
Sandra sofreu infarto do mioc�rdio. Ela estava internada, desde o �ltimo s�bado (11/12), no CTI de um hospital particular de Belo Horizonte, onde ficou em ventila��o mec�nica.
De acordo com a fam�lia, n�o haver� vel�rio, nem sepultamento ou crema��o, atendendo a vontade manifesta de Sandra. Ela pediu para que seu corpo fosse doado para a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde se formou em Direito e tamb�m trabalhou como professora universit�ria.
Sandra foi uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT), na d�cada de 1980. Professora universit�ria, cientista pol�tica e banc�ria, Sandra Starling foi eleita para a C�mara dos Deputados entre 1991 e 1999.
Antes, em 1986, foi eleita deputada estadual para a primeira bancada petista na Assembleia Legislativa do Estado de de Minas Gerais (ALMG), juntamente com outros quatro parlamentares - Nilm�rio Miranda, Agostinho Valente, Raul Messias e Chico Ferramenta.
Em 1993, Sandra se licenciou da C�mara dos Deputados para assumir a Secretaria de Educa��o da Prefeitura de Belo Horizonte, comandada ent�o pelo correligion�rio e prefeito da capital, Patrus Ananias.
Candidata a governadora
Em 1982, Sandra disputou o governo mineiro. Ficou em terceiro lugar na elei��o vencida por Tancredo Neves, eleito pelo PMDB, atual MDB.Na C�mara, chegou a liderar, por algum tempo, a bancada de parlamentares petistas. Contr�ria a algumas diretrizes da legenda, ela se desfiliou em 2010.
"Sandra nos deixa muitas saudades e um legado de luta. Um legado de uma luta feminista, que naquela �poca se dava em circunst�ncias ainda mais dif�ceis. Sandra Starling: presente", disse o deputado federal Rog�rio Correia, do PT, ao Estado de Minas.
Trajet�ria pol�tica
A caminhada pol�tica de Sandra Starling come�ou na milit�ncia estudantil cat�lica, nos anos 1960. Depois, ao ser admitida na Refinaria Gabriel Passos (Regap), participou da cria��o do Sindicato dos Trabalhadores da Ind�stria do Petr�leo (Sindipetro).Com a entidade de classe dissolvida pela ditadura (1964/1985) e ante as press�es do novo governo, passou a dar expediente na Caixa Econ�mica do Estado de Minas Gerais (Minascaixa).
Em 1972, Sandra se formou em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde depois deu aulas como professora de Sociologia na Faculdade de Filosofia e Ci�ncias Humanas (Fafich).
Em 1986, quando j� compunha os quadros diretivos do PT, teve a cassa��o da Petrobras anistiada.
A ex-deputada teve curta passagem, em 2003, pela secretaria-executiva do Minist�rio do Trabalho, ent�o encabe�ado pelo baiano Jacques Wagner, no primeiro governo do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva.
"Al�m de ser a �nica advogada em um partido integrado naquela �poca por economistas, soci�logos e cientistas pol�ticos, houve outro fator que me favoreceu muito - a idade. Nem pensava em ser candidata a governadora, mas como o nosso candidato desistiu, e o outro poss�vel candidato n�o tinha idade suficiente, acabei sendo indicada", afirma ela, em depoimento presente no livro "Mulheres na Pol�tica: As representantes de Minas no Poder Legislativo", organizado pela Assembleia de Minas.
Em 2014, ano da publica��o da obra, Sandra afirmou que sua maior contribui��o ao pa�s foi a reda��o de lei, sancionada parcialmente pelo ent�o presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), que permite o ingresso de a��es para apontar viola��es a constitui��o.
"Hoje (a lei) tem servido para temas como o do aborto em caso de anencefalia e v�rios outros de ordem altamente relevante para as minorias", relatou ela, contando ter sofrido cr�ticas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "Em suma, eu fiz uma lei que ajuda a minoria, porque a minha concep��o de democracia n�o � a da preval�ncia da maioria, � a minoria ser respeitada. E isso n�o foi compreendido ent�o", emendou.
Hist�rico e atua��o
Quando deixou o PT, a mineira de Belo Horizonte criticou decis�es centradas em Luiz In�cio Lula da Silva, a quem chamou de "caudilho". Ela era contr�ria � articula��o que resultou no apoio a H�lio Costa (MDB) no pleito para governador em 2010. O petista Patrus Ananias foi o vice. Eles perderam para Antonio Anastasia, ent�o no PSDB.� �poca, Sandra afirmou que a escolha de Dilma Rousseff para disputar o Pal�cio do Planalto teve, como contrapartida, apoio ao nome escolhido pelo MDB em Minas Gerais.
Como deputada, ela chegou a propor que o Sistema �nico de Sa�de (SUS) realizasse abortos permitidos pelo C�digo Penal. O texto, constru�do ao lado do colega Eduardo Jorge (PT, depois PV), s� foi analisado pela Comiss�o de Seguridade Social e Fam�lia da C�mara em 2008, 17 anos depois de ser apresentado, e acabou derrubado.
Em Bras�lia, Sandra Starling, que deixa tr�s filhos e o marido Thales, tamb�m advogado, que assina o sobrenome de Sandra, presidiu a Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) da Viol�ncia Contra as Mulheres.
"N�o acho que a mulher tenha necessariamente que levar para sua atua��o parlamentar a tem�tica feminista. J� tive muitos colegas homens que eram bastante feministas em suas ideias. Quando requeri uma CPI sobre a viol�ncia contra a mulher, que foi instalada e funcionou, o falecido deputado Artur da T�vola, por exemplo, fez quest�o de participar", afirmou Sandra, que dizia ter fixa��o em torno das reformas pol�tica e administrativa.
Nota do PT
''Poderia ser uma nota de falecimento mas a Bancada do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Legislativa de Minas Gerais traz uma nota de pertencimento.
Poder�amos falar que a Sandra Starling foi a primeira mulher candidata ao governo de Minas. Que foi fundadora do PT, deputada estadual por quatro anos e l�der do partido na C�mara. Ou que foi professora de uma gera��o de humanas e inspira��o de tantas outras. Mas preferimos dizer da coragem dela, da franqueza e da fortaleza. De seu legado de mulher guerreira na pol�tica, na rua, em casa. E que ficar� para sempre do lado esquerdo do peito. Sandra Starling, presente !!!''