
Uma das marcas principais do atual governo � a frequ�ncia com que ministros e outros colaboradores deixam seus cargos e se tornam cr�ticos ou desafetos de Bolsonaro, em raz�o das escolhas do presidente. A crescente influ�ncia do Centr�o nas decis�es do Planalto afastou representantes da chamada ala ideol�gica, do bolsonarismo raiz, que ajudaram a eleger, h� quatro anos, o candidato que prometia acabar com a velha pol�tica.
Bolsonaro assumiu publicamente o toma l�, d� c� e outras pr�ticas que dizia condenar para sobreviver politicamente, em meio a investiga��es inc�modas, a uma avalanche de pedidos de impeachment e � perda de popularidade. Desde ent�o, o espa�o do Centr�o no governo tem se ampliado. Depois de assumir o controle do Or�amento, o grupo pol�tico passou a influir, at� mesmo, na forma��o dos palanques que o presidente ocupar� nos estados durante a campanha � reelei��o.
Por essa raz�o, o mais novo desafeto de Bolsonaro � o ex-ministro da Educa��o Abraham Weintraub, que foi um dos expoentes da ala extremista do governo. Ele tem se rebelado contra a op��o do Planalto de defender a candidatura do ministro da Infraestrutura, Tarc�sio Freitas, ao governo de S�o Paulo. H� meses, o ex-ministro vem acalentando o projeto de disputar o comando do Pal�cio dos Bandeirantes.
Na semana passada, durante uma live, Weintraub e os tamb�m ex-ministros Ernesto Ara�jo (Rela��es Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente) criticaram a alian�a de Bolsonaro com o Centr�o. Eles afirmaram que o presidente se afastou das pautas ideol�gicas pelas quais foi eleito e substituiu a ala conservadora do governo por integrantes do bloco pol�tico.
Ara�jo chamou o PP — partido do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos caciques do Centr�o — de "Partido de Pequim" e acusou o governo de estar se submetendo aos interesses da China. O ex-chanceler, que deixou a pasta em mar�o do ano passado, disse que, por isso, n�o p�de levar adiante seus planos para a pol�tica externa. "Quando o Centr�o come�ou a dominar o governo, fui cada vez mais isolado", reclamou.
Candidatura
A despeito da irrita��o de Bolsonaro com as cr�ticas dos ex-aliados, Weintraub mant�m o projeto de se candidatar ao governo paulista e tem dado continuidade a uma caravana pelo interior do estado. A ideia � fazer uma sondagem do apoio popular e destacar, junto aos eleitores, duas coisas que o diferenciam de Tarc�sio Freitas: nasceu em S�o Paulo e n�o se relaciona com pol�ticos do Centr�o.
O problema � que os antigos aliados do chefe do Executivo perderam protagonismo pol�tico para o Centr�o e correm o risco de ficar sem espa�o nas elei��es de outubro. Weintraub, Ara�jo e Salles t�m se apresentado como leg�timos representantes da ideologia original do presidente. Por�m, Tarc�sio Freitas e outros apoiadores do presidente disputam o mesmo espa�o.
Pesquisas recentes demonstram que o bolsonarismo vem perdendo for�a entre a popula��o. Por isso, � prov�vel que n�o haja eleitores em n�mero suficiente para tantas fac��es dessa vertente. "O choque ser� inevit�vel, pois n�o haver� espa�o para todos. � um salve-se quem puder", projeta Danilo Morais, mestre em ci�ncia pol�tica e professor de p�s-gradua��o do Ibmec-DF.
Sem alternativa
Apesar do processo de distanciamento de Bolsonaro, o eleitorado do chefe do Executivo � o �nico com quem esses postulantes conseguiriam dialogar. "Candidatos como Weintraub, nesse sentido, n�o ter�o muito o que fazer al�m de se resignar, pois, caso entrem em confronto aberto com sua maior lideran�a, sofrer�o enorme rejei��o desse eleitorado, o �nico com quem ainda mant�m pontes", avalia Morais. "N�o h� espa�o para candidatos t�o radicais em outros arranjos partid�rios, sen�o no pr�prio bolsonarismo."
Al�m disso, esse eleitorado est� na mira do ex-ministro Sergio Moro, pr�-candidato � Presid�ncia da Rep�blica pelo Podemos e, tamb�m, um ex-aliado de Bolsonaro. "O ex-juiz vai nessa dire��o, porque n�o tem abertura na esquerda para avan�ar. � muito poss�vel que ele tamb�m n�o tenha espa�o no centro, j� que o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva acena para essa via, com Geraldo Alckmin (ex-governador de S�o Paulo, ainda sem partido)", ressalta Fernando Meireles, pesquisador do Centro Brasileiro de An�lise e Planejamento (Cebrap).
J� as declara��es de apoio a Bolsonaro v�o depender de como estar� a popularidade do chefe do Executivo at� outubro. "Muitos desses aliados v�o usar essa estrat�gia. Se estiverem disputando um cargo proporcional, se isso trouxer um benef�cio, a chance � grande de continuar ao lado do presidente", diz Meireles.
Para Morais, Bolsonaro pouco ou nada perder� nesse ru�do com ex-aliados. "Sobretudo ao se considerar que os dissidentes de ocasi�o, num cen�rio de segundo turno com Lula, dever�o retornar quase que automaticamente ao barco dele", afirma.
Outra dificuldade para os bolsonaristas puro-sangue � encontrar outro presidenci�vel com quem possam se aliar nas pr�ximas elei��es. Dificilmente eles se aproximariam, por exemplo, de Moro, mesmo sendo ele um nome da direita. Isso porque o pr�-candidato ao Planalto tem buscado acordos eleitorais com figuras como o governador de S�o Paulo, Jo�o Doria (PSDB), tamb�m postulante ao Planalto; e o presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), desafetos do governo.
Outros ex-aliados de Bolsonaro tamb�m atacaram recentemente o presidente. O escritor Olavo de Carvalho, por exemplo, considerado um "guru" do bolsonarismo, disse, no fim do m�s passado, que se sentiu usado pelo chefe do Executivo. Segundo ele, o presidente o fez de "poster boy" (garoto propaganda). "Depois disso, at� meus amigos que estavam no governo ele tirou", reclamou. Ele tamb�m afirmou n�o ver chance de reelei��o de Bolsonaro: "� uma briga perdida". A extremista Sara Winter revelou m�goa do presidente, principalmente pela falta de apoio numa d�vida de mais de
R$ 3 milh�es, referente � processos judiciais que acumulou por atos ilegais pr�-governo . "N�o tem mais como defender Bolsonaro", frisou.