo final. O problema n�mero um � como fazer a economia voltar a crescer para gerar renda e emprego. A ideia � ir criando um discurso un�ssono entre n�s (do Novo) para podermos reagir quando perguntados sobre o nosso plano.
O senhor falou em combater o ‘populismo de direita e esquerda’. Outros candidatos que tentam se opor a Lula e Bolsonaro adotam discurso parecido. Nesse ponto, o que o discurso do senhor tem de diferente em rela��o ao tom das outras terceiras vias?
O Brasil vem sendo desigual, injusto, com a democracia n�o funcionando plenamente e esgar�ando a credibilidade das institui��es, primeiro, por esse populismo de direita e esquerda. Segundo, pelo que chamo de ‘PCC’: patrimonialismo, corporativismo e clientelismo. Essas tr�s letras ditam a pol�tica no Brasil, em geral. Governantes, funcion�rios p�blicos e deputados que conseguem romper com o PCC que produzem pol�ticas inovadoras. O patrimonialismo � a corrup��o, instalada porque as institui��es n�o funcionam. Assim, criam-se art�rias paralelas, fomentadas pela corrup��o, para tentar fazer as coisas agilizarem no governo. A corrup��o � indutora da pobreza, porque faz com que as institui��es n�o funcionem e cria feudos de privil�gio. O corporativismo � o inimigo n�mero 1 das reformas estruturantes, da abertura econ�mica, da cria��o da igualdade de oportunidades e da mobilidade social, pois defende a exist�ncia dos feudos. A vida inteira, temos oligarcas ditando as regras dos privil�gios. O clientelismo tem como exemplo mais concreto a PEC dos Precat�rios e as emendas de relator; � usar dinheiro p�blico para beneficiar currais eleitorais em troca de votos. As tr�s coisas v�m destruindo o Brasil, a democracia, a economia e a malha social. Precisamos de uma candidatura que trate com ousadia esses desafios e tenha disposi��o de lutar para se implementar reformas estruturais. H� candidatos que falam ‘sou liberal, mas vou manter a Zona Franca de Manaus’, como o Jo�o Doria, ou ‘sou liberal, mas n�o vou mexer na Petrobras’. Desculpa, mas n�o � o que o Brasil precisa. O Brasil precisa de uma mudan�a radical para quebrar pr�ticas arraigadas e progredir. Sou um candidato disposto a enfrentar esses desafios.
Ent�o o senhor considera que as outras terceiras vias n�o t�m a disposi��o para enfrentar o que chama de mudan�a radical?
N�o seria t�o perempt�rio. Precisamos ver as propostas, mas estou dizendo pelo discurso. Precisamos julgar as propostas, e n�o as falas. O brasileiro est� cansado de gente que fala; quer saber de gente que faz. As propostas ainda n�o foram apresentadas, mas estou dizendo pelas frases soltas, que lemos na imprensa. N�o d� para ter liberalismo ou abertura econ�mica ‘meia-boca’. N�o d� para ter atitude ‘meia-boca’ em rela��o �s estatais, ‘vendo essa, mas n�o vendo aquela’. Precisamos ter um posicionamento claro sobre essas quest�es, vitais para fazer a economia voltar a crescer, gerar renda e emprego.
O senhor disse, em outras ocasi�es, que a terceira via s� teria chances se houvesse unifica��o. J� h� conversas nesse sentido?
Estamos conversando, mas ainda n�o h� conversa efetiva sobre uni�o da terceira via. Primeiro, temos que discutir propostas. A uni�o tem que ser sobre propostas. Se outros candidatos da terceira via apresentarem propostas muito amenas, n�o vamos conseguir unir. Entre uma proposta amena e as que est�o na mesa, vai ser dif�cil unir. Ao ter propostas mais ousadas, algumas pessoas da terceira via n�o v�o querer apoiar o plano. Vai ter um ajuste fino, � frente, na negocia��o pol�tica, mas tem que ser em torno de propostas. Em 2018, o eleitor foi induzido ao erro ao acreditar em propostas ousadas de Paulo Guedes, mas que o presidente n�o tinha comprado. E n�o saem do papel. N�o adianta falar que o presidente tem “Postos Ipiranga”. Isso n�o cola. O eleitor quer saber o que o presidente acha, sua coragem e determina��o para implantar medidas.
