
Na vis�o dele, ali�s, o governador "tomou gosto pelo poder" e "est� fazendo exatamente o que disse que n�o faria".
Embora continue amigo de Kalil, Viana deixou o PSD por causa, justamente, do prefeito de BH. No partido, Kalil � visto como candidato natural ao governo. Coube ao senador, ent�o, procurar outra legenda. Ele afirma ter negociado com siglas como o PL, de Jair Bolsonaro, e o Podemos, de Sergio Moro.
"� muito f�cil sentar na cadeira do governo e ficar dizendo que n�o tem dinheiro, que os problemas s�o muitos e da 'heran�a maldita do PT'. Mas, e a�? Quem se candidata n�o sabe desses problemas? Por que n�o apresenta solu��es como o estado precisa?", assinala.
Viana cr� ser poss�vel concretizar a candidatura mesmo ante os atritos que, tradicionalmente, marcam as rela��es internas no MDB mineiro. Ele confia, inclusive, que sua eventual campanha pode unir os quadros emedebistas. Embora seja vice-l�der de Bolsonaro no Senado, o congressista sabe que dificilmente ter� o apoio dele, por causa da proximidade entre o PL e a gest�o Zema.
O que levou o senhor a deixar o PSD e se filiar ao MDB?
O PSD cresceu muito em Minas, e ajudei muito nesse trabalho. Fui presidente por quase dois anos. Praticamente dobramos o n�mero de comiss�es no interior. � natural que exista disputa interna pelo espa�o de poder. Kalil, como prefeito, teve ascens�o muito grande com a vit�ria na capital e tem, do presidente [Gilberto] Kassab, um compromisso de apoio � candidatura ao governo.
No meu caso, tinha duas op��es: ou aceitava a negocia��o, ou buscava meu caminho. Foi o que fiz. Negociei e conversei com v�rios partidos. Decidi pelo MDB por conta, primeiro, da capilaridade em Minas. Tem o maior n�mero de prefeitos, mulheres eleitas, tem tradi��o e, em Minas Gerais, a candidatura majorit�ria ajudaria – e muito –, como ajudou, a unir toda a bancada. Aceitei a proposta e resolvi caminhar com o MDB.
O senhor pode dizer os outros partidos com quem negociou?
Conversei muito com o PL e, tamb�m, com o Podemos. As duas legendas se propuseram a discutir minha filia��o, mas n�o avan�aram as conversas.
O senhor tem se colocado como pr�-candidato. Zema j� confirmou que disputar� a reelei��o; Kalil � posto como potencial candidato. O que sua eventual candidatura tem de diferente em rela��o � dupla que lidera as pesquisas?
Minas � quem ganha com a possibilidade de um debate mais amplo. Temos um governador que n�o veio da pol�tica, mas tomou gosto pelo poder e est� fazendo exatamente o que disse que n�o faria: nomeando, para secretarias, os apadrinhados pol�ticos, enviando as equipes ao interior usando todos os avi�es e equipamentos do estado, fazendo promessas aos prefeitos que n�o ser�o cumpridas, porque n�o h� or�amento para obras fora da educa��o, por exemplo.
O governo tem grande dinheiro dispon�vel na �rea do Fundeb, mas em outras �reas, n�o h�. Mas h� promessas sendo levadas a todos os cantos em busca do apoio dos prefeitos. O governador est�, naturalmente, agindo, como o grupo pol�tico dele incentiva, tentando recuperar o espa�o pol�tico que n�o assumiu - e foi at� contra, criticou muito, - no in�cio. Da� o embate com a Assembleia. Mas � um governador que tem a m�quina [p�blica] nas m�os e tem uma proposta para o estado que est� de acordo com os empres�rios que bancaram a campanha dele.
O prefeito de BH tem boa experi�ncia na capital, n�o h� de se negar nunca, e pode, tamb�m, colaborar na discuss�o dos problemas.
Venho de fora da pol�tica, de um aprendizado no Senado, em um momento em que Minas retomou a import�ncia que tinha no cen�rio pol�tico nacional, e ajudei muito sendo vice-l�der do governo. Se, hoje, temos obras importantes avan�ando, como a concess�o da BR-381 e R$ 2,8 bilh�es para o metr� de BH, posso dizer, com muita humildade, que participei de todas as negocia��es desde o in�cio. Assim como outras propostas, [como] o asfaltamento da BR-367, em que o dinheiro est� garantido, mas infelizmente foram descobertas irregularidades nas obras, e a retomada de todos os programas de conviv�ncia com a seca. Em todos esses projetos que, hoje, Minas come�a a ter investimentos, trabalhei por eles. Agora, aparecem os pais; todo mundo quer tirar uma foto bonita com o metr�, falar da barragem de Jequita� e do Jequitinhonha, mas em Bras�lia, quem trabalhou, efetivamente, fui eu. Isso, hoje, conta muito na pol�tica.
N�o venho para falar de problemas; quero falar de solu��es. Problemas, para mim, s�o desafios. Minas Gerais, hoje, precisa de ousadia, de quem tenha coragem para tomar decis�es e enfrentar problemas com outras decis�es. � muito f�cil sentar na cadeira do governo e ficar dizendo que n�o tem dinheiro, que os problemas s�o muitos e da 'heran�a maldita do PT'. Mas e a�? Quem se candidata n�o sabe desses problemas? Por que n�o apresenta solu��es como o estado precisa? Estou pronto para buscar as solu��es em conjunto com o funcionalismo e a Assembleia, para fazer Minas avan�ar muito mais rapidamente.
O senhor falou que 'problemas s�o desafios' e pediu di�logo com setores de Minas. Neste momento, j� tra�ou as bases do plano que pretende apresentar ao estado?
Sempre ouvimos falar da quest�o do desenvolvimento igual por regi�es, equil�brio regional. Isso foi discurso pol�tico repetido por d�cadas, mas completamente esquecido no atual governo. A vis�o somente para os problemas e somente de ajudar empres�rios que j� s�o ricos retira a capacidade que a pol�tica tem de buscar solu��es em todas as �reas. O que foi feito, efetivamente, para que o Jequitinhonha e o Mucuri voltassem a se desenvolver ou, pelo menos, tivessem projeto de crescimento? Nada. Foram tr�s anos completamente perdidos. O que tivemos no Norte para que a regi�o, de fato, pudesse crescer como fronteira agr�cola na conviv�ncia com a seca? Nada. O que tem l�, hoje, em projetos, trouxemos do governo federal. Inclusive, a possibilidade de grandes asfaltamentos, no acordo com a Vale, nasceu na CPI de Brumadinho no Senado. N�o nasceu no governo de Minas.
Quem quiser governar Minas ter� de come�ar a pensar no desenvolvimento por igual das regi�es. E, principalmente, em um plano futuro [para] quando a minera��o n�o for mais a primeira fonte de renda. Temos que come�ar a pensar no estado que queremos para daqui 15 ou 30 anos agora. Caso contr�rio, vamos perder o trem da hist�ria.
Gra�dos do MDB, como Temer, vieram a BH e convidaram Kalil para se filiar; depois, Newton Cardoso Jr., presidente estadual, abriu as portas para Zema. Agora, veio a sua filia��o. O senhor teme n�o ter sustenta��o para manter a candidatura ao governo? A candidatura foi 'cl�usula p�trea' para se filiar?
Temer deixou claro que a visita foi de cortesia. N�o houve planejamento para convidar o atual prefeito. O MDB n�o participou desse convite. Com rela��o ao Newton Cardoso Jr., � natural. Ele estava em um embate com o ex-presidente da Assembleia, Adalclever Lopes [articulador de Kalil, que deixou o MDB e est� no PSD], e era preciso que o partido tivesse um rumo. As conversas iniciais de apoio a Zema eram naturais, porque o partido precisava tomar decis�es.
Com a minha chegada e a proposta de filia��o, feita pela Executiva nacional, o partido resolveu o dilema, que era estar unido em torno de uma candidatura majorit�ria. Tanto que os quatro deputados federais est�o firmes com o partido. Amea�avam deixar a legenda, mas n�o sair�o mais. [Quanto aos] deputados estaduais, � natural que haja trocas na janela [partid�ria]. Todos s�o muito importantes e ser�o muito bem-vindos, mas entendemos se um ou outro decidir tomar caminho que seja mais seguro. � natural da pol�tica.
A discuss�o sobre a candidatura ter� que avan�ar � medida que o cen�rio pol�tico nacional for se definindo. Estou com meu nome como pr�-candidato, e o partido est� disposto. Vamos avan�ando at� tomarmos uma decis�o definitiva em junho.
O MDB mineiro enfrentou, em 2021, imbr�glios internos por causa, por exemplo, da manuten��o de Newton Jr. na presid�ncia. Como pretende lidar com o hist�rico de atritos que persegue o partido em Minas?
Atritos n�o acontecem s� no MDB. Est�o acontecendo, tamb�m, no PSD. � uma quest�o de poder, espa�o. � da pol�tica. Um partido sempre vai ter, internamente, as discuss�es de quem quer ou n�o, concorda ou n�o. Agora, quando se parte para uma elei��o, � preciso que todos estejam unidos. Isso � o mais importante. Quando se juntou a Fernando Pimentel (PT), foi o MDB que tornou a campanha no interior muito forte em capilaridade. O partido pode voltar a fazer isso, hoje, com meu nome. Temos a maior parte dos prefeitos filiados ao MDB. O 15 � um n�mero muito tradicional nas cidades do interior, onde os n�meros s�o muito importantes. O 15 faz parte dessa tradi��o pol�tica.
Minha fun��o agora no MDB � unificar o partido, ajud�-lo a caminhar unido para as elei��es. Tanto com uma chapa proporcional para fazer mais deputados federais, o que � muito importante - e a candidatura majorit�ria � fundamental -, assim como disputar o governo de Minas em p� de igualdade. Tenho coragem, estou preparado e pronto para o debate.
O eleitor s� vai decidir o voto em junho ou julho, e espera ser surpreendido. Essa hist�ria de 'eu vou fazer o que � poss�vel' o eleitor n�o aceita mais. Estamos precisando de ousadia e coragem.
Ao mudar de partido, o senhor colocou � disposi��o o cargo de vice-l�der do governo, mas foi mantido no posto. Em que p� isso est�? O senhor pretende continuar no cargo?
O MDB � base do governo. Vamos esperar fevereiro para saber exatamente quais ser�o os passos do Pal�cio do Planalto na rela��o com o Congresso. Podemos ter mudan�as. Fui sondado, por exemplo, sobre se aceitaria ser l�der do governo. Pedi tempo para responder. Ainda n�o parei para pensar em profundidade sobre isso [ser l�der do governo]. Vai ser um ano muito dif�cil para o governo.

O presidente Bolsonaro bateu recordes de rejei��o, chegando a 60%, segundo o Datafolha. H�, ainda, as pol�micas e declara��es contrariando a ci�ncia. O senhor n�o teme preju�zos por estar atrelado a ele?
Algu�m j� disse que voc� tortura os n�meros e eles dizem o que voc� quer. Se observar bem as pesquisas, s�o pessoas que j� decidiram em quem votar. Quando a gente observa os eleitores que n�o decidiram o voto, o n�mero [de indecisos] � muito grande. Supera 50%. O eleitor s� vai se preocupar com pol�tica no segundo semestre. A�, vai come�ar a observar.
O que vai pesar muito � a quest�o da economia. A quest�o sobre como se enfrentou a pandemia come�a a diminuir o impacto, a n�o ser que tenhamos uma nova onda. O cen�rio ainda est� totalmente em aberto, at� para que pr�-candidaturas j� postas n�o se confirmem. H� possibilidade de que tenhamos novos players.
Mas o senhor considera a possibilidade de estar com Bolsonaro em um palanque em MG?
Essa possibilidade est� afastada, porque o presidente se filiou ao PL, que est� entregue ao governador. � parte da base do governo. Essa foi, inclusive, uma das dificuldades que impediram minha ida ao PL. Com minha pretens�o de disputar o governo, a bancada estadual do PL j� havia feito acordo com a secretaria de Governo. Tem, inclusive, benef�cios: emendas e cargos no governos. Isso tudo pesa muito na decis�o pol�tica.
O senhor falou que foi sondado pelo Podemos. H� chance de se unir a Moro?
A quest�o do Moro ainda precisa ter todos os movimentos aguardados. � uma candidatura que, a meu ver, tem muita chance de crescer, porque ele atrai o eleitor da direita em um sentimento anti-esquerda. Vai depender da forma como ele negociar e tomar decis�es. Elei��o nenhuma est� ganha ou perdida antecipadamente. Tudo depende da movimenta��o que voc� faz no tabuleiro pol�tico.
O senhor participou das conversas para a libera��o de verba federal ao metr� de BH e, tamb�m, para a concess�o � iniciativa privada. Com esses movimentos, confia 100% na constru��o da t�o falada segunda linha?
O primeiro passa para que o metr� de BH trate o usu�rio com mais respeito foi dado. Em maio, o leil�o deve acontecer. Junto dele, um plano de investimentos, que poderia ser melhor, inclusive, mas foi o poss�vel a ser feito. A linha 2, do Barreiro [ao Calafate], a expectativa � que esteja operando em 2028. J� h� uma exig�ncia de que quem assumir o metr� ter� a responsabilidade de, em 2028, t�-la funcionando plenamente. Outro ponto � a moderniza��o dos trens, a quest�o dos hor�rios e a manuten��o.
Estou muito confiante de que a quest�o do metr� est� resolvida sem promessas de furar buraco na Afonso Pena, enganar as pessoas com propostas de levar o metr� at� shoppings ou ao outro lado da cidade, na Pampulha. O eleitor foi enganado com essas propostas. Trabalhamos com uma base realista.
E a BR-381? A t�o falada duplica��o sai?
Sai. Tenho total confian�a de que, feito o leil�o em fevereiro - acredito que de fevereiro n�o passe -. O motorista que trafega pela BR-381, j� no segundo semestre vai come�ar a observar, pelo menos, sinaliza��o e limpeza melhores na via. Que, pelo menos, h� quem cuide da rodovia, porque hoje � de completo abandono. Fez-se de a duplica��o de 65 quil�metros, aproximadamente - eram para ser 86 quil�metros, mas n�o foi poss�vel terminar.
A rodovia est� abandonada. � a sensa��o de quem viaja. A partir da concess�o, vai-se observar uma melhora cont�nua. Tenho muita confian�a que pelo menos a duplica��o at� Governador Valadares ainda veremos antes de 2030.
O senhor se posta como pr�-candidato ao governo, mas precisa cumprir as atribui��es do mandato. O que fazer para conciliar as duas frentes? Como garantir ao eleitor que a atividade parlamentar n�o ficar� em segundo plano?
A vota��o semipresencial j� facilitou muito. Todas as discuss�es t�m sido feitas, tamb�m, por videoconfer�ncia, como as reuni�es de lideran�a. H�, tamb�m, as discuss�es sobre an�lise de projetos. Tudo de forma remota. A presen�a em Bras�lia, hoje, � muito necess�ria na quest�o das autoridades e dos esfor�os concentrados. No meu caso, vice-l�der do governo, nas negocia��es com as bancadas. Mas poder votar a dist�ncia vai facilitar muito cumprir o papel de senador e dar aten��o �s quest�es de Minas.
Kalil se filiou ao PSD a seu convite. Depois, parecem ter havido desgastes. No ano passado, por exemplo, o senhor disse que ele 'n�o falava pelo partido' ap�s cr�ticas sobre figuras do partido com liga��es formais a Bolsonaro. Como est� a rela��o?
Quem convidou Kalil para se filiar ao PSD fui eu. Primeiro, como forma de lealdade pelo apoio que recebi dele [em 2018] e [porque] seria muito bom t�-lo no partido. Posteriormente, [Gilberto] Kassab assumiu a negocia��o e ele veio ao PSD. Apoiei Kalil para reelei��o como forma, inclusive, de retribuir o apoio que tive para senador. Em uma conversa muito particular entre eu e o prefeito, deixamos claro que um n�o deve nada ao outro. Pelo contr�rio: somos amigos, temos �timo relacionamento e tenho admira��o muito grande pelo Kalil. Mas politicamente, agora, � hora de cada um ocupar seu espa�o.
Recentemente, o senhor esteve com o ex-presidente Michel Temer. O que conversaram?
O ex-presidente Temer, em primeiro lugar, � um homem habilidoso, que sabe dialogar e a quem o Brasil deve muito. Ele, nos dois anos em que foi presidente, conseguiu reorganizar o pa�s e entregar um governo federal muito mais organizado e em condi��es de crescimento e investimentos. A hist�ria ainda far�, a meu ver, o reconhecimento a ele, que dentro do MDB � muito respeitado.
Como estou me juntando ao partido agora, fui l� cumpriment�-lo, ouvi-lo e deixar a ele meu posicionamento e minha expectativa de ser pr�-candidato ao governo de Minas Gerais - e ter o apoio dele. A palavra dele com o MDB nacional � fundamental para pensar em avan�os. Por exemplo: discutir a d�vida de Minas e o Regime de Recupera��o Fiscal. Existem formas, politicamente, de adaptar para Minas Gerais. Isso vai passar por um consenso nacional, pol�tico.
� muito importante estar unido � Executiva nacional para levar as demandas do estado a uma rede nacional.