Sergio Moro veio a Belo Horizonte e falou com o governador Romeu Zema. Interlocutores sa�ram do encontro otimistas por enxergarem semelhan�as entre ambos. O senhor teme um cen�rio em que Zema apoia Moro em detrimento da candidatura do Novo?
N�o temo. Inclusive, conversei com o governador Zema, que sempre reiterou seu esp�rito partid�rio, que vai apoiar minha candidatura. Eu mesmo converso muito com o Moro, uma das pessoas da terceira via com quem falo. N�o � porque a gente conversa que isso vai virar apoio pol�tico. Precisamos entender as propostas. Nesse sentido, Zema est� absolutamente alinhado comigo. N�o d� para criar alian�a pol�tica em torno de pessoas e aspira��es. Os projetos t�m que ser criados em torno de propostas concretas, e (sobre) como vamos execut�-las. A situa��o do Brasil � grav�ssima. N�o podemos errar a m�o desta vez. Se errarmos, vamos colocar em risco a pr�pria democracia.
O senhor falou em apresentar um plano para que os brasileiros detalhem seus anseios. Como isso ser� feito? O encontro com Zema � o primeiro passo, ent�o, para ouvir os mineiros?
Para resolver problemas estruturantes, precisamos dar mais poder a estados e munic�pios. No fundo, cada decis�o � muito customizada pelo contexto local. Precisamos entender as dores locais. O governo federal tem de dar os grandes marcos regulat�rios, as regras do jogo, e criar a estabilidade da seguran�a jur�dica, mas precisa dar liberdade para testar pol�ticas p�blicas na ponta. A educa��o profissionalizante � fundamental: 48% dos jovens abandonam o ensino m�dio antes da conclus�o. O jeito de reter os jovens � oferecer ensino profissionalizante de qualidade, saindo preparado para obter emprego em um ramo demandado pelo mercado. Zema faz um programa de ensino t�cnico nas escolas muito melhor que em outros estados. Parte de um princ�pio b�sico de que o curso precisa ser de qualidade. Ent�o, determina o pre�o, o padr�o do curso e a iniciativa privada tem as concess�es e faz os cursos. Muitos estados est�o oferecendo profissionaliza��o de um jeito muito ruim: � fazer quase que um leil�o e quem d� o menor pre�o (leva). Voc� compromete a qualidade. Precisamos escutar as pessoas, porque se n�o a pol�tica p�blica fica descolada da realidade e da demanda. � escutar os mineiros com Zema, os deputados e vereadores.
Ao lan�ar a pr�-candidatura, o senhor falou em privatizar a Petrobras no primeiro dia de governo. Quais as bases de sua agenda privatista?
Temos de enviar um plano ao Congresso exigindo a privatiza��o de todas as empresas, mas mais importante � o que vai ser feito com o dinheiro. O Brasil tem uma das matrizes renov�veis mais importante do mundo. Voc� prefere ter uma estatal que produz energia f�ssil ou pretende investir mais em renov�veis, que atraem mais dinheiro? Temos que explicar �s pessoas. � bom manter a Petrobras como est� hoje ou usar o dinheiro para coisas como pesquisa e desenvolvimento em energias renov�veis ou programas sociais? Vamos usar parte do dinheiro para abater parte da d�vida p�blica? Quantos bilh�es v�o para o ralo anualmente pagando os juros sobre a d�vida? O estouro do teto de gastos fez com que a taxa de juros subisse e os t�tulos de tesouro brasileiro tivessem que oferecer mais juros para o mercado comprar. Com estouro do teto e um governo que n�o tem credibilidade, a rolagem da d�vida saltou para R$ 360 bilh�es, quase seis vezes o valor do Bolsa Fam�lia. Em vez de financiar programas sociais, est� pagando juros l� fora por causa da irresponsabilidade da pol�tica econ�mica